terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ÚLTIMA HORA: PM com agenda carregada em Dakar

O Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Jr, está neste momento reunido com alguns embaixadores de países da União Europeia. A reunião tem lugar no hotel Fleur de Liz, nas Almadies. Portugal fez o lobby junto dos seus parceiros, mas nem todos compareceram à chamada.

Depois, Cadogo Jr terá um encontro com a comunidade guineense radicada em Dakar. AAS

Em Dakar, com eles no pensamento

O general António Indjai, CEMGFA, o Contra-Almirante Bubo Na Tchuto, CEMA e o general Papa Camará, CEMFA, são três nomes que constam da agenda do Primeiro-Ministro na sua deslocação a Dakar, no Senegal.

Segundo uma fonte da comitiva guineense, em Dakar, estes três oficiais das forças armadas, acossados tanto pelos EUA como pela UE de envolvimento no narcotráfico internacional, podem vir a ser presos no Senegal caso pisem o seu território.

Aliás, Bubo Na Tchuto tem confidenciado a pessoas próximas sobre o receio que tem em ir ao Senegal. A Europa e a América, de resto, nunca se conformaram com as nomeações destes três oficiais, nomeadamente, para as chefias do Estado-Maior General das forças armadas, da Marinha de Guerra e da Força Aérea. E querem-nos fora dos poleiros.

O pedido foi feito às autoridades senegaleses, e, como contrapartida, o Executivo guineense compromete-se a ter mão mais dura sobre a guerrilha independentista e separatista de Casamance que impõe a Dakar uma desgastante guerra de guerrilha.

Neste momento, a estrada que liga Pirada a Tambacounda (via Velingara) encontra-se fortemente patrulhada por militares senegaleses.

Mas há o reverso da moeda. O Senegal quer, por exemplo, saber o porquê de haver ainda dezenas de cidadãos guineenses refugiados no seu País, e o motivo porque lhes é tolhido o regresso a casa. E pedem ainda uma maior aceleração nas investigações que levem à barra da Justiça todos os implicados nos crimes de sangue ocorridos em 2009 (general João Bernardo 'Nino' Vieira, Presidente da República eleito e em funções, o Helder Proença, Deputado da Nação, e o Baciro Dabó, candidato presidencial).

Manifestações mil

Está a chegar o mês de Março, e cidadãos anónimos, outros nem tanto, preparam uma vaga de manifestações para pedir a aceleração dos processos de investigação aos assassinatos de 2009.

Ditadura do Consenso apurou junto da organização de uma das manifestações, que será igualmente pedida a demissão do Procurador-Geral da República, Amine Saad, por este não "ter condições para trabalhar", apesar do esforço em "provar o contrário".

Pelo menos, quatro manifestações estão a ser programadas. Uma para o dia do assassinato do ex-CEMGFA Tagme Na Waié, e três para o dia a seguir - assassinato de 'Nino' Vieira. É caso para dizer que, em Bissau, a temperatura baterá todos os recordes... AAS

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Desculpem lá...

"Open your eyes and look within, are you satisfied with life you're living?" - Bob Marley, "Exodus"

"Freedom Road - The Tracks of the Journey, foi um dos discos que comprámos no Mali - o outro é um DVD que documenta o percurso, e a morte, de Bob Marley.

Nesse documentário, há uma cena onde Marley é entrevistado por uma jornalista norte-americana que parecia assustada. Ele, todo pedrado, respondia às perguntas estúpidas com uma ironia tirada dos intestinos. "O que os outros fazem da sua vida (referindo-se às drogas) é com elas. Eu, ocupo-me da minha vida".

Também trouxemos o "Nouvelles Cordes", de Toumane Diabaté & Ballake Sissoko, assim como "Kaira", igualmente de Toumane Diabaté - um álbum quase só de korá e cordas, que nos deixou satisfeitos. Bem conseguido, de resto.

Da 'colecção' fazem igualmente parte Sarah Vaughan com "A Miracle Happened", "The Essential" de George Benson, e dois franceses: Francis Cabrel, com "Des Roses & Des Ortis" e ainda um pack com 3 cd's do volume II de "Chansons Françaises", com artistas como Lara Fabian, Françoise Hardy, Georges Brassens, Adamo entre outros.

Completam o cardápio os cd's "The Best of Soul" (vários artistas), e ainda Vieux Farka Touré. A cereja em cima do bolo, porém, responde pelo nome "The Very Best Of" - Sting and The Police. Temas como "Roxane" entre outros êxitos do inglês, deixaram-nos por um momento nostálgicos. AAS

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ÚLTIMA HORA: Polícia dispersa jovens com tiros para o ar

Hoje, por volta das 20 horas, vários tiros deixaram a população de Bissau em alerta máximo.

Ao que DC apurou, tudo começou com uma manifestação de protesto de jovens do bairro de Chão de Papel Varela. Os jovens acusam um homem de ser "um feiticeiro", e de ter "morto" um amigo seu.

A Polícia de Intervenção foi chamada ao local, tendo disparado vários tiros de pistola e AK-47. Depois dos tiros, DC testemunhou a correria da população, preocupados com os seus familiares. Os jovens bateram em retirada e o bairro de Chão de Papel Varela voltou à pacatez de sempre. AAS

Arezki 'oferece' 40 metros de alcatrão para tapar pouca-vergonha na avenida principal

A empresa Arezki, que ganhou o concurso para a construção da estrada que liga a cidade de Bissau ao aeroporto Osvaldo Vieira, 'ofereceu' cerca de 40 metros de estrada - a que corta o Ministério dos Negócios Estrangeiros esquisitos, para cobrir a vergonha e a anarquia que reinam na construção da estrada principal (avenida dos Combatentes da Liberdade da Pátria).

Não há nenhum tipo de coordenação com a polícia, nem sinalização, muito menos regam a estrada por causa do pó. Os acidentes subiram em flecha e os atropelamentos de peões também.

Ontem, à entrada da chapa de Bissau...havia cinco faixas de um dos lados da estrada! Cinco! Uma autêntica escravatura, aquela que os trabalhadores (sobretudo guineenses) passam, cavando à mão as valas laterais, amassando cimento com pás em vez de máquinas... E ganhando 1.500 fcfa por dia!?

Aposto aqui que assim que começarem as primeiras chuvas, em vez de alcatrão...teremos um rio de pedras; e nas valas, pessoas a gritar por socorro. Não é a primeira vez que a Arezki faz e desfaz na Guiné-Bissau. Mas como pagam tudo e todos... AAS

Comité Central do PAIGC obriga e obtém minuto de silêncio

A Resolução Final da 1ª Sessão Ordinária do Comité Central do PAIGC (6 a 8 fevereiro), decorreu num clima de alta-tensão. Quase se chegou a vias de facto, em que Botché Candé foi o protagonista, ameaçando Roberto Cacheu por este ter criticado o presidente do partido, Carlos Gomes Jr.

