segunda-feira, 15 de abril de 2013
Baraka malgós
O antigo chefe da armada da Guiné Bissau, José Américo Bubo na Tchuto deverá comparecer novamente em tribunal em Nova Yorque, hoje, Segunda-feira, isto numa altura em que se adensa o mistério sobre a identidade de várias outras pessoas que alegadamente estiveram envolvidas no plano de contrabando de cocaína mas cujos nomes não foram revelados pelas autoridades americanas.
Pelo menos uma dessas misteriosas personagens reivindicou acesso ao presidente da república e obviamente detém poder suficiente para nomear militares para o representar nas negociações sobre o trafico de drogas e armas. Vários viajaram para encontros em países da América do Sul e tinham contactos na Holanda para onde queriam que fossem feitos pagamentos. Bubo na Tchuto foi preso ao largo da costa da Guiné-Bissau juntamente com Papis Djeme e Tchamy Yala no passado dia 2 de Abril. Os três compareceram em tribunal no passado dia 5 num audiencia em que o juiz marcou uma nova sessão para o dia 15. Todos fazem face a uma acusação de conspiração para fazerem entrar drogas nos Estados Unidos e fazem face a uma pena máxima de prisão perpetua. Dois outros homens, Manuel Mamadi Mané e Saliu Sisse, foram presos numa operação separada. Rafael Garavito-Garcia e Gustavo Perez-Garcia, ambos colombianos foram presos no seu país e deverão ser extraditados para os Estados Unidos.
Mas a prisão destes sete homens deixa de fora os nomes de sete outros guineenses referidos nos documentos publicados pelo Departamento de Justiça americano apenas como CC 1, CC2, CC 3, CC 4, CC5 e ainda Entidade Militar da Guiné Bissau 1 e Entidade Militar da Guiné Bissau 2. Pela descrição fornecida nos documentos alguns destes homens tinham acesso aos mais altos níveis do governo e das forças armadas e tiveram um papel activo nos planos, alguns deles aparentemente bem mais importante que aquele de Bubo na Tchuto.
Por exemplo em Junho de 2012 “num hotel no Brasil” CC 2 reuniu-se com agentes americanos a operarem na clandestinidade, num encontro que teve como principal objectivo “discutir o envio de cocaína da América do Sul para a Guiné Bissau que seria eventualmente transportado para, entre outros países, os Estados Unidos”. Cerca de cinco dias depois CC 2 volta a reunir-se, agora em Bissau, com os agentes americanos e agora com Manuel Mamadi Mane e Saliu Sisse para discutir “a necessidade de se envolver entidades governamentais da Guiné Bissau na operação”. É nesse encontro que Mane teria concordado em ajudar a obter armas para o grupo de guerrilha colombiano FARC organizando uma reunião com “CC 1 através de CC 3”.
CC1 é obviamente alguém de importância porque numa reunião a 2 de Julho o agente americano explicou que tinha pedido um encontro face a face com essa entidade para “obter a aprovação de CC1 em movimentar toneladas de cocaína para a Guiné Bissau usando carregamentos de uniformes militares“. Nesse encontro CC 1 reconheceu que o plano para se obter armas seria feito através dele e do governo da Guiné Bissau. “É através de mim que vocês podem fazer isso. . . É através do governo e eu sou o único intermediário,” disse CC 1. Nesse encontro CC 1 declarou também que iria discutir o plano com o presidente da Guiné Bissau afirmando que “depois de amanhã vou falar com o presidente da República”.
Nesse mesmo dia Mane disse ter recebido a informação através de CC3 que CC1 “queria um pagamento de 20.000 Euros” como pagamento adiantado e mais tarde CC1 nomeou “entidade militar 1” como a pessoa que estaria encarregada do negócio das armas e para receber o primeiro transporte de cocaínas. “Entidade militar 2” passou por outro lado a ser o representante de CC 1 em reuniões. Passados outros cinco dias , Mane e Sisse informam que “entidades governamentais da Guiné Bissau iriam reter uma percentagem da cocaína enviada para a Guiné Bissau e que eles (Mane e Sisse) discutiram a quantidade exacta com essas entidades oficiais da Guine Bissau”.
Em Agosto de 2012 CC 2 e CC 4 reuniram-se com agentes clandestinos dos Estados Unidos em Bogotá na Colômbia tendo concordado em receber um carregamento de 4.000 Quilos de cocaína da FARC. No mês seguinte em Bissau CC 5 recebeu uma lista de armas que a FARC estaria a pedir entre as quais metralhadoras AK 47 e misseis terra-ar. Nesse encontro Mane disse que “CC 5 iria falar com o presidente e o primeiro-ministro da Guiné Bissau sobre a encomenda de armas para a FARC”.
Subsequentemente houve vários outros encontros com essas misteriosas personagens entre os quais uma reunião em Novembro de 2012 em Bissau em que “entidade militar 2 explicou que CC 1 estaria pronto a executar a transacção de armas logo que a FARC enviasse dinheiro para a Guine Bissau”. Desconhece-se a razão porque todos estes indivíduos não foram detidos ou não são mesmo identificados. Talvez durante os julgamentos dos detidos esses pormenores sejam revelados.
Quem tem medo dos americanos?
Um despacho do EMGFA traz o seguinte teor:
"Doravante, todas as deslocações de oficiais (militares e de segurança) para além de Safim (diga-se corda de Safim) carece de autorização superior - do Ministro do Interior em casos de agentes de segurança ou do Ministro de Defesa em casos de militares."
Será que o Injai também é abrangido por este despacho? Parece que não... AAS
PAIGC: Braima Camará recebe agrupamento de jovens
O Movimento de Jovens, conhecido por "AGORÁ" foi recebida pelo camarada Braima Camara, candidato a liderança do PAIGC recebeu e dialogou com uma dezena de jovens, numa troca de pontos de vista, versando o futuro e a inserção dos jovens no desenvolvimento do país.
O Presidente desta organização juvenil, que apoia o PAIGC, Geremildo Malaca, que considerou, depois de ter enumerado os grandes problemas que os jovens têm enfrentado, "não ter sido elaborada nem uma estratégia e muito menos uma política virada para a resolução dos seus problemas, facto que tem contribuído para a degradação da vida social de uma grande camada de jovens, hoje embrenhados no mundo do "warga", da droga, da delinquência juvenil, da prostituição e outros males que têm grassado de forma inexorável e preocupante no seio da juventude guineense".
Geremildo Malaca disse ser "para os jovens uma esperança o surgimento de um novo PAIGC, reconciliado, unido e coeso para poder promover novas e mais consentâneas políticas que possam ir ao encontro das nossas legitimas esperanças", daí que para o Agrupamento AGORÁ "o VIII Congresso do PAIGC seja por nós e para toda a juventude guineense aguardada com renovadas esperanças"
O Coordenador-Geral do Projecto "Por uma liderança democrática e inclusiva" Marciano Silva Barbeiro, membro do Bureau Político do PAIGC disse aos jovens que "um novo amanha está já a despontar com o surgimento de uma nova liderança no nosso Partido, dai o meu apelo a que tenham mais esperanças e acreditarem que uma nova oportunidade será dada aos jovens guineenses, mediante uma nova estratégia e política que vos conferirá mais oportunidades para singrarem na vida e no desenvolvimento do nosso país".
O Candidato Braima Camara expressou as suas esperanças em sair vitorioso no VIII Congresso Ordinário e prometeu profundas mudanças no funcionamento interno do PAIGC, "pois só funcionando bem, com dinamismo, rigor, competência e um elevado espirito de militância para servir o nosso grande partido, poderemos, com efeito produzir as mudanças que todos desejam para fazer uma vez mais do Partido de Cabral a mola impulsionadora do nosso desenvolvimento e nesta perspectiva os jovens ocuparão, como ontem na fase de aluga Armada de Libertação Nacional o seu espaço, o seu verdadeiro lugar e consequentemente as melhores oportunidades surgirão, mediante novas políticas, novas estratégias, novos projectos e consequentemente novas esperanças".
Para Braima Camara, "há que terminar com os wargas, as drogas, os maus vícios a que os jovens foram condenados a buscar para fazerem face a falta de oportunidades, quer ao nível da formação, quer ao nível dos empregos. Temos que implementar novas e consentâneas políticas quer nos domínios da educação e formação, quer em novas oportunidades de emprego ou de trabalho e criar estratégias que levem os jovens a voltarem a acreditar que eles devem ser a mola mestra impulsionadora do desenvolvimento político, económico, social do nosso país".
"Sou jovem, conto com os jovens, sem contudo esquecer os velhos, que devem ser os nossos conselheiros, para podermos transformarmos o nosso partido, a nossa terra", disse ainda Braima Camará.
A comunidade internacional e a Guiné-Bissau
Não devemos ter ilusão quanto ao papel da comunidade internacional na Guiné-Bissau. Quem é a comunidade internacional? O termo designa, de maneira imprecisa, um conjunto de Estados e as suas organizações internacionais e ONG`s influentes na matéria de relações internacionais. Isso quer dizer que é uma noção aproximativa, constituída de actores diferentes, em função dos temas, dos interesses e dos países em causa.
No caso da Guiné-Bissau, a comunidade internacional é constituída por Estados-Unidos da América, França, Brasil, Portugal, Nigéria, Angola, ONU, União Europeia, União Africana, CEDEAO e CPLP. A comunidade internacional só pode ajudar. Somos nós, os guineenses, que devemos arrumar a casa, fazendo o nosso trabalho interno para que do apoio do exterior surjam efeitos positivos.
Como arrumar a Guiné? Para isso é preciso reinventar o futuro? Como reinventar o futuro? Fazendo uma introspecção dos nossos problemas, definindo as responsabilidades de cada um dos actores da vida pública, melhorando o sistema organizacional do poder político e sustentando a esperança através de uma transformação económica inclusiva na Guiné.
Os maiores partidos políticos da Guiné, já demostraram os seus limites: guerras intestinas reflectiram-se a nível nacional, - golpes e contra golpes, crimes de sangue, destruturação da economia e da sociedade, incapacidade de criar um consenso à volta da coisa pública e disputa do monopólio dos instrumentos coercitivos do Estado, as forças de defesa e segurança, tornando a Guiné e o seu povo refém das contradições dos que animam a vida política.
O próprio modelo político e constitucional de organização do poder político, o semi- presidencialismo, não corresponde a sociologia política e cultural da percepção e do exercício do poder na Guiné. Tivemos sempre confusão entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro, mesmo sendo sempre do mesmo partido político. Isso implica que os partidos políticos e os seus dirigentes devem também ser reformados para que se possa definir claramente um modelo societal abrangente de toda a diversidade da sociedade guineense. E só com um modelo societal, aceite por todos que têm uma força moral baseada num novo contrato social, que a Justiça poderá funcionar e acabar com o surto de impunidade na Guiné.
Actores e modelo políticos relevam das vontades individuais e colectivas. Mas, para que essa vontade não se perca nos mares das necessidades humanas, é preciso criar uma dinâmica que os mantenha vivos, que dê esperança e que faça acreditar que hoje será menos pior do que ontem e que amanhã será melhor que hoje. Isso passa pela transformação económica da Guiné, através do crescimento económico inclusivo que dará emprego condigno às mulheres e aos homens na idade de trabalhar, para acabar com a pior doença do corpo social, a pobreza. Sem essa dinâmica económica nada mudará na Guiné, mesmo com o apoio da comunidade internacional.
Isso implica a escolha nas próximas eleições de pessoas competentes, de boa moralidade e que podem ser ouvidas no exterior para dar esperança ao povo, legitimando o poder que sairá das urnas com a voz dos que constituem a principal força política silenciosa na Guiné-Bissau desde as três ultimas eleições: os 45% dos abstencionistas que não se reconhecem nem nos actores actuais da política (partidos e indivíduos), e nem nos projectos de sociedade desses partidos. Assim sendo, a questão do perfil do futuro Presidente da República, do futuro Primeiro-ministro, deve estar desde já na mente de cada um de nós.
Podemos resumir este texto em uma frase: «Kim ku pudi manda pa tira Guiné na é situaçon?»
PAIGC e o Congresso: Onde e quando?
Mais um Golpe de Estado na Guiné-Bissau, mais uma transição vergonhosa (é que desta vez não resultou mesmo. E espero que seja a última). Mais uma situação caótica, mais um adiamento que não se justifica, um autêntico apunhalar pelas costas e uma ferida aberta na honra e na dignidade dos guineenses de boa-fé, espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Mais um festim para os abutres, com o País de rasto e o povo amordaçado a contemplar, impávido e impotente, o estrangular da sua esperança de um dia construir um futuro melhor para os seus filhos, em virtude dos sacrifícios consentidos durante a Luta de Libertação Nacional, como sempre frisava o nosso saudoso Amílcar Cabral – QUE NOS PERDOE E QUE A SUA ALMA DESCANSE EM PAZ!
