sábado, 1 de junho de 2013
Ramos Horta: "Timor-Leste vai abrir agência de desenvolvimento na Guiné-Bissau"
Timor-Leste vai abrir, em breve, uma agência de desenvolvimento na Guiné-Bissau, que terá um orçamento de dois milhões de dólares (1,5 milhões de euros), para apoiar pequenos projetos, revelou o antigo presidente timorense José Ramos-Horta. Falando aos jornalistas no final de uma conferência sobre os Desafios em África, que decorreu sexta-feira à noite na Cidade da Praia, promovida pela Presidência da República cabo-verdiana, o atual representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau salientou tratar-se de um "pequeno gesto" de um país "pobre", mas que pode ajudar dentro das suas possibilidades. "Trata-se de um pequeno gesto que pode fazer a diferença. Apesar de sermos um país pobre, mas com algumas possibilidades, decidimos abrir na Guiné-Bissau uma agência de desenvolvimento com dois milhões de dólares de orçamento, para apoiar projetos pequenos com a sociedade civil, Governo ou a própria agência da ONU", disse. O prémio Nobel da Paz de 1996, atual representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau falou também do processo de transição em curso no país, na sequência do golpe de Estado de 12 de abril de 2012, que interrompeu o processo eleitoral das presidenciais e derrubou o Governo de Carlos Gomes Júnior.
"Acredito que, nos próximos dias, haverá um Governo mais abrangente, aceite por todos, que haverá eleições no final do ano e que haverá um novo Governo constitucional. Nessa altura, terá de haver um maior apoio da comunidade internacional para ajudar o novo Governo a reconstruir todo o Estado", referiu. Manifestando-se "otimista" em relação á transição guineense, Ramos-Horta indicou existir "boa vontade" de todas as partes envolvidas na resolução da questão, tanto mais que, frisou, existe já um "grande cansaço". "Há boa vontade e sente-se também um cansaço entre os militares, políticos e povo, que estão emocionalmente exaustos, mais ainda devido ao ponto insustentável a que chegou a economia", salientou, defendendo que "há que ter paciência" e encorajar todos a encontrarem uma solução, independentemente dos partidos e ambições pessoais.
"A comunidade internacional também está cansada e há tantos desafios no mundo, uma grande crise financeira no mundo. Tenho reuniões frequentes com os todos os partidos políticos e creio que há boa vontade, que têm a consciência de que, desta vez, a Guiné-Bissau tem de sair definitivamente da crise, pois poderá ser a última oportunidade" para o país", frisou. Ramos-Horta advertiu, porém, para a necessidade de a comunidade internacional - Nações Unidas, União Europeia (UE), União Africana (UA) e as comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) - não exerça demasiadas pressões. "Conhecendo a complexidade da situação, as sensibilidades e o peso da História na Guiné-Bissau, tentamos encorajar e empurrar, mas com prudência, para não ferir suscetibilidades", concluiu Ramos-Horta, que deverá regressar ainda hoje a Bissau, via Dacar. LUSA