Também Daniel Gomes, ex-ministro da Defesa travou-se de razões com o porta-voz do PAIGC, Cancan, tendo-o apelidado de ser um PIDE e locutor do PFA na Guiné Portuguesa. Quente, como se pode ver...

Martinho Dafa Kabi, foi outro dos protagonistas. Propôs e obteve um minuto de silêncio a favor das vítimas dos assassinatos políticos de 2009. Mais: o Comité Central do PAIGC, na sua resolução final, "Repudia os actos que originaram os assassinatos perpetrados no decurso do ano 2009 dos camaradas Tagme Na Waie, João Bernardo Vieira 'Nino', Hélder Proença, e Baciro Dabó, que constituiram acontecimentos funestos na vida da Nação Guineense". O CC solicita ainda o Governo que crie "as condições necessárias e indispensáveis para a conclusão do processo de investigação dos assassinatos das eminentes personalidades citadas no ponto 19" (vide o parágrafo anterior).

O Comité Central decidiu ainda "reiterar e subscrever a posição já assumida pelo Governo e o Bureau Político do Partido a relativamente aos assassinatos" dos mesmos. AAS

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Viajar no pensamento

"Adorei os relatos da viagem... Acho que de certo modo, também viajei pelo Mali!
Beijinho,
LG
(Lili)
"

M/N. ... E viajar é olhar. Bjs, AAS

Guineense é bom

"Caro irmão, Aly Silva

O Senhor é um verdadeiro GUINEENSE! Amo, por vezes, ultrapassando os meus limites, a GUINE-BISSAU! O seu gesto, a simplicidade e a humildade, denotam a nobreza de um GRANDE GUINEENSE! Esta atitude, é uma Andragogia/Pedagogia, que caracteriza a nossa forma de ser/estar GUINEENSE. Os meus parabéns! Continue a trabalhar como até aqui, porque é muito importante para todos nós, no País e na diáspora! Estou muito emocionado e orgulhoso de si, acredite! Todos, queremos o melhor, mas mesmo o melhor para a nossa PÁTRIA!
Um grande abraço irmão.
Filipe Sanha
"

M/N: Obrigado, amigo. Um abraço. AAS

O caminho para a perdição

Saímos de Bamako no dia 8, com destino a Kayes - 680 km de estrada alcatroada (os últimos cem um pouco maus). A andar 130/140 km hora, e a 65 km do nosso destino, calhou-nos um buraco mais largo do que o nosso carro. Um baque forte e seco deixou-me em alerta e com os sentidos apurados. Uns kms mais adiante, decidi, por instinto, parar para atestar o depósito de combustível, e...tinha o pneu esquerdo da frente furado. Mas, felizmente, ainda estavámos no Mali!

Colado à estação da estação de serviço, onde abastecemos (eram umas 20:30h), vimos fogareiros a crepitar e alguma agitação) "Colam pneus aqui ao lado", disse-nos o afável empregado da 'bomba'. Deixei o carro descair uns trinta metros e já está. Parecia magia. Fermé! Mas havia um número de telemóvel escrito a tinta de óleo, no muro. Liguei e passei ao Mussá. Tínhamos acabado de travar amizade com o Mussá, e o nosso socorro vinha a caminho.

Pusemo-nos então a conversar com o Mussá. Um jovem na casa dos 20 anos, alto e fino como um ponto de exclamação, mas bastante inteligente. Via-se que estudou. E que sabe do que fala. Gabou o trabalho feito pelo Presidente Amadou Toumane Touré (ATT, como o tratam por todo o Mali), mas também reconheceu que faltava fazer alguma coisa (Roma e Pavia não se fizeram num dia, e o Mali agora completou 50 anos de independência. Dou um exemplo: se a Guiné-Bissau completar 50 anos de independência, e estiver desenvolvido como o Mali que eu vi, então podemos estar descansados. Mas a Guiné-Bissau, coitada, não tem, ainda, os seus filhos mais capazes a governar. Só vemos analfabetos, analfabrutos e um mar de incompetentes funcionais!

Chegou o nosso salvador. Vinha com um sorriso estampado no rosto, e trazia a farda de trabalho vestida. Olhou para o pneu que eu já tinha começado a desmontar (o tempo era essencial), e pediu-me que me afastasse, coisa que fiz. Tirou o pneu, colou-o e voltou a montá-lo em menos de meia hora. Pagámos e selamos aquele momento com um aperto de mão e a felicidade em todos os rostos.

Chegámos a Kayes e fomos directos ao hotel. Havia quarto, e, imaginem, água quente na casa de banho! Foi uma benção!!! De manhã, ao pequeno almoço, telefonei a agradecer ao mecânico salvador. Infelizmente o meu bambaram não tinha progredido desde a noite anterior e peço ao recepcionista para fazer de intermediário. Este também muito simpático, traz um folheto consigo. Era do turismo da cidade de Kayes. Ficámos a saber que decorria o Festival International Kayes Medine Tamba. Por falta de tempo e, no fundo, já saciados de festivais de música, decidimos ir visitar o forte, ainda que não estivesse nos nossos planos. A estrada para o Forte de Medina - perguntei ao funcionário do hotel - é boa? Dá para ir, respondeu. E lá nos metemos ao caminho. Assim que atravessámos a linha férrea que liga Mali ao Senegal, quase que perdi a esperança na humanidade. A estrada – se é que a posso chamar assim – mais não era que um amontoado de pedras que pareciam brotar do chão como cogumelos (a sua pavimentação, entretanto, está para breve, como mais adiante se verá).

Nem percorremos dois quilómetros, quando precisei de fazer uma travagem... carrego no pedal do travão, e senti-o fugir até fazer contacto com o chão do carro. Estava sem travões. “Pas de freins!” – disse para o nosso ‘guia’. Descontraído, apenas respondeu «ah, ok! Mais c’es déja lá le fort». E lá continuei a guiar por uns bons 10 kms, sem travões e num carro de caixa automática! Até que vislumbrámos, ao longe, os traços do Forte. Uma dezena de camiões circulavam pela ‘estrada’ (há uma mina de brita na estrada que leva ao forte), levantando uma enorme nuvem de pó branco.