É com este estado da Nação, quando consensualmente, a opinião pública nacional considera o PAIGC o principal factor de instabilidade para o País, que esta formação Política se prepara para realizar o seu VIII Congresso, previsto para o próximo mês de Maio (?), em Cacheu (?). Gostaria francamente que este Congresso ajudasse o Partido de Amílcar Cabral a se reencontrar, por duas razões muito plausíveis, do meu ponto de vista:
1 – Cacheu, a primeira Capital do nosso País, terra da minha querida mãe e de gente de Paz, berço do crioulo (língua que contém todos os ingredientes necessários para se falar e se entender, desde que haja boa vontade e bom senso);
2 – O PAIGC é parte integrante de cada um de nós, um fenómeno indissociável da nossa história, um património Nacional que devemos preservar para as gerações vindouras e em homenagem aos Heróis e Mártires da nossa fratricida Luta de Libertação Nacional e não permitir que, de Partido Libertador se transforme em Partido gerador de calamidades nacionais.
Será que os actuais Militantes do PAIGC têm plena consciência das responsabilidades que recaem sobre os seus ombros? Será que estão devidamente preparados para fazer história em Cacheu? Espero bem que sim, que o pragmatismo e o espírito de franco patriotismo, que por lógica, devem estar presentes nestas situações, acabem por se sobrepor aos interesses mesquinhos e corporativistas, que como mostra a prática, acabam sempre por resultar em nada absoluto.
Cacheu merece uma homenagem, um abraço carinhoso e a honra de ser a Cidade anfitriã do VIII Congresso da maior Formação Política do País. Entretanto, do ponto de vista estratégico, a decisão (tomada noutra circunstância) de realizar este Congresso em Cacheu, em detrimento de Bissau, poderá revelar-se infeliz para o PAIGC.
Tanto o aspecto Logístico (Cacheu não é Gabú), como o próprio timing (nada abonatório) e a situação sociopolítica vigente (notória falta de segurança), aconselham à tomada de medidas muito pragmáticas, que visam, sobretudo, reduzir ao mínimo as pressões externas e garantir aos Delegados um ambiente de trabalho que propicie a liberdade de pensamento e de acção, para que possam decidir de acordo com a sua consciência.
Apesar da reconhecida importância do VIII Congresso do PAIGC para a estabilização do País e o seu regresso à normalidade Democrática, parece que a sua realização não constitui uma prioridade, se tivermos em conta a gritante morosidade que envolve a sua preparação: o constante adiamento da reunião do Comité Central, enquanto Órgão Máximo do Partido, para definitivamente decidir sobre o Nº de Delegados ao Congresso; a Data (constantemente alterada) e o Local (tendo em conta as circunstâncias) da sua realização; a Composição da Comissão Eleitoral; o Regulamento Interno; os Estatutos; o Orçamento e outros itens imprescindíveis à sua realização.
Tudo isto tem gerado especulações que apontam esta atitude como estratégica, tendente à marcação de um compasso de espera, relativamente aos acontecimentos que se precipitam e prometem conjunturas mais agradáveis do ponto de vista político e portanto propícios para arrumar a casa.
Entretanto existem opiniões que conotam esta atitude com manobras tendentes à manipular a situação em prol de determinado (s) candidato (s). O que a confirmar-se, não deixa de ser preocupante, numa altura em que a nossa Sociedade e o próprio PAIGC clamam por eleições justas, livres e transparentes, como forma de legitimar o Poder, condenando veementemente a fraudulência, o favoritismo e todas as formas de manipulação eleitoral que, pela sua essência, equivalem á um autêntico Golpe de Estado.
Enquanto militante do PAIGC, reconheço neste Congresso um momento único para salvar o Partido de Amílcar Cabral, desde que sejam cumpridos os pressupostos necessários, para que seja realizado num ambiente de Liberdade, Justiça e Transparência e que dele emerja uma Direcção Jovem, Forte, Coesa e suficientemente Corajosa para lidar com os crónicos problemas estruturais que desembocam em crispações e fricções de interesses retrógrados instalados, acabando quase sempre por transbordar e inundar toda a nossa Sociedade.
POERA DJÚ
LISBOA, PORTUGAL
domingo, 14 de abril de 2013
Atenção internacional cai um ano após o golpe militar de Estado na Guiné-Bissau
A 12.04.2012, um golpe derrubou o Governo eleito democraticamente e instalou no poder um executivo que se afirma de transição. Atenção da comunidade internacional voltou-se para outros focos de crise. Nessa noite, militares em revolta invadiram à força a residência do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.
É com relutância que ainda hoje o chefe do Governo democraticamente eleito recorda aquela noite, como disse numa entrevista exclusiva à DW África alguns meses mais tarde: "A minha casa ficou totalmente danificada. Saquearam completamente a minha casa. Os mobiliários que não conseguiram abrir, abriram a tiro. Está firmado, está fotografado", lembra Carlos Gomes Júnior. "Em todo país democrático, tem que haver justiça", constatou o antigo candidato presidencial, que concorria pelo partido governista PAIGC ao cargo mais alto do país em decorrência da morte por doença, em janeiro de 2012, do antigo presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá.
"E todos estes actos, eu vou traduzi-los à Justiça. Eu vou exigir que essa gente seja traduzida à Justiça", prometeu, na altura, Carlos Gomes Júnior, também conhecido como "Cadogo". Estava prevista, para o dia 13 de abril, a abertura da campanha eleitoral de Cadogo para a segunda volta das presidenciais. O primeiro-ministro era considerado o grande favorito, depois de sair em primeiro lugar na primeira volta, com 49% dos votos, quase a maioria absoluta.
Popularidade versus militares
O chefe do Governo gozava de muita popularidade porque soubera dar ao país, vítima permanente de golpes de Estado, alguma estabilidade que resultou até num crescimento económico. Não obstante a sua popularidade, o político tinha um adversário de peso: o exército. Na Guiné-Bissau nada se faz contra a vontade dos militares. E estes ressentiram-se da tentativa de modernização das forças armadas levada a cabo pelo Governo com a ajuda de Angola. O objectivo era reduzir o número de soldados e oficiais e subjugá-los ao comando civil.
Carlos Gomes Júnior na presidência significava uma ameaça para o poder militar e o seu envolvimento no narcotráfico. Por isso detiveram o primeiro-ministro, seguidamente forçado a exilar-se em Portugal. Em lugar do Governo formado pelo seu partido, o PAIGC, os militares revoltados instalaram um executivo civil, mas sem legitimação democrática. Desde então, o único acontecimento digno de nota foi a detenção em alto mar, na semana passada, por agentes norte-americanos, do Almirante guineense Bubo Na Tchuto, que vai ser julgado por tráfico de drogas.
Situação igual, sem eleições
Mas, de resto, pouco se passou nos últimos doze meses, a situação permanece a mesma e as eleições prometidas pelos golpistas não se realizaram. Por isso, o enviado especial das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, o prémio nobel da paz e ex-Presidente de Timor Leste, José Ramos-Horta, exige "a realização de eleições até ao final deste ano, a formação de um governo mais alargado para ser mais legítimo, para gerir o processo até as eleições o mais rápido possível – a partir de abril ou maio, deveria haver um governo mais alargado".
Ramos-Horta também disse querer a mobilização de recursos financeiros e materiais, mas afirmou que esta era "a parte mais simples. A parte mais complexa e sensível é o aspeto político".
Isolamento internacional
Apenas a Comunidade Económica e de Desenolvimento da África Ocidental (CEDEAO) reconheceu o Governo de transição, que se encontra internacionalmente isolado. Mas também a CEDEAO exige eleições até ao final do ano.
No entanto, adverte o analista Paulo Gorjão, diretor do Instituto português de pesquisa da política internacional (IPRIS), as eleições não são uma panaceia universal: "Não é suficiente repor a legalidade constitucional, embora evidentemente seja muito importante, mas é preciso, de facto, resolver de uma vez por todas os problemas que afetam a Guiné-Bissau: a reforma do sector de segurança e, por sua vez, ligada a isso, uma política mais pró-ativa no combate ao narcotráfico", avalia o especialista. Deutsche Welle
CARLOS LOPES: Um blog para seguir com atenção
Caras/os amigas/os, chegou o BLOG do nosso conterrâneo e alto funcionário das Nações Unidas, Carlos Lopes. Recomendo, e agradeço que todos partilhem.
Podem seguir o Dr. Carlos Lopes de várias maneiras:
Blog http://www.uneca.org/es-blog (em francês http://www.uneca.org/fr/es-blog)
Twitter @ECA_Lopes
Facebook LopesInsights
Flickr Carlos Lopes ECA
Obrigado. AAS
De um Nobel para um outro Nobel: Joseph Stiglitz e José Ramos-Horta
O Nobel da economia, o americano Joseph S. Stiglitz escreveu num artigo sobre a "retoma da economia mundial" o seguinte: "Um sistema, qualquer que seja (financeiro, politico ou outro) poderá se reformar a partir do seu interior? Tenho dúvidas, responde o economista. E acrescentou: "Enquanto não haver a intrusão de forças externas no seio do sistema, este continuará a perdurar".
Esta tese defendida por um dos economistas mais famosos do mundo, aplica-se perfeitamente ao caso guineense. Já o tinha dito e volto a repetir: Enquanto não haver uma intrusão de fora (da ONU), para que o rumo das coisas mudem na Guiné-Bissau, acredito que nunca, mas nunca mesmo, os actores políticos e militares que actualmente se encontram no poder, quererão mudar o sistema prevalecente que lhes serve na íntegra.
Está dito por quem sabe.
Arafam Bamba
Pois...
"Nos últimos anos, o jornalista António Aly Silva assumiu uma importância muito maior do que a que a Agência Noticiosa da Guiné-Bissau (ANG) alguma vez teve. Um homem só deu-nos muito mais a ler sobre o seu país do que toda uma estrutura do Estado." - Jorge Heitor, jornalista
Tic-tac-tic-tac
- Pouco tempo antes da prisão de Bubo Na Tchuto, uma pessoa esteve com o António Indjai, em Bissau, e ofereceu dois relógios de ouro (um para o CEMGFA e outro para o porta-golpe Daba Na Walna). Pouco tempo depois, esse fulano telefonou a dizer ao CEMGFA que já estava no alto-mar 'com a encomenda' e que ele já podia ir... António Indjai respondeu dizendo que não iria, mas este sossegou-o. 'Venha, e traga toda a sua escolta, se quiser'. Que nada...mas depois alguém alertou o general: o relógio não teria um dispositivo de escuta? Bem dito, bem feito. Os relógios desapareceram dos dois pulsos. O do CEMGFA anda agora no pulso de um dos filhos, e o do Daba, sabe-se lá...;
- Papa Camará, o acossado CEM Força Aérea, estava (como o Aly...) afinal em Dakar no dia em que o Bubo Na Tchuto foi caçado pelos agentes da DEA norte-americana. Ninguém sabe como saiu de Dakar. Se de foguetão ou numa charrete de burro...
- Na noite de 4ª para 5ª feira passada, o EMGFA enviou 50 homens fortemente armados para a zona de Varela. Motivo? Tinham 'informações' de que rebeldes de Casamança estavam a operar nessa área. Estranho é terem-lhes tirado os telemóveis. Quem comandou foi Caramó, o chefe de operacoes do EMGFA. AAS
Fórum furado
Fórum dos Partidos Políticos: de júri não tem validade, de facto, só faz asneiras. Ao ler o comunicado dos partidos que assinaram o pacto de transição no qual defendem a sua posição em relação a data da realização das eleições gerais fiquei perplexo. A minha perplexidade relaciona-se sobretudo com a fraca qualidade dos argumentos apresentados para a não realização de eleições em 2013. Ou agem de má-fé, ou a competência técnica é deficitária. Estes são argumentos apresentados pelo fórum dos partidos:
- A época das chuvas começa em maio e prolonga-se até Outubro, altura em que não se pode fazer o recenseamento eleitoral.
- Os procedimentos no terreno iniciar-se-iam apenas em Novembro de 2013 e será que num mês seria possível realizar eleições?
- Quando estará disponível o financiamento externo para as eleições?
- Quando se iniciam as reformas legislativas necessárias?
- Quando é que serão empossados os membros das comissões nacionais e regionais de eleições?
- E quando é que se inicia o recenseamento eleitoral?
E para terminar, o comunicado dispara: São estas e mais perguntas que os defensores da realização das eleições em 2013 deveriam de esclarecer ao povo guineense.
Seria muito mais inteligente da parte desses partidos responderem, eles mesmos ao povo guineense porque razão não fizeram tudo isso que perguntam há mais de 12 meses? Quando assinaram o pacto de transição (ou “pacto de diabo”), sabiam muito bem que, em 1 ano, as eleições tinham que ser feitas, porque era importante repor a legalidade constitucional. Não fizeram nada. A CEDEAO, actor principal na mediação e resolução da crise, decidiu prolongar o período que ela mesma havia fixado em 1 ano para mais 6 meses, desta vez até o fim de 2013. Pelos vistos, o tempo para eles continua a ser pouco. Quando não se faz nada, não há nenhum tempo de mundo que nos chega…!
Vejamos estes dois exemplos:
- O Mali, que sofreu um golpe de estado um mês antes do golpe na Guiné em 2012 e, mesmo em estado de guerra já fixou as eleições para o mês Junho deste ano?
