sábado, 22 de setembro de 2012

Incompreensões, diz Mutaboba


O representante do secretário-geral das Nações Unidas em Bissau, Joseph Mutaboba, garantiu hoje que entre as organizações regionais CEDEAO e CPLP existem apenas "incompreensões" sobre a Guiné-Bissau e que ambas estão disponíveis para dialogar. A CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) têm posições divergentes sobre a Guiné-Bissau na sequência do golpe de Estado de 12 de abril passado. A primeira apoia o governo de transição formado depois do golpe, enquanto a CPLP não reconhece o o referido governo.
A crise na Guiné-Bissau levou Joseph Mutaboba e Ovídio Pequeno, representante da União Africana (UA) em Bissau, a contactos em vários países de África e também em Lisboa.
Hoje, em conferência de imprensa em Bissau, Mutaboba sintetizou que "o que resulta claramente de todas estas consultas é que não existem grandes divergências entre a CEDEAO e a CPLP, mas acima de tudo incompreensões".

Nas consultas, se por um lado ambos "reiteraram as suas posições" eles "manifestaram sobretudo disponibilidade para o diálogo", declarou Joseph Mutaboba, acrescentando que a ONU e a UA vão prosseguir nos esforços de diálogo e que encontros entre parceiros importantes da Guiné-Bissau vão acontecer nos próximos dias. Um deles decorrerá à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, organizado pela ONU e pela UA e que junta CEDEAO, CPLP e União Europeia.

"Os resultados deste encontro servirão de base à reunião do grupo de contacto internacional sobre a Guiné-Bissau, previsto para Adis-Abeba", referiu Mutaboba.
Mas, acrescentou, mais do que diálogo entre parceiros da Guiné-Bissau é fundamental o diálogo entre os guineenses. Porque são eles os responsáveis por todas as crises históricas e são eles quem tem de determinar "se esta é a última".

"O diálogo é difícil, mas não impossível. Todos dizem que estão prontos a dialogar", esclareceu Joseph Mutaboba, considerando o momento atual uma ocasião única para os guineenses se olharem nos olhos, dizer a verdade, dizer que é preciso parar de uma vez por todas, mudar de página, reconciliar-se e construir uma base, para que depois a comunidade internacional os ajude "sobre uma base sólida e sincera".

Ovídio Pequeno manifestou a mesma opinião. E acrescentou que essa preocupação para com o diálogo interno vem do "reconhecimento de que de facto na Guiné-Bissau há muitos problemas internos, particularmente a nível dos partidos políticos". "Os partidos têm dialogado, é um início de um processo ainda frágil, mas que poderá dar frutos. Mas temos de ter paciência e reconhecer que há dificuldades, que os partidos têm problemas internos e que enquanto não os resolverem qualquer iniciativa de diálogo terá obstáculos", apontou Ovídio Pequeno.

O representante do presidente da Comissão da UA lembrou o problema da Assembleia Nacional, paralisada desde o golpe de Estado, uma questão "urgente" mas sobre a qual "o diálogo já foi iniciado". Mas há também a questão, lembrou, de haver um governo inclusivo, ou a harmonização de uma posição a nível internacional. "É preciso ir paulatinamente resolvendo os problemas, com visão e respeito pela Carta de Transição. Se as partes na altura concluírem que não pode ser feito isso já é outra etapa do percurso", disse, quando questionado sobre se as eleições poderão acontecer em abril de 2013, como previsto.
Joseph Mutaboba não falou das eleições. Mas explicou que quem representa a Guiné-Bissau na Assembleia Geral das Nações Unidas é "uma questão dos Estados membros".

Serifo Nhamadjo e o governo de transição estarão em Nova Iorque, como também estarão Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, o Presidente e o primeiro-ministro depostos.
Joseph Mutaboba explicou que quando há mudanças num país, como aconteceu na Guiné-Bissau, o "dossier" é enviado ao Comité de Protocolo e de Acreditação, composto por Estados membros eleitos anualmente, sendo esse comité que decide quem participa, razão pela qual não sabe quem ou se alguém discursará na assembleia.

Mas uma certeza deixou perante os jornalistas: "Gostávamos de afirmar aqui e agora que nem as Nações Unidas nem a União Africana deixaram ou deixarão de apoiar plenamente este país para que ele alcance a paz que o povo deseja", declarou. O mesmo já tinha sido expresso numa mensagem à Guiné-Bissau do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por ocasião do Dia Internacional da Paz, que hoje se celebra. "Reitero que as Nações Unidas vão prosseguir o seu apoio, mas quero antes de mais sublinhar que qualquer apoio recebido não dará os frutos necessários enquanto não houver a participação de todos os guineenses nos esforços pela paz", lê-se na mensagem.