Chegámos. O Forte de Medina, situa-se a 12 kms de Kayes e data do século XVIII. Foi erigido em 1885 pelo general francês Faidherbe para proteger a cidade de Medina contra os ataques das tropas toucouleurs d’El Hadj Oumar Tall, que ameaçavam os interesses comerciais franceses. Visitámos a messe dos oficiais, a residência do comandante, a campa de Marie Duranthon (filha de um explorador francês da época), a prisão, o monumento aos mortos. No exterior do Forte, visitámos o mercado dos escravos, a gare ferroviária, o cemitério Real (onde repousam Hawa Demba Diallo - que cedeu a Faidherbe o terreno para a construção do Forte), e a torre onde era guardada a reserva de ouro da França durante a II Grande Guerra. Repousam, assim, no impotente Forte, mais de dois séculos de história.

O Forte está em reconstrução, e os trabalhos avançam a bom ritmo. O Presidente do Mali, ATT, foi quem colocou a 1ª pedra, o que mostra a vontade que o País tem na recuperação e na preservação do seu passado histórico, que é isso mesmo – História. E a nossa ‘estrada para a perdição’, a que leva ao Forte e nos custou os travões, será finalmente alcatroada. Uff!!!

De regresso, fomos a uma oficina e resolveu-se o problema. Um pedregulho partira um dos cabos e um líquido escuro pastoso colou-se à jante. Seguimos depois para o hotel Maida, para agradecer ao Mussa, o nosso ‘guia’, o facto de nos ter sugerido essa visita ao Forte de Medina, na cidade de Kayes, de onde é natural.

A nossa ideia era dormir em Bissau no dia 9, mas já não fomos a tempo e ficámos a dormir num hotel muito simpático em Koukandé, com um grande jardim.

Voltamos a fazer-nos à estrada pela manhã, depois de um pequeno almoço com pão, mel, café e leite. Mais oitenta e tal quilómetros até Diboli. A viagem fez-se de um só fólego. Depois, tínhamos muita estrada (má) até Tambacounda e ainda havia que chegar a Velingara. E é no Senegal onde tudo quase cai por terra. Como não havia nenhuma placa de sinalzação a indicar Guiné-Bissau (o que mostra o grande respeito que o Senegal tem por nós), só havia uma coisa a fazer: perguntar. Acontece no entanto que pusemos mal a pergunta. E fomos induzidos em erro. Em vez de entrarmos em Ouassadou, seguimos a estrada e fomos dar a Diaoubé. A Gendarmerie mandou-nos parar, e, meio educadamente meio a gozar na nossa cara, mandou-nos dar meia volta e seguir para Ouassadou. «Têm que sair pela fronteira onde entraram», disse-nos o gendarme. Mas estava enganado. Podíamos entrar, garantiu-nos um polícia senegalês, na fronteira de Pirada, em qualquer uma. Estávamos a sair do território do Senegal.

Mal atravessámos a fronteira, voltámos a ficar sem travões. Porém, desta vez, não havia mecânico, a não ser 53 kms mais à frente – ou seja, em Gabú. Lá conseguimos chegar, sem precalços de maior. O único senão foram as lombas (ou melhor, muros) que a população ergue nas estradas, junto às povoações. Cada uma mais alta do que a outra. Em Gabú, parei num mecânico para me certificar do problema. Era um cabo partido, mas agora do lado direito. Decidi não ‘perder tempo’ e arranquei rumo a Bafatá – uma estupidez. Felizmente tudo correu bem. Bafatá/Mansoa, também. E assim continuou até Bissau.

Quando cheguei à Chapa de Bissau, por volta das 15:30, era o caos: de um lado da estrada, de repente havia cinco faixas de carros. Camiões da Arezki numa grande azáfama, ninguém controlava o tráfego, não havia um polícia. Era a Bissau que deixarámos havia uma semana. E de que dá pena falar... AAS

3.265 quilómetros depois: Bissau, e o caos da empresa Arezki... AAS

Aly & Cia, no território da Guiné-Bissau. AAS

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Uma história histórica

"Durante o período de partido único, concretamente após 1980, sendo João Bernardo Vieira, vulgo NINO, Presidente da República, conspirava-se nos bastidores do poder de forma activa e zelosa, a possibilidade de nomear um determinado fulano, para cargo de chefia, pela sua servilidade para com o poder instalado. Na decada de 90, o fulano em questão, passa de simples servidor, para lugar de confiança do Presidente NINO, chegando a existir actos de ciúmes entre os companheiros de armas e o dito fulano, por ser a partir de um determinado momento o HOMEM DE CONFIANÇA.

Dá-se a guerra de 7 de junho em 1998, NINO parte para o exílio, o fulano em questão permanece na Guiné. Concorre ao cargo de Presidente do partido de NINO, ganha e por sequência, concorre as eleições onde consegue uma vitória sem precedentes na nossa história democratica. Nino regressa em 2004 como candidato as presidênciais. É eleito. Começa um novo período da nossa história, que culmina com o discurso do dito fulano em Cabo-Verde, onde afirma que nunca irá coabitar com um General Bandido. Tinha acabado de fazer história por ter advinhado o futuro.

O fulano que foi servil e obediente a NINO, dá-se pelo nome de Carlos Gomes Júnior. Não posso deixar de pensar como tudo seria diferente se a história tivesse conhecido outro rumo: se NINO nunca tivesse conhecido Carlos Gomes Júnior, se Carlos Gomes Júnior nunca fosse presidente do PAIGC e por fim se não tivesse ganho as eleições.
As acções de um indivíduo, por mais ambicioso e versátil que seja, dá-se no entanto, em circunstância histórica precisa. Sem a guerra de 7 de Junho, Carlos Gomes Júnior, não teria ido longe e provavelmente NINO ainda estaria vivo.

Quem lê com cuidado os livros de história sobre as coisas que se passam, descobre sempre que eles podiam não se ter passado assim – o que se torna numa ideia alucinante porque mostra a fragilidade com que se provocam, se decidem os grandes acontecimentos humanos, a facilidade com que ocorrem desastres, a facilidade com que o amigo se transforma em inimigo, a facilidade com que a tolerância se sobrepõem a violência, a estupidez à inteligência.

A história não é um resultado de leis objectivas ou de forças ocultas, mas de actos de pessoas com nome, com rosto que, no meio de cruzamentos de azares e sortes, podem optar entre o mal e o bem, entre o delírio e a sensatez. Se olharmos para África, numa perspectiva de destuição verificadas nas últimas decadas, assistimos por exemplo, o infortúnio do Congo, que depois de sofrer um colonialismo sangrento teve ainda que suportar Mobutu e a boa sorte da África do Sul com Mandela.