- Na Venezuela, o presidente Hugo Chavez morreu há menos de 1 mês e meio, mas o país já vai as urnas.
A diferença que existe entre os exemplos citados e o nosso caso está, no nível da maturidade e responsabilidade política (inclui o respeito pela Constituição) dos seus actores políticos, de um lado, e na qualidade da cultura cívica e patriotismo desses mesmos actores, do outro lado.
A questão aqui é muito clara. Num sistema democrático nada justifica a assunção do poder através das armas. O poder é atribuído pela vontade popular via eleições livres. É preciso mudarmos muita coisa na Guiné, e muito em especial, a nossa forma de conceber e fazer política. Os partidos que não querem eleições este ano, apenas o defendem porque estão nos lugares de decisão onde podem abusar do dinheiro e dos bens públicos. Toda a história de falta de tempo é apenas “conversa do quintal”.
A matemática é simples, se posso ganhar dinheiro agora porque vou querer eleições? Hoje, qualquer pessoa nomeada para exercer funções na direcção dos Conselhos de Administração (no EAGB, nos Portos, nas Telecomunicações, e por aí fora) ganha cerca de 2 milhões de fcfa mensal, os conselheiros do Presidente ganham por cima de 1 milhão e meio de fcfa, os do Primeiro-Ministro a mesma coisa e assim sucessivamente.
Esses salários são, de longe superiores aos salários que mais 85% dos efectivos militares ganham. São exemplos demonstrativos da imensa falta de responsabilidade dos políticos guineenses. Um país que vive da ajuda externa, que não pode, regularmente pagar salários miseráveis aos professores e aos outros trabalhadores de Estado dá-se ao luxo de fixar este tipo de salários para gente recrutada de partidos que apoiam o golpe, porquê? Estas pessoas, quase todas elas oriundas de pequenos partidos não vão querer eleições nunca. De certeza que daqui há um ano lá virão elas, outra vez dizer que o tempo é curto, que ainda falta fazer algumas reformas, antes das eleições, etc, etc.
E qual o papel da comunidade internacional?
Primeiro, tomar a responsabilidade de organizar as eleições gerais em colaboração estreita (claro) com as entidades nacionais, Segundo, exigir prazos e responsabilidades sob pena de aplicar mais sanções ao país. Mas para isso, é preciso que se acabe de vez com a retórica de que são os guineenses que devem decidir sobre o seu futuro, porque isso é falso, não funciona. Na Guiné, a vontade dos guineenses nunca decide nada, o povo vota e demonstra a sua preferência eleitoral nas urnas, mas são os partidos políticos e militares que decidem quem deve mandar. No Timor, as Nações Unidas decidiram, e, os timorenses passaram 10 anos sob o protectorado e apoio das NU e, hoje, o país é um outro país. Se de facto, querem saber a vontade dos guineenses sobre o seu futuro, promovam um Referendo Popular, depois disso tudo ficará mais claro. Terceiro, actuar com mais vigor e elasticidade. Isto é, monitorar os pontos fortes e fracos de cada instituição que está relacionada directamente com a organização das eleições e por a sua disposição os recursos humanos, financeiros e materiais necessários ao reforço da sua capacidade organizacional e a sua performance técnica.
E para terminar, um conselho. O fórum faria um grande favor aos guineenses se deixasse de vez de falar e fazer teatro com essa história de criação da Comissão Multipartidária e Social. Tratem é de organizar eleições e deixem que as futuras autoridades legítimas saídas das urnas venham a encarregar-se da criação de estruturas necessárias e duradouras.
Arafam Bamba
sábado, 13 de abril de 2013
Enquanto isso, em Bissau...
Os Chefões Militares (que de facto mandam em Bissau), os Barões, os Mandões e os Super-Ministros recolhem-se cedo da vista das pessoas. Tornaram-se discrectos, pardos até. Pezinhos de lã, desaparecem muito cedo da cena levando com eles as suas crias e os seus bens mais preciosos. A verdade hoje em Bissau, nos tempos que correm, mais vale prevenir que remediar, pois não venham os Drones do Nhamadjo-DEA que vasculham as vidas e seguem os mais subtis movimentos de certas figuras do poder em Bissau, principalmente o militar, lançar de novo as suas garras e levar mais um dos seus alvos que são muitos.
E o pânico que está instalado em certas esferas do poder em Bissau, ainda mais com os rumores de que a DEA possui no terreno uma rede de agentes com grande raio de acção e poder operacional no terreno, acções de mérito suficientemente provadas e reconhecidos em missões de captura e neutralização de grupos para-militares e de narcotraficantes na América Central e do Sul (na placa do aeroporto de Dakar, está um avião espião AWAC americano...), vi-o ontem...
Hoje, assim que a noite chega, as chefias militares fazem um autêntico "pim-pam-pum" para saber onde vão dormir, os ministros rabos de palha idem aspas, os barões resguardam-se em hotéis onde passam despercebidos (como se em Bissau tal é possível). Alguns enviaram até os familiares para a sub-região (Senegal, Conakry, Gâmbia ou Fez, em Marrocos). Todos desligaram os seus telemóveis ou trocaram os seus "pins", alguns mudaram de número. Mas quase todos esconderam os seus reluzentes bólides com que faziam a diferença de estatuto em Bissau, a maioria roubado na Europa.
Ultimamente, grandes transferências estão sendo feitas para dissimulação nas contas de familiares directos ou pessoas de confiança e muitas das vezes estas quantias são confiadas em "cash" para serem depositadas nos bancos da sub-região, nomeadamente em Dakar e na Gâmbia. Recentemente, um dos filhos, por sinal também artista "raper" de um dos chefões da droga, depositou, com a ajuda de um alto funcionário da embaixada da Guiné-Bissau em Dakar, na sua conta, um significante montante que criou suspeitas ao nivel do Banco.
Assassinatos
Outro factor extra de perturbação: ditadura do consenso soube, através de uma fonte da embaixada norte-americana em Dakar, que o coronel Samba Djalo, assassinado cobardemente em Bissau a mando das alta chefias militares, era o elo de ligação com a DEA através do agente assassinado pelos homens de Bubo. Antes do seu assassinato, esse reputado oficial de segurança já tinha enviado em "pen-drive", informações codificadas, detalhadas e altamente comprometedoras para conhecimento das autoridades norte americanas sobre o envolvimento de militares e políticos nos negócios da droga. Parte dessas informações servirão para elucidar sobre os contornos da morte de Helder Proença, Baciro Dabo entre outros. Enfim, Bissau dorme com um só olho... o poder sente-se encurralado. AAS
Eu vi, com os meus olhos
Ontem, ninguém me contou... vi eu mesmo com os meus olhos. Vi o MNE Faustino Imbali nos copos, num concorrido restaurante africano em Dakar - o 'Tradiçon' (onde jantei e almocei várias vezes durante os 12 dias em que lá estive). Ao entrar dei com ele, e logo mudei de ideias. Encarei-o sem que desse conta e decidi dar meia volta, pois há companhias que eu, António Aly Silva, dispenso e bem. Abdiquei do meu copo de despedida de Dakar e fui directamente para o aeroporto e preferi um café. Não quero NADA com os golpistas e os seus aliados.
Hoje, já em Lisboa, chegaram-me as novas. O MNE tem instalado o seu QG no hotel King Fahad Palace (ex-Meridien Président) onde, entre copos e garfadas mal esgrimadas, tem recebido numa autêntica roda viva os mais variados e suspeitos contactos, entre eles o advogado de Bubo Na Tchuto, Joãozinho Vieira Có, assim como uma corja de supostos homens de negócios (alguns obscuros) e comissionistas de toda a espécie (chineses, ucranianos, russos, moldavos, E os infalíveis senegaleses... Enfim, toda a espécie e do piorio, porém essencialmente interessados em negócios de extracção de minérios, extracção de madeira exôtica, pescas e venda de combustível).
O desfile de "personalidades" interessadas em expôr os projectos e investimentos para a Guiné-Bissau ao concorrido MN Estranhos. Olhos avermelhados, fruto da ressaca da noite de ontem, o homem lá vai tomando as suas notas e marcando rendez-vous para Bissau a fim de melhor se alinhavar o negócio ou investimento. De premeio na conversa, deslizam-se sempre subtilmente envelopes bem guarnecidos para ajudar o MNE nas suas dispendiosas despesas e outras vícios a que está habituado nas suas passagens por Dakar. Enfim, é a diplomacia da Guiné-Bissau no seu melhor: uma autêntica Mesa di Djila no mercado de Bandim... AAS
... Fórum dos partidos golpistas quer eleições...em 2014
O Fórum dos Partidos Políticos da Guiné-Bissau que apoiam o Governo de transição defende a realização de eleições "com a maior brevidade política", mas considera que as mesmas terão de ocorrer em 2014. Um ano depois do golpe militar que derrubou os governantes eleitos na Guiné-Bissau as eleições deveriam estar já com data marcada, visto que o período de transição foi marcado para terminar em maio. O período de transição foi prolongado entretanto até final do ano, período durante o qual a comunidade internacional quer que se realizem eleições. Num comunicado divulgado hoje, o Fórum, que agrupa a maior parte dos partidos da Guiné-Bissau (a grande maioria com pouca expressão eleitoral), defende que o cronograma das eleições (que ainda não existe oficialmente) "deve de ser extensivo ao ano de 2014".
O comunicado justifica a sugestão afirmando que a época das chuvas começa em maio e prolonga-se até outubro, altura em que não se pode fazer o recenseamento eleitoral. "Os procedimentos no terreno iniciar-se-iam apenas em novembro de 2013 e será que num mês seria possível realizar eleições?", questiona o Fórum. No comunicado, os partidos perguntam ainda quando estará disponível o financiamento externo para as eleições, quando se iniciam as reformas legislativas necessárias, quando é que serão empossados os membros das comissões nacionais e regionais de eleições, e quando é que se inicia o recenseamento eleitoral.
"São estas e mais perguntas que os defensores da realização das eleições em 2013 deveriam de esclarecer ao povo guineense", diz o comunicado, que reafirma a defesa da criação de uma Comissão Multipartidária e Social de Transição. Essa Comissão deverá juntar partidos, sociedade civil e castrense, órgãos de soberania e parceiros internacionais, e destina-se a encontrar "um consenso nacional" para que não se repitam situações de instabilidade no futuro. As competências da comissão, diz o comunicado, não colidiriam com as da Assembleia Nacional Popular, ou a sua substituição ou dissolução. LUSA
BUBO: Joaozinho Vieira Có, está a caminho de Nova Iorque, para preparar a defesa do seu eterno constituinte Bubo Na Tchuto. Viajará com passaporte português... Entretanto, ontem, em Dakar, o ministro dos Negócios Esquisitos Faustino Imbali foi visto num restaurante com duas gajas. Escusado será dizer que saiu de lá de gatas... AAS
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Guiné-Bissau: O país onde “narcotráfico” é um verbo
Quando tudo está calmo na Guiné-Bissau, é presságio de que algo vai acontecer. Bubo Na Tchuto andava calmo e indiferente às acusações internacionais que lhe imputavam os títulos de «Barão da droga» e «Almirante da Cocaína». Para Bubo a Guiné-Bissau era um Estado de Direito e aí sentia-se protegido, também, com todo o direito.
De facto a Guiné-Bissau é um Estado de Direito, mas torto, e também um Estado Falhado. Assim a detenção de Bubo Na Tchuto (juntamente com Papis Djeme, Tchamy Yala, Manuel Mamadi Mané e Saliu Sisse), na sequência de uma operação da DEA (Drug Enforcement Administration), foi uma acção legítima, sendo que os Estados Unidos assumiram a sua autoria, mas contaram com a discreta colaboração de vários Estados e a anuência da ONU que já denunciara a situação.
Deter um ex-chefe de Estado-Maior da Marinha e ex-Combatente da Liberdade da Pátria guineense na Guiné-Bissau pode ser considerado, por alguns, uma acção de ingerência nos assuntos internos do país e uma afronta à sua soberania. Mas não! O motivo alegado que levou à detenção de Bubo Na Tchuto é “conspiração de narco-terrorismo” com "riscos consideráveis para os Estados Unidos e os seus interesses", duas acusações que colocam a operação em concordância com o Patriot Act americano. A anuência da Comunidade Internacional assenta fundamentalmente na participação directa do Almirante no narcotráfico transnacional que é deste modo uma ameaça que ultrapassa as virtuais fronteiras guineenses. Assim, não sendo possível confiar nas instituições judiciais guineenses e não sendo possível também combater eficazmente os produtores nem os consumidores finais provoca-se um golpe num dos elos mais fracos desta cadeia, o insaciável transitário e armazenista.
A detenção de Bubo Na Tchuto é um duro golpe nas teias do narcotráfico na Guiné-Bissau mas não marca o fim do tráfico de droga no país. Um dos factores que facilitou a captura do «Almirante da Cocaína» foi a existência de concorrentes no mesmo negócio e a fidelidade entre traficantes é ténue como um fio de cocaína.
