quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Porta-disparate aos pontapés


Caro Aly,

Em relação a uma pequena entrevista dada pelo Fernando Vaz ao jornal Correio da Manhã (CM), gostaria caso seja possível que publicasses no teu blog estas poucas linhas. Antes de mais devo esclarecer que não sou apoiante de Carlos Gomes Jr ou de qualquer outro eventual candidato à governação da Guiné-Bissau, nem tão pouco me movem simpatias político-partidárias. A única coisa da qual sou um fervoroso apoiante é de que a Guiné-Bissau encontre o caminho da paz e da boa governação e que em breve possamos de novo ver algum crescimento económico e desenvolvimento no país cujo povo bem merece. Quanto à dita entrevista do Fernando Vaz, ao Correio da Manhã, apraz-me fazer o seguinte comentário:


Apesar de ser um crítico da actual governação portuguesa em diversos aspectos, fiquei satisfeito e congratulei-me com a posição tomada por Portugal em particular e pela CPLP em geral, no que diz respeito aos fatídicos acontecimentos de 12 de Abril de 2012, os quais vieram de novo provocar um enorme retrocesso no processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau, facto que infelizmente a população Bissau-guineense sente como mais ninguém.

Também não posso esquecer tudo aquilo que foi afirmado publicamente pelo Fernando Vaz em relação a Portugal, nomeadamente, após os alegados - repito alegados - incidentes de 21 de Outubro de 2012 e que vieram a culminar com a encenação de 27 de Outubro de 2012. Ainda não me esqueci, nem posso, do triste e lamentável incidente da bandeira enrolada ao tronco do Capitão Pansau, sem ter existido qualquer reacção do dito governo de transição a todo esse lamentável episódio. Todos perceberam que foi uma cena encenada, resta saber por quem, mas parece-me não existirem grandes dúvidas acerca de quem foram os guionistas de serviço.

Perante aquilo que referi anteriormente, considero de uma enorme falta de vergonha, bem como de verticalidade, o facto do Fernando Vaz se ter dirigido ao MNE português da forma como o fez. Demonstra da sua parte e mais uma vez, um enorme grau de amadorismo, a inexistência de qualquer sentido de Estado e a enorme falta de aptidão para o cargo que desempenha, o que aliás, já ficou comprovado nas inúmeras e infelizes intervenções que fez desde que é membro do dito governo de transição. Aliás, se o Senhor tivesse o mínimo de sentido de Estado, ter-se-ia demitido imediatamente aquando do episódio do alegado “roubo” dos 20 milhões de CFA do interior de sua casa. Não consigo adjectivar o facto de, num país onde a maioria dos cidadãos sobrevive com cerca de 1 USD/dia, o Senhor se vangloriar de ter 40 milhões de CFA (cerca de 60 mil Euros) “guardados” num cofre e para os quais não existiu até hoje qualquer explicação pública válida. Tal facto teria sido só por si suficiente para apresentar a respectiva demissão ou ser demitido. Todos sabem porque tal não aconteceu.

O Fernando Vaz, refere na entrevista ao CM que “Os amigos que nos apoiam, esses sim acompanham todo o processo e, conjuntamente, temos estado a fazer esforços no sentido da realização das eleições a 24 deste ano”. O Senhor sabe muito bem, que desse grupo de amigos faz parte Portugal, e se efectivamente vai ter eleições na Guiné-Bissau, deve-se tão só e apenas ao apoio internacional, apoio esse que vem quase exclusivamente da União Europeia. E o Senhor sabe perfeitamente que é Portugal que continua a fazer com que a Guiné-Bissau não seja esquecida no seio da UE e que esta continue a contribuir para o desenvolvimento do país. Não queira “atirar com areia” para os olhos dos guineenses que o povo não merece uma coisa dessas.

À questão colocada pelo jornalista, sobre se as Forças Armadas e o dito governo de transição estarão dispostos a aceitar uma eventual vitória de Carlos Gomes Jr em futuras eleições presidenciais, a sua resposta não podia ser mais elucidativa e transmite exactamente aquilo que se passa na Guiné-Bissau. O “poder politico” não tem – e o Senhor sabe isso – qualquer controlo sobre o “poder militar” e quando o Senhor responde ao jornalista que “pelo governo posso responder e digo que este governo é democrático e o resultado que sair das urnas será respeitado”, está implicitamente a assumir que os senhores não têm qualquer controlo sobre os militares e que não fazem a mínima ideia do que irá acontecer no dia imediatamente a seguir às eleições.

Caro Fernando Vaz, veja se percebe uma coisa de uma vez por todas. “Não é com vinagre que se apanham moscas”. E o Senhor, como não percebe absolutamente nada de diplomacia, teima em usar vinagre. Portugal, tal como outros países, tem todo o direito em não reconhecer o vosso governo e pessoalmente acho que o devem continuar a fazer até à realização de eleições livres e democráticas, onde um governo legítimo seja efectivamente eleito. Os senhores não podem querer continuar a impor a vossa vontade aos outros. Decidiram levar a efeito um golpe de estado. Óptimo, fizeram “muito bem”. Agora acarretam com as consequências. É simples.

S.V.