sexta-feira, 14 de maio de 2004
Em Cabo Verde não caiu um invólucro
Em Cabo Verde, estalou o verniz. Diz-se hoje à boca cheia que o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) deve retirar a letra «C» do seu nome, uma vez que se trata de dois países diferentes, independentes. É verdade que o partido em Cabo Verde, outrora PAIGC, mudou o nome para PAICV. Tratou-se pura e simplesmente de um oportunismo político, bem visto de resto, tipo «agora que nos deram a independência…toca a mudar»…
Devo dizer-vos que sempre sonhei com esta polémica. E agora que ela estalou, vamos parti-la aos bocados. Devagar, que é da maneira que sabe melhor. Para que conste, a sigla PAICV nem deveria existir. E porquê? Olha a pergunta, doutor! O PAICV quer simplesmente dizer Partido Africano para a Independência de Cabo-Verde… Nha mãe!!! O PAICV também lutou para a independência de Cabo Verde? Não sabia…
Devo recordar aos agora pavões e dirigentes do PAICV que chegou a ser planeada a integração económica entre a Guiné-Bissau e Cabo-Verde (estava tudo estudado, só faltou o «preto no branco») e tal só não aconteceu porque houve o golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, daí resultando o corte de relações com o arquipélago assim como a ruptura do partido, até então força dirigente dos dois países.
Aliás, lembro-me bem quando Samora Machel, o malogrado presidente de Moçambique, tomou a iniciativa de fazer as pazes entre os dois países e, mais tarde, «Nino» Vieira e Aristides Pereira acabaram por restabelecer as relações diplomáticas. Estávamos em Julho de 1982 e o acordo acabou por ser assinado em Maputo, capital de Moçambique.
Que fique claro, caros cabo-verdianos: o PAIGC foi fundado em 1956 e vai fazer 49 anos. Só espero que amanhã, na altura de apagar as velas, não venham dizer que o «vosso» PAICV também tem 49 anos, como o PAIGC… O PAIGC, não fará finca pé e não retirará uma letra que seja à sua sigla até porque não se pode reinventar a roda e muito menos mudar a história…isso era no tempo do estalinismo…
Agora, só para chatear…por que razão existe então uma medalha Amílcar Cabral? Que eu saiba, Cabral nasceu na Guiné-Bissau e não em Cabo-Verde e, assim, deviam ter vergonha e se calhar mandar cunhar uma medalha para homenagear os vossos emigrantes que são quem, de facto, continua a sustentar a vossa economia… Mais? Ok, venha daí: Cabo Verde já chegou a ser considerado «um dos maiores exportadores de madeira» e isto só dá mesmo para rir… Madeira? Só se for a imitar rochas… Meus caros, mais vale cair em graça do que ser engraçado.
Quanto aos dois países - e porque não aos outros PALOP? - deixo aqui este sentimento de orgulho: a Guiné-Bissau é o país que mais contribuiu para as independências dos PALOP; é o país africano de língua portuguesa com maior número de quadros e o mais bem representado junto dos organismos internacionais (o representante do secretário-geral da ONU no Brasil - um dos maiores países do mundo - é o guineense Carlos Lopes; o segundo homem do Banco Mundial para África é o guineense Paulo Gomes) e isto só para citar alguns. Vão apitando que eu cá estarei para avivar a vossa curta memória. Embrulhem! António Aly Silva