Os clãs concorrentes e sobreviventes do narcotráfico guineense sorriram tremulamente com a detenção de Bubo. Uma parcela significativa do mercado está agora órfã e receptiva à adopção. Mas também engoliram em seco porque desconhecem se os seus nomes constam na lista da DEA. Além disso, a ganância de Bubo Na Tchuto abriu as portas para que o Almirante caísse numa armadilha estrategicamente delineada por falsos narcotraficantes, um precedente que instaurou um clima de desconfiança face a novos fornecedores.
O Ministério Público norte-americano deixou um perfume desta dança dos clãs quando referiu no acto de acusação de Bubo que a DEA dispõe da gravação de uma reunião na Guiné-Bissau entre Mané, Sisse e Garavito-Garcia (narcotraficante colombiano) com «fontes confiden ciais e um representante militar da Guiné-Bissau onde foi discutido a mais-valia de utilizar a Guiné-Bissau como plataforma» no tráfico de cocaína. O mesmo documento refere também que outro militar guineense seria presumivelmente a fonte das fontes confidenciais.
Nos EUA Bubo Na Tchuto não tem a protecção dos seus temíveis fiéis, encontra-se entregue a si mesmo e corre o risco de ver ser-lhe atribuída uma pena de prisão à perpetuidade numa penitenciária.
Durante a audição no tribunal americano, fiel a si mesmo, Bubo Na Tchuto não hesitará em minimizar o seu papel no narcotráfico e para isso revelará a dimensão do envolvimento de militares, governantes, políticos e empresários guineenses no narconegócio. Talvez comece assim a emergir a ponta do iceberg que poderá elucidar, finalmente, os assassinatos do ex-presidente Nino Vieira, Tagme Na Waie, Helder Proença e Baciro Dabó entre vários outros não publicitados, mas também clarificar a proveniência dos meios financeiros que permitiram a vários guineenses ostentarem sinais exteriores de riqueza surrealistas, com veículos novos de grande cilindrada, luxuosas mansões nos bairros de Alto Bandim (onde também residia Bubo Na Tchuto) e Safim, assim como aquelas que vão florescendo na avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria (vulgo Estrada do Aeroporto), na capital, soberbamente equipadas e decoradas num país que é qualificado como dos mais pobres do mundo.
No entanto, as receitas do narcotráfico na Guiné-Bissau serviram também, desde 1998, para pagar o soldo de muitos militares e assim mantê-los precariamente nas casernas e garantir a sua lealdade a alguns chefes castrenses. Apesar das violentas lutas pela “gestão” desses “fundos”, que se traduziram em Golpes de Estado e assassinatos, o desaparecimento desta receita é mais um elemento para prorrogar a instabilidade no país.
Na Guiné-Bissau, apesar dos nomes dos narcotraficantes nacionais e estrangeiros serem sussurrados pelas bocas de todos no mercado de Bandim e na Chapa de Bissau, acusarem publicamente um governante, político, militar ou empresário de envolvimento no «negócio» é um tabu que, se quebrado, pode custar a vida do delator. Com a morte do narcosuspeito todas a vozes revelam, inclusivamente na imprensa, os envolvimentos óbvios do defunto com o tráfico. E foi deste modo postumamente com Nino Vieira, Tagme Na Waie, Helder Proença e Baciro Dabó.
Sem sussurrar o ex-chefe de Estado-Maior da Marinha e ex-Combatente da Liberdade da Pátria poderá ajudar a DEA a compreender a geopolítica e mecânica do narcotráfico na Guiné-Bissau, ou seja, do envolvimento de cartéis bolivianos, das antenas no Brasil e na Venezuela mas também, numa esfera geográfica mais próxima, as rami ficações das narcotransacções no Senegal, Gâmbia, Mali, Guiné Conacri, Nigéria e em outros países da lusofonia, assim como a rede de receptores da cocaína na Europa.
A Guiné-Bissau nunca foi um caso isolado do narcotráfico na África Ocidental. O facto de tornar-se no Estado Falhado modelo, multiplicando os Golpes de Estado e Contragolpes, assim como os assassinatos de personalidade políticas e militares, tornou-se no foco das atenções por excelência para alívio de alguns dos seus vizinhos atingidos pelo mesmo flagelo.
Os guineenses vão começar finalmente a compreender, grama a grama, a razão porque muitos processos se arrastaram eternamente na fase da instrução, porque é que é conveniente que as instâncias judiciais não funcionem, porque é que a polícia judiciária chegara ao ponto de não ter gasolina para os seus veículos, porque é que alguns aeródromos que remontam ao período colonial foram reabilitados e outros construídos num país que não tem ligações aéreas internas, mas também a razão de algumas empresas existirem e outras desaparecerem por artes de magia.
Bubo Na Tchuto, juntamente com os seus quatro “braços direitos”, foi o primeiro «barão» a compreender que o narcotráfico é transnacional mas que a Justiça também pode ser. Uma reflexão que muitos fazem hoje na Guiné e que pode ser um primeiro pequeno passo para que “narcotráfico” deixe de ser conjugado como um verbo.
Rui Neumann/Password Confidential Newsletter
Captura de Bubo Na Tchuto provoca “pânico” interno
A captura de Bubo Na Tchutoe sua extradição para os EUA, a fim de ser presente à justiça norte-americana, provocou um estado descrito como sendo de “pânico”em meios implicados no narcotráfico – na Guiné-Bissau e em países próximos da subregião. Nos últimos dias têm sido notadas comportamentos sintomáticos de precaução por parte de indivíduos supostamente envolvidos no tráfico de droga na Guiné-Bissau.
No planeamento das operações que levaram à captura de Bubo Na Tchuto, mais dois guineenses e dois colombianos, todos acusados de implicação no narcotráfico, o papel mais activo terá sido desempenhado por Russel Hanks nominalmente representante oficial dos EUA em Bissau, na verdade um experimentado oficial da DEA-Drug Enforcement Administration. De acordo com informações suficientemente verificadas, no seu trabalho foi decisiva a acção de uma rede de informadores locais.
A existência de tal rede é motivo acrescidode preocupação entre os implicados locais no narcotráfico. Russel Hanks deixou Bissau em vésperas do desencadeamento das operações. Em 2010 a DEA reforçou o seu dispositivo de acompanhamento do narcotráfico na subregião de África. Foi mesmo activada uma estação em Lisboa – esta com a tarefa de prestar atenção a conexões locais com o fenómeno. Bubo Na Tchuto, CEM da Marinha até 2008, fora em
Abril de 2010 objecto de uma denúncia formal do Departamento do Tesouro do EUA, como implicado no narcotráfico.
O actual CEM da Força Aérea, general Papa Camará, foi igualmente citado. A captura de Bubo Na Tchuto também terá sido calculada para explorar propícios factores de oportunidade política. O narcotráfico é a principal fonte de financiamento do ramo africano da Al Qaeda; o narcotráfico é praticado numa macha do norte que se estende da Guiné-Bissau ao Mali; a Al Qaedae outras organizações criminosas estão a sofrer revezes militares significativos no Mali. AM
Golpe de Estado: o balanço
365 dias depois da tomada do poder pela força das armas, em Bissau, o país continua mergulhado na anarquia, com a tropa a puxar dos galões. Controlam tudo. Da 'presidência' ao 'governo', passando pelas esquinas e ruas da decadente, assustada e triste cidade de Bissau.
- Interrupção abrupta da 2ª volta das eleições presidenciais antecipadas de 2012;
- Controlo total sobre o narcotráfico que desagua da América do Sul;
- Prisões arbitrárias de políticos, de jornalistas, de cidadãos comuns;
- Rapto, espancamento e tortura de civis e militares;
- Fuga do país (sem qualquer data para regressar) de dezenas de cidadãos;
- Assassinato de cerca de 12 cidadãos guineenses rotulados de "rebeldes de Casamança";
- Delapidação descontrolada do erário público entre outros crimes.
Um ano depois:
- O 'governo e presidente de transição' - imposto à força e com total descaramento e desprezo pelo cidadão eleitor da Guiné-Bissau - pela CEDEAO, continua teimosamente no poder, NÃO é RECONHECIDO pela Organização das Nações Unidas, pela União Africana (organização continental da qual o país está expulso), pela União Europeia (o maior parceiro bilateral de cooperação). Até alguns países da própria CEDEAO descartaram o regime de Bissau.
Resta ao Povo da Guiné-Bissau a vã esperança de que os grandes deste mundo lhes estendam a mão. Uma força de paz - e de interposição - deve ser mandatada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. AAS
Grande Horta!
O Representante do Secretário-Geral da ONU na Guiné-Bissau, Ramos-Horta, recorreu à metáfora para responder, quando questionado pelos jornalistas sobre a alegada catalogação de Cabo Verde como um «mau vizinho», pelo Procurador-Geral da República guineense, Abdú Mané. «Quem tem telhados de vidro não deve procurar problemas com vizinhos», disse Ramos-Hora no final do encontro que manteve no início da tarde desta quinta-feira, 11 de Abril, na Cidade da Praia, com o Presidente da República de Cabo Verde.
Embrulhem! AAS
Mulheres de armas
Um ano após o golpe de Estado, o narcotráfico tornou-se ainda mais forte e mudou o quotidiano dos guineenses. Várias vezes, Lucinda Barbosa Ahucarié usou o seu carro pessoal para fazer o trabalho da polícia - e isso incluía apreensões de droga em Bissau. A Polícia Judiciária (PJ) não tinha viaturas, algemas ou lanchas rápidas para vigiar o mar e os muitos rios da Guiné-Bissau. "Não havia nada."
Esse deserto de meios contrastava com a firmeza e o ritmo das investigações iniciadas no seu gabinete de directora da PJ, quando ao mesmo tempo, no Ministério da Justiça, outra mulher, a advogada Carmelita Pires se entregava de igual forma à luta contra o tráfico de droga.
Ambas estão em Portugal. O motivo que as levou a sair de Bissau, em momentos distintos, não se alterou. Só se intensificou. As perseguições militares a vozes dissonantes ou incómodas multiplicaram-se desde que os golpistas liderados pelo general António Indjai tomaram o poder no dia 12 de Abril. Nesse dia, a governação passou para o controlo de um comando militar de seis elementos. Foi há um ano. Dias depois, Manuel Serifo Nhamadjo era nomeado presidente de transição e Rui de Barros primeiro-ministro.
O 12 de Abril não foi apenas mais um golpe de Estado a juntar a outros violentos episódios da conturbada história do país. O tráfico de droga, livremente instalado no país desde 2004, ganhou asas. Antes e depois, tornou mais forte quem se envolveu nele. E mudou irremediavelmente a vida de muitos guineenses.
O medo instalou-se. Medo não só dos responsáveis do topo envolvidos no narcotráfico, mas da pessoa do lado - amigos ou vizinhos - que possa ter ligações ou ser cúmplice. "Pela forma como a droga se infiltrou no nosso país, as pessoas passaram a ter medo não só dos que estão à frente do negócio mas também dos que a ele, de alguma forma, estejam ligados", diz Carmelita Pires. As pessoas evitam pronunciar a palavra "narcotráfico". Mas vivem com ela.
Quando Lucinda Barbosa chegou à Judiciária, vinda da magistratura do Ministério Público, uma das suas primeiras missões foi criar uma rede de colaboradores e informadores para, com a devida protecção, preencherem o vazio de agentes da Judiciária em muitos recantos da Guiné onde as movimentações de aviões e barcos com droga se tinham tornado constantes. "Era uma luta", conta Lucinda Barbosa. "Eu entendia que tinha de salvar aquele país." Um país pequeno que a ausência de meios tornava imenso. E vulnerável.
Entre o momento em que chegou a directora da PJ, em Julho de 2007, e aquele em que saiu, em Maio de 2011 - pressionada pelas ameaças de morte e a intimidação de chefes militares -, foram realizadas importantes apreensões de droga e presos suspeitos de narcotráfico. Eram colombianos, venezuelanos, nigerianos e alguns guineenses, incluindo militares. Mas nenhum foi julgado ou condenado. Também foram feitas pequenas apreensões de cidadãos africanos de vários países que tentavam embarcar em voos comerciais para a Europa, via Lisboa.
O país já estava então no coração da rota do tráfico internacional que liga a América do Sul à Europa e Estados Unidos com passagem pela África Ocidental. Era habitual ouvir as avionetas a pousar e levantar voo e ver barões da droga ou seus representantes a circular livremente pelas ruas da capital - vivendo em hotéis e dispondo de instalações militares para guardar a droga que traziam da Colômbia e da Venezuela.
Uma nova etapa?
Bubo Na Tchuto era então chefe do Estado-Maior da Marinha, e mesmo quando deixou de o ser, em 2008, manteve uma grande influência. "Ele foi o homem que, durante muitos anos, dominou os mares da Guiné", salienta Carmelita Pires. Foi o primeiro alto oficial guineense suspeito de ligações ao narcotráfico. Mais tarde, houve outros.
