Há dois momentos de felicidade na Guiné-Bissau. Uma eleição (seja ela qual for), e a véspera - já agora o dia depois, se fizerem o favor - de qualquer feriado. Numa eleição, Legislativa ou Presidencial, a felicidade é total, contagiante até para aqueles que sabem de antemão que o seu candidato nem supõe uma segunda volta. Haverá t-shirt mal impressa e barata, terão bandeirinhas, e, com sorte, beberão água. Se lhes sair a sorte grande, então bebericarão um sumo duvidoso qualquer.
Claro que esta é uma eleição especial, talvez até transversal. Acabámos de enterrar o único Presidente da Repúbica eleito da nossa história - e que não foi deposto por um golpe de Estado; temos um pré-candidato a candidato a Presidente da República - que é o actual primeiro-ministro. Diz-se que a sua candidatura é inconstitucional. Não temos um tribunal Constitucional, mas o Supremo Tribunal de Justiça dirá alguma coisa sobre isso. Seguem-se na lista um antigo Presidente da República, eleito na urnas e deposto por balas, e outro Presidente, este de 'Transição' - um termo pomposo arranjado por uns 'intelectuais reaccionários de esquerda', que ainda por aqui se pavoneiam. Eu sei. E vocês sabem do que falo.
Está tudo a compor-se para termos tudo aquilo que desejamos. Reparem apenas nesta mistura explosiva e que não combina nem um pouco com umas eleições: vinho de cajú ampagai, campanha da castanha do cajú - e o 8 de março, o dia internacional da mulher! Eu nem sei no que isto vai dar. Para já a tropa abriu a contenda.. Mascarou-se e fez estragos. Deixou má imagem e deu cabo da imagem da polícia. Era desnecessária. Foi vergonhoso ver as imagens, a humilhaçao no seu melhor. Eu, tinha entregue a farda nesse mesmo dia! Mas era carnaval.
Depois da reunião, no Parlamento, o CEMGFA encarou a imprensa sorrindo. Começou com um audível "não vi nada", e daí seguiu para "não foi nada". Depois, chegou onde se esperava: "foi um incidente". Mais um. Mas não foi. Foi muito feio aquilo que aconteceu no exterior da CNE. E é sobretudo perigoso! Até para a segurança das populações. Estamos a falar de duas forças, armadas, ainda que a superioridade de uma seja por demais evidente. Uma bala é uma bala e, assim, pode muito bem ser uma morte em potência.
Bissau vegeta ainda, cansada do carnaval que arrancou na 5a feira passada. Muitas repartições do Estado trabalharam hoje a meio-gás, outras nem por isso. O tempo continua óptimo, o que é...bom. Contudo, cheira-me que, até o dia da ida às urnas, o País páre por completo. Está tudo 'empenhado' na preparação e na afinação da 'estratégia' da campanha do seu putativo candidato. Uns sonham com um vitória logo na primeira vota (mas isso só mesmo num sonho poderia acontecer); outros sonham com a mais que previsível segunda volta. E discutem se será este contra aquele, ou se aqueloutro contra o outro.
Quando finalmente o STJ se pronunciar, então aí, e só aí, arriscarei o meu prognóstico para esta eleição para Presidente da República da Guiné-Bissau. Com isenção, claro!, mas será aquilo que eu penso, enquanto cidadão deste País. O jornalista vem logo a seguir, ou seja, do primeiro ao último dia da campanha eleitoral. E na linha da frente. Boa Páscoa a todos. AAS