Fecho este ensaio, perguntando a mim próprio, que mentalidade se forma para que o crime continue na nossa vida quotidiana, apesar dos avanços democráticos conseguidos, das medidas de solidariedade instituídas, das esperanças entre nós?
Resta risignar-me à minha própria impotência, e reconhecer que a história repete-se.

H. F. P
"

Guiné-Bissau: o falso dilema europeu

Por Paulo Gorjão*


A União Europeia abandonou a táctica do pau e da cenoura em relação à Guiné-Bissau e quer usar apenas o pau. Será o mais conveniente? Na semana passada, a União Europeia (UE) decidiu suspender a ajuda financeira que tem vindo a dar à Guiné-Bissau. Não fosse a intervenção de Portugal e a UE teria igualmente congelado os bens e proibido a deslocação à Europa de diversos altos responsáveis do país.

Este endurecimento da posição da UE em relação à Guiné-Bissau não é propriamente uma surpresa. No ano passado a UE já tinha optado por não renovar a missão para a reforma do sector da segurança na Guiné-Bissau. No seu conjunto, estas decisões revelam que, nas actuais circunstâncias, aparentemente a UE não pretende continuar com a sua estratégia de engajamento em relação à Guiné-Bissau. Será a decisão mais acertada?

Mesmo que concordasse com a posição da UE, Luís Amado teria sempre de tentar defender os interesses da Guiné-Bissau em Bruxelas. Afinal, na sua relação diplomática com os países de língua portuguesa, Portugal reivindica para si o estatuto de principal defensor dos seus interesses em Bruxelas. De qualquer modo, tendo conta a posição que assumiu na semana passada, Luís Amado parece ter uma noção muito clara do que está em jogo.

Nesta altura a UE parece inclinar- -se para a adopção de uma estratégia de contenção, que privilegie instrumentos de natureza repressiva e que favoreça o confronto político. Mais do que com a cenoura, nesta fase a UE quer acenar com o bastão à Guiné-Bissau. Todavia, esta estratégia, se vier a ser adoptada, muito provavelmente estará condenada ao fracasso, uma vez que a UE não tem a influência e os recursos de poder necessários para impor a sua vontade aos actores políticos e sobretudo às chefias militares da Guiné-Bissau. Dito de outro modo, a UE tem capacidade para causar danos, mas não tem poder para alterar o curso dos acontecimentos. Logo, tanto quanto é possível prever, a implementação de uma estratégia de contenção não parece ser uma abordagem vencedora.

Acresce que, sem a ajuda financeira da UE, a Guiné-Bissau procurará reforçar outras alianças. As visitas nos últimos nove meses de diversas figuras políticas e militares da Guiné-Bissau a Angola, ao Irão ou à Líbia ilustram bem algumas das opções disponíveis. Inevitavelmente, sobre isso não haja ilusões, o espaço vazio deixado pela UE será ocupado por outros actores. Na sequência da decisão tomada pela UE na semana passada, a promessa imediata da África do Sul e do Brasil de apoio à Guiné-Bissau é um sinal claro disso mesmo.

Na prática, se adoptar uma estratégia de contenção, a UE abdica, sem qualquer contrapartida, da pretensão de exercer alguma influência positiva na Guiné-Bissau. No pior dos cenários, uma estratégia de contenção poderá mesmo contribuir, de forma passiva e activa, para reforçar a espiral rumo ao estatuto de estado falhado, ou a consolidação da Guiné-Bissau enquanto narcoestado na África ocidental.

Em suma, a UE tem à sua frente um falso dilema. Na verdade, Bruxelas não tem uma alternativa credível e eficaz, pelo que a manutenção da estratégia de engajamento, seguida nos últimos anos, é uma inevitabilidade. Na melhor das hipóteses, a UE pode reformular a estratégia de engajamento de modo a assumir uma natureza mais mitigada, num processo a que Portugal prestará seguramente especial atenção.


*Paulo Gorjão, é director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)

Bamako by night

Acordamos, depois de uma excelente noite. Jantámos 'à Mali' numa rotisserie - carne de carneiro assada num forno a lenha. Muito bom. Depois, fomos ao' Le Terrasse', um bar giro, que fica num primeiro andar pendurado sobre uma rua (toda ela cheia de bares e restaurantes).

Depois, fomos ao 'Bla Bla Bla'. Conversa vai conversa vem, bebemos uma garrafa de bom vinho francês. O espaço é lindo, com duas salas sendo que uma delas fica a céu aberto.

No meio dos dois bares, havia uma cave com vinhos e champanhe francês - fechada a essa hora. Com muita pena nossa...

Havia música ao vivo tocada por tuaregues que envergavam trajes de um azul fantástico. Nas paredes, havia pinturas apenas de mulheres - cada uma mais bonita que a outra.

Hoje, tomámos café de cápsula no 'Relax'. Estamos a preparar-nos para os 680 quilómetros que nos separam de Kayes, onde dormiremos. Esperam-nos depois mais 83 km até à fronteira com o Senegal.

Numa palavra: estamos a adorar cada dia que passamos no vasto Mali. Um país com um povo adorável e simpático. Havemos de voltar. AAS

Paún...quê?!

"Aly,

Estou a adorar as crónicas da tua viagem ao Mali. Como sinto saudades das incursões que fiz ao longo desse fabuloso rio de que falas nos teus roteiros, pela Guiné Conacky até às zonas fronteiriças do Mali. Nunca estive em Bamako, talvez um dia possa realizar esse meu sonho.

Adorei essa do carro do corpo diplomático. No meu tempo, usava a artimanha de sempre quando me eram pedidos os documentos: punha dentro do passaporte uma nota de um dólar (USD). Funcionava. O problema era a quantidade de vezes que tinha de o fazer...

Um bom regresso a casa. Sei que vais passar muito perto de Paúnca - como estará?

Um Grande abraço,
A.B.
"

M/N: Grande Avelino. Obrigado pelo e-mail. O Mali é extraordinário. E Paúnca, lá pelos lados de Gabú...está à imagem da Guiné-Bissau: una mierda! Abraços, Aly

Há, mas são poucos

"Olá amigo Aly

O teu 'Repórter Notebook' ou seja os teus diários a partir do Mali têm sido excelentes. Leio-os logo de manhã e antes de ir para a cama.

Os teus contos, o ambiente, as cores, a vida, e tudo o que tens observado fazem-nos sentir como se estivéssemos lá contigo em Ségou. Mas também vamos aprendendo com o civismo da vida política e social dos malianos. Isto que é ser-se Jornalista! Aliás, há poucos jornalistas lusófonos com uma tal habilidade.

Portanto, amigo, obrigado mais uma vez pela boa fé e pela grande vontade em compartilhar esta grande aventura com os teus leitores. Um grande abraço!

