"Amigos,
Li um artigo e fiquei deveras surpreendido com as declarações do chefe da missão da ONU na Guiné-Bissau:
Joseph Mutaboba, the UN Secretary General's Special Representative in Bissau:
“Recurring military intervention in politics is the result of constantly changing alliances. He says everyone in Guinea-Bissau wants to be the boss. Everyone wants to be a minister. Everyone wants to be an ambassador. Everyone wants to be something. Everyone wants to become what they can never become. He says there is too much demand and not enough vacancies in such a small country.”
Source: VOA
Tradução:
“A constante intervenção militar na vida política é o resultado das constantes mudanças das alianças. Na Guiné-Bissau todos querem ser chefes. Todos querem ser ministros. Todos querem ser embaixadores. Cada um quer ser alguma coisa. Todos querem transformar-se naquilo que nunca podem ser. Diz que há demasiada procura [no Mercado de trabalho] mas poucas ofertas num pequeno país.”
Fonte: VOA
Minha Observação:
Estará o Representante das Nações Unidas a insinuar que todas as movimentações militares na Guiné-Bissau são frutos de alianças políticas? Se este é o caso, porque é que não diz isto às Nações Unidas e ao Conselho da Segurança? Os vossos relatórios não são frontais, mas as suas declarações são.
Quanto à questão de cada um querer ser alguém, pergunto então ao Sr. Representante das Nações Unidas: As pessoas não têm o direito de sonhar e de prosseguir os seus sonhos?” O senhor está a advogar o conformismo? Como explica o Sr. a inabilidade das Nações Unidas mediarem o caso de Bubo Na Tchuto durante três meses? Conformismo ou ineficácia?
Concordo, no entanto, de que a via militar não deve constituir o meio de se chegar ao poder. Mas, se não me engano, tem sempre havido eleições livres e justas na Guiné-Bissau, o que quer dizer que os nossos “chefes, ministros, embaixadores…” são frutos de um exercício democrático – isto a fazer fé nos relatórios das organizações como a ONU que têm declarado as eleições da Guiné-Bissau como “livres, justas, transparentes e democráticas”. E as eleições têm os seus resultados – as nomeações de chefes, ministros, diplomatas…
O que eu saiba – com a exepção do governo de unidade nacional em 1999 após a guerra civil -- não tem havido levantamentos militares resultantes em nomeações de pessoas para cargos civis e públicos na Guiné-Bissau. Esses levantamentos têm beneficiado sobretudo (e unicamente) a classe militar. Mas também como esses privilégios são “short-lived” (de curta duração) – como tem mostrado a história recente na Guiné-Bissau, as alianças de que fala não devem interessar a ninguém. Aqui refiro-me aos políticos sérios, não aqueles que só aparecem nas alturas das eleições.
O que tem faltado na Guiné-Bissau é uma visão clara por parte da ONU e por parte dos nossos dirigentes. Cada vez que aparecem oportunidades para se fazer algo, elas acabam por ser desperdiçadas. Ao fim do dia, dizem-nos que “tudo está bem, tudo está sob o controlo.” Ah sim? Então revejamos os acontecimentos: Guerra de 1998-99, o assassinato de Ansumane Mané, o assassinato de Veríssimo Seabra, o assassinato de Tagme Na Waie, o assassinato de Nino Vieira, os assassinatos de Helder Proença e de Baciro Dabó … Será que tudo está realmente bem?
Há meses atrás, a chefia militar guineense recusou a ideia de uma força militar de manutenção na Guiné-Bissau. Disseram-no na altura que “estava tudo bem” e que era impensável contemplar o envio das tropas da ONU para o nosso país. Gostaria de saber o que pensam agora!
Pensem amigos, pensem!
Abraços,
Umaro Djau"