Na semana passada, Bubo Na Tchuto foi preso pelas autoridades norte-americanas e conduzido para os Estados Unidos, onde é acusado de ligações ao narcotráfico e conspiração para introduzir grandes quantidades de cocaína nos EUA, onde será presente uma segunda vez ao juiz na próxima segunda-feira. Carmelita Pires diz: "Hoje tenho a convicção de que amanhã será diferente. Dantes não tinha essa certeza. Não posso aceitar que, no meu país, antigos combatentes estejam envolvidos em actividades criminosas, como o tráfico de armas e o narcotráfico. E digo "Antigos Combatentes" com letra grande", frisa, "pois foram os homens que nos deram a nação". Bubo Na Tchuto era um deles.
"[A prisão de Bubo Na Tchuto] é uma chamada de atenção para a justiça guineense assumir as suas responsabilidades e para que os militares saibam que não estão acima da lei", acrescenta Lucinda Barbosa. Outro dos indiciados pelos EUA por envolvimento no narcotráfico desde 2010 é Ibraima Papa Camará, actual chefe do Estado-Maior da Força Aérea. Mas não será o único.
Bubo Na Tchuto foi preso em águas internacionais, ao largo de Cabo Verde, por agentes encobertos da Drug Enforcement Agency (DEA) norte-americana, envolvidos numa missão operacional desde Junho de 2012. Os agentes faziam-se passar por representantes das FARC na Colômbia e negociavam a passagem de pelo menos quatro toneladas de cocaína pela Guiné-Bissau, em troca de benefícios para o poder guineense; a droga seria vendida nos EUA e o dinheiro entregue à guerrilha colombiana, que Washington inclui na lista de "organizações terroristas".
Bubo Na Tchuto era figura central desta operação, que envolvia ainda, pelo menos, dois outros militares, e seria feita - segundo a Reuters, que cita a acusação dos EUA - com o conhecimento do Presidente de transição, Manuel Serifo Nhamadjo, nomeado pelos militares golpistas do 12 de Abril. O que farão agora os EUA? Lucinda Barbosa e Carmelita Pires esperam que esta prisão seja um primeiro virar de página no seu país.
Lucinda Barbosa fala agora pela primeira vez desde o golpe de Abril, quando as ameaças de morte se tornaram mais frequentes. Dois militares à paisana foram a sua casa, com armas de assalto, à sua procura. Não estava. Pouco depois, deixou o país.
Olha para trás, para o momento em que assumiu o cargo de directora da PJ: "A situação do narcotráfico já era visível. Os militares participavam e protegiam os narcotraficantes. O transporte da droga com o uso dos aviões ou das viaturas para o interior era muito visível", lembra.
Em Cufar, no Sul, perto de Catió, foi apreendida uma cisterna de combustível. As movimentações para abastecer aviões e avionetas eram constantes, bem como a regularidade dos voos em Cufar e Bubaque, no arquipélago dos Bijagós.
Destino da droga: Europa
A droga saía do Sul, por estrada ou mar, e chegava a Bissau, onde era armazenada. O destino final era a Europa, por mar ou avião. Lucinda Barbosa recorda que foram feitas várias detenções de guineenses, cabo-verdianos, nigerianos ou senegaleses, que tentavam passar a droga para a Europa em voos comerciais para Lisboa, sendo esta a única ligação europeia directa com Bissau.
Quando era em grandes quantidades, a droga também saía por mar. Nas zonas Norte e Leste, as antigas pistas de aviação e os portos de Ingoré e de Fulacunda, utilizados no tempo da presença portuguesa, foram especialmente reactivados para esse fim.
E, no imaginário colectivo, SOMEC deixou de representar uma antiga empresa de construção portuguesa e passou a ser um dos lugares mais emblemáticos de uma nova realidade que mergulha Bissau na desconfiança e no desconhecido. As suas instalações foram ocupadas pelos narcotraficantes.
O dia-a-dia de Lucinda Barbosa tornou-se numa luta constante. Bubo Na Tchuto ameaçou-a publicamente, dizendo que sabia que era ela quem estava a fornecer informações aos americanos. E quando, numa reunião no Estado-Maior entre responsáveis políticos e Forças Armadas, os militares deixaram claro que nenhum deles poderia ser responsabilizado se algo viesse "a acontecer à Lucinda", ninguém, entre os responsáveis políticos, da Presidência ao Governo, ainda no tempo de Malam Bacai Sanhá e do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, se levantou e mostrou firmeza face aos militares e em defesa da chefe da polícia.
Durante muito tempo, ela resiste. Mas, em Maio de 2011, dirige um pedido de demissão, escrito pelas suas próprias mãos, ao então ministro da Justiça (já depois de Carmelita Pires sair), que o aceita. A magistrada formada no Centro de Estudos Judiciários de Lisboa é nomeada directora-geral da Viação e Transportes Terrestres, onde continua a ser perseguida. "Infelizmente, onde eu estiver, eles vão sempre procurar-me", diz agora. Pouco menos de um ano depois, o seu gabinete foi arrombado e invadido pelo actual chefe de Estado-Maior da Marinha, ligado ao golpe de 12 de Abril. Antes, telefonaram-lhe a pedir a chave, o que ela recusou. Em Julho, saiu do país. O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), general António Indjai, ainda hoje diz estar "à espera da Lucinda" para um ajuste de contas.
Ameaças e telefonemas
"Eram ameaças de morte em telefonemas nocturnos." É Carmelita Pires quem agora fala. Mas podia ser Lucinda Barbosa. A vida de ambas estava, nesses anos, virada para o combate ao tráfico. As duas estiveram sob ameaças semelhantes. "Quando me ameaçavam, também diziam que eu tinha sorte em ser mulher. Se não fosse, já estaria morta, diziam."
Mas não foi por isso que, numa noite, em 2008, fez as malas e encaixotou livros e tudo o que tinha para deixar Bissau. Nesse dia, ficou retida o dia todo, em que ficou incomunicável, numa reunião de conselho de ministros, chefiada pelo Presidente da República. Quando saiu da reunião, os dois narcotraficantes venezuelanos, presos dias antes pela PJ, tinham sido libertados. Entre eles, estava Antonio Carmelo Vasquez Guerra, procurado internacionalmente por narcotráfico. "Nesse dia, perdi a cabeça", diz a advogada e mestre em Direito pela Universidade de Lisboa.
Mas, depois de fazer as malas, Carmelita Pires mudou de ideias e passou o resto da noite a desfazê-las. Decidiu ficar. E pensou: "Eu não vou a parte nenhuma. Se eles quiserem, que me tirem daqui. Eu não vou desiludir a comunidade internacional, nem me vou desiludir a mim própria."
Acabou por sair do país em Abril de 2009, por iniciativa da embaixada dos EUA, que considerou que a sua vida estava em risco. Foi colocada em Abuja, na Nigéria, como conselheira especial do presidente da comissão da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) para as questões do narcotráfico - tinha contribuído para a criação do Plano Regional de Combate ao Narcotráfico, discutido em Cabo Verde. A missão em Abuja poderia ter sido prolongada, mas, no ano passado, Carmelita Pires, planeou regressar a Bissau. E continua à espera de poder voltar.
Ainda em Bissau, Carmelita Pires chegou a receber, no seu gabinete, pessoas que traziam da parte dos militares um conselho: "Diziam para eu parar e me lembrar que quem tinha as armas eram eles. Eu respondi que quem tinha a caneta nas mãos era eu."
Carmelita Pires tinha sido reconduzida para o Governo de iniciativa presidencial liderado por Nino Vieira, em 2008, por exigência da comunidade internacional, que valorizava o papel da governante no combate ao narcotráfico. Um ano antes, na sua chegada ao Ministério da Justiça, fora contactada por agentes da DEA que lhe perguntaram se sabia que "os militares estavam envolvidos no narcotráfico". Seguiram-se "vários embates". Carmelita Pires lembra-se de estarem as duas - ela e Lucinda Barbosa - a trabalhar nas instalações da PJ, quando um homem apareceu dizendo que os dois colombianos presos por narcotráfico eram hóspedes da Presidência, dando a entender que deviam ser libertados - o que ambas recusaram.
Foi depois de uma importante operação em 2007, em que foram presos esses dois colombianos suspeitos de narcotráfico em Bissau. Viviam na capital guineense e a sua base era o armazém da SOMEC. Com a sua detenção, foi apreendida uma soma de quase 100 mil euros, armas, munições e gás paralisante, telemóveis, que foram enviados à Interpol, para investigação, e um quadro que listava nomes de responsáveis militares e políticos no país, com setas a indicar eventuais ligações. Esse quadro, diz Lucinda, mostrava "a dimensão e a promiscuidade" entre narcotraficantes e figuras do topo da Guiné. E parecia revelar "uma tentativa de controlar tudo" no país.
Cooperação com Portugal
A apreensão de material e a detenção de narcotraficantes, nessa operação de 2007, deram ímpeto à investigação a que se juntaram polícias internacionais - Interpol, Polícia Judiciária e GNR portuguesas -, bem como o FBI e a Drug Enforcement Agency (DEA).
Apesar das resistências, a PJ confiscou o dinheiro apreendido e a então ministra Carmelita Pires solicitou junto do primeiro-ministro a abertura de uma conta consignada junto ao Tesouro Público denominada "Combate ao Narcotráfico". Esse dinheiro foi utilizado para comprar algemas e duas viaturas para a PJ e melhorar as condições nas celas nas suas instalações. Mas os suspeitos, que tinham como defensor o bastonário da Ordem dos Advogados na altura, foram libertados com a conivência do Ministério Público.
Pouco depois, em Janeiro de 2008, dois membros da Al-Qaeda eram detidos em Bissau. Mohamed Chabarnou e Sidy Ould Sidne eram procurados pelo assassínio de quatro turistas franceses na Mauritânia e foram entregues à Mauritânia, por decisão administrativa no âmbito da cooperação internacional. A sua passagem por Bissau reforçou a convicção de que o terrorismo na África Ocidental estava a ser financiado pelo narcotráfico. "A presença destes dois homens em Bissau demonstra-nos que há uma fragilidade do país" e que este pode estar a ser utilizado não só pelos narcotraficantes mas também por grupos terroristas, diz Lucinda Barbosa.
Pirataria e crime organizado
Kofi Annan, secretário-geral da ONU entre 1997 e 2007, lamenta hoje que a comunidade internacional tenha, nos últimos 10 anos, ignorado a ameaça colocada por "Estados corruptos como a Guiné-Bissau" e recomenda "cuidado quando se lida com Estados falhados". Se, na Somália, a indiferença levou à pirataria, sugere Annan, na Guiné-Bissau facilitou o narcotráfico.
"Ignorámos a Somália durante 20 anos e quando [essa inacção] nos foi devolvida com a pirataria, toda a gente acordou", disse Annan, em Janeiro deste ano. "De certa forma, estamos a fazer o mesmo com a Guiné-Bissau. Foi onde [o narcotráfico] começou e nós permitimos que ele aumentasse." Dias antes, o seu sucessor, Ban Ki-moon, tocara num ponto sensível da situação na Guiné-Bissau. Num relatório apresentado ao Conselho de Segurança da ONU, denunciava o aumento da criminalidade organizada no país com "o apoio de membros das forças de defesa e segurança e das elites políticas" desde o golpe de Estado de 12 de Abril de 2012.
Um ano passou. Continuaram a ouvir-se as avionetas a entrar e a sair do país. E com maior frequência. "Centenas de quilos de cocaína estarão a entrar clandestinamente em cada operação" e cada operação terá lugar "uma ou duas vezes por semana sem nenhuma intervenção dos poderes públicos", notava Ban Ki-moon nesse relatório. Este golpe segue-se a outros num país marcado pela violência. Ainda presente na memória de muitos, estão os assassínios do ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) general Tagmé Na Waie e do Presidente Nino Vieira em Março de 2009. Mas este golpe não é como os outros. As perseguições continuam a alimentar o medo e o novo poder, reconhecido pelos países da região, ainda não marcou uma data para as eleições. Público
Os melhores dias acabam sempre por chegar
Para os imprudentes, a impensável investida da diligente justiça norte-americana no nosso longínquo território, aconteceu mesmo! E deambulam eminentes confrades da ganância institucionalizada, com umas notas verdes algures, por ostentar, aos olhos da miséria nacional, que entretanto, mal os chegam, para comprarem breves períodos de um sono tranquilo. Por falar nisso, deve pairar pelas noites inconfessáveis, um terrível surto de insónia.
Mas a vida é assim. Uma sucessão de oportunidades e opções. E graças ao acaso, nós de nacionalidade guineense, e mais quem connosco, queira conviver, pertencemos a um território, com imensas potencialidades, para garantir auto-suficiência a todos, e muitas prosperidades aos mais competentes, no lugar de tudo que tem sido o motivo das nossas desgraças. Basta que para isso, tenhamos em consideração primária, os mais básicos desígnios nacionais; basta que para isso, comecemos por desenvolver uma sólida cultura de trabalho; e basta que para isso, optemos pelo mais que natural, reconhecimento do mérito.
