terça-feira, 5 de agosto de 2014
CRÓNICA: Passar pelos intervalos da chuva
Todos os dias, impreterivelmente, alguém atira-me com um sonoro "estás magro, pá!". Mas não estou. Quem me conhece desde sempre habituou-se a ver um gajo magrinho, um fio de azeite, um sujeito capaz até de passar pelos intervalos da chuva. Mas um gajo, digamos que... porreiro.
Agradeço a preocupação, mas não encaixo a coisa. A senhora minha Mãe viveu sempre obcecada com os meus parcos quilinhos; o senhor meu Pai (que o seu deus o tenha), gabava o meu caparro - também éramos panos da mesma banda...a Gabriela, pelo contrário, elogiava a minha ausência de barriga e os six pack e achava graça ser capaz de rodear o meu corpo apenas com um braço.
Habituei-me, portanto, a ser um gajo com aspecto de doente. Em vez de optar pelo suicídio (será a costela do Fogo?), fiz disso um estilo, ou melhor, uma personalidade - porreiro, pá! Aly Silva, um estiloso com 1 metro e 79, levitando em 60 quilos.
A vida que levo nunca ajudou: acordo e acendo logo o primeiro de 50 cigarros do dia que de certeza me vão destruir, saio de casa e avio 3 cafés de um total dos dez diários. Faço isto desde que saí da tropa, em 1989. E ainda não me cansei, e dá-me prazer. De qualquer maneira, vou passar mais tempo morto...
No que me diz respeito, fazer ginástica é uma canseira, incómodo a mais. Tomar comprimidos para o apetite pode ser perigoso (estou sozinho...), continuar a fumar 2/3 maços de cigarros por dia é, nota-se, suicídio à vista. Mas não quero ser gordo. Ao contrário dos vitoriosos sobre o estômago, admito a derrota. Mas não quero habituar-me a um novo Aly Silva. Quero continuar um tipo giro, porreiro, de olhos ora verdes ora azuis.
Quem sabe não arruíne a minha vida e os que me amam passem a detestar-me, pois não seria a mesma pessoa. É que, afinal, 60 quilos é uma...enormidade! Agora, o coração pede troco. Seja. AAS