quinta-feira, 4 de setembro de 2014

OPINIÃO/100 dias de Governo: Desilusão


Meu caro irmão, António Aly Silva,

CUMPRIMENTO E SAUDO A SUA CORAGEM E DETERMINAÇAO NA LUTA PELAS LIBERDADES NA GUINE-BISSAU, SERVINDO-SE DO SEU/NOSSO BLOG DITADURA DO CONSENSO, QUER INFORMANDO QUER QUER DENUNCIANDO OS MAIS DIVERSOS MALES QUE FORAM SENDO PRATICADOS NA GUINÉ-BISSAU, SOBRETUDO, DESDE O GOLPE DE ESTADO MILITAR DE 12 DE ABRIL DE 2012. O POVO GUINEENSE LHE AGRADECE ETERNAMENTE.

UM GRANDE ABRAÇO PARA TI.

"DESILUSÃO DO POVO GUINEENSE COM AS NOVAS AUTORIDADES ELEITAS DA GUINÉ-BISSAU

Apos quase três meses de funcionamento das novas autoridades eleitas da Guiné-Bissau, surgiram os primeiros sinais de preocupações no respeitante às expectativas do povo, que almeja uma verdadeira mudança terra de Cabral, não só na forma de governar e dirigir o país, mas, sobretudo, na sua relação com o poder militar. O povo guineense exprimiu a sua revolta silenciosa perante os militares e civis golpistas, infligindo uma derrota eleitoral estrondosa ao candidato do General António Indjai, Nuno Nabiam, e elegendo o JOMAV, do PAIGC para o cargo de Chefe de Estado guineense.

Mas, antes, o heroico povo guineense tinha já castigado os partidos políticos golpistas nas legislativas 2014, ao atribuir ao PAIGC uma vitória eleitoral com maioria absoluta no parlamento, só superada, na história eleitoral guineense, pela maioria qualificada do PAIGC obtida nas eleições de 2008.

Ou seja, a maioria silenciosa castigou os autores e mentores do golpe de Estado de 12 de Abril, através do seu voto na urna. Isto, apesar de toda a violência e intimidação exercidas pelos homens das fardas sob a orientação do General Indjai.

Entretanto, apesar de o povo ter votado massivamente para dar vitória total e absoluta ao PAIGC, nas legislativas e presidenciais, tendo com isso deixado uma mensagem clara de desejo de mudanças que conduzam a uma rutura com o passado recente na vida politica e militar do país, já se vislumbram os primeiros sinais de desilusão perante as primeiras ações políticas do Primeiro-ministro e do Presidente da República eleitos e em funções. Desde logo:

1ª Desilusão - no discurso de posse do Presidente JOMAV, ele considerou ser a pobreza o principal problema da Guiné-Bissau. Seria verdade, se não fosse desmentido pela realidade dos factos no nosso país. Ou seja, nenhum Governo pode combater eficazmente a pobreza se há uma estrutura armada de Estado que impede o seu normal funcionamento com liberdade e independência. Significa dizer que o Presidente JOMAV evitou deliberadamente tocar com o dedo na ferida ao ignorar que o principal fator de instabilidade politica e social no nosso país são os militares que jamais aceitaram se submeter ao poder politico civil eleito.

2ª Desilusão – o Presidente JOMAV no lugar de, em concertação com o Primeiro-ministro, assegurar a reforma profunda nas Forças Armadas, para tal se torna premente a substituição das atuais chefias militares, a começar pelo Chefe de Estado-maior General, António Indjai, optou avançar com uma decisão um pouco estranha, relativa a composição multiétnica do Batalhão da Presidência. Esta decisão pode dar em nada, bastando para tal que o General Indjai não mostre interesse nisso. E tudo leva a crer que ele não se interessará pela ideia e provavelmente nada fará para a sua concretização por entender que a medida visa os balantas largamente maioritários nas FARP.

Na nossa opinião, esta questão de equilíbrio étnico nas Forças Armadas tem de ser visto num quadro mais amplo, incluindo a totalidade das Forças Armadas (portanto, a nível nacional). E essa reforma profunda só será factível se houver novos protagonistas a nível das Chefias militares, com a substituição imediata do atual CEMGFA, António Indjai.

3ª Desilusão – na composição do Governo, mesmo compreendendo o espirito conciliador do PM, não se compreende a inclusão de pessoas que ativamente participaram no Golpe de Estado de 12 de Abril, bem como da inclusão de partidos sem representação parlamentar. Em nossa opinião, o dito Governo de inclusão deveria apenas considerar os partidos políticos com representação parlamentar, incluindo o maior partido da oposição (PRS).

4ª Desilusão – toda a gente sabe que uma das consequências mais nefastas do golpe de Estado militar de 12 de Abril foi o aumento da clivagem no seio da sociedade guineense, em que, por um lado, temos todos aqueles que se manifestaram contrários a tal Ação criminosa e anticonstitucional e do outro, temos aqueles que estiveram ao lado dos militares golpistas e tomaram parte no Governo Golpista de Transição. Ora, as novas autoridades eleitas na Guiné-Bissau não podem ignorar que este problema existe, inclusive, que muitos guineenses foram forçados ao exilio politico no estrangeiro por conta do referido golpe militar.

É um problema que tem de ser resolvido, sob pena de cheirar a esturro a tao propalada reconciliação nacional. É evidente para todos que um país que tem alguns dos seus cidadãos exilados por razões políticas não pode considerar-se reconciliado nem democrático. Aliás, o exilio politica só é compatível com regimes autoritários e despóticos e nunca democráticos.

Esta é uma chamada de atenção às novas autoridades eleitas da Guiné-Bissau sobre aspetos fundamentais da vida politica e social do nosso país que não devem ignorar. Devem agir para não defraudar as expectativas do povo que os elegeu. Mudanças já no poder castrense.

Tenho dito e até amanhã, camaradas.

Silvério Costa Mendes (Dakar)"