sábado, 5 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A liberdade, essa conquista!

"Ola Aly,

Parabéns pela coragem de escrever sobre os ausentes à força (Liberdades que valem mil prisoes). Coragem porque nos falta a coragem para ouvir verdades, e coragem para ouvir ideias contrarias às nossas. Estou com saudades dos bate-papo com ideias diferentes. Para quando?
Abraço, MR"

- Ola, MR

Obrigado pela coragem também. O café ja esta à espera. Outro abraço. Aly

Lebssimenti di manpassada

De cada vez que ha uma tomada de posse, seja la do que for, é ver todo o mundo a suar que nem um condenado. Ha, de facto, duas coisas que agitam o sangue na veia ou na guerla de qualquer guineense: eleiçoes e tomadas de posse (normalmente, na Guiné-Bissau, as tomadas de posse sao sempre porque um 'desconhecido' matou um conhecido de todos nos).
E a tomada de posse que se seguira - agora, sine die, foi por causa do quê mesmo? Acertaram: foi porque um 'grupo desconhecido' decidiu estragar-me a noite (que falta de respeito do catano!) matando um Presidente da Republica eleito e em funçoes quase nas minhas barbas.
Ah, e a tomada de posse (posse?! Di kê propi?!) la nos fez ferver o sangue: toca a tapar os buracos na lua, perdao, nas estradas por onde os convidados (aposto aqui que nenhum chefe de Estado em pleno gozo das suas faculdades mentais vira para a festa...guerr matchu ta bin lanta na gassali tchon, na kebra ramo, na fertcha pedra...).
E à falta de alcatrao, toca a encher cimento nos buracos. Agora, temos estradas negras com manchas brancas. Tudo isto, num pais cinzento. Pas mal, pas mal. AAS

Nao posse!

Bacai Sanha, eleito Presidente da Republica, ja nao toma posse a 8 de Setembro. Motivo? So o PR tem cerca de 200 convidados, ainda que nem um avo va aparecer. Na Assembleia, nao caberao duzentas almas. No estadio 24 de Setembro, sim, mas ha a questao chuva. Assim, nao posse! AAS

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Liberdades que valem mil prisões*

Aos:

Deputados da Nação,
Procurador-Geral da República,
Presidentes da República (interino e eleito)
Primeiro-Ministro

"Tenho saudade de alguns dos meus amigos. Sinto desmedida saudade de gente que conheço (ainda que politicamente estivéssemos nos antípodas) e com quem partilhava mesas de café entre engraxadores de palmo e meio e todo o tipo de pedintes. Hoje, volvidos cinco meses desde os brutais acontecimentos sem memória nas nossas vidas, as lembranças resumem-se a outras conversas, também em mesas de cafés (nem a propósito: este texto foi escrito hoje, da parte da manhã, numa mesa de café e a meio de uma grande desconcentração).

Fomos talhados para sofrer calados. Um a um. E fomos polidos (Deus lá sabe o que faz...) para conviver depois com a canalha nas mesmas mesas tristes dos cafés de Bissau. Cento e cinquenta dias depois, sentado numa mesa de café, ainda tenho amigos lá longe. Amigos que o tempo levou e que nem uma feliz coincidência ou uma brisa mais fria atreve trazer de volta.

A liberdade destes meus amigos valem-me mil prisões. Em que País vivemos, afinal? Que Justiça almejamos? Onde estão os nosso remorsos? Qual o verde que nos empolga mais? – o da nossa bandeira ou o dos vastos arrozais? Que desconforto é esse que chega ao ponto de nos animar e que festejamos?

Por que é que esses meus amigos não regressam? Quem lhes tolhe tal direito, e com que direito mesmo? Onde está o Procurador-Geral da República? E os Deputados da Nação? Que é feito do Presidente da República interino? E o Presidente eleito, o que lhe apraz dizer? Quem é que nós, guineenses, elegemos nas urnas? Mas que merda de País é este?
"

P.S. - Numa acção/missão espectacular, vou substituir a bandeira que está na Presidência do Conselho de Ministros por uma do Ditadura do Consenso. E porquê? Porque nos foi imposta uma ditadura, e nós, em consenso, acolhemo-la.

(*) Dedico este texto a todos os guineenses que, vitimados pela calúnia, pela brutalidade e pela força das armas, estao longe do seu País. AAS

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Os ameaçados da terra

Tinha escrito ha dias que so voltaria a blogar quando o Procurador-Geral da Republica fosse novamente alvo de ameaças.
Hoje, a intuiçao levou-me a ele. Peço perdao, a eles: Luis Manuel Cabral, PGR, e o deputado acossado pela tropa e pelos Serviços de Informaçoes do Estado, Francisco Conduto de Pina estavam no passeio da agência de viagens do deputado, em amena cavaqueira!
Na desgraça, mesmo os inimigos (ainda que de outrora) se tornam amigos.
Do que falaram? Nao sei, mas presumo que Luis Manuel Cabral tenha ido solidarizar-se com Conduto de Pina.
Esta claro: nada mais pode o PGR garantir ao deputado! E ele sabe-o tao bem quanto eu. AAS

Da Islândia, com calor

"Olá Aly!

