Na Avenida Osvaldo Vieira, quase mesmo em frente da residência do Presidente da República, habita um militar afecto à marinha de guerra. Mora lá desde 1999, ou seja, depois da fatídica guerra civil que abalou Bissau e abanou as suas instituições.
Contudo, desde que Bacai Sanha tomou posse do cargo de Presidente da República, os seus seguranças sentiram-se no direito de ocupar as casas do outro lado da rua. O Presidente da República estaria à mão de semear - pensaram. E, pensando, um deles resolveu fazer a vida negra ao militar.
Dia sim, dia não era a cantilena do costume: "tem de abandonar a casa", dizia-lhe o segurança do presidente. O militar, incomodado, lá ia adiando a mudança - também não tinha para onde ir. E a coisa ameaçou, por uma e outra vez, tomar outros contornos: com a tropa não se brinca.
Ate que chegou o dia. Hoje. Dia de tomada de posse do novo-velho executivo. O militar acordou, e pôs-se a caminho do quartel. Em casa, deixou os filhos. E um telemóvel - para usar apenas e só em caso de emergência. Ajudou. Os seguranças do presidente, todos engravatados, de fato, impecáveis. Contudo, havia alguém, algures, pronto a estragar-lhes o dia de festa.
Foi o caso. Assim que deram pela saída do militar, os seguranças do PR logo atravessaram a estrada que os separa da casa e, num ai, estavam já dentro dela e foi uma questão de minutos até que os móveis e outros pertences conhecessem a luz do dia. O sol apareceia, ainda que timidamente. Nuvens negras...
Os seguranças suavam, sorriam com os maples às costas, a cama de casal, as banquinhas do quarto, enfim, tudo o que pudesse ser levantado por aqueles grandes braços foi parar à rua. A mudança estava quase, terão pensado. E o telefone para emergências soou no quartel da marinha, com um recado: há gente de fora dentro de casa a retirar tudo para fora.
O militar saiu disparado, e alguns colegas acompanharam-no. Dia de posse, dia de festa! Chegaram com estilo numa carrinha de cor azul ultramarino, de caixa aberta com a matrícula da marinha de guerra e a insígnia dos fuzileiros nas portas. Assim que chegaram, nada de perguntas. Foi batatada e mais porrada.
Seis militares contra quatro segurancas. Quem assisitu recuou e deixou campo aberto - ou seja, a estrada. O PR estava na Presidência, no seu gabinete de trabalho, a apenas dois passos. Os seguranças levaram tanto, mas tanto que alguns deixaram os casacos de fato para trás, os telemóveis, chaveiros. Mas ainda havia mais. A humilhação: depois, um a um, foram 'convidados' a devolver tudo para dentro de casa. Sofás que seis maõs ajudaram a tirar para fora...foram carregados por apenas um homem!
Ninguém se meteu. O pessoal da segurança já não sabia para onde havia de se meter - um saiu disparado em direcção aos bombeiros, outro tomou o caminho da Presidência... mas recuaria logo de seguida: ali há muita tropa; e outro, a falta de um plano 'B', limitou-se a levar porrada!
Depois de saber do sucedido, o CEMGFA António Indjai interviu e o militar recebeu ordens para abandonar a casa, o que fez. Mas os seguranças do presidente ficaram duplamente mal: ficaram maltratados, e mal vistos. Aguarda-se pelos próximos capítulos... AAS