U.D.
"

M/R: Meu caro, sempre atento. Outro abraço, Aly

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Bamako

Chegámos a Bamako. 240 quilómetros em menos de 2 horas! Prego a fundo, 120/140 km/hora e cá estamos de novo nesta metrópole africana. Bamako respira vida em cada esquina, em cada avenida, em cada rosto.

Quando estavámos quase a chegar, um polícia quis 'testar-me'. Encosto o carro e ele diz "bonjour, ça va?". - Oui, ça va três bien monsieur, atiro. Depois, o caldo entorna-se: há uma infracção, diz-me todo sério, e explicou. No Mali é proibido circular de vidros fumados. Ora essa! Saí do carro disparado e disse-lhe que havia entrado na fronteira mas ninguém me avisara desse pormenor durante os quase três mil quilómetros. Insistiu. E eu também. A multa, disse-me, são 15.000 fcfa. Respondi à minha maneira: não pago nada! Começou a mudar de cor. Primeiro ficou azulado, depois púrpura.

Olhou-me como se lhe tivesse dito que a lua é em forma de losango. Vous ne paye pas? - perguntou. E confirmei oui, je ne paye rien! E depois lembrei-me de uma conversa no dia em que chegámos a Bamako: "Já reparaste que a tua matrícula é CD? Passa muito bem aqui por corpo diplomático". Olhei para o polícia e sorri: "Mon ami, ma voiture est corps diplomatique". E ele foi à parte da frente, inclinou-se e leu 33-50 CD. Voltou-se para mim e, derrotado, sorriu e só lhe ouvi: "Monsieur, on tolére ça. Je vous souhaite bonne route". E lá fomos à nossa vida, ou melhor, à estrada.

Fomos recebidos em Bamako pela D. Glória e pelo seu marido, o Soumarré (durante a primeira estada, só estava o Soumarré). Casal simpático, ela portuguesa e ele um economista maliano. Mandei o carro para mudar o cinebloco da frente e um amortecedor (vinham a pedir mudanças desde Bissau). E depois fomos almoçar a um dos muitos restaurantes libaneses de Bamako.

Ouvimos dizer que há uma professora portuguesa a leccionar na universidade católica de Bamako, e que se sentia muito só. A minha companheira de viagem, mais a D. Glória, vão visitá-la hoje. Mas primeiro terão que a encontrar.

Amanhã saímos de Bamako e dormiremos, creio, em Kayes, que fica a 83 quilómetros da fronteira com o Senegal (dormiramos lá no dia em que entrámos no Mali. Um hotel de merda, com electricidade, mas com a luz tão fraca, tão fraca que a luz da vela fica a rir. Hoje, disseram-nos que havia para lá mais hotéis, mas não sei se vamos procurar outro hotel. Tudo aqui é vasto, enorme, hiper! Mas tudo funciona às mil maravilhas.

Bamako, Bamako. AAS

Le dimanche a Bamako, c'est le jour de marriage

É o fim de festa. O Festival Sur Le Niger encerrou ontem. O duo Amadou et Mariam fechou com chave de ouro esta 7ª edição do FSLN, em Ségou.

Aliás, foi a noite mais quentinha das três que cá passamos, e, para mim, a mais dançada deste festival. Arrastamo-nos penosamente para o carro e depois guiamos em direcção ao hotel.

Hoje, há pouco, vinha a guiar distraído a ouvir Vieux Farka Touré...e priiiiiiiiiiiiii! Polícia. Não Parei para dar passagem a outro veículo. O polícia: o sr passou sem ter prioridade. Sim, sr guarda. Tem toda a razão. Ele: ou passo-lhe uma multa para pagar no comissariado ou, agora pasmem-se, "resolvemos isto entre nós". Quanto é a multa? - perguntei. Ele respondeu: 3.000 fcfa. Como ainda tinha que ir à Western Union, e estava um pouco cansado para dar voltas numa cidade que mal conheço (as ruas pareceram-me todas iguais), lá resolvemos a coisa entre nós. Duas notas de mil passaram da minha mão para as do polícia e lá fomos à procura de uma agência.

Hoje, regressamos a Bamako. A viagem para Djenné fica adiada. Seriam mais 700 quilómetros a juntar aos mais de 1.400 já feitos. Para mais, já fiquei sem um pneu (tinha 3 pregos) e tive que comprar mais dois.

Saímos de Ségou dentro de momentos, para mais 240 km de boa estrada. Amanhã, contamos atravessar a fronteira e entrar triunfantes na Guiné-Bissau. AAS

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dance, dance, dance

O Mali tem-nos surpreendido pela positiva. O hotel onde estamos instalados é simpático, fica na margem do rio Niger e chama-se (apena por coincidência) Faro. Tem wi-fi, mas não tem água quente, um bem necessário por cá. À noite, faz um frio de rachar!

Reparei na organização das cidades. Por exemplo, em Kayes, uma cidadezinha, está tudo sinalizado. Até para os deficientes motores! E em Bamako, nas grandes avenidas com quilómetros de extensão, há corredor próprio para as milhares de motas. Nas três pontes três que atravessam a cidade, também.

Ontem, assim que nos instalamos no hotel, fomos dar uma volta pelo centro de Ségou. Quando fiz a curva para ir comprar os passes para o festival, ouvimos uma sirene e vimos as luzes. Encostei o carro e vimos passar um jeep, mais outro e depois um Peugeot 605, com a chaparia bastante amolgada. Uma coisa chamou-me a atenção: a placa de matrícula do jeep que trazia a sirene e as luzes. Dizia PRM - ou seja, cruzamo-nos com o Presidente da República do Mali - Amadou Toumane Touré, carinhosamente tratado por ATT. Da sua residência, no alto de uma das colinas que cercam a capital, dizem os malianos "il regarde tout Bamako".

Não vimos militares na escolta, nem toda a parafernália a que estamos habituados a ver na Guiné-Bissau, ou, por exemplo no Senegal ou noutros países africanos. O Presidente do Mali, viaja num velho Peugeot 605, todo amolgado...

"No Mali, quem tentar um golpe de Estado terá todo o povo (cerca de 13 milhões de pessoas) atrás de si", disse-nos um maliano que também conhece a Guiné-Bissau. Há uns anos atrás, um ministro, o mais amável que o Mali conhecerá, foi à Universidade para tentar acalmar os ânimos dos estudantes em fúria, mas... Foi assassinado! Assim que saiu da viatura oficial, enfiaram-no um pneu e atearam fogo. Outro exemplo: o Governo decretou o uso do capacete - no Mali, sobretudo em Bamako e em Ségou...as motorizadas são aos milhares! - mas as mulheres protestaram: quem iria pagar-lhes as contas do cabeleireiro? A lei ficou na gaveta até hoje. E elas parecem felizes nas suas motas chinesas. E estão por todo o lado. Partout!

