No final dos anos '70, EDUARDO FERNANDES era o feliz director-geral da empresa estatal SOCOTRAM - Sociedade de Comercialização e Transformação de Madeiras, caído de páraquedas não se sabe bem como.
Tudo corrias às mil maravilhas, não fosse um homem cruzar o seu caminho para lhe baralhar as contas e espalhar espinhos. Esse homem dava pelo nome de António Buscardini, o temível e todo-poderoso director nacional da Segurança do Estado (morto no golpe de estado de 1980), formado, tal como muitos agentes da nossa 'secreta', nas famosíssimas escolas de espiões da antiga Checoslováquia.
Um belo dia, rebenta o escândalo na praça pública: havia sobrecarregamento nos navios que zarpavam com a nossa madeira, para as ilhas Canárias. Foram então destacados dois agentes, um dos quais era S.M., que se lembra do caso como se fosse hoje: "Andámos atrás deles durante um tempo, colectando informações, escutando, mas nao foi um esforço por aí além. E a cidade era ainda mais pequena", lembra o agente. As investigações, que duraram cerca de duas semanas, deram frutos.
Antonio Buscardini foi posto ao corrente da situação, e, ciente da gravidade das suspeitas, ordenou as detenções. Um dia, com o sol nos píncaros, os dois agentes bateram à porta de um quarto há muito referenciado, no Hotel Ancar: lá dentro, estavam EDUARDO FERNANDES e um compincha do esquema fraudulento que lesou o Estado em várias centenas de milhões de pesos.
Os dois foram conduzidos à presença do Buscardini. A conversa foi deveras interessante, lembra o agente S.M.: "Assim que o Eduardo Fernandes entrou no gabinete do Buscardini, este encheu whisky num copo e estendeu-o, dizendo 'nós somos amigos, Eduardo. Bebe um copo enquanto eu me vou ocupando com outras coisas e já falaremos".
Sem grandes conversas, Eduardo Fernandes lá acabou por confessar tudo aquilo que a Segurança do Estado já sabia - motivo pela qual foi detido. Julgado em Tribunal, foi condenado e mandado para a prisão, onde definhou mais de um ano, tendo sido libertado pouco antes do golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980.
E o que faz afinal, hoje, o feliz do Eduardo Fernandes? Vive em Portugal há duas decadas pelo menos, imune a crise, e, bom, tornou-se num caríssimo consultor (nao consta que seja da área madeireira...) de empresas que pretendem investir na Guiné-Bissau.
Ah, e como não podia deixar de ser, como se já não bastasse, Eduardo Fernandes foi contratado para comentar, no programa semanal 'Debate Africano' na famosa RDP-África, onde se limita a bater palmas, 'está tudo bem', a este Governo, que revelou ser simplesmente... o maior ladrão do Povo da Guiné-Bissau. Pasmem-se: o Eduardo Fernandes fala até, imaginem, da... 'corrupção que está a dar cabo da Guiné-Bissau'. E assim vai o mundo. AAS