Parabéns pelo seu Blogue. Nao podia surgir outro melhor no ambito da informação, da formação e do entretenimento.
Adoro o blogue, é simplesmente espectacular... Tudo nele se aproveita. Soube de si há alguns anos, mas do blogue somente nos últimos sete meses. Muito obrigado.
Já o recomentdei a todos quanto pude. O meu nome é Demba, tambem um compatriota seu, e vivo na Islândia.


Parabéns e muitos anos de vida, nha ermon. Até à proxima.

Demba
"


Muito obrigado, Demba. Um abraço desde Bissau. Aly

Letter from Brussels

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Gostei da tua arte. Revisitei o teu toque e gostei muito. Certamente já levaste muitas no quarto dos quadros... pareces um poço de eterna esperança quando escreves, mas a tua arte trai-te: perdes a esperança. Mesmo colorida, ela não é verde... Se estiveres interessado podes ilustrar um conto meu. Penso que o resultado seria sofisticao e bom... depois, era arranjar quem o publicasse. Um abraço do RG”.



Meu caro RG,

“O convite não me surpreende, vindo de ti. E está aceite. E será um prazer. Conhecemo-nos no tempo em que os animais (ainda) não falavam, somos amigos e ainda companheiros condenados a olhar com compaixão para os condenados da nossa terra. Eu aguardo. E enquanto espero, deixo-te um abraço que é extensível à tua família, Aly.

P.S. – A minha arte é isso mesmo: arte que deveria ser. Aly

Uma profissão “estranha”

Acho a tua profissão deveras estranha. O que achas? Um abraço, D.

D.,

Algumas pessoas acham a (minha) profissão de jornalista “estranha”. E eu fui ao ponto de pensar se devia mudar de profissão. Há um momento na vida de cada um em que paramos e nos perguntamos se o que estamos a fazer tem algum propósito.
Devo a um amigo a minha primeira palestra em Bissau - dada a alunos pré-universitários - para falar da minha experiência enquanto jornalista e acabei a fazer campanha política, o que deixou o professor ‘alarmado’. Isso deu azo a muita gargalhada dentro da sala, mas os alunos colaboraram bastante o que tornou a situação, digamos assim, tolerável.
Depois da aula, e já fora da sala, fui automaticamente cercado por cerca de vinte alunos, o que me assustou bastante. Na aula, tremia que nem uma vara verde. Foi a gota de água que faltava. Ou seja, palestras não são comigo. Nunca me imaginei a dar palestras longas, cansativas, divagantes e esotéricas.
Durante a guerra de 1998/99, fui convidado, na qualidade de jornalista do semanário «O Independente», e de guineense, para ser orador uma conferência na Universidade do Algarve. A coisa até que correu bem uma vez que, no final, o reitor pediu-me que oferecesse a minha comunicação à Universidade, o que fiz com muito prazer e não menos orgulho. E foi ainda enviada uma carta de agradecimento qo jornal, enaltecendo a minha intervenção no campus.
Outra vez fui até abordado para leccionar numa universidade de Bissau. Adorava de facto aquela ideia apaixonante de ensinar, mas rapidamente conclui que, no fundo, eu também não era um académico. Posto isto, deixa-me mas é ir lixar outros. E tu devias fazer o mesmo. AAS

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nao tenho maos para o blogue...

... E so volto a escrever quando ameaçarem novamente o Procurador-Geral da Republica! Porra para isto - ou seja, para as ameaças. AAS

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Últimas - ou, 'já volto'

- Luis Manuel Cabral, Procurador-Geral da República, foi ameaçado de morte via telefone (já somos muitos...). E comenta tentativa de prisão do deputado Conduto de Pina: "Nenhuma outra entidade (leia-se militares) pode intervir no processo, uma vez que foi entregue ao Ministério Público". Sobre a suposta entrada de militares na Diocese, alerta: "A Santa Sé é um Estado dentro do nosso Estado. Isto pode trazer-nos problemas diplomáticos (com o Estado do Vaticano)";

- Obras do Palácio do Governo (a maior casa de banho do mundo) e do Hospital Militar - estão paradas. Greve de operários pelo aumento do salário por hora de trabalho. Aki a gato (estamos juntos). Justino já cantara "greve pa mindjoria, na cabantada pa no sinta sabi". Houve tiros para o ar e tudo. Ah, valentes. AAS

Perdemos um politico; teremos ganho um... Padre?

Dantes era o edificio das Naçoes Unidas. A estadia era gratuita, a segurança relativa (aqui, nao ha imunidade que salve ninguém).
Hoje, o albergue da moda é a Diocese de Bissau. Por tudo e por nada, ala que Deus esta à espera.

