sexta-feira, 7 de junho de 2013
Presidente de Cabo Verde em entrevista ao Diário Económico. Um ensaio sobre a lucidez
Excertos
O trabalho da CPLP corresponde às suas expectativas?
Antes de ser presidente tinha uma posição algo crítica da CPLP. Desde que foi criada há avanços, evoluiu muito, para uma instância com credibilidade e respeito na cena internacional. Por exemplo, no dossiê Guiné-Bissau. Mas uma coisa que é fundamental: um cidadão comum não se sentirá membro de uma comunidade se não puder circular nesse espaço. A livre circulação de pessoas na comunidade tem de ser um objetivo a atingir.
A CPLP podia ter feito mais no golpe de Estado da Guiné-Bissau?
Sim, talvez. Mas as dificuldades não decorrem só da CPLP. A CEDEAO, de que a Guiné-Bissau é membro, entendeu que teria o papel principal na solução do conflito. Houve falta de sintonia entre a CEDEAO e a CPLP. Há alguns fantasmas.
Quais fantasmas?
De alguma forma, Portugal ainda é visto em África como potência colonial, com pretensões neocolonialistas. Não faz sentido nenhum, mas o Portugal moderno, democrático ainda não é suficientemente conhecido. Em relação à Guiné-Bissau, os países da CPLP aperceberam-se que, sem descurar os princípios, teriam de ter uma postura mais pragmática e realista. Não é possível encontrar uma solução no terreno sem dialogar. A CPLP aproximou-se mais da CEDEAO, União Africana e Nações Unidas para que em conjunto se encontre uma solução que passe por um governo inclusivo, que integre as principais forças políticas. E ver se é possível chegar a eleições justas e livres antes do final do ano. O que, em rigor, não vai ser fácil.