Ontem, fomos finalmente ao palco central do Festival sur le Niger. O palco está montado numa das margens do rio Niger. O problema são os espectadores... Sentamos todos perigosamente inclinados na direcção do rio. Explico: a plateia é bastante inclinada. Simplesmente, é o local onde os barcos, depois de reparados, se fazem à água, escorregando que nem patinhos feios.

Vimos muitas quedas, umas mais aparatosas que outras, mas todas com a sua piada. Gente houve que após estar sentada, foi escorregando até dar conta de que estava em cima de outro alguém. Vimos os concertos do Ismael Lo e do Toumane Diabaté, os dois fantásticos. O senegalês cantou grandes êxitos, e o velho não perdeu a genica. Saímos por volta da uma da manhã. Cansados, mas satisfeitos. AAS

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Hoje, Ségou. Festival sur le Niger

Saímos de Bamako, rumo a Ségou para o Festval sur le Niger, percorrendo os 280 quilómetros de bom alcatrão.

Hotel, arrastar a bagagem. Instalarmo-nos. Estamos exaustos mas confiantes. De seguida, uma viagem ao centro da cidade e umas compras: dois turbantes (em Roma, sê romano) e dois panos lindos.

Comprámos os bilhetes para os três últimos dias do festival (4, 5 e 6 fevereiro) e depois fomos 'almoçar' - coisa que estamos a fazer enquanto escrevo este post.

Lemos e-mail's de amigos. Respondemos a uns. Responderemos a outros mais tarde. Ou talvez amanhã. Ségou está cheio de gente (turistas europeus) e de vida.

Para já, tudo corre bem. A única coisa que me cansa é a barulheira. Mas tenho de aguentar isto. Depois de Ségou, ainda vamos a Djene visitar a senhora Mesquita que é Património Mundial da Humanidade. AAS

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Aly no Mali

Alin li. No Mali, um País que é um quase-continente, depois de mais de 1000 quilómetros de estrada. Saímos de Bissau, fomos até Gabú. Dali, seguimos para Pirada. Depois, Tambacounda e Kayes. O Toyota portou-se uma vez mais à altura - I Love cars from the USA. Period!

Algumas considerações sobre o Mali, nomeadamente e por enquanto, Bamako - a grande urbe. Dormimos ontem em Kayes, uma cidade com alguma coisa para ver mas que ficará para uma próxima viagem. Hoje fizémos os 680 km que separa Kayes da capital, Bamako. A estrada, um mimo. Os agentes de fronteira e da alfândega foram extremamente simpáticos - Gâmbia, rói-te de inveja. O povo, trabalhador e até certo ponto disciplinado. Entretanto, fomos 'aliviados' em 20.000 fcfa por um polícia. Foi um roubo. Coisa curiosa: vimos mais de 5 vacas mortas, todas à beira da estrada. Curioso, e de certa maneira irónico, foi ver como um outrora majestoso cavalo castanho, perdeu a vida...à beira de um rio. De sede não foi, com toda a certeza...

Bamako tem três senhoras pontes suspensas sobre o Rio Niger (uma por inaugurar, contudo já concluída). Aqui não há a nossa eterna cantata do luz bim, luz bai...luz tem!!! Antes do jantar, fui comprar cd's: The Best Of Soul, Freedom Road (Bob Marley), The Essential - George Benson e Francis Cabrel com Des Roses & Des Ortis.

Depois, jantámos no Savana. Frescos que nem uma alface, aliás nem parece que acabarámos de fazer quase setecentos quilómetros a conduzir. Um restaurante agradável e com boa comida, e mesmo ao nosso lado estava o presidente de um partido político, que, garantiram-nos, é dos mais proeminentes do Mali. Nova geração, portanto. O Mali - que de acordo com estudos efectuados, caminha para uma quase-tragédia, com cerca de 98% do seu território a sofrer de uma espécie de 'síndroma de desertificação' - está a crescer a olhos vistos. Durante a viagem Kayes/Bamako, cruzámos com mais de uma centena de camiões TIR carregados com todo o tipo de mercadoria, na direcção do Senegal e vice-versa.

Saímos de Kayes às 9.30 da manhã e chegámos a Bamako pontualmente - como no poema de Lorca - a las cinco em punto de la tarde. depois de algumas paragens obrigatórias.

Hoje, dormimos em Bamako e amanhã rumamos a Segou (240km) para o "Festival sur le Niger". Ficaremos 3 noites, e depois, lá apanharemos a estrada novamente: Djene (140 km), para visitar a Grande Mesquita que é Património Mundial da Humanidade. Oh, lá, lá.

A companhia para esta viagem não podia ser melhor; melhor, não podia querer outra, de resto. Contas feitas para esta aventura extraordinária: Bissau/Bamako/Bissau: mais de 3.000 quilómetros de estrada. AAS

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ausência de força angolana faz UE adiar cumprimento de sanções

A União Europeia suspendeu - por agora - o cumprimento de sanções impostas a oficiais generais das forças armadas guineenses, ontem tornada pública via agências de notícias.

Fonte do Ditadura do Consenso garante que a ausência, por enquanto, dos militares angolanos nos País é que deixa em banho-maria tal cumprimento a decisão de Bruxelas.

Todos os nomes

Para além de António Indjai e Bubo Na Tchuto, citados na LUSA e na France Press, Ditadura do Consenso apurou que da lista europeia constam ainda nomes como o de Papa Camará, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, do ex-médico de 'Nino' Vieira, Tcham Na Man e o próprio ex-CEMGFA Zamora Induta.

A detenção dos cinco implicados será feita pelos militares angolanos, ainda segundo a nossa fonte. AAS

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

au, au, au, ue

A recente notícia - divulgada, creio, pela France Press e pela Agência LUSA dando conta de que a União Europeia se preparava para anunciar o congelamento de contas bancárias e proibição de entradas do espaço Schengen a oficias generais das nossas Forças Armadas (Bubo Na Tchuto e António Indjai) e a mais três...sem nomes.

Primeiro: a reacção do Governo satisfez-me; mas há uma coisa que não entendo: por que é que, de cada vez que o Primeiro-Ministro abandona o País...a UE ou os EUA, ou ainda os dois, ameaçam-nos com sanções? Segundo: o comunicado do EMGFA, encheu-me as medidas. A tropa desafia a UE a apresentar provas (ou seja, só se congela uma conta se ela existir). A UE ameaça ainda - segundo a France Press e a LUSA - com a proibição de entrada no espaço dos 27 aos cinco envolvidos.

