quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

TRABALHO INFANTIL: Somos os campeões da lusofonia


A Guiné-Bissau é o país lusófono com a maior taxa de trabalho infantil: quase 40% das crianças guineenses trabalham, revela um estudo da UNICEF relativo a 2012, que coloca Timor-Leste e Angola a seguir neste dado. O relatório sobre A Situação Mundial da Infância em Números 2014, hoje divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), revela que na Guiné-Bissau, 38% das crianças entre os 05 e os 14 anos trabalham e sete por cento estão casadas antes dos 15 anos. Segue-se Timor-Leste, onde 28% dos menores realizam trabalhos e, a seguir, Angola, com uma taxa de 24%.

Quanto ao casamento infantil, Moçambique lidera a tabela dos países onde se fala português, com 14% das crianças a casarem-se antes dos 15 anos. Quase um quarto dos menores moçambicanos (22%) trabalha. No Brasil, nove por cento das crianças trabalham e 11% casam-se muito jovens. Em São Tomé e Príncipe, as taxas baixam para 8% e 5%, respetivamente. Em Cabo Verde e Portugal, o trabalho infantil ainda prevalece para três por cento da população infantil.

No estudo, que reporta a dados de 2012, ressalta ainda que Moçambique é o país de língua portuguesa com mais baixa esperança de vida (50 anos), pouco distante de Angola (51) e da Guiné-Bissau (54). Em São Tomé, as pessoas vivem em média até aos 66 e em Timor-Leste chegam aos 67.

Com mais idade, os brasileiros têm uma esperança de vida de 74 anos, enquanto os cabo-verdianos podem viver até aos 75 anos. Portugal distancia-se, com uma esperança de vida de 80 anos. Quanto à mortalidade de crianças com menos de cinco anos, Angola é o segundo país do mundo, com 164 casos em cada 1000, apenas suplantado pela Serra Leoa. Seguem-se a Guiné-Bissau (6.º lugar), Moçambique (22.º), Timor (48.º), São Tomé (50.º), Cabo Verde (88.º) e Brasil (120.º). Quase no final da tabela surge Portugal, em 170.º do ranking mundial.

Na taxa de mortalidade, Portugal situa-se no fundo da tabela, com 1,3 crianças por mulher. No Brasil, este valor é de 1,8, enquanto em Cabo Verde, a taxa é de 2,3. Na Guiné-Bissau, cada mulher poderá dar à luz, em média, 2,6 crianças, enquanto em São Tomé, este número sobre para 4,1. Em Moçambique chega aos 5,3 filhos por mulher e Angola e Timor-Leste registam seis crianças.

Quanto à literacia da população adulta, Moçambique apresenta a taxa mais baixa: apenas metade dos moçambicanos com mais de 15 anos (51%) sabe ler e escrever. Na Guiné-Bissau, esta taxa é de 55% e em Timor é de 58%. Em Angola e São Tomé e Príncipe, 70% dos adultos sabem ler e escrever. A taxa de literacia em países como Cabo Verde é de 85%, no Brasil alcança os 90% e em Portugal regista 96%. LUSA

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

CADOGO (4): O apoio a Domingos Simões Pereira para presidente do PAIGC


O oficialmente presidente do PAIGC, Carlos Domingos Gomes, afirmou hoje o seu apoio à candidatura do ex-secretário-executivo da CPLP Domingos Simões Pereira nas eleições para a liderança que marcam o Congresso do partido, que começa quinta-feira na Guiné-Bissau.

Numa entrevista conjunta à RTP África e à agência Lusa na Cidade da Praia, onde atualmente reside, Carlos Gomes Júnior indicou não ter sido “tido nem achado” na “preparação atabalhoada” do congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e deixou em aberto a possibilidade de, mais tarde, o impugnar.

