domingo, 25 de dezembro de 2011

ANGOLA: Brutalidade policial mata cidadão guineense

"Caro Aly,

É duro ser-se Guineense, principalmente porque a nossa diplomacia há muito que vem se prostituindo. Pode-se deixar a nacionalidade Guineense de lado mais é impossível despir-se do sentimento de Guineense, principalmente se vivemos e crescemos no Pilum Colon. Quem cresceu e viveu neste meio tem apenas um sentimento - o de ser Guineense. Não foi e acredito ainda não é importante a cor de pele, a origem étnica, a profissão dos pais e a religião, sempre os mais velhos defenderam os mais novos, a mãe de um era a mãe de todos e quem vem de um bairro alheio tem que ter cuidado se não leva e das boas. Esta introdução é uma mistura de saudade, de tristeza, de raiva e de revolta ao mesmo tempo.

molo fati 3

molo fati 2

No dia 2 de Dezembro de 2011, um cidadão Guineense (mais um) de nome Môro Fati, nascido no dia 11 de Janeiro de 1990, na vila de Sedjo Mandinga, sector de Pirada, Região de Gabu, Guiné-Bissau, tinha acabado de chegar (o carimbo da entrada é de 9-9-2011) às terras angolanas, na vã tentativa de procurar honestamente trabalhar, sobreviver e ajudar os que não tiveram a sorte (se é que existe sorte nisso) de conseguir rumar além mar.

Tinha acabado de instalar-se, e com a ajuda de alguns familiares e amigos conseguiu emprego numa pequena cantina do fundo de quintal, propriedade de um senhor da Guiné-Conacry, o qual nesta altura não estava e o segundo empregado tinha-se ausentado por alguns minutos. Eram 15 horas da tarde. A polícia do bairro de Cassenda (arredores de Luanda) perseguia um gatuno angolano, que, vendo-se cercado pela polícia decide procurar refugio na cantina onde trabalhava o pobre de Môro.

A polícia entrou na cantina de uma forma selvática dando porrada ao bandido e a quem estava na mercearia, enquanto a proprietária do prédio (que alugou o espaço para o patrão de Moro) gritava que o Moro não era bandido, na vã tentativa de o salvar. Não sei se bateram no gatuno como fizeram com o trabalhador honesto. Percebendo-se que tinham acabado de destruir mais uma vida, os próprios polícias mandaram levar o Môro ao hospital (apenas para terem o cunho medico de um trabalho bem feito, é lógico) onde ele viria a ser pronunciado morto.

Os familiares deste malogrado (não sei se são familiares de verdade ou apenas conhecidos nesta odisseia que é a imigração) vivem nos bairros pobres de Luanda, e têm procurado evitar qualquer contacto, inclusive de angolanos, que querem apenas ajudar, com medo da represália polícial. Por esta razão e mais outras.

Esta história é para denunciarmos esta brutalidade para com um irmão, cujo único crime foi ter nascido num País chamado Guiné-Bissau e que por ser governado pelos políticos que tivemos até aqui só nos deu dissabores. É uma vergonha.
"