terça-feira, 16 de setembro de 2014

OPINIÃO: E agora, Indjai?

"Hora ku bu odja kon
Riba di montanha i na malkria
I na gassali tchon, i na kebra ramu i na fertcha pedra
Ka bu pukenta, kon ku na bin lanta i bai
Montanha nunca, nunca i ka na muda" - Orquestra Super Mama Djombo


Num processo guardado longe dos olhos e dos ouvidos da imprensa, e do próprio António Indjai (que não foi tido nem achado, e nem devia...) a noite do dia 15 de setembro ficará nos anais da nossa democracia: a exoneração do CEMGFA António Indjai marca o fim de quase três anos de medo, e o começo da estabilização da Guiné-Bissau.

Mas atenção, muita atenção: Os 'operacionais' do golpe de Estado de 12 de abril FORAM INCORPORADOS À PRESSÃO NA TROPA, sem que ninguém desse conta (ou, se deram, não se manifestaram; ou manifestaram-se e eu nem dei conta). Estão lá, no Estado-Maior. São a guarda pretoriana do Indjai, os homens para o trabalho sujo. Aliás, em Cumeré, durante a preparação militar, deixaram a sua marca: dois cadáveres. Gente simples, servidores do Estado assassinados a sangue frio...responsabilidades? O que é isso, doutor...


DE AUTORES DO GOLPE a 'militares'. António Indjai pensou em tudo...

A propósito, um deles confidenciou-me, à saída do meu tormentado cativeiro na Amura, que "foram chamados para fazer o golpe, com a promessa de que seriam pagos." Na falta do dinheiro, começaram a pilhar tudo: desde carros, a outros bens mateiriais que roubaram das várias residências nessa noite e nos dias seguintes. Algums compraram mercedes descapotáveis, jeep's, construíram casas. E traficaram toneladas de cocaína para a Europa, EUA - eles e aquela estirpe perniciosa e desgraçada pomposamente chamada de governo de transição, um catálogo de bandidos como nunca se viu no nosso País.

Portanto, a exoneração do Indjai (que equivale a levar com ele os chefes dos três ramos das forças armadas) por si só não chega. Há que limpar as forças armadas, eliminar os rambos e ninjas, e depois recrutar gente que sabe ler e, sobretudo, que percebe aquilo que leu. Enfim, gente que não confunda a caneta com a catana ou vice versa.

Aproveitemos a embalagem. O tempo está a favor das autoridades legítimas de Bissau. A saída de António Indjai era uma questão de tempo, pois ele tornou-se ilegal desde que depôs o Zamora Induta e manteve o Governo refém... Quando aconteceu o golpe de 12 de abril Indjai já era um pária, acossado e depois acusado pelos EUA de tráfico de drogas e associação terrorista, não perde pela demora...

O próximo CEMGFA deve ser escolhido com cautela. Terá de ser alguém insuspeito e com pulso. Acima de tudo respeitado - e não temido - pela classe catrense. Nada de medos, portanto. Não faço ideia dos nomes que estão em cima da mesa, mas acredito que será consensual. Deus abençoe a Guiné-Bissau. António Aly Silva