Um sítio de supostos ultranacionalistas, que tem inspiração neonazi e defende o orgulho branco exacerbado, desferiu nos últimos dias ofensas contra várias candidatas a Miss Universo, concurso que se realiza segunda-feira próxima em São Paulo reunindo representantes de 89 países. Várias Misses foram tratadas de forma insultuosa pelo sítio “Stormfront” (ou frente de tempestade, em tradução livre, criado nos EUA na década de 90 e com muitos adeptos no Brasil), por serem negras ou mulatas, serem muçulmanas ou até por, mesmo sendo claras, terem o corpo bronzeado.
"Essa é a menos feia de um país inteiro. Como é que alguém consegue achar uma preta bonita?", escreve um dos participantes do forum de discussão sobre o Miss Universo criado no sítio, referindo-se à Miss Aruba, Gillain Berry, de 24 anos, uma das candidatas negras. Sobre a Miss Botswana, Larona Kgabo, de 25 anos, outro participante escreve ter ficado horrorizado e adianta que a empregada doméstica dele é mais bonita.
Em inglês e em português, os membros da comunidade desferem ataques sobre várias outras candidatas, colocando em dúvida tanto a sua beleza real, quanto a honestidade do concurso. Para o grupo, quase de certeza a vencedora vai ser uma representante da raça negra, tanto porque o Brasil é um país de misturas raciais, quanto porque está na moda, escreve outro participante, enaltecer não brancos, por parecer políticamente mais vantajoso.
"Para mim, esse concurso Miss Universo não passa de mais uma maneira de divulgar o multiculturalismo sionista e a "beleza" da diversidade. Fico assustado com alguns países europeus brancos que têm representantes não brancas." - Escreve um dos que postaram comentários no sítio, onde foram reproduzidas as fotos de oito das candidatas mais atacadas. E outro acrescenta:"Vai ser engraçado se ganhar uma preta aleatória. Melhor, ratificando, vai dar preta, de certeza."
Mas não são apenas as candidatas negras o alvo da intolerância do grupo. Candidatas sobre as quais nenhuma pessoa normal teria coragem de aventar qualquer suspeita sobre a origem racial também não escapam, quer por terem religião diferente da dos membros do grupo racista ou até por simplesmente estarem bronzeadas.
A Miss Rússia, por exemplo, Natália Gantimuriva, de 20 anos, apesar da pele clara e dos seus olhos azuis, não é aceite pelo grupo como branca por se ter convertido ao Islão. Para o grupo, se ela decidiu tornar-se muçulmana é porque tem algum ancestral não branco, o que a torna não branca também.
O cúmulo do preconceito expresso no forum de discussão do sítio tem como alvo, imagine-se, a Miss Dinamarca, Sandra Amer, de 21 anos, uma ruiva de olhos claros, que, apesar disso, não é considerada branca legítima pelo grupo, por ter a pele bronzeada pelo sol, provavelmente por ter passado recentemente uma temporada na praia. Sobre ela, um dos participantes escreve:"Que vergonha, com tantas loiras clarinhas lá, eles mandaram essa coisa."
Em Julho passado, o mesmo sítio já tinha dado uma prova da sua intolerância, criticando ásperamente a eleição de uma brasileira, Sílvia Novais, de 24 anos, como a descendente de italianos mais bonita em todo o mundo. Sílvia, que é negra, foi chamada então no sítio de "preta nojenta" e sofreu outros tipos de insulto, mas resolveu não ligar nem accionar a justiça.