quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Pois é!
"Bissau, 2 a 8 de julho de 1978
Na onda de escândalos e inquéritos a desvios de fundos que rebentou nos Armazéns do Povo, foi também apanhado o [Domingos] Fernandes (há anos residente em Portugal, comentador da RDP-África), mestiço simpático, director da SOCOTRAM (Sociedade de Comercialização e Transformação de Madeiras), serração e fábrica de móveis. Dados os brandos costumes dos guineenses, não o prenderam logo, continuou mesmo a ir todos os dias aos escritórios para passar o serviço ao sucessor. Um amigo meu, palestiniano, que o via passar pelas oficinas, ficava muito intrigado por o ver perguntar inquisitoriamente ao mestre: "Há madeira? Há óleo? As máquinas estão a funcionar?". Não resistiu o palestiniano a perguntar, por sua vez, ao mestre: "Mas então o Sr. [Eduardo] Fernandes não foi suspenso e substituído?". "Pois foi", respondeu o mestre. "Então porque faz ele estas perguntas?". E o mestre, muito natural: "É o hábito!" - Extraído do livro "Em Tempos de Inocência, Um diário da Guiné-Bissau" (Prefácio, 2006) de António P. da França, Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Portugal na Guiné-Bissau (1977 a 1980)