Aos:
Deputados da Nação,
Procurador-Geral da República,
Presidentes da República (interino e eleito)
Primeiro-Ministro
"Tenho saudade de alguns dos meus amigos. Sinto desmedida saudade de gente que conheço (ainda que politicamente estivéssemos nos antípodas) e com quem partilhava mesas de café entre engraxadores de palmo e meio e todo o tipo de pedintes. Hoje, volvidos cinco meses desde os brutais acontecimentos sem memória nas nossas vidas, as lembranças resumem-se a outras conversas, também em mesas de cafés (nem a propósito: este texto foi escrito hoje, da parte da manhã, numa mesa de café e a meio de uma grande desconcentração).
Fomos talhados para sofrer calados. Um a um. E fomos polidos (Deus lá sabe o que faz...) para conviver depois com a canalha nas mesmas mesas tristes dos cafés de Bissau. Cento e cinquenta dias depois, sentado numa mesa de café, ainda tenho amigos lá longe. Amigos que o tempo levou e que nem uma feliz coincidência ou uma brisa mais fria atreve trazer de volta.
A liberdade destes meus amigos valem-me mil prisões. Em que País vivemos, afinal? Que Justiça almejamos? Onde estão os nosso remorsos? Qual o verde que nos empolga mais? – o da nossa bandeira ou o dos vastos arrozais? Que desconforto é esse que chega ao ponto de nos animar e que festejamos?
Por que é que esses meus amigos não regressam? Quem lhes tolhe tal direito, e com que direito mesmo? Onde está o Procurador-Geral da República? E os Deputados da Nação? Que é feito do Presidente da República interino? E o Presidente eleito, o que lhe apraz dizer? Quem é que nós, guineenses, elegemos nas urnas? Mas que merda de País é este?"
P.S. - Numa acção/missão espectacular, vou substituir a bandeira que está na Presidência do Conselho de Ministros por uma do Ditadura do Consenso. E porquê? Porque nos foi imposta uma ditadura, e nós, em consenso, acolhemo-la.
(*) Dedico este texto a todos os guineenses que, vitimados pela calúnia, pela brutalidade e pela força das armas, estao longe do seu País. AAS