De referir, com uma agradável surpresa, a forma como a prática escolhida pelo actual representante do Secretário-Geral das Nações Unidas, na Guiné-Bissau, de não se limitar às formalidades diplomáticas e técnicas, do costume, mas sobretudo, num engajamento quase patriótico, optar por um trabalho pedagógico de fundo, está a anular cada vez mais, o meu cepticismo inicial, em relação ao sucesso da sua missão. Como sempre acreditei, combatendo com veemência para tal, através de todos os meios democráticos ao meu alcance, o golpe em curso, está nos dias das amarguras, e os crónicos prevaricadores andam a chapinar num pântano de frustrações, com as mandíbulas espetadas num punhado de lama, que jamais os alimentará, tanta é a ansiedade de engordarem os buchos, desperdiçando os seus já diminutos créditos políticos. A verdade encontra constante dinamismo em tudo, para contra a mentira, triunfar. Até nas próprias razões duma perfeita mentira.
Ser, Conhecer, Compreender e Partilhar.
Flaviano Mindela dos Santos
No Ruanda, para discutir "processo de reconciliação" na Guiné-Bissau
Numa visita que coincide com o 19º aniversário do Genocídio no Ruanda, Peter Thompson, Coordenador do Grupo Parlamentar Britânico para a Guiné-Bissau, desloca-se a este país para reunir-se com vários líderes políticos, como parte de uma visita a vários países africanos que tiveram processos de reconciliação nacional. Peter Thompson foi nomeado como mediador externo no processo parlamentar de reconciliação, fazendo uso da sua experiência no processo de paz da Irlanda do Norte, uma região da Grã-Bretanha. Recorde-se que o conflito étnico na Irlanda do Norte matou quatro mil pessoas e feriu com gravidade mais de 60 mil, numa população de apenas 1,6 milhões de pessoas. Thompson irá representar estas vítimas e os sobreviventes numa cerimónia comemorativa em Kigali, a capital do Ruanda.
“Defendo a procura de soluções africanas para problemas africanos e quero perceber como processos de unidade nacional em outros países africanos podem inspirar a Guiné-Bissau”, disse Thompson, acrescentando que depois irá “discutir estas ideias com a comissão de reconciliação em Bissau”. Refira-se também que, recentemente, Thompson encontrou-se com o ex-presidente dos EUA Bill Clinton para discutir o processo de reconciliação na Guiné-Bissau.
Na sua intervenção, na Assembleia Nacional Popular, Lord Teverson, Presidente do Comité dos Negócios Estrangeiros do Senado Britânico, que acompanhou Peter Thompson na sua última visita a Bissau, disse que a independência da Guiné-Bissau “chegou tarde demais”. Este mesmo responsável britânico afirmou ainda que apenas a Assembleia Nacional Popular tem o mandato legal para definir o futuro da Guiné-Bissau: “não é para um governo fazer, nem a comunidade internacional; são vós, os deputados da Assembleia, que têm a autoridade de realizar a visão do vosso grande fundador, Amílcar Cabral.”
quinta-feira, 11 de abril de 2013
O vizinho que, afinal, quer o nosso bem...
O representante do Secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, José Ramos Horta, e o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, comentaram hoje, na Cidade da Praia, as declaraçõs do Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau, que falou - nesta Quarta feira - de uma campanha contra a Guiné-Bissau, referindo-se a «bons e maus vizinhos», sem citar o nome de nenhum País.
José Ramos Horta esteve na Cidade da Praia, onde teve encontros com as autoridades cabo-verdianas, para analisar eventuais soluções para a crise político-militar na Guiné Bissau, desencadeada há precisamente um ano. José Ramos Horta aproveitou para desvalorizar as acusações do Procurador-Geral da República guineense, Abdu Mané, que afirmou na passada Quarta – feira, que a Guiné-Bissau tem "má vizinhança", fazendo ainda referência aos PALOP. Um comentário que foi interpretado como uma referência a Cabo Verde. Também o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, comentou aquelas declarações do Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau, Adbu Mané, mas sublinhou os fortes laços de amizade que unem as duas nações.
Declarações obtidas com a colaboração de Odair Santos, correspondente da RFI em Cabo Verde.
Guiné-Bissau: 13% mais próximo da guerra
Passado 1 ano do golpe do 12 d'Abril na República da Guiné-Bissau (RGB), o cenário da encruzilhada não poderia ser maior, sobretudo após a detenção do Contra-Almirante Bubo Na Tchuto pela americana Drug Enforcement Agency (DEA), o qual já desde 2010 fazia parte da lista dos chamados "Barões da Droga", do Departamento d'Estado americano. Em cima da mesa estava uma transacção de 4 toneladas de cocaína, da Colômbia para a RGB.
Esta detenção obedece também a um ajuste de contas entre a DEA e Na Tchuto, já que consta que este terá assassinado um dos seus melhores agentes nos idos de 2010. De forma telegráfica, a RGB serviu de refúgio a 3 jihadistas mauritanos após terem assassinado 4 turistas franceses, no sul da Mauritânia na véspera de Natal de 2007. Entre fugas e capturas várias após o crime, os 3 assassinos chegam a Bissau, onde são detidos pelas autoridades locais em colaboração com serviços d'inteligência estrangeiros, conseguindo evadir-se de novo pouco tempo depois. Consta também que o conseguiram através da ajuda e influência do Contra-Almirante agora detido, passando a beneficiar da sua segurança directa. Os americanos, interessados em deter estes indivíduos, enviam para a RGB uma espécie de 007 da Agency em África, o qual acaba por cair nas mãos dos homens de Na Tchuto, sendo mais tarde morto à catanada e com um sinal claro da presença de extremistas islâmicos no local e no acto, já que o corpo estava degolado. Este detalhe reforça as desconfianças de que Bubo Na Tchuto, para além de traficante, terá ligações a células da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) na Mauritânia, na Guiné-Conakri, no Mali e na Gâmbia.
Quanto aos criminosos mauritanos, foram de novo capturados, enviados para o seu país d'origem, julgados e condenados à morte, em 2010.
Consequências da detenção de José Américo Bubo Na Tchuto
a) Percebe-se desta forma porque que é que as autoridades americanas têm pedido a colaboração do CEMGFA António Indjai, sendo que ao mesmo tempo não reconhecem as Autoridades Oficiais Provisórias. O interesse é mútuo, os americanos queriam deter Na Tchuto e Indjai queria livar-se dum concorrente. Decorria um processo de reabilitação da figura do Contra-Almirante no seio da instituição militar, a propósito duma tentativa de golpe d'Estado a 26 de Dezembro de 2011, a qual era acusado de ter liderado. Nada ficou provado, ou achou-se por bem que assim fosse e, Na Tchuto já tinha dito publicamente que só aceitaria o processo de reabilitação, caso fosse reintegrado como CEMGFA, destituindo desta feita o actual, António Indjai;
b) A primeira novidade da acusação apresentada pelos americanos é absolutamente demolidora para as duas principais figuras do Período de Transição. O Presidente Interino Manuel Serifo Nhamadjo e o Primeiro-Ministro Interino Rui Duarte Barros, são implicados nas gravações apresentadas como provas pela DEA. Um "depois de amanhã vou falar com o Presidente da República", terá sido dito por militar d'alta patente envolvido no negócio, sendo que outros também referiram noutros momentos que falariam com "o Primeiro-Ministro e com o Presidente", e que a comissão destes para olharem para o lado enquanto tudo decorreria, seria de 13% do produto/negócio (aqui não é claro se do valor da transacção, ou directamente do produto). Ambos gabinetes já desmentiram e demarcaram veementemente, tanto o PR como o PM destes factos, mas a verdade é que o estrago já está feito. Mesmo que se venha a provar que não são verdade e que foram ditos apenas para impressionar, a dúvida vai sempre pairar.
Uma segunda novidade, não menos demolidora, é a de que o pagamento da transacção seria efectuado em armas, incluindo mísseis terra-ar, legitimamente comprados pelo Estado guineense e depois entregues ao fornecedor da droga, o qual representava as FARC colombianas (agentes da DEA fizeram-se passar por elementos deste grupo marxista revolucionário);
c) Que credibilidade é que este PR e este Governo vão agora ter para continuar o seu trabalho? Do ponto de vista interno, o assunto "recenseamento biométrico/eleições" continua por se definir, há já um ano, sendo que o Período de Transição já foi extendido até ao final do ano, na espectativa de que tudo s'organize um pouco à portuguesa, em cima do joelho, para umas eleições com cadernos eleitorais desactualizados desde 2009, uma das justificações para a recusa da participação na 2ª volta das Presidenciais de há um ano, por parte de Kumba Ialá e doos restantes candidatos eliminados na 1ª volta.
Qual a credibilidade duma prevista remodelação governamental, inclusiva do PAIGC, após este ter finalmente assinado o Pacto de Transição?
Do ponto de vista externo, este Governo e Presidência Interinos, até estavam quase a serem reconhecidos pelas instâncias internacionais, já que estes tinham percebido a inevitabilidade dos respectivos apoios para que o calendário eleitoral fosse cumprido. A determinada altura, pareceu-me que tudo dependeria dum acordo prático que tardou. Marcava-se uma data concreta para a realização das eleições (com ou sem recenseamento biométrico, perdeu-se demasiado tempo nesse debate), aquando duma das reuniões magnas da CEDEAO, a União Africana apoiava, reconhecia o Período de Transição, o que permitiria a que as restantes instituições também o fizessem, sobretudo depois das boas vontades das Nações Unidas em nomearem Ramos-Horta seu representante e também após já este ano o regresso do FMI.
E agora, como fica? Alguém vai reconhecer? Sem reconhecimento não há financiamento e sem financiamento não há eleições. Continua-se a correr o risco, mas agora ainda mais que há um ano, da Comunidade Internacional pura e simplesmente abandonar a RGB e esta ficar ao nível da Somália, conforme já foi aventado pelo Secretário-Geral Ban Ki Moon e passar a ter golpes d'estado, mas de bairro e diários. Haverá certamente sectores na RGB e arredores, interessados em que assim seja e que o poder caia na rua. A RGB pode correr o risco de desaparecer, como já muito bem advogaram o antigo Embaixador Francisco Henriques da Silva, o Representante do Secretário-Geral da ONU Ramos-Horta e demais entendidos no país e na região;
d) Para além da Primatura e da Presidência, a instituição militar também sai muito mal na fotografia. Nas notícias que saiem a público fala-se em oficiais d'alta patente envolvidos, que por ora os nomes são omitidos, mas que muito provavelmente virão a público a partir do próximo dia 15, data do início do julgamento em Nova York. Com a perspectiva duma mais que certa sentença de prisão perpétua, o mais certo é que os detidos aceitem colaborar e abram jogo, garantindo a redução de penas.
Por outro lado, o Capitão Pansau N'Tchama também está a ser julgado em Bissau, tendo já "disparado" em várias direcções militares e civis.
Quem se aguentará no Poder em Bissau, no meio deste fogo cruzado? Certamente que haverá sectores, indivíduos que optarão por uma fuga para a frente, numa lógica de "perdido por 1, perdido por 1000".
O cenário poderá ser catastrófico, com um regresso a uma guerra nunca tão sangrenta como agora, baseada nas disputas pessoais, ajustes de contas antigos, tensões étnicas e agora religiosas também, sobretudo entre muçulmanos sunitas e xiítas. Um dado novo e recente, este último.
A Guiné-Bissau no contexto da guerra do Mali
O problema do tráfico de droga, trata-se duma questão de dimensão regional e não apenas da RGB. Ora se um dos objectivos da intervenção militar francesa no norte do Mali é o de eliminar os grupos jihadistas que aí encontraram guarida, então convém começar a tratar do assunto a montante, precisamente na RGB, evitando a entrada da droga, cujos dinheiros irão alimentar estes grupos, a par do tráfico d'armas e outros, já que nestas zonas inóspitas do Sahel tudo se trafica, incluindo pessoas/crianças.
Neste sentido, parece-me que a abordagem levada a cabo desde o exterior está a ter esta dimensão e esta coordenação regional.
A grande preocupação actual da CEDEAO relativamente ao Mali, é a de começar a trabalhar os mecanismos burocráticos e legais, para em breve transformar a AFISMA* numa Missão de Peacekeeping. Ora seguindo a lógica da abordagem regional, poderá estar no programa o alargamento/extensão no futuro desta Missão de Manutenção de Paz para a RGB. Mas para que a paz seja mantida, parece-me que primeiro é necessário que haja guerra, cenário cada vez mais provável de acordo com os acontecimentos da última semana.
Como nota final, uma curiosidade local, um wishfull thinking bissau-guineense transversal a toda a sociedade. É normal ouvir-se nas conversas de salão e de café, na RGB e junto da diáspora o seguinte desabafo: "Isto só lá vai com o país a ser governado pelas Nações Unidas", numa alusão clara à presença e exercício da UNTAET em Timor-Leste entre 1999 e 2002, a qual deteve de facto totais poderes executivos, legislativos e judiciais no país. Ora a chegada de Ramos-Horta à RGB veio certamente alimentar esta chama, a qual norteará cada vez mais o cidadão comum da RGB à medida que a situação se for deteriorando. Há a noção da necessidade duma purga. Mais uma, mas que dada a gravidade e insistência da situação, se pretende que seja benígna e a última!
