Caro Aly
Antes de mais espero que estejas bem, com muita pena não nos encontramos em Bissau, onde estive por alguns dias. Escrevo-te estas linhas para te relatar um acontecimento que testemunhei na minha passagem pela fronteira norte de S. Domingos (M'pack) no dia 19 do corrente mês e que passo a relatar:
Após ter atravessado a fronteira na manhã do dia 19 de Novembro em direcção a Ziguinchor, reencontrei no posto fronteiriço de Mpack, alguns elementos da Segurança senegalesa (pessoal amigo que já conhecia a algum tempo), após actualizados os números de telefones que já se haviam perdido, segui caminho. Nesse mesmo dia por volta das 16h., estando eu em Ziguinchor, recebo um telefonema desse meu amigo da segurança senegalês a relatar-me um incidente acabado de acontecer passo a relatar;
- A guarnição militar senegalesa destacada para a fronteira pediu um favor a um motorista de transporte público que tem por hábito fazer a ligação Ziguinchor S. Domingos, para que este lhes comprasse 28Kg de carne para aprovisionamento de fim-de-semana.
Passado algumas horas o mesmo motorista volta, alegando que as nossas autoridades confiscaram-lhe a carne comprada. Houve uma reunião de emergência entre as forças de segurança senegalesas destacados na fronteira, e esse amigo, sabendo quem eu era decide ligar-me a ver se conseguia apaziguar as coisas.
Após ter recebido a chamada da fronteira (lado senegalês), a relatar tal facto, pedi-lhes que me dessem algum tempo para apelar as nossas autoridades para uma rápida averiguação antes que este incidente ganhasse outras proporções. Recarregado o telemóvel pus-me a fazer telefonemas.
Liguei para alguns números de pessoas minhas amigas no Ministério do Interior a fim de conseguir nomes do pessoal destacado na fronteira, mas sem sucesso. Lá consegui falar com alguém do SIE (Serviço de Informação de Estado), que me informou que o Administrador de S. Domingos se encontrava em Cacheu na abertura do festival 'caminho de escravos', mas que iria ver se conseguia entrar em contacto com alguns responsáveis dos serviços presentes no posto fronteiriço.
O que é certo, é que até na manhã de Domingo 20 Novembro, nada havia sido feito, e os militares do lado Senegalês, começavam a jurar não deixar passar este incidente em branco. É sabido que sempre houve um bom entendimento na fronteira Norte, mas há que se fazer a manutenção dessa relação e não deixar que pequenos incidentes banais como este manchem ou ponham em perigo interesses maiores.
Incidentes do género ganham corpo, porque não temos nenhum oficial de ligação em representação do Ministério do Interior ou de algum serviço de segurança afecto à nossa embaixada que possa atenuar estes pequenos incidentes que eu classifico como "falha de comunicação!, mas sobretudo que se faça sentir a presença do Estado guineense neste lado, salvaguardando os interesses dos cidadãos que atravessam diariamente a fronteira ou que escolheram o Senegal como país de acolhimento.
Na esperança de que esta mensagem chegue a quem de direito, estou disponível para dar mais informações.
Mantenhas
C.H.A.»
M/N: Acho que ainda invadimos o Senegal...AAS