domingo, 2 de agosto de 2009

Reticências

"Caro JF.,

Há coisas para as quais nascemos - estarás de acordo? Agitador, podia ser um belo exemplo. Eu sou o oposto daquilo que dizes. "Progressista e contribuidor", de entre um montón deles. Não sou nem uma coisa nem outra. Sou outra coisa ainda melhor: sou um fundamentalista! Sou alguém que acredita piamente que a Guiné-Bissau necessita, neste momento, agora, já! - de um partido ou um movimento nacionalista a roçar o ultra.

Não sei porque é que as pessoas tremem só de ouvirem falar na criação ou na fundação de um partido nacionalista (mas, J.F., quem não deve não teme, não é mesmo? E tu, como eu, nada temes. Não somos 'tementes', portanto. Que bom.)

Por exemplo: os últimos dez anos foram de uma estigmatização absoluta de todo e qualquer conceito de autoridade. E um país sem autoridade é um terreno fêrtil para bandidos. A previsão para os próximos dez anos... Cala-te boca!

Quanto ao Governo, é isto que têm que perceber: Carlos Gomes Junior vai pagar caro (politicamente, claro) por governar mantendo o partido (PAIGC) num canto. Um partido de funcionários políticos é sempre um desastre.

Dizes, referindo-te ao blogue, e contradizendo tudo: "Esta melhor, mas falta alguma ironia". Ainda confundi com romaria, mas, que raio!, isso também nao tem faltado. Ditadura do Consenso tem, meu caro, um toque de fina ironia que muitos, incluindo V. Senhoria, nao deixam de saber apreciar.

Afinal em que País vivemos nós? Ontem, um amigo telegrafou-me isto. Da Europa:

Olá amigo!
Andava a receber telefonemas esquesitos e optei ptempo lavar as mentes daqueles bandidos. Espero que tudo esteja mais calmo, pois em princípio regresso no mês de.............
Abraço


Custa-me ter amigos lá longe. Como é o caso. Praticamente, acompanhamos o crescimento um do outro. Ontem, porque alguém almoçou mal, lembraram-se dele. «Ah, e fulano? E se o mandássemos buscar, hum? Podemos ter algo a acrescentar...». E assina-se por baixo. Não importa de quem seja o gatafunho. E a prisão. «Ai não assina?, então é simples». E o simples é: espancamento, tortura, humilhação.

Muitos amigos e familiares recebem cartas dessas todos os dias. Ouvem coisas destas ao telefone. Diariamente. Uns foram porque convinha, outros tantos porque a isso foram forçados, outros ainda por outros motivos. E nós, que ficamos, como fazemos? AAS"