Contudo, depois do comunicado do EMGFA - um comunicado duro, sem dúvida - a UE 'adiou' a sua decisão, presumo que sine die. Esta, sim, é a posição habitual da UE, que nós, guineenses, estamos habituados a ver...

Gostava que a UE se posicionasse sobre as casas que muitos (todos?) ministros compram por essa Europa. Bom, mas como é o dinheiro que cura a crise europeia...é só roubá-lo cá, que a UE recebe-o lá com passadeira vermelha!

Mas não. Isso é um pormenor tão irrelevante, que a UE, sabiamente, prefere chutar para canto. Centenas de milhões de dólares foram/são desviados da Guiné-Bissau por gente corrupta e desavergonhada: 80 por cento desse dinheiro é 'enterrado' na Europa, na compra de vivendas, de apartamentos, entre outras mordomias - e quem os rouba são alguns ministros, secretários de Estado e até directores gerais. Ladrões deste humilde Povo. Gente má, sem escrúpulos nem remorsos. Gente a quem servia na perfeição um tiro na testa, disparado à queima-roupa. Para doer. Essa estirpe é que tem a Guiné-Bissau nesta situação - não os golpes de Estado.

É isto que a Europa - e o seu Povo - precisam de saber. O Povo europeu deve exigir dos seus governos a publicação de uma lista com todos os bens de governantes africanos existentes no seu vasto território. Todos!

Parece que a UE está empenhada em estragar-nos o dia. Dia após dia. Desde o dia 1 abril de 2009 que este País não conhece uma convulsão. Desde 1 de abril, a UE parece, entretanto, apostada e empenhada para que haja um conflito militar na Guiné-Bissau. Não será nas vossas costas...

Portugal - que tem mais afinidade com a Guiné-Bissau do que qualquer outro País europeu e talvez mundial - tem no terreno (no nosso País) pessoal militar, pára-militar e de informações e segurança. E o que diz Portugal à UE, lá, no Parlamento Europeu sobre o que se passa na Guiné-Bissau? Portugal tem de se mostrar mais. Teria de mostrar aos seus parceiros que a Guiné-Bissau está estável; que a Guiné-Bissau precisa, sobretudo, que a orientem. Porque desorientada, desorientada estamos há, pelo menos, 500 anos!

A ver o que dirá a UE - a sua comissão dos Negócios Estrangeiros - sobre o que este blog vai publicar por estes dias... AAS

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO: Gatunagem na Alfândega de Bissau com a benção do Ministro das Finanças, José Mário Vaz

A 15 de outubro do ano de 2009, deu entrada no gabinete do Ministro das Finanças, José Mário Vaz, um documento com a referência 328/GDGA(gabinete do Director-Geral das Alfândegas)/2009. vinha assinado por António Sanca, à altura Director-Geral (DG) das Alfândegas. O DOCUMENTO CONFIDENCIAL dava conta ao ministro sobre um serviço prestado pelo antigo Director-Geral das Alfândegas, Amizade Farã Gomes, e que foi conduzido por F. J. F. L. “Sigilo absoluto” - foi o que o então DG solicitou ao investigador desta recambolesca história, que resultou na descoberta de um grupo organizado que delapidou de mais de 1 bilião de fcfa dos cofres do Estado da Guiné-Bissau. Alguns importadores e despachantes oficiais, são os principais cabecilhas desta rede.

Recebido o documento, o Ministro das Finanças começou por obstruir todo o processo. Primeiro, requisitou, por telefone, todo o processo quando soube que António Sanca, na altura o DG das Alfândegas, tinha formado uma equipa para o efeito de cobrança do montante roubado, e para o apuramento das responsabilidades. Prova 1: O Ministro das Finanças estava, conscientemente, a proteger os ladrões. A troco do quê? Sabe-se lá...

O todo-poderoso Ministro das Finanças e futuro candidato à Presidência da Câmara Municipal de Bissau com a benção do seu padrinho Carlos Gomes Jr, dá início à purga propriamente dita: primeiro, exonera o DG Amizade Farã Gomes por este ter mandado efectuar a investigação. Depois, António Sanca também conhece a mão pesada de JOMAV: é demitido, por ter ousado constituir uma equipa para a recuperação das receitas desviadas, e consequente apuramento de responsabilidades.

Mas foi sol de pouca dura. O documento haveria de chegar ao conhecimento do 1º Ministro Carlos Gomes Jr. Em reunião de Conselho de Ministros de 15 de janeiro de 2010, ficou decidido, nos seus pontos a) e b):

a) Analisando as conclusões da auditoria mandada efectuar às Alfândegas de Bissau, onde se apuraram prejuízos para o erário público que ascenderam a mais de 1 bilião de francos cfa, por descaminho aos direitos, recomendar ao Ministro das Finanças que se confirme, primeiro, o resultado da referida auditoria e, sendo conclusivo, que mande proceder a averiguações com vista ao apuramento de possíveis responsabilidades dos importadores e dos despachantes oficiais implicados, sem prejuízo de posterior remessa do relatório para o Ministério Público, se o eventual ilícito criminal apontar nesse caminho;

b) Que as inspecções das Finanças e do Comércio devem actuar em parceria de modo a combater a fraude e evasão fiscais.

Alguns dos preumíveis implicados estã já a ser ouvidos na Procuradoria Geral da República, que destacou três homens: José Biagué Bado, coordenador do Gabinete de Luta Contra a Corrupção e Delitos Económicos do Ministério Público encabeça a equipa, composta ainda por Quintino Inquebi e Romelo Barai.

Enquanto isso, o autor da referida investigação, FJFL está a ser ameaçado de morte. O País é de todos nós, e um cidadão aceitou fazer a sua parte, realizando uma investigação desta natureza e de grande envergadura. A ver no que dá... AAS

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

EXCLUSIVO: Desvio de mais de 1 bilião de fcfa nas Alfândegas de Bissau! DC conta toda a história. Hoje. AAS

EXCLUSIVO: 1º Ministro terá sido ouvido antes de deixar Bissau, sobre a carta do PGR enviado ao PR e que DC divulgou em exclusivo.

No Ministério do Interior, os polícias fecharam a estrada e reivindicam reajustamento de salários. Terão o apoio do CEMGFA, que esteve lá há pouco em visita de solidariedade. AAS

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sin murri gossi

O Ministério Público, ou, se preferirem a Procuradoria Geral da República, nunca mais será a mesma. Isto, desde que o Ditadura do Consenso, publicou os três autos de inquirição de testemunha. Autos mal escritos, num português de merda, que envergonha qualquer cidadão esclarecido de um País de língua portuguesa. Mas nós somos mesmo assim: funcionais. Funcionamos...só que mal. Tudo o que copiamos faz lembrar os chineses e o seu descaramento desmesurado e sem vergonha.