Vou discutir a situação com os outros membros do partido para ver que medidas tomaremos. Estamos a aguardar”, afirmou Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro guineense deposto no golpe de Estado de 12 de abril de 2012, garantindo que não se candidatará à sua própria sucessão no PAIGC.

Sobre os diferentes candidatos que se apresentam à liderança do antigo partido único (1973/1991), Carlos Gomes Júnior, eleito sucessivamente presidente do PAIGC desde 2002, apontou Simões Pereira, que foi seu ministro antes de ser nomeado como secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O presidente do partido, segundo os estatutos, será o futuro chefe do Governo. Temos de apostar no mais capaz. Neste momento há várias pessoas na corrida, mas têm de, em primeiro lugar, pensar nas perspetivas do que podem fazer. Apostamos seriamente em Domingos Simões Pereira e na equipa que o acompanhará”, referiu.

Deu provas, durante as funções à frente da CPLP, é um quadro conhecido e reconhecido internacionalmente, e, quanto a isso, não temos dúvida nenhuma, sem menosprezar a capacidade dos outros. Temos de apostar em quem é capaz de relançar o partido e relançar a confiança internacional na Guiné-Bissau”, insistiu.

Sobre o congresso do partido, Carlos Gomes Júnior criticou a forma “atabalhoada” como o processo tem sido liderado, denunciando que a sua ausência do conclave representa uma falha.

Segundo os estatutos, o presidente do partido é um órgão e há toda a necessidade de concertação para haver uma orientação. Não queremos ser uma barreira ou entrave para o partido, mas pensamos que, se a direção entendeu que tinha condições para fazer o congresso sem o presidente do partido, só lhes tenho a desejar boa sorte”, defendeu.

Desdramatizando as “várias tendências e sensibilidades” no partido – “sinal de democracia”, Carlos Gomes Júnior manifestou esperança de que o PAIGC eleja um líder que “dê confiança” e que aposte “seriamente” na unificação entre os seus membros e “estabilidade” ao país.

CADOGO/CASO BUBA/UNIOGBIS (3): “Não respondo a subordinados”, afirma Carlos Gomes Júnior sobre “aviso”


O “aviso” dos militares guineenses ao ex-primeiro-ministro da Guiné-Bissau, cuja alegada presença em Buba levou soldados a entrar nas instalações da ONU, foi hoje desdramatizada por Carlos Gomes Júnior, que frisando que não tem de responder a subordinados.

Numa entrevista conjunta à RTP África e à agência Lusa na Cidade da Praia, onde reside há cerca de dois meses, Carlos Gomes Júnior considerou “patética” a atuação dos militares naquela cidade do sul da Guiné-Bissau, que, além de terem entrado nas instalações locais da ONU, ainda revistaram o carro do enviado especial das Nações Unidas para o país, o antigo presidente timorense José Ramos Horta.

Questionado sobre se esteve, de facto, em Buba, o também oficialmente presidente do Partido Africano da Independência a Guiné e Cabo Verde (PAIGC) respondeu que não, indicando que esteve no México, a participar numa conferência internacional em que estiveram presentes alguns ex-ministros portugueses, como Miguel Relvas e António Dias Loureiro.

“Cheguei no sábado à noite (à Cidade da Praia). Não sei como posso estar no México, a 18 ou 20 horas de voo, e estar, ao mesmo tempo, em Buba. Só se for um fantasma. São situações que levam a uma análise patética de uma situação em pleno século XXI”, afirmou.

“Eles conhecem bem o Carlos Gomes Júnior. Não respondo a subordinados. Sou o chefe, sou o primeiro-ministro legítimo da Guiné-Bissau. Não tenho medo de assumir as minhas responsabilidades”, acrescentou, depois de questionado sobre se o “aviso” feito pelos militares à sua segurança foi recebido.

Sobre o incidente, considerou-o um “acidente de percurso” que, no seu entender, “infelizmente, já começam a ser demasiados”, disse, aludindo também à questão dos 74 cidadãos sírios, com passaportes turcos falsificados, que embarcaram à força no voo da TAP-Portugal entre Bissau e Lisboa.