Por: Raul M. Braga Pires, in www.expresso.pt
Nem tudo são espinhos
Às vésperas de completar um ano após o golpe de estado de 12 de Abril 2012, a Guiné-Bissau apareceu nas primeiras páginas de notícias internacionais, infelizmente, mais uma vez, por piores motivos. Segundo os especialistas da matéria, estas detenções de cidadãos guineenses, incluindo o ex-Chefe de Estado Maior da Marinha, Almirante Bubo Na Tchuto, para além de ser fruto de excelente trabalho desenvolvido pelos EUA na luta contra o tráfico ilícito de armas e estupefacientes na costa ocidental africana, representa mais uma vitória do povo guineense, uma vez que estes flagelos sempre foram apontados pela ONU, como uma das principais causas destabilizadoras do nosso país.
Nós, Bissau-guineenses, vivemos momentos infelizes que gostaríamos que fossem apagados da nossa história. Ao longo de toda a nossa existência como nação, aprendemos a conviver com espinhos... Eles fazem e sempre fizeram parte da nossa caminhada. Por isso, não devemos temer, parar e nem tão pouco desistir desta luta desenfreada!
Espero honestamente, como cidadão, que todas as forças vivas da nação guineense, reconheçam a nossa debilidade; Compreendam de uma vez por todas, a necessidade (urgência) de aproveitar ondas de apoio da comunidade internacional que estão a nosso favor apesar da crise mundial, para que possamos realmente ajudar o país a sair do lamaçal que se encontra, resgatar a nossa democracia e devolver ao povo, a sua dignidade. É pegar ou largar, tendo em conta as dificuldades que hoje são evidentes na Guiné e que, a crise tende a aumentar.
Na verdade, as picadas e cicatrizes, hoje, estão à vista de todos... Mas, nem tudo são espinhos na Guiné-Bissau!
A nossa inteligência adicionada à vontade de transformar a nossa própria vida e salvar o país, são muito mais fortes do que as divergências, os obstáculos e os casos amargos da nossa história.
Existe um povo maravilhoso cujo coração e dignidade foram esmagados, mesmo assim, mantem-se firme, desfragmentado e de cabeça erguida.
Existe gente humilde que apesar de tanto sofrimento, ainda canta e dança, mesmo que for para espantar os males.
Nem tudo são espinhos nesta linda e rica terra!
Existem também rosas... Isso mesmo, rosas. Rosas ressequidas no silêncio duma história... A nossa história criada na fantasia e na mistura de indignação e sonhos. Lindas rosas que autrora abandonadas no espaço vazio entre o presente e o futuro, desabrocham nos canteiros da liberdade.
Caros compatriotas, devemos transmitir segurança e ter orgulho de tudo o que temos, (pouco ou muito) o que se fez e se faz de bom! Exibir as nossas conquistas, içar a nossa bandeira, cantar o nosso hino... Afinal somos um povo maravilhoso e temos muito para oferecer: Lindas praias; Enorme biodiversidade; Mosaico cultural riquíssimo, para além da nossa calorosa hospitalidade.
Devemos concentrar nas coisas boas e positivas que acontecem no nosso país e viver delas! Por exemplo: As grandes expectativas para a exploração dos recursos naturais (petróleo, bauxite, fosfato etc.); A construção do porto de águas profundas em Buba; A pesca e o turismo nacional etc... Tudo isto poderá criar muitos postos de trabalho, melhorar a vida de muitas famílias e fazer o país crescer.
Não pretendo com este artigo, ocultar o podre com uma visão cor-de-rosa ou tentar maquiar a crua realidade que marcou a nossa história de forma negativa. Dar uma falsa protecção, seria irónico da minha parte e de qualquer cidadão do bem.
Quero sim, que aproveitemos a fase final da transição, (fim dos golpes-assim parece) para promover o que temos de bom, mostrar os nossos valores, transformar esta crise numa oportunidade para fazer o mundo conhecer as potencialidades do nosso país e provar que, ONDE HÁ ESPINHOS, HÁ ROSAS.
Haja Rosas!
Pensamentos positivos...
Londres, 10.04.2013
Vasco Barros. (Vavá)
Morreu a Mãe do Presidente da República interino, Raimundo Pereira.
O editor do Ditadura do Consenso endereça as mais sentidas condolências a toda a família. Que a sua alma descanse em paz. AAS
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Ramos-Horta na Praia: O Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, recebe amanhã, dia 11 de Abril de 2013, às 11h00 no Palácio Presidencial, o Representante do Secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Ramos Horta. Faz parte da agenda a análise dos problemas políticos, sociais e económicos da Guiné-Bissau e procura de soluções para a realização das eleições num clima de paz e tranquilodade, bem como para a actual situação institucional do país. AAS
AVISO SÉRIO: Ramos-Horta, o representante do secretário-geral da ONU em Bissau, avisou as autoridades de transição que a comunidade internacional está cansada e que existe um «perigo real» destes abandonarem a Guiné-Bissau. Independentemente das razões que levaram ao golpe de Estado, o Nobel da Paz frisou que, «a verdade, é que se aprofunda a crise social e económica e o isolamento internacional da Guiné-Bissau».". AAS
DEA: Ligações fatais
O relatório da DEA, a agência norte-americana de combate ao tráfico de droga, citada pelas agências noticiosas internacionais, implicou as autoridades do Governo de transição da Guiné-Bissau no narcotráfico internacional. Entre os citados constam o Presidente de transição da Guiné-Bissau, Manuel Serifo Nhamadjo, que poderá ter colaborado com os militares que planeavam um esquema de contrabando de droga e armas com as FARC colombianas, de acordo com a agência Reuters. O relatório, apresentado esta terça-feira, 9 de Abril, às autoridades judiciais norte-americanas, resulta do trabalho de agentes infiltrados, supostamente ligados às FARC, e da recente detenção do ex-Chefe da Marinha de Guerra da Guiné-Bissau, Bubo Na Tchuto, durante uma operação em águas internacionais, próxima de Cabo Verde.
Na ocasião, foram também presos Manuel Mamadi Mané, conhecido por «Quecuto», e Saliu Sisse, conhecido por «Serifo», que terão igualmente relatado aos agentes infiltrados da DEA que o Primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Rui Barros, e o Presidente de transição, Manuel Serifo Nhamadjo, dariam cobertura à operação de tráfico de droga e armas. O plano dos traficantes, segundo a força policial norte-americana, era transportar, por via marítima, 4000 quilogramas de cocaína da Colômbia para a Guiné-Bissau, camuflada em uniformes militares que seriam destinados ao Exército guineense. A importação de cocaína seria trocada pela compra, por Bissau, de armas, incluindo mísseis terra-ar, parte das quais iria para a Colômbia.
«Depois de uma reunião em Junho de 2012, no Brasil, entre os colaboradores dos dois narcotraficantes, os agentes norte-americanos deslocam-se a Bissau onde, a 30 de Junho, ´Serifo´, ´Quecuto´ e um dos seus operacionais, terão referido a ´necessidade de envolver responsáveis do Governo da Guiné-Bissau´ na operação». No mesmo dia, os dois alegados narcotraficantes «informaram que os responsáveis do Governo da Guiné-Bissau reteriam uma percentagem da cocaína enviada» e, mais tarde, «Serifo» teria informado os agentes da DEA que «por este serviço, os responsáveis do Governo guineense esperariam, como comissão, 13% da cocaína enviada» para o país. Acertados os detalhes da operação, um dos alegados traficantes referiu que, dois dias depois, iria «discutir o plano com o Presidente de transição da Guiné-Bissau».
DEA: Pistas sobre o isco norte-americano
Em meados do mês de março, oficiais superiores de dois exércitos (um guineense e dois guineenses da Guiné-Conacry) tentaram abrir uma mega-conta bancária em Dakar, no Senegal. Desconfiado com o montante, cerca de 4.5 milhões de dólares, alguém do banco pediu informações sobre:
- General Souleymane Camará, e
- Comandante El Hadji Mory Sékou TOURE (ambos naturais da República da Guiné-Conakry),
e de...
- Bion Na Tchongo, actual chefe do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau.
A América foi apertando o cerco, mas ter-se-á precepitado: "A DEA podia ter feito muito mais prisões, pois as operações foram coordenadas entre as nossas antenas na Colômbia, Lisboa, Conacry e Dakar" - garante um funcionário da embaixada norte-americana - que não descarta essa hipótese. "Continuaremos com as operações de vigilância por terra, mar e ar."
A preocupação dos EUA tem que ver com as ligações perigosas e preocupantes entre quase toda a cúpula do Estado da Guiné-Bissau. Estado-Maior General das Forças Armadas, Presidência da República e até o Governo com as FARC, que os EUA apelidam de 'organização terrorista'. "A facilidade com que os traficantes falavam e agiam, deixam antever grandes problemas para a Europa e, sobretudo, para os Estados Unidos. Há que cortar o mal pela raiz", assume o diplomata. Depois do dia 15, os EUA poderão indiciar mais pessoas ligadas ao tráfico de droga, e de armas, na Guiné-Bissau. E continuam a monitorar tudo o que mexe... AAS
terça-feira, 9 de abril de 2013
BUBO: Juíz decreta prisão imediata e marca primeira audiência para dia 15 do corrente
O Procurador dos EUA decretou a prisão com efeitos imediatos do narcotraficante José Américo Bubo Na Tchuto, ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau e outros seis dos seus cumplices por delitos de tráfico de droga. Quatro dos réus também são igualmente acusados de crimes de terrorismo em acusações autonomas. Preet Bharara, o Procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, e Michele M. Leonhart, o administrador do Drug Enforcement Agency (DEA) anunciou que os cinco acusados (José Américo Bubo Na Tchuto, ex-chefe da marinha da Guiné-Bissau; Manuel Mamadi Mané (Juba); Saliu Sisse; Papis Djemé e Tchamy Yala) chegaram no Distrito Sul de Nova York a 4 de abril de 2013. Relacionada com a mesma ação, Rafael Antonio GARAVITO-GARCIA e Gustavo PEREZ-GARCIA, ambos de nacionalidade colombiana, foram presos hoje na Colômbia através do sistema de Aviso Vermelho da Interpol (Interpol Red).
JUBA, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA são acusados de conspirar para participação em acções de narcoterrorismo, conspiração para importação de narcóticos para os Estados Unidos, e de conspirar para fornecer ajuda militar e equipamentos de guerra às Forças Armadas Revolucionarias da Colombia (FARC), um grupo paramilitar sul-americano ha muito catalogado pelos Estados Unidos como sendo uma organização terrorista estrangeira ("FTO"), através de armazenamento de cocaína na África Ocidental cuja propriedade pertence às Farc. JUBA, Sisse, e GARAVITO-GARCIA também são acusados de conspirar para vender armas, incluindo mísseis terra-ar, para serem usados para proteger as operações de contrabando de cocaína das Farc na Colômbia contra as forças militares dos EUA.
Bubo Na Tchuto, P. DJEME, e YALA enfrentam acusações de conspirar para importar narcóticos para os Estados Unidos. Na Tchuto foi designado um traficante pelo Tesouro dos EUA. Os cinco réus foram apresentados em Nova York perante a Corte dos Magistrado dos EUA, hoje.
Em 4 de abril de 2013, a Drug Enforcement Administration (DEA) da Divisão de Operações Especiais (SOD), Unidade de Investigação Bilateral (BIU) e Narco-terrorismo Group (NTG), trabalharam em conjunto com o Escritório Nacional DEA de Lisboa e a Representação da DEA em Bogotá concluiram uma operação planeada e levada a cabo à longa data por agentes à paisana que operavam na Guiné-Bissau e em outros lugares. A operação consistiu em duas fases separadas e foram levadas a cabo através de investigações e acções altamente sigilosas. Durante a primeira parte da operação, Na Tchuto, DJEME, e Yala foram presos em 02 de abril nas águas internacionais pela Equipe de Suporte da DEA instaladas nos paises estrangeiros como Consultores (FAST) e a NTG da Costa da África Ocidental. Toda a operação era monitorado a bordo de um navio sob controle DEA, igualmente localizado nas aguas internacionais. Na segunda parte da operação, Juba e Sisse foram presos a 4 de abril, um em um país da Africa Ocidental e transferido depois para a custódia dos Estados Unidos. Na Tchuto, Djémé, YALA, Juba, e Sisse foram transportados para Nova York para efeitos de serem acusados dos crimes respectivos. GARAVITO-GARCIA PEREZ-GARCIA permanecem ainda na Colômbia com mandato de extradição pendente para os Estados Unidos.
O Procurador dos EUA Preet Bharara disse: "As acusações de alegadas conspiração de narcoterrorismo mostra o perigo que pode crescer sem controle em lugares distantes onde as circunstâncias de fragilidade e pobreza podem permitir aos narcotraficantes, apoiantes e simpatizantes do terrorismo de transacionar e conspirar de forma dissimulada com grandes riscos para os Estados Unidos e os seus interesses. A ligação entre narcotraficantes e terroristas, os seus financiadores e apoiadores, precisa ser desmantelado, onde quer que se encontrem. Mas graças aos esforços extraordinários dos nossos parceiros da DEA, que durante anos atacou a ameaça narco-terrorismo, essa conspiração foi frustrada e podemos afirmar que obtivemos mais uma vitória em nossa campanha implacável contra os que pretendem prejudicar os americanos e os interesses americanos no exterior ".
