segunda-feira, 20 de outubro de 2014
OPINIÃO: A nova oportunidade da Guiné-Bissau
Por: Jaime Nogueira Pinto
Fonte: jornal 'SOL'
"Em Abril de 2012, nas vésperas da segunda volta da eleição presidencial que daria vitória certa ao primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior (49% dos votos na primeira), eclodiu na Guiné-Bissau um golpe militar. Carlos Gomes Jr. conseguira melhorar a reputação do país, pagar os salários da função pública, pôr a economia a crescer, reprimir o crime organizado.
Em 2012, eleição de Carlos Gomes Jr. foi interrompida por golpe militar. O pretexto do golpe foi a presença da força militar angolana em Bissau para apoiar a reforma das Forças Armadas e resolver o problema político-institucional do país: a permanente chantagem que alguns militares exerciam sobre o Executivo.
A missão militar angolana desempenhava um papel-chave, assegurando a passagem à disponibilidade dos militares mais velhos, devidamente compensados financeiramente, e o treino e equipamento das novas Forças Armadas da Guiné-Bissau. Mas, regionalmente, alguns interesses quiseram impedir a ‘ingerência angolana’ – por isso inspiraram o golpe. E só a intervenção de vários governos – entre os quais o de Lisboa – garantiu a vida do primeiro-ministro Carlos Gomes Jr., feito prisioneiro pelos golpistas.
Desde então, a Guiné-Bissau ficou refém dos golpistas que improvisaram um governo de transição e designaram Sherifo Nhamadjo, presidente da Assembleia Nacional, para Presidente da República.
Foram necessários paciência, esclarecimento e esforço diplomático para abrir caminho para eleições que devolvessem o país aos representantes do povo. O PAIGC, liderado por Domingos Simões Pereira, ganhou essas eleições em Junho, com maioria absoluta. O seu candidato presidencial, José Mário Vaz, foi também eleito na segunda volta, contra Nuno Nabiam, o favorito de Kumba Yalá, entretanto falecido.
A restauração total da normalidade constitucional deu-se no passado dia 15 de Setembro, com a saída do CEMGFA, general António Indjai, o chefe do golpe de Abril de 2012. Para o substituir, foi escolhido o brigadeiro-general Biaguê Nan Tan, chefe da Casa Militar do Presidente.
Estão agora reunidas as condições políticas internas e externas para a recuperação económico-social da Guiné-Bissau.
O país estava a crescer a ritmo de dois dígitos nos dois anos que precederam o golpe de Abril de 2012 e tem uma economia viável. Tem uma boa base agrícola – o melhor caju do mundo, condições para a produção de arroz e de frutas tropicais – e águas ricas em peixe.
Tem madeiras preciosas, é rico em bauxite e terá, provavelmente, reservas de hidrocarbonetos. Projectos infra-estruturais de fundo, como o porto de Buba, podem mudar a economia do país e da região. Uma boa conjuntura para que, com o apoio prometido das instituições internacionais e regionais, o investimento português faça a diferença."