Conduto de Pina foi ilibado pelos tribunais mas a tropa nao se conforma: sabado, la lhe foram incomodar de novo. A soluçao foi, uma vez mais, a Diocese de Bissau, que, por este andar la tera que começar a fazer render as instalaçoes.

O Pais pode ter perdido um politico mas em contrapartida pode ter ganho um...diacono, um padre, eu sei la!!! Alguém cantou em tempos: 'Si mortu di partido panhau, nin bu raiz ka na fica'. AAS

domingo, 16 de agosto de 2009

Presidente Prozac?

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N.,

Obrigado pelas tuas palavras (tomei boa nota).
Antes de mais, um lead para esclarecer:

- Eu não ganhei a vida que levo, ao contrário do que escreveste – escolhi-a. Uma vida espartana, quase banal. E no entanto, não estou minimamente arrependido das escolhas que fiz. Adapto-me bem a qualquer situação, em qualquer lado. E que merda de vida eu levo!

Nha ermon,

O teu problema, eu sei, é outro. É este Presidente que vocês elegeram! Mas também o Governo (e não sei se o parlamento...).
Amigo, começo com o Governo. Existem três formas de governar - contra uns, contra todos ou contra ninguém. O teu primeiro-ministro começou mal: perdeu-se, engordou o Executivo como nunca se viu e, depois, não conseguiu encontrar o meio-termo. E depois? Bem, depois escolheu a via da confrontação. Começou por confrontar uma pessoa, depois confrontou mais uns quantos e agora está a confrontar toda a gente ao mesmo tempo. Isto, até que lhe confrontem. Não maina. I ta tarda nan son.

Quanto ao presidente eleito:

No próximo dia 8 de Setembro, a Presidência da República conhecerá um novo inquilino. É indesmentível (mesmo que para muitos seja inconfessável) que todo o País (e não apenas os 63% que elegeram Bacai Sanha) aguarda com expectativa.
Para trás, ficam quatro anos de uma presidência sempre no fio da navalha, fruto da eterna desconfiança cultivada, do ódio enraizado. Entraram em 1973. Eles – os desgraçados - e as suas armas.

Em contraponto com este período de acentuado e penoso declínio, ou talvez precisamente por causa dele, Bacai Sanha chega à Presidência como símbolo de uma ‘renovada esperança’. Dele se espera que cumpra muitos dos sonhos que os guineenses nunca sequer sonharam. Dele se espera que, mais do que uma colaboração construtiva com o primeiro-ministro, que seja o verdadeiro inspirador e mentor da acção governativa deste. Dele se espera, ainda, que seja uma reserva de bom senso e um farol da arte de bem governar.

Porém, qualquer aprendiz de ciência política compreende que o Presidente guineense não tem, pura e simplesmente, margem constitucional para almejar tamanha responsabilidade. Imaginar o contrário, meu caro, seria de uma ingenuidade desarmante.

Claro que a imbecilidade, por si só, não mata ninguém. O grave é que o sentimento é igualmente perigoso. Precisamente porque Bacai Sanha não será, não pode ser, a solução de que o País precisa. Funcionará, quando muito, como um temporário Prozac para a Nação: passada a euforia inicial, afastado durante algum tempo o sintoma, o País acabará inevitavelmente por se confrontar consigo mesmo. E como qualquer psiquiatra explicará, a depressão que se seguirá só pode ser mais severa e, em igual proporção, devastadora.

Mas nós somos mesmo assim: perversos. Temos aquela tendência reiterada para esperar homens providenciais. Temos talvez uma crença doentia num qualquer deus que projecta para fora de nós próprios a responsabilidade pelo nosso destino enquanto Povo. E a projecção não é mais do que a melhor garantia de que, no essencial, tudo continuará como dantes.


P.S. 1 - Uma coisa: quando morrer não vou para o céu (soube de fonte segura).

P.S. 2 – Outra coisa: Ontem, alguém com me cruzei por acaso disse-me: “Chegamos ao ponto de alguém desaparecer e ninguém ir à esquadra. Vão directamente aos hospitais e às morgues”. Como doeu! AAS

sábado, 15 de agosto de 2009

Take#3: 34 anu, 55 djinti(u)s

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Cinquenta e cinco(!) militares guineenses deslocam-se amanha à Líbia para participar no 34º aniversario da revolução líbia convidados pelo Presidente Muammar Kadafi, revelou hoje o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, Zamora Induta. No total, 50 soldados e cinco oficiais. Zamora Induta, CEMGFA, disse que o convite demonstra o "nível de boas relações" entre a Guiné-Bissau e a Líbia.

Por cá tudo bem, mas...

Sobre a situação militar no país, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, afirmou que está dentro da normalidade própria do país. "Está calma, mas os problemas também não faltam, porque os guineenses são assim, até deixam entender que há cenários diferentes, cada dia que saímos de um cenário, no dia a seguir acontece mais outro. Mas podemos dizer que a situação no geral está calma e está controlada", disse Induta. AAS