sábado, 14 de dezembro de 2013
OPINIÃO: Um país à beira do abismo
«De novembro de 1980 a esta parte a Guiné-Bissau entrou num ciclo de regressão enquanto Estado. A guerra civil de 1997 marcou o inicio da intervenção militar na vida politica guineense, dando-se inicio do presente estado de colapso em que se encontra o pais. De Ansumane Mané a esta data, os militares transformaram-se em "fazedores de rei" e foram-se apoderando do poder, instalando-se quem quisessem e seguisse à olho e à dedo as suas ordens e os seus interesses obscuros, tais como o trafico de drogas e de armas.
Foi com o regime de Kumba Yala (o pior governante e tirano da historia da Guiné-Bissau), é que se deu inicio a este ciclo desastroso de relações incestuosas com os militares mesclado de sentimentos de dominação de uma tribo sobre o poder civil e a sociedade em geral.
A 12 de Abril de 2012, mais uma machadada fatal foi dada nas legitimas aspirações democráticas do povo guineense. E, mais uma vez, para não variar, uma ação antidemocrática foi desencadeada na Guiné-Bissau sob alçada moral de Kumba Yala e a sua horda de homens armados. Assim, o ciclo eleitoral em curso, onde Carlos Gomes Júnior, seu adversário direto era dado como o potencial vencedor, foi abruptamente interrompido através de um golpe de estado de cariz declaradamente partidário/tribal.
Contra todos os censos e a logica inicial, o festim dos golpistas, foi consagrado pelo bando dos quatro da CEDEAO (Nigéria, Senegal, Burkina e Costa do Marfim), os quais, num ato sem precedentes nos anais do direito internacional, patrocinam e impõem ao Povo guineense um presidente e um governo fantoches e serviçais dos interesses regionais dos seus patronos.
A partir desse nefasto acontecimento à data presente, a Guiné-Bissau, foi recorrentemente e em crescendo, noticiada pelos piores e incrédulos motivos. A começar pelas sucessivas ações de intimidações, ondas de sequestros, espancamentos públicos, assassinatos inexplicáveis, execuções sumarias, recrudescimento do trafico de droga que se institucionaliza na hierarquia do Estado, ao ponto do pais ser designado Narco-Estado, ao trafico de armas e conspiração contra estados estrangeiros e..., mais recentemente, do trafico de órgãos humanos, noticias porém acobertado e sufocadas pelas autoridades nigerianas, cujas forças que integram a ECOMIG, são apontadas como estando ligadas a esses atos hediondos.
Hoje, o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, o homem forte de Bissau, e boa parte da sua entourage, estão sob a alçada de mandatos de captura internacional lançada pelos EUA e sanções das NU. O próprio Presidente Interino, encontra-se indiciado por cumplicidade na operação de trafico de armas abortada pelos EUA e que culminou na detenção de Bubo Na Tchuto e alguns dos seus homens de mão. Sabe-se de informações fidedignas, que o Almirante aceitou colaborar com a justiça americana neste processo em troca de pena mais leve, dai haver revelações surpreendentes e incontestáveis de que a mulher de César não é assim tão séria como pretende parecer.
A juntar a todo esse reportório de marginalidades, no dia 12 de Dezembro do ano em curso, o nome da Guiné-Bissau voltou a dar a volta ao mundo pelas piores razões. Desta vez, o pais esta ligado a um escandaloso ato de trafico humano, de imigração ilegal e de auxilio ao terrorismo, onde indícios fortes apontam para implicação e cumplicidades ao mais alto nível do regime de Bissau (Presidência e Governo incluídos). Enfim, o Estado da Guiné-Bissau junta assim ?a sua já rica e podridão cadastro de Estado Falhado, o epiteto de Estado-Esclavagista e de Estado-Terrorista.
Tudo isto, num minúsculo estado de menos de 40 mil Km quadrados firmes de terra e quase uma centena de ilhas e ilhotas, sob o olhar inoperante e atrapalhado da Comunidade Internacional (CI), particularmente a União Africana (UA) e as Nações Unidas (NU), porquanto estes, como atores principais que deviam ser na resolução desse conflito, encontram-se perdidos e, até hoje não sabem, qual o remédio certo a aplicar ao mal que gangrena esse pais que caminha perigosamente para o abismo.
Hoje, confirma-se, que foi um erro grave confiar a resolução do conflito guineense à organização sub-regional, a CEDEAO, onde países, particularmente o Bando dos Quatro (Nigéria, Senegal, Burkina e Costa do Marfim), tem indubitavelmente interesses e ações particularmente obscuras no nesse pais. E sabido, que desde a sua auto instalação na Guiné-Bissau, essa organização em nada tem contribuído para a normalização da situação político-militar no pais. Pelo contrario, não se esqueça, de que, foi na presença e à vista das forças inoperantes dessa comunidade que aconteceram todos os atropelos aos direitos humanos, incluindo, raptos, espancamentos e assassinatos de todos os opositores ao golpe de estado de 12 de abril de 2012.
Assim, afigura-se de difícil compreensão o laxismo da UA e das NU perante a crise guineense e a indiferença a que vetaram o Povo guineense. E mais do que visível a impreparação e o conflito de interesses que gangrena a CEDEAO para ser solução para o problema da Guiné-Bissau. A inoperância e inutilidade das forças da ECOMIG é constrangedora, pois nada fazem e nunca reagem às sucessivas ondas de desmandos, repressão e de gatunagem cometidos pelas autoridades de transição, através das suas forças armadas e de segurança.
Se estas duas organizações persistirem em deixar a condução desse processo à CEDEAO a qual ingenuamente se esforça por se associar a impreparada Timor-Leste, o pior poderá vir a acontecer. O pior acontecera decerto, se a UA e as NU, teimarem em deixar nas mãos da CEDEAO a condução do processo da crise guineense e, particularmente caucionar a realização das próximas eleições no quadro atual de desordem, desmando e violência gratuita em que se encontra mergulhado o pais. O actual estado de desorganização e opacidade em que decorre o recenseamento é por si só um mau prenuncio...
Estou convicto de que, o pior acontecera se a atual cúpula das Forças Armadas não for afastada e descartada do processo de transição, particularmente o General António Injai, um foragido da justiça internacional que pensa que a Guiné-Bissau é a sua coutada e da sua tribo.
De certeza de que, o pior acontecera se o antidemocrata Kumba Yala voltar a participar nas próximas eleições, pois qual seja o resultado, ele não aceitara os resultados e tudo voltara a estaca zero, isto é, à instabilidade, à guerra, às matanças impunes e, porque não a um genocídio.
Os ingredientes estão la, é só acender inadvertidamente o rastilho.
Grupo de Reflexão "No Pensa Guiné"»