AMINE MICHEL SAAD, o Procurador Geral da República hoje exonerado por Decreto Presidencial - depois de ouvido o Governo - foi vítima de si mesmo. Saad nao escreveu o argumento, claro está, mas realizou e participou do filme. Um filme que forçosamente teria de ser classificado como sendo para maiores de 18 anos, e talvez mereceria até a bolinha vermelha no canto superior direito de um qualquer televisor.
O ex-Procurador Geral da República, a meu ver, quis salvar a pele, não acusando ninguém, tudo isto num processo transversal a própria PGR - e perigoso - mas que tinha todos os ingredientes para se acusar uma, duas, cem pessoas. "Fizemos o nosso trabalho" - como se matar fosse trabalho deste Estado; "Foram mortos por razoes de Estado" - como se neste País existisse pena de morte (mas devia existir...).
Nada disso. Os que foram assassinados, afinal, e de acordo com o próprio Ministério Público "não estavam a preparar nenhum golpe de Estado". Estavam - isso sim! - marcados para morrer, apenas porque faziam sombra aos que governam. Seriam uma ameaça - no entender de quem manda!
Num processo destes em que TODOS estão envolvidos, com o País a um ano das eleições... O Decreto Presidencial faz todo o sentido. Mas, Sr. Presidente da República, Malam Bacai Sanha, sacrificar o Amine Saad estabilizará a Guiné-Bissau? Não. Mas acalma-a.
A Guiné-Bissau ficará fria, no dia em que, a exemplo da África do Sul, nos juntarmos no estádio nacional para exorcizarmos os nossos fantasmas. Enquanto isso não acontecer, os nossos medos revelar-se-ão uma e outra vez. E mais outras ainda. A revolução vai perigosa...
Amanhã, lembremo-nos, paremos por um minuto e rezemos. A começar pelos nossos irmãos, para mim dos primeiros combatentes pela libertação desta terra, que foram assassinados a 3 de agosto de 1959 no porto de Pindjiguiti. E, sobretudo, paremos para reflectir sobre isto: kal Guiné-Bissau ku nô misti pa nô fidjus? AAS