terça-feira, 8 de outubro de 2013
Para o Xanana
SOBRE A MISSANG, você ouviu cobras e lagartos no quartel devidamente escolhido para a encenação - ou seja, mentiras. Ora leia:
A MISSANG resultou de um acordo assinado entre os dois países, e o próprio António Indjai esteve envolvido no processo. Previa a reforma das Forças Armadas, na sequência do fracasso de um general espanhol que a União Europeia mandou à Guiné-Bissau com o mesmo objectivo. Os angolanos chegaram, fizeram um levantamento e começaram a deitar abaixo quase os quartéis para construírem, de raiz, novas e modernas instalações militares, onde não chovesse dentro das casernas, que tivessem água corrente e que oferecessem condições dignas para a tropa.
Para se ter uma ideia da dimensão do projecto, basta dizer que a MISSANG gastava na Guiné-Bissau, só para o funcionamento da própria missão, entre 40 a 50 mil dólares por dia. Até alimentavam os militares guineenses, o que não estava no acordo. É claro que esse dinheiro não era nada para o Estado angolano, uma vez que só o orçamento anual do exército daquele país cobre três anos do Orçamento do Estado da Guiné-Bissau. Por isso, quando digo que não existe Estado na Guiné-Bissau, este dado confirma o que digo. Voltando ao assunto da MISSANG, demoliram-se o quartel da marinha e outras instalações militares, e até as instalações da Divisão de Trânsito foram deitadas abaixo para se construir uma nova infra-estrutura.
E quando se viu que a reforma era mesmo para valer, os problemas começaram a aparecer e alguns militares, com medo de perder o seu protagonismo, ilegítimo porque conquistado à força, e movidos por interesses completamente diversos dos da Guiné-Bissau, começaram a acusar Angola. As imputações eram que Angola levou armas e outros equipamentos militares, mas tudo o que a MISSANG desembarcou na Guiné estava previsto no acordo, e tudo foi apresentado ao Estado-Maior. Mostraram as armas, os tanques e os meios aéreos e navais, e disseram aos guineenses que iam receber formação para operarem aqueles equipamentos que, posteriormente, reverteriam a favor do exército guineense.
Havia inclusivamente helicópteros, e para a sua utilização foi dada formação a pilotos que já não voavam há anos. Do acordo constava igualmente o fornecimento de aviões caça MIG, completamente novos, que seriam entregues ao exército da Guiné-Bissau. Foi nessa altura que MISSANG teve conhecimento de que se estava a preparar um golpe de Estado, e o embaixador angolano confrontou com essa informação os que viriam a ser os autores do golpe. Estes negaram, naturalmente, mas pouco tempo depois aconteceu. Angola já tinha, inclusivamente, avisado o Carlos Gomes Júnior e o presidente Malam Bacai Sanhá, na convicção de que este último não sabia de nada, o que não correspondia à realidade, como se veio a provar. O Cadogo só não se dirigiu à embaixada de Angola para se proteger para não criar mais problemas. Ele permaneceu em casa, deu ordens ao seu corpo de guarda-costas para não reagir se viessem prendê-lo e, assim, evitarem ser mortos, e o golpe aconteceu com as incidências que todos conhecem.
Boa visita, e venha daí mais choraminguices. AAS