“Esse tipo de comportamento não é normal. Mas não é a primeira vez que esses acidentes acontecem”, afirmou, considerando “extremamente grave e inadmissível” o caso dos cidadãos sírios.

“Isso demonstra como a situação se aproxima do caos, em que cada um tenta saltar do barco e fazer as coisas à sua maneira. Se virmos o que aconteceu a 11 de setembro (de 2001) nos Estados Unidos, como se pode meter passageiros que foram identificados de forma caótica a entrar num voo internacional? Não é normal. O Governo (guineense) deveria ter pedido desculpas às autoridades portuguesas, sentar à mesa e arranjar outra forma de controlo de maior segurança”, defendeu.
A título pessoal, Carlos Gomes Júnior reivindicou ter sido alvo de quatro tentativas de assassinato.

“Na primeira, tive de refugiar-me na sede das Nações Unidas (em 2007). Nos acontecimentos de 01 de abril (2010), em que pela primeira vez na história de África o povo saiu à rua para exigir a libertação imediata do primeiro-ministro, a 26 de dezembro de 2010) e a 12 de abril (de 2012)”, referiu.

Nesse sentido, Carlos Gomes Júnior defendeu a “urgência” da implementação da reforma no setor da Defesa e Segurança, bem como da necessidade de umas Forças Armadas republicanas e que “obedeçam” ao poder político.
“Uma pessoa (militar) não se pode sentar de manhã e, à noite, resolver tomar uma decisão (golpes de Estado). Num Estado de Direito, com responsabilidades junto da comunidade internacional, temos de criar instituições credíveis, para que se possa fazer uma cooperação séria com os parceiros de desenvolvimento”, defendeu. LUSA

CADOGO PRESIDENCIAIS (2): Gomes Júnior assume candidatura presidencial e aguarda por garantias de segurança para regressar à Guiné-Bissau


Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro guineense deposto em 2012, garantiu hoje que será candidato presidencial nas eleições previstas para março próximo e que aguarda por garantias de segurança da ONU e do Governo de Transição para regressar à Guiné-Bissau.

Numa entrevista conjunta à RTP África e à agência Lusa na Cidade da Praia, onde reside atualmente, Carlos Gomes Júnior afirmou que um seu antigo ministro, Botche Candé, será o diretor de campanha, que falta acordar o nome do seu mandatário e que, porém, receia o adiamento das eleições.

“Estamos preocupados com o cenário que se passa na Guiné-Bissau”, afirmou o também, oficialmente, presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), ao justificar a carta enviada recentemente ao secretário-geral da ONU e aos presidentes das comissões das uniões Europeia (UE) e Africana (UA).

“O recenseamento ainda está a decorrer. Já chamei a atenção às Nações Unidas que não basta só marcar eleições. Há questões prévias que têm de ser discutidas com frontalidade se quisermos eleições credíveis, livres, justas e inclusivas, pois há um cenário em que o povo não se pode manifestar, a imprensa não é livre e os políticos estão a ser presos, perseguidos, espancados e até mortos”, afirmou.

Carlos Gomes Júnior, afastado do poder no golpe de Estado de 12 de abril de 2012, insistiu na ideia de se criar um “tribunal ad-hoc” na Guiné-Bissau para julgar “todas as barbaridades e trazer à justiça os crimes que ultimamente têm acontecido” no país para pôr cobro à impunidade.

Sobre as presidenciais, cujo processo de candidatura está a ser preparado por juristas do PAIGC, Carlos Gomes Júnior lembrou que, em 2012, tinha vencido a primeira voltas das eleições e que se preparava para a segunda-feira quando o processo foi interrompido com o golpe de Estado.

