quinta-feira, 6 de novembro de 2014
ADEUS, CABO VERDE: Hora di bai
CABO VERDE, para mim, está a chegar ao fim. A gota de água? Não tanto o roubo em si, pois estamos sujeitos a ser roubados em qualquer lugar do mundo, mas, e é isso que ainda me dói e que não entendo e nem vou entender nunca, a completa indiferença, apatia, desleixo, omissão das autoridades (neste caso, da Polícia Judiciária).
A minha residência foi assaltada no dia 19 de agosto de 2014. Nesse mesmo dia, participei o roubo nas instalações da PJ, que enviou dois agentes para as diligências. Desloquei-me três vezes à PJ, deixei fotografias dos bens roubados. Consegui os dados de alguém que estava a usar o aparelho Nokia Lumia:
O nome (ADILSON PEREIRA NUNES)
A morada (CALHETA, SÃO MIGUEL)
O número de telefone (9262120)
Voltei à PJ, entreguei esses dados. Nada. Na PJ, foram ao computador e - eu vi - apareceu esse nome, com a morada e tudo. Só não tinha foto. E o agente até comentou "ou é comprador, ou trata-se de em ladrão novo, de quem não temos ficha.". Fiz lóbi, falei com pessoas que conheciam outras pessoas, deixa-te estar...falei com muita gente. "Aly, desiste, tu não és de cá, ninguém te ajudará." - Sabem que mais? Hoje acredito PIAMENTE que por não ser daqui nada farão para recuperar as minhas coisas. Que mal que vos fica!
Durante estes quase três meses, notei apenas uma coisa: indiferença total da parte de todos eles! Arrumaram comigo por Knock-Out. Muito bem.
Quando os dois polícias cabo-verdianos foram presos em Bissau, eu pus o meu pescoço na corda pela sua libertação - e foram libertados. A pressão que exerci sobre aquele governo de ladrões da transição deixou-os assustados. Hoje, aliás desde 19 de agosto, sou eu que preciso da polícia de Cabo Verde e viram-me as costas. Vivendo e aprendendo, como diz o outro.
Agora, cansei. E decidi partir. Não sei para onde vou, aliás, isso nem interessa aqui para nada. Desde que fui obrigado a fugir do meu País já vivi em Dakar, em Lisboa e estou há 14 meses am Cabo Verde. Passei um ano na Cidade da Praia a escrever o meu livro durante oito/nove horas por dia. Escrevi, escrevi, escrevi. Quando acabei, justamente quando acabei, a minha casa foi assaltada em plena luz do dia e ninguém viu nada. A câmara de vigilância que serve a entrada do prédio e que já contribuiu para apanhar dois assaltantes...de repente já não gravava nada!
Colegas jornalistas cabo-verdianos alertaram-me "cuidado que pode ser roubo encomendado, acontece muito por cá." Um advogado cabo-verdiano disse-me mesmo "tinham que te roubar, pois não és de cá...".
Custava muito à PJ ir ter com o ADILSON PEREIRA NUNES e perguntar educadamente: "Este telemóvel tem dono, temos o IMEI para o provar, queremos apenas saber porque é que está a usá-lo, como o conseguiu?". Nada, se o fizeram eu não fui informado. Se calhar a PJ quer que seja eu a ir falar com ele. NÃO VOU, e muito bom dia. Estou sem:
- Computador portátil ACER preto
- 4 telemóveis (2 BlackBerry, dois Nokia)
- Máquina de filmar JVC ULTRA HD
- Gravador de voz SAMSUNG
- 2 relógios (marcas Police e Tommy Hilfigger)
- Mochila-trolley 'Berg'
Até hoje. E é isso que me dói, e é por isso mesmo que decidi ir embora. Tenho problemas cardíacos e, para ser franco, não quero morrer aqui. Numa palavra: estou proibido, não posso cair em depressão.
Agradeço às pessoas que conheci e com quem que valeu a pena manter um diálogo.
António Aly Silva