quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ESTUDANTES GUINEENSES: Miséria em Abidjan

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Caro Aly

Antes de começar, quero esclarecer que tive acesso ao seu número atravês do F.G. e L. M.L.G. Sou guineense, de 27 anos, a terminar a minha formação e sou ainda porta-voz dos estudantes bolseiros na Costa do Marfim, desde Setembro de 2008. Sou filho do Brigadeiro-General, Piloto Aviador, Celestino de Carvalho, actual presidente do Instituto de Defesa Nacional.

Indo directo ao assunto, somos 20 estudantes, bolseiros da Presidência da República, 14 na Costa do Marfim e seis no Benim. Usufruimos de uma bolsa de estudos da Presidência, atravês do malogrado presidente ‘Nino’ Vieira, para estudarmos no Instituto Superior de Tecnologia (IST-CI).

É uma bolsa especial, com obtenção de diploma do Estado francês, negociada entre a Presidência da República e a direcção do IST-CI, para uma formação de 3 anos (licenciatura), sendo que nós, os estudantes, iriamos beneficiar de uma bolsa de estudos no valor de 40.000 fcfa por mês – e tendo em conta este importante promenor, os pais e encarregados de educação decidiram mandar os seus filhos para esta formação.

Saímos de Bissau no dia 13 de Setembro de 2008 - 14 estudantes para a Costa do Marfim e os 6 restantes para o Benim. Os bilhetes de passagem foram pagos pelo presidente ‘Nino’ Vieira, porque a maioria dos beneficiários não tinham pais, ou seja são orfãos, filhos de antigos combatentes da liberdade da Pátria e de alguns oficiais superiores das FARP que perderam as suas vidas no conflito militar de 1998/99.

A nossa chegada foi óptima, e logo nos primeiros momentos da nossa convivência com o pessoal da universidade e da administração, verificamos a riqueza dos laços Humanos…as nossas relações foram as melhores. Durante 11 meses, houve um ambiente de camaradagem, de irmandade, de espiirito de inter-ajuda. Tinhamos apoios da administração, dos professores e da direccao do IST-CI. A direcção do instituto pagava-nos a cada fim do mês.

Infelizmente, com a morte do ‘Nino’ Vieira cortaram-nos a bolsa e a partir desse momento, já não tinhamos acesso à direcção para saber porque é que deixaram de nos pagar a bolsa, e ate hoje não encontramos soluções. No entanto, começamos a sofrer com muitas deficuldades… que não quero citar, porque é até uma vergonha para o nosso País.

E foi desta que decidimos escrever cartas para as entidades competentes do País, nomeadamente para o Presidente da República, para o Primeiro-Ministro e para muitos outros dirigentes do País, de que não vale a pena citar os nomes, no sentido de nos ajudarem a ultrapassar esta difícil situação. Apesar de todos os esforço, nada. Nem uma reacção de qualquer das partes.

Criámos uma comitiva de pais e encarregados de educação, que tiveram encontro com o Primeiro-Ministro, tendo mesmo assinado um título com um determinado montante a fim de no-lo enviar…mas que nunca chegou até nós. O que se diz é que o Ministro das Finanças, José Mário Vaz, é quem tem de dar ordens para o levantamento do título. Até agora, nada. Afinal, quem é que manda no Governo, nomeadamente no Ministro das Finanças?

Lembro-me muito bem que o próprio ministro das Finanças esteve cá várias vezes, em Abidjan, uma vez que é o presidente das Finanças da UEMOA,e eu tive oportunidade de falar com ele, de explicar tudo sobre a nossa situação, no hotel Pullman, na presença do General Emílio Costa e do F.L.G. Falamos sobre ajudar-nos a passar esta situação. Ajudar a Guiné-Bissau.

Quanto a esta ajuda, nós não estamos a exigir do Governo ou seja quem for, que nos dê dinheiro. Queremos, sim, que negoceiem com a direcção da Universidade, tentar saber porque deixaram de nos pagar. Acho que podem fazê-lo até porque vêm sempre a Abidjan para as reuniões da CEDEAO, da UEMOA, frequentar seminários.

O próprio Presidente da República, Malam Bacai Sanha, esteve cá para o empossamento do seu homólogo Ouattara mas ninguém tentou saber de nós, nem uma diligência que fosse para saber se pelo menos estávamos todos vivos depois da guerra, o que era indispensável.

Chamo a atenção ao Governo para o facto de sermos filhos da Guiné-Bissau - não devemos ser abandonados porque estamos numa situação destas e porque viemos para ter uma formação para podermos regressar a nossa terra e contribuir para o seu progresso.

Às vezes perguntamos: será por ‘Nino’ Vieira não estar é que se desinteressaram de nós? Será porque ele nos mandou vir estudar? Esperemos que o Governo não nos abandone por uma simples razão: por sermos filhos da Guiné-Bissau, mas que sirva de modelo defendendo o seu Povo. A criação de uma comitiva de pais e encarregados de educação é um passo determinante e indispensável para a solução desta situação alarmante e muito triste em que nos encontramos.

WALTER MORGADO DE CARVALHO
Porta-voz dos estudantes bolseiros na Costa do Marfim
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