segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Predator



Um dia, estava-se na véspera de umas eleições e o então primeiro-ministro pediu ao seu ministro das Finanças uma soma alta em numerário para, e cito de memória, "animar o povo". O ministro não deu, e este, intimamente irado ou não, cumpriu. E ficou marcado. Outros tempos, é verdade, mesmo se pouco brilhantes;

Sonhara uma noite. Era um cortejo de muitas viaturas, percorrendo lentamente algumas ruas e avenidas da cidade. Nas lojas, enormes portas de ferro eram corridas à sua passagem. De vez em quando a caravana parava à porta de fulano, beltrano ou ainda de parano:

- Saiam de casa, revoltem-se. Homens de merda! Alguem tera a coragem? Ainda sonhando. Recebe uma chamada telefónica e do outro lado, uma voz proclama:

- Por cá a matança terminou. O que fazemos com as armas?
- Não te preocupes, outra matança virá...;

Muito meses antes, tinha deixado escrito no seu diário pessoal: "Só sei que, um dia, morrerei assassinado".

Depois, esse dia chegou, e ele tornou-se como que símbolo trágico, pois a tragédia consumar-se-ia no seu aspecto mais terrível e consubstancial: o seu próprio assassinio.

Epílogo

Nesse dia do seu funeral, no cemitério, enquanto o caixão negro com o seu corpo era transportado por quatro pessoas, algo aconteceu. Um senhor, que por ser alto era curvo, de todos conhecido, bem parecido, de aspecto digno e despido de deselegâncias, deixa tocar o seu telemóvel. Um hino novo ressoava agora sobre os murmúrios que inundavam o cemitério, e que agora se viu mergulhado no mais profundo silêncio - o hino torna-se o novo requiem.

Começou com um toque contínuo, depois tornou-se musical. Ninguém responde. Sinal de que outra guerra está para chegar... AAS