terça-feira, 25 de março de 2014
TESTEMUNHO: 'O que eu vi Bissau'
«Caros concidadãos,
De regresso a Bissau, depois de uma ausência relativamente longa e nostálgica vi coisas aberrantes que ternaram a minha alma e o meu patético orgulho de patentear a minha guinendade, apesar dos âmagos e amargos da nossa má reputação.
Confesso-vos, que antes de aterrar nesse chão que nos é querido e inalar aquele ar húmido - único do chão da Guiné - que nos abraça fortemente à chegada, senti-me evadido por um misto de sentimentos contraditórios. De um lado, uma saudade anormal e pateticamente maternal da minha pátria e, por outro, um sentimento de receio de vê-la pior que o esboço dos desenhos futurológicos que faço da sua sorte madrasta.
Essa amálgama de sentimentos que momentaneamente me sobressaltou, é deveras interessante, por isso, entendi ser útil, partilhar convosco a estranheza e a tristeza com que vi a "nossa" Bissau, outrora capital esplendorosa da Costa Ocidental, hoje urbe semisselvagem, descaracterizada, desorganizada, abandonada, uma cidade de alma penada, perdida no tempo e sem referências sociais e morais. Foi assim que cai no real e, eis o retrato que vos traço de Bissau.
Vi Bissau,
com olhos tristes e alma prenhe de dor,
gente, sem tempo e sem alma para pensar no futuro,
um Povo jovem, brutalmente envelhecida que sorri tragando o fel da sua desgraçada sorte,
gente com o coração amarfanhado, contido de sofrimento e opressão.
Vi,
vidas se perderem estupidamente no dia à dia que abismalmente se degrada,
uma juventude, sem rumo e sem esperanças que os animem em continuar vivos,
jovens se conformarem, em serem meros seres vivos sobreviventes de um pais pária,
escolas esquecidas, mentes perdidas em jogos de prazeres que apelam à morte.
Vi,
um dito de "Estado", sem identidade, decadente e cobardemente omisso,
instituições do Estado ausentes da demanda social,
energúmenos enfeudados à marginalidade rampante fazerem-se dirigentes de um "Estado" virtual,
servidores públicos, servindo-se do Estado, roubando e pilhando anárquica e impudicamente.
Vi,
um "Estado" submisso, de cócoras,
uma bandeira, outrora guerreira, hoje pedante e envergonhada sob anexação estrangeira,
Vi,
colaboracionistas do golpe de estado, pastando nas ruas a sua incompetência de guardas pretorianas dos seus algozes,
vi, o ódio oprimido, nos olhos do povo, os quais fulminam a raiva da sua impotência.
Vi,
uma caricatura de "Governo", um antro nojento de impostores desavergonhadamente corruptos e marginais,
um clube de mafiosos, que numa noite de trevas se erigiram em "governantes",
quais, não passam, de prostitutos, fielmente submetidos ao mundo do crime organizado e à ditadura narco-militar,
novos ricos, fruto da desgraça alheia, conhecidos pés descalços, são hoje, os novos senhores de Bissau.
Vi,
as nossas florestas e mares serem desalmadamente desbravadas, violentamente entranhadas,
nosso mar, rico patrimônio, saqueado, pirateado por frotas pesqueiras sob bandeira de generais invasores,
nossas vastas riquezas naturais vil e criminalmente alienadas e devastadas cruelmente,
a maldade da irracionalidade barbara presente, como se de uma vingança se tratasse.
Vi,
filas de porta contentores ocupando ruas inteiras de Bissau, incluindo a novel Av. Amílcar Cabral,
contentores, carregados de toros de madeira criminosamente abatidos nas nossas matas, incluindo as nossas zonas protegidas,
rede mafiosa de negócio da madeira, que esconde nas suas entranhas, muita droga,
tráfico de droga, que se agrava dia a dia, contrariamente as aparências, porque, só mudou o modus operandi.
Vi tudo, e mais alguma coisa,
tudo, imensa desgraça,
sendo certo de que, o nosso pais, a continuar assim, estará irremediavelmente perdida como Estado.
E, mas em tudo que vi,
constatei, que essas acções assassinas são caucionadas sob mandato e protecionismo dos barões narco-militares e seus comparsas golpistas da CEDEAO,
são eles os beneficiários directos das depravações das nossas riquezas nacionais,
são eles, os donos e senhores de Bissau
São eles, a Nigéria, o Senegal, a Costa do Marfim e o Burkina Faso.
Visão Té»