“Estou à espera da segunda volta das presidenciais, que ganhei com toda a transparência. Essas eleições foram validadas pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Guiné-Bissau e foram reconhecidas pela comunidade internacional como sendo livres, justas e transparentes”, reivindicou, esclarecendo, porém, as razões que o levam a recandidatar-se.

“Não tenho problema em ir às urnas. Fala-se de que ganhei as eleições e que agora tenho medo de ir às urnas. Não, de forma nenhuma. Nã quero é ser um obstáculo ao desenvolvimento do país. Para não criar um clima de instabilidade no país, aceitei ir de novo às eleições, se bem que não tenha adversários como tive em 2012”, explicou.

Para Carlos Gomes Júnior, adiar as eleições é adiar, de novo, a Guiné-Bissau. “Até quando vamos continuar com o Governo de Transição. Quantos projetos foram adiados ou inviabilizados porque os parceiros não têm confiança? É necessário que os políticos se sentem à mesa e que discutam o que querem para a Guiné-Bissau. Após 40 anos de independência, não podemos continuar com um país adiado”, disse.

Questionado sobre quando pensa regressar a Bissau, Carlos Gomes Júnior afirmou que “tudo depende da vontade política do próprio Governo de transição” e das garantias que as Nações Unidas têm de dar, a si e aos eleitores. “(Garantias) não só de segurança ao cidadão Carlos Gomes Júnior, mas também para os eleitores e cidadãos guineenses. Não quero uma segurança exclusiva para mim. O problema é que, num Estado de Direito, não se pode estar a governar um país desta forma”, respondeu.

“Se pensarmos que a comunidade internacional vai desembolsar 20 milhões de dólares para a realização de mais umas eleições, elas têm de ser credíveis. Não sendo credíveis, terá de rever como vão ser controladas. A ONU tem de enviar uma força de interposição para as controlar e para garantir a segurança da população, para que possa votar livremente. Se não votar livremente e em consciência, não vejo a necessidade de fazer uma eleição atabalhoada como estamos a fazer”, concluiu. LUSA

CADOGO em entrevista (1)


Entrevista a Carlos Gomes Júnior
Praia, 29 de janeiro de 2014
Entrevista Lusa/RTP África
José Sousa Dias e Nélio Santos

- Escreveu há dias uma carta a Ban Ki-Moon. Qual foi o objetivo?

A carta não foi só dirigida ao secretário-geral da ONU, mas a todos os organismos internacionais – UE, Zuma (UA), estamos preocupados com o cenário que se passa na Guiné-Bissau. O recenseamento ainda está a decorrer. Estive nas Nações Unidas, para chamar a atenção que não é só marcar a data das eleições. Há questões prévias que têm de ser discutidas, com frontalidade, se quisermos eleições credíveis, livres, justas e inclusivas. Cenário esse em que o povo não se pode manifestar, a imprensa não é livre, os políticos estão a ser presos, perseguidos, espancados e até mortos. Daí que nós continuamos a insistir na instalação de um tribunal “ad-hoc” na Guiné-Bissau para julgar todas essas barbaridades e trazer à justiça os crimes que ultimamente têm acontecido na Guiné-Bissau. Se queremos estar num Estado de Direito, não podemos pactuar com a impunidade. É esse o nosso apelo à comunidade internacional, para que ajude a Guiné-Bissau, de uma vez por todas, a entrar num ciclo de normalidade.

- Teme que as eleições sejam adiadas?

Não só o adiamento das eleições, como adiar de novo a Guiné-Bissau. O Governo de transição não tem poderes constitucionais para envolver-se na governação. Tem de ser um Governo que saia do veredicto popular das eleições.
Até quando vamos continuar com o Governo de Transição? Quantos projetos foram adiados ou inviabilizados porque os parceiros não têm confiança? É necessário que os políticos se sentem à mesa e discutir o que queremos para a Guiné-Bissau.
Depois de 40 anos de independência, não podemos continuar com um país adiado, adiar o desenvolvimento do país, adiar o futuro dos jovens, continuar a não ter credibilidade internacional.