A administradora da DEA Michele Leonhart disse: "Estas detenções feitas pela DEA são vitórias importantes no combate contra o terrorismo e o tráfico internacional de drogas. Alegados narco-terroristas como estes, que traficam drogas na África Ocidental e em outros lugares, são alguns dos criminosos mais violentos e brutais do mundo. Eles não têm nenhum respeito pelas fronteiras, e não respeitam nem as regras nem as que violam resultado das suas acções criminosas. Estes casos ilustram ainda de forma mais assustadora as ligações entre o tráfico global de drogas e do financiamento de redes terroristas. Graças ao trabalho qualificado e bravura dos nossos agentes e parceiros policiais, esses criminosos terão de enfrentar a responsabilidade de um tribunal dos EUA pelos seus atos hediondos. "
De acordo com as acusações contra MANE, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA concluida hoje:
A partir do verão de 2012, os réus comunicaram com fontes confidenciais (o "CSS"-colaboradores da DEA) que trabalham com a DEA, que pretendiam ser representantes e/ou sócios das FARC. Os contactos ocorreram por telefone, por e-mail, e em uma série de reuniões gravadas em áudio e também filmadas durante vários meses na Guiné-Bissau.
Durante as reuniões que teve inicio na Guiné-Bissau em junho de 2012, e continuando até pelo menos meados de Novembro de 2012, Mané, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA concordaram em receber e armazenar várias toneladas de cocaína embarcadas e propriedade das FARC na Guiné-Bissau. Os réus concordaram em receber a cocaína ao largo da costa da Guiné-Bissau, armazena-los em seus armazéns aguardando lá, até à sua eventual transferência para os Estados Unidos, onde seriam vendidos para o benefício financeiro das FARC. Os réus ainda acordaram que uma parte da cocaína seria usado para o pagamento dos funcionários do governo da Guiné-Bissau para garantirem uma passagem segura para a cocaína através da Guiné-Bissau.
Também durante essas reuniões, Juba, Sisse, e GARAVITO-Garcia concordaram em providenciar a compra de armas para as FARC, incluindo mísseis terra-ar, importando-os dessimuladamente para Guiné-Bissau como se fossem para o uso nominal dos militares Guiné-Bissau.
Por exemplo, em 30 de junho de 2012, durante uma reunião gravada na Guiné-Bissau com o CSS, Mané, Sisse, e GARAVITO-GARCIA concordaram em ajudar na distribuição de cocaína das Farc, facilitando o envio de cocaína para a Guiné-Bissau dentro de cargas e de uniformes militar, e pelo estabelecimento de uma empresa de fachada na Guiné-Bissau para exportar a cocaína da Guiné-Bissau para os Estados Unidos. Além disso, MANE concordou em ajudar na obtenção de armas para as FARC. Também, a 03 de julho de 2012, durante outra reunião igualmente gravada na Guiné-Bissau, Mané, Sisse, e GARAVITO-GARCIA reuniram com as fontes confidenciais e um representante militar da Guiné Bissau militar tendo discutido sobre os benefícios de usar a Guiné-Bissau como um ponto de transbordo para a cocaína obtida na América do Sul e destinada para os Estados Unidos, o processo de descarregar a cocaína uma vez chegado à Guiné-Bissau, bem como a natureza das armas a serem fornecidos às Farc para combater as forças americanas na Colômbia, incluindo mísseis terra-ar, fusisde assalto AK-47 com lança-granadas.
A 31 de agosto de 2012, durante uma reunião gravada em Bogotá, Colômbia, GARAVITO-GARCIA e PEREZ-GARCIA concordaram em facilitar o recebimento de cerca de 4.000 quilos de cocaína das Farc na Guiné-Bissau, cerca de 500 quilos de que viria a ser enviada para clientes nos Estados Unidos e Canadá. Durante uma reunião gravada na Guiné-Bissau com Juba e Sisse que ocorreu a 13 de novembro de 2012, um oficial militar da Guiné-Bissau aconselhou um dos CSs que a transação de armas (os anti-mísseis de aviões para serem vendidos para as Farc que seriam usados contra os helicópteros dos Estados Unidos que operam na Colômbia contra as FARC) poderia ser executado, uma vez que as FARC trouxessem dinheiro para a Guiné-Bissau.
Segundo a acusação contra Bubo Na Tchuto, DJEME, e também YALA concluida hoje:
A partir do verão de 2012, os três réus estiveram envolvidos em uma série de reuniões gravadas na Guiné-Bissau com fontes confidenciais (o "CSS") que trabalha com a DEA, que pretendia ser representantes e/ou associados de traficantes sul-americanos ligados ao narcóticos .
Em uma das primeiras reuniões em que os réus discutiram o envio de toneladas de cocaína da América do Sul para a Guiné-Bissau por mar, Na Tchuto observou que o governo da Guiné-Bissau esta fragilizado, à luz do recente golpe de Estado e que, portanto, era um bom momento para a transação de cocaína proposta. Em outras reuniões, Na Tchuto, DJEME, e YALA concordaram em ajudar o CSS a receber uma carga de duas toneladas de cocaína que seriam transportadas para a Guiné-Bissau de barco e armazenados em um armazém para posterior distribuição para a Europa e os Estados Unidos. Por exemplo, em 17 de novembro de 2012, Na Tchuto, DJEME, e YALA reuniram-se com os dois CSS na Guiné-Bissau e discutiram importar 1,000 kg de cocaína para encaminhar para os Estados Unidos. Também durante a reunião, Na Tchuto ofereceu-se para utilizar uma sua empresa para facilitar o envio de cocaína para fora da Guiné-Bissau. Em uma reunião anterior, Na Tchuto afirmou que sua taxa seria de R $ 1.000.000 por 1.000 kg de cocaína recebida na Guiné-Bissau.
***
JUBA, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA foram, cada um deles acusados de conspiração para participação em narco-terrorismo (Primeira acusação), uma acusação de conspiração para distribuir cinco quilos ou mais de cocaína, com conhecimento ou pretensão de que a cocaína poderia ser enviada para os Estados Unidos (Segunda acusação), e uma acusação de conspiração para fornecer apoio material e recursos a uma FTO (acusação três). JUBA, Sisse e GARAVITO-GARCIA também são acusados de uma acusação de conspiração para adquirir e transferir mísseis anti-aéreos (acusação Quatro). As acusações Um, Dois e Quatro cada uma por si esta sujeita a uma pena máxima prisão perpétua, e a acusação Três acarreta uma pena máxima de 15 anos de prisão. JUBA e Sisse estão programados para serem presentes ao Juiz dos EUA Jed Rakoff no prôximo dia 9 de abril de 2013 (hoje) às 11:30.
Na Tchuto, DJEME, e Yala foram, cada um encarregado de uma acusação de conspiração para distribuir cinco quilos ou mais de cocaína, com conhecimento ou pretensão de que a cocaína poderia ser enviada para os Estados Unidos. A acusação acarreta uma sentença máxima prisão perpétua. Na Tchuto, DJEME, e YALA tem a próxima agenda para recomparecer perante o Juiz Distrital dos EUA Richard Berman a 15 de abril de 2013 às 11:00
As prisões e as transferências dos réus foram o resultado de estreitos esforços e de cooperação aproximada do Gabinete do advogado dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, SOD DEA, o DEA Escritório Nacional de Lisboa, o DEA Escritório Nacional de Bogotá, o Departamento de Justiça dos EUA, o Escritório de Assuntos Internacionais do Departamento de Estado dos EUA.
Este processo está sendo tratado pelo Gabinete da Unidade de Narcóticos e Terrorismo Internacional. Os Advogados Assistentes dos Estados Unidos são Aimee Hector e Glen Kopp que Representam o Ministério Público.
As acusações contidas nas acusações são consideradas meramente acusações e os réus são por enquanto considerados presumidos inocentes, até que se prove a sua culpabilidade.
Estado da Guiné-Bissau corre risco de desaparecer, avisa Ramos-Horta
A Guiné-Bissau "enfrenta como Nação uma ameaça existencial, enquanto Estado" e as elites políticas e militares deviam aproveitar o aniversário de mais um golpe para fazerem um exame de consciência, defendeu hoje o representante da ONU. Num depoimento a propósito do primeiro aniversário sobre o golpe de Estado que a 12 de abril derrubou os governantes eleitos, o representante do secretário-geral da ONU em Bissau, Ramos-Horta, avisou também que a comunidade internacional está cansada e que há um "perigo real" de abandonar o país. Independentemente das razões que levaram ao golpe, disse o responsável, "a verdade é que se aprofunda a crise social e económica e o isolamento internacional da Guiné-Bissau".
"Por isso espero que, ao completar-se o primeiro aniversário do golpe e do regime de transição, as elites política e militar façam uma introspeção, um exame de consciência, e ganhem consciência de que a Guiné-Bissau realmente enfrenta como Nação uma ameaça existencial, enquanto Estado", alertou. É que, justificou José Ramos-Horta, sem um Estado forte, um Governo e instituições políticas sólidas e coesas, é "extremamente difícil a Guiné-Bissau sobreviver aos desafios regionais, às ameaças de crime organizado, nomeadamente dos cartéis de droga das mais variadas origens", e a ameaças de outro género como a extrema pobreza.
Outro aviso de Ramos-Horta é o de que a comunidade internacional, que sempre quis e quer ajudar a Guiné-Bissau, "já está também cansada e há um perigo real de a própria ONU, a União Europeia e outros amigos e parceiros tradicionais da Guiné-Bissau dizerem ´não mais´". Por isso, Ramos-Horta apelou aos políticos guineenses para que cheguem rapidamente a um acordo para um roteiro de transição que contemple o recenseamento eleitoral e o calendário para as eleições, que podem ser este ano "desde que as elites políticas se entendam".
"Dado os desafios que este país enfrenta, bem grandes, até digo existencialistas para este país enquanto Estado, que se entendam e que formem um Governo de grande inclusão o mais rapidamente possível", para haver eleições num clima pacífico e para que depois das eleições não hajam vencedores ou perdedores", disse. Após as eleições, acrescentou, o partido mais votado terá sentido de Estado e consciência da gravidade da situação que o país enfrenta, e terá consciência de que nenhum partido sozinho, nenhuma elite partidária sozinha, pode resolver os problemas do país. "Deem a mão" e formem um Governo de grande abrangência, pediu Ramos-Horta, acrescentado que só assim se pode passar a uma segunda fase, após as eleições, de reorganização do Estado, com o apoio da comunidade internacional.
Tal é possível porque a Guiné-Bissau é um país potencialmente rico e com um "povo fabuloso" e pessoas "altamente qualificadas, disse Ramos-Horta, acrescentando: "por isso, neste ano em que se completa um aniversário de mais um golpe, triste, espero que façam uma reflexão séria, deem a mão e salvem a vossa Nação".O representante da ONU reafirmou que há tempo para organizar eleições ainda este ano e que as Nações Unidas continuam disponíveis para, em parceria com a União Africana e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, e com o apoio financeiro da União Europeia, liderar o processo eleitoral.
DROGA: Serifo na área
O presidente interino da Guiné-Bissau pode ter cooperado com os planeadores de um esquema de contrabando de cocaína e armas para armar rebeldes colombianos das FARC, segundo documentos judiciais americanos na posse da agência Reuters. Os documentos lançam uma sombra sobre os esforços internacionais para restaurar a ordem no pequeno estado ocidental Africano, que sofreu uma série de golpes de Estado desde 1974, data da independência, e que desde então tem-se tornado num centro de transbordo de narcóticos com destino à Europa e aos EUA.
Promotores americanos apresentaram acusações contra o ex-chefe de estado maior da Marinha, Américo José Bubo Na Tchuto, e outros seis homens no final da semana passada, depois de os prender numa ousada operação sua costa atlântica. De acordo com as acusações, os homens planeavam levar 4.000 kg de cocaína colombiana para a Guiné-Bissau dentro de uma remessa de uniformes militares e contrabandear armas, incluindo mísseis, de volta para os rebeldes das FARC da Colômbia para o uso contra forças americanas anti-droga.
Um dos principais conspiradores no plano, descrito apenas como um "funcionário de alto nível da Guiné-Bissau", disse a agentes secretos. em julho de 2012, que iria discutir a trama com o presidente Manuel Serifo Nhamadjo. "Depois de amanhã, eu vou falar com o Presidente da República," ele é citado como tendo dito na acusação, aberta no tribunal de Nova York na sexta-feira passada. Dois outros suspeitos disseram aos agentes à paisana numa reunião em Bissau, em Setembro, que gostaria de falar com o "Presidente e o Primeiro-Ministro" sobre o negócio, de acordo com os documentos da DEA. REUTERS
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