sábado, 6 de junho de 2009
Comfortably Numb*
Lembro-me de, em criança, gritar como se não tivesse alma ao ser literalmente arrastado pelos corredores das urgências do hospital Simão Mendes em direcção à vacina. Ainda hoje, não sou amigo das agulhas. Contudo, guardo as sábias palavras de um médico: “A pica vai doer. Mas dói muito mais a doença que com ela evitaremos”.O berço trouxe-nos promessas de amor mas também de dificuldades. Ambas se cumpriram. Nascemos do lado onde não abunda a sorte. Foi assim com todos nós. Ainda é assim com demasiados. Mas, um dia, pode ser que todos nos unamos para contrariar as coisas.Os guineenses parecem ter sido anestesiados com ansioliticos e com anti-depressivos. Pois só assim se explica o terrreno ‘fértil’ criado pelos nossos políticos, arrastando os militares para a chacina. Um terreno que nos afasta de nós próprios, do confronto com aquilo que somos e queremos ser, da análise daquilo que queremos perante o que devemos ser.Com o nosso extremismo, conseguimos diluir a nossa identidade. Concordamos sempre com quem está à frente. Pensamos o que todos - e cada um de nós - pensa. Queremos o que todos querem. Somos o que todos são. Estamos confortáveis mas estagnados.Quantas vezes – e sempre sem o saber – procuramos viver no limbo, na zona cinzenta, sem compromissos, sem tomadas de posição, sem Verdade e Justiça, apenas com umas verdades mutáveis e justiças relativas? Quantas? Assinamos sempre por baixo um pacto de silêncio, de resignação em relação ao que a própria vida de nós exige?Guineenses, caros compatriotas:Ou fazemos a revolução democrática, ou a revolução atropela-nos! AAS(*) Confortavelmente dormente (expressão muito usada pelos anglo-saxónicos). AAS