- É candidato às presidenciais de março?

Estou à espera da segunda volta das presidenciais de abril de 2012, que ganhei com toda a transparência. Essas eleições foram validadas pelo STJ da Guiné-Bissau, foram reconhecidas pela comunidade internacional como sendo livres, justas e transparentes. Agora marcam umas eleições de raiz. Não tenho problema em ir às urnas. Fala-se de que ganhei as eleições e que agora tenho medo de ir às urnas. Não, de forma nenhuma. Não quero ser obstáculo ao desenvolvimento do país. Para não criar um clima de instabilidade no país, aceitei ir de novo às eleições, se bem que não tenha adversários como tive em 2012. Acho que posso ir. Se as pessoas querem dar outro ciclo de transparência, estou disponível para colaborar.

- Quem vai representar a sua candidatura?

Em princípio, já tenho um diretor de campanha que está no terreno, que é Botche Candé. Estamos neste momento a analisar com os outros quadros do partido quem será o mandatário. Mas os advogados já estão a tratar dos papéis necessários, que serão, depois, depositados no STJ.

- Quais são as suas verdadeiras motivações?

O que me move é o desenvolvimento da Guiné-Bissau. Amílcar Cabral traçou dois objetivos: a conquista da independência nacional e o programa maior, o desenvolvimento sustentado da Guiné-Bissau. Se sou reconhecido como empresário de sucesso, interna e externamente, tenho a obrigação de criar condições de estabilidade para que o país se desenvolva, para que a comunidade internacional acredite. Posso mobilizar empresários e instituições para investir na Guiné-Bissau, país que tem potencialidades, como ficou demonstrado nos anos da minha governação. A Guiné-Bissau não é um país pobre. Demonstramos que, só com recursos internos, era possível honrar as dívidas do país, pagar os salários na Função Pública e moralizamo-la. Demonstramos, em pouco tempo, que a Guiné-Bissau já estava a afirmar-se na comunidade internacional como um Estado de Direito. Conseguimos o perdão da dívida, criar a confiança junto dos parceiros. (…) Isso quer dizer que a Guiné-Bissau tinha já outras perspetivas de desenvolvimento.

- O Congresso do PAIGC começa amanhã. Como vê o processo de preparação do congresso?

De forma atabalhoada. O presidente do partido, segundos os estatutos, é um órgão e há toda a necessidade de concertação para haver uma orientação. Não queremos ser uma barreira ou entrave para o partido, mas pensamos que, se a direção entendeu que tinha condições para fazer o congresso sem o presidente do partido, só lhes tenho a desejar boa sorte.

- Quer dizer que não foi tido nem achado na preparação do congresso?

Até hoje, infelizmente não.

- Vai impugná-lo depois? Tudo isso torna-o ilegítimo?

Vou discutir a situação com os outros membros do partido para ver que medidas tomaremos. Estamos a aguardar.

- Que balanço faz dos anos de governação?

É altamente positivo. Em 2002, no Congresso realizado na UDIB, quando assumi a liderança do PAIGC, e tanto o partido como o país estavam numa situação de grande crise. Tínhamos acabado de sair da guerra fratricida de 1998/99 e havia toda a necessidade de um trabalho aprofundado para reerguer o partido e relançar o país. Sou empresário, e tinha grandes projetos a iniciar. Tive de suspender tudo. Entreguei as empresas à minha mulher e aos meus filhos, que conseguiram assegurar as empresas e eu fui responder o apelo do partido.

- Como se pode perceber o PAIGC, os muitos interesses que existem no partido?