Publiquei os três autos, sim. E publiquei-os porque tive acesso a eles. Antes mesmo de ir a Lisboa, em dezembro. E antes de os publicar, fui à PGR e dei conta do que ia fazer.

Mostrei igualmente todos os autos - porque fui contactado por duas pessoas ligadas ao processo. Num café-restaurante. Cheguei primeiro e esperei. Pouco depois chegaram. Apresentamo-nos. "Já o conhecia pelo blog", disse um. "Sim, do Ditadura do Consenso", confirmou o outro. Entretanto, já suavam.

"E então, ouvimos dizer que tem aí umas coisas para 'lançar' hoje. Pode mostrar-nos?". Sim. Posso. Saquei então dos três autos. Eles esticaram-se. E um dos magistrados começou a folhear rapidamente a dúzia de páginas. Como bom observador que sou, reparei em dois pormenores, que na altura pareceram banais e hoje fazem todo o sentido: folheou uma, duas, três, quatro e de repente fez-se luz. Parara na página que diz respeito ao Samba Djaló, da sinistra Dinfosemil.

Folheou novamente as três das quatro páginas do referido auto, e suspirou baixinho antes de ir para a última página. "Abro, não abro", terá pensado. E, pensando, lá se decidiu pelo abismo. E o porquê? Ora, porque é na página quatro que estão as assinaturas de Samba Djaló, dos três magistrados que o ouviram, e, ainda, do técnico de justiça - aquele, aquele que escreveu os autos...

E então o magistrado deixou cair as folhas. Caíram com estrondo, o barulho na altura assemelhou-se à queda de uma resma de papel A/4 de uma altura de 50 cm. Haverá estrondo, portanto. E levou as duas mãos à cabeça. Olhou para o seu colega. Tinha um ar triste. Estava - a seu ver - destruído. Inspirou e, um pouco irritado disse: "Estamos acabados. Quem é que lhe deu isto?". Não, não queria assustar-me (foram bastante afáveis até, e, em certa medida, comedidos).

Limitei-me a garantir-lhes que ninguém nestes três autos deu-me fosse o que fosse. "Nem os conheço" - dei a minha palavra. Numa palavra, eles não queriam que eu tornasse público os autos. "É segredo de Estado" - tentaram. Calmamente, disse-lhes "segredo do Estado não pode vir parar à rua!". E calei-me, à espera do ricochete. Mas não.

Desta vez, tentei eu. "Garanto-lhes que não publico nada sem antes falar convosco". Pela primeira vez durante a conversa, acho, respiraram normalmente. E convenientemente. Esticaram-se, e ajeitaram as gravatas no mesmo momento. Foi giro. Um deu uma folga ao nó da gravata. Um nó duplo. Outro pediu água e depois deixou-se cair para trás. Depois de beber e pousar o copo na mesa, garantiu ao colega: "De agora em diante, passarei a andar com todo o processo na mala!".

Nesse mesmo dia, por volta das 19 horas, telefonei. Boa tarde, senhor doutor - disse eu. Respondeu como se estivesse abalado - eu também estaria. Acredite. Depois disse-lhe "decidi publicar os autos". Desta vez ouvi-lhe a alma: "Está bem, faça como entender". Desligámos.

Deixei passar tempo. Passaram uma, duas, três horas. Antes de os publicar, fui às estatísticas: mais de 8 mil visitas! E todos à espera. Enter. Feito.

Mal sabia ele que eu já estava na posse de mais documentação, ainda sobre as mortes de Helder Proença e Baciro Dabó. E também relativamente ao assassinato do ex-Presidente 'Nino' Vieira. E é apenas por uma questão de oportunidade - e da minha segurança - que ainda não as tornei públicas. Não tenho pressa, prefiro ter cuidado.

Oscar Wilde escreveu que "a cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo" e acrescentou que "para ser popular é indispensável ser medíocre". E é aqui que eu entro. Não sendo popular, ala com o medíocre. Aliás, a mediocridade tem várias casas: mora na primatura, às vezes dorme na Assembleia, faz uma visita à Presidência, e acaba sempre por desaguar em alguns gabinetes da Procuradoria Geral da República.

Assim, e não sendo medíocre, prefiro sabiamente isto, que Bertold Brecht deixou escrito na pedra: "Há homens que lutam um dia, e são bons; há os que lutam muitos dias, e são muito bons; há os que lutam um ano, e são melhores. Porém, há os que lutam toda a vida - estes são imprescindíveis". AAS

Bo-ni-to

"Aly,

És um dos nossos fenómenos, aquele que nos tem mantido conectados com as notícias e a realidade do País. Gente forte, sincera, honesta e determinada como tu, há que aplaudi-los a cada momento e instante, para que essa nossa atenção faça ampliar a sua motivação de nos manter satisfeitos. Um abraço meu irmão e felicidades. Sucessos na tua vida familiar e profissional.

C.P.
"

M/R: Foi bonito. A minha vida profissional está bem, obrigado. A pessoal...por outras palavras: Divorciei-me neste mês de janeiro, mas estava já apalavrado há uns 3 anos. AAS

sábado, 22 de janeiro de 2011

O assessor assobiador

Carlos Pinto Pereira, um jurista que é igualmente assessor/conselheiro do Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr., tem dado ao Ditadura do Consenso motivos para continuar a luta. E ainda bem. Haja luta, então!

Desta feita, é sobre um parecer sobre a dupla tributação (imposto sobre o rendimento) entre a Guiné-Bissau e Portugal. Ora bem. O parecer de Carlos Pinto Pereira propõe que a Guiné-Bissau ratifique o acordo, aceitando a dupla tributação - o que é o mesmo que dizer suicidarmo-nos. Para além do disparate que seria.

Que empresas tem a Guiné-Bissau, em Portugal? E se a TAP, a Petromar disserem (isto se o documento vir a ser ratificado) «queremos ser tributados em Portugal»? Seria um desastre de proporções bíblicas. Para já, Portugal ratificou. Aguarda pelo Parlamento guineense - que, a meu ver, não deve votar sim. E ainda que vote, o Presidente da República deve vetá-lo!

Muito a propósito: gostaria de convidar o jurista Carlos Pinto Pereira a escrever para o Ditadura do Consenso, sobre... a dupla tributação. AAS

Guiné-Bissau: Wikileaks, versão guineense

Leia mais AQUI. AAS