segunda-feira, 6 de outubro de 2014
OPINIÃO: Unidade e Luta
"Despertei com as primeiras luzes. Olho, nostálgico, a cidade que se ergue fatigada à minha frente. À minha volta um tumulto de gente, rindo e gritando e gesticulando, movendo fardos, arrastando animais que berram alto. Há gente à sombra, outros dormem estendidos de bruços na poeira.
E, no entanto, este lugar é o meu país. Um país que me surpreende todos os dias. Inquieta-me menos o meu destino do que esta espera angustiante pela chegada da liberdade para o meu Povo. Mas enfim, é realmente verdade que não temos escolha.
Não há dúvidas: as liberdades e a defesa dos direitos cívicos custaram, ao longo dos séculos, vidas e privações a muito boa gente. Correram rios de sangue.
No século XX, o nosso país viveu quase sempre num misto de ditadura, depois, transformou-se numa democracia musculada, e ainda, numa espécie de regime híbrido.
Uma das piores recordações que guardo desses tempos é a de um país atrofiado em cidadania, vegetando sob o signo da mediocridade; um reino de perseguições, onde uma palavra ou um carimbo da polícia do regime selavam destinos e marcavam vidas.
Com quase meio século de vida, já passei por muito: prisões, tortura, o quebrar dos ossos, a invasão da privacidade, a violação da correspondência, a perseguição da polícia, a censura; enfim, a ausência efectiva das liberdades elementares. Até quando, Povo da Guiné-Bissau? António Aly Silva"