Num partido grande, como o PAIGC, surgem sempre outras tendências. Faz parte da democracia ouvir as pessoas. Em 2004, quando fomos às eleições legislativas, conseguimos 45 dos 100 mandatos. Em 2008, conseguimos 67 mandatos. Isso quer dizer que não foi só o partido que votou na figura e na equipa do Carlos Gomes Júnior. Todo um povo começou a ver que havia uma esperança no fundo do túnel. O partido está, neste momento, dividido, porque há várias sensibilidades. A reunião magna vai dar possibilidade a cada um de apresentar o seu programa e objetivos para o partido. Amílcar Cabral dizia que o mais capaz é que deve estar à frente dos destinos do partido e do Estado. Esperemos que saia uma nova liderança que dê confiança e que aposte seriamente na unificação do partido e na estabilidade do país.

- E quem gostaria de ver à frente do partido?

Temos de apostar na pessoa mais capaz. O presidente do partido, segundo os estatutos, será o futuro chefe do Governo. Temos de apostar no mais capaz. Neste momento há várias pessoas na corrida, mas têm de, em primeiro lugar, pensar nas perspetivas do que podem fazer. Domingos Simões Pereira, por tudo aquilo que fez - fez, aliás, parte da minha equipa, e só não continuou porque foi chamado para as funções de secretário executivo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Apostamos seriamente nele e na equipa que certamente estará a acompanhá-lo. Deu provas, durante as funções à frente da CPLP, é um quadro conhecido e reconhecido internacionalmente, e, por isso, não temos dúvida nenhuma, sem menosprezar a capacidade dos outros. Temos de apostar em quem é capaz de relançar o partido e relançar a confiança internacional na Guiné-Bissau.

- Qual o rumo a seguir pelo partido? Qual o modelo que defende para a escolha de um primeiro-ministro?

Aprovamos os estatutos do partido no congresso de Gabu e é o que está vigente. Temos de ser coerentes. Deixemos os quadros e os juristas do partido analisar as coisas em função dos objetivos do partido. Somos membros da Internacional Socialista (IS) e basta ver a experiência dos partidos congéneres (que é igual - o presidente do partido é candidato a primeiro-ministro). Não vale a pena estar a fazer disputas académicas, que não levam a lado nenhum.

- Militares em Buba à sua procura e até revistaram carros das Nações Unidas. Como vê a situação?

São acidentes de percurso que, infelizmente, na Guiné-Bissau, começam a ser já demasiados e por isso é que fizemos a carta à ONU e aos outros organismos internacionais para analisarem friamente a situação na Guiné-Bissau e o que esperam das eleições que vamos fazer. Esse tipo de comportamento não é normal. Não é a primeira vez que esses acidentes acontecem.
Eu já fui alvo de quatro tentativas de assassinato. Na primeira tive de me refugiar na sede das Nações Unidas (em 2007). Nos acontecimentos de 01 de abril (2010), em que pela primeira vez na história de África o povo saiu à rua para exigir a libertação imediata do primeiro-ministro, a 26 de dezembro (2010) e a 12 de abril (de 2012). A Guiné-Bissau precisa urgentemente de fazer a reforma no setor da Defesa e Segurança, de umas Forças Armadas republicanas e que obedeçam ao poder político. Uma pessoa não se pode sentar de manhã e, à noite, resolver tomar uma decisão (golpes de Estado dos militares). Se se está num Estado de Direito, com responsabilidades junto da comunidade internacional, temos de criar instituições credíveis, para que se possa fazer uma cooperação séria com os parceiros de desenvolvimento.


- Enquanto presidente do PAICV como vê a eleição do novo líder parlamentar do partido (Otávio Lopes) e a questão dos sírios que embarcaram para Lisboa a partir de Bissau e o incidente em Buba?

São situações extremamente graves. Isso demonstra como a situação se aproxima de caos, em que cada um tenta saltar do barco e fazer as cosias à sua maneira. O PAIGC é um partido maduro, tem dirigentes com experiência e a Guiné-Bissau tem de começar a ultrapassar este tipo de situações. Em relação aos sírios, ao incidente com a TAP, é extremamente grave e completamente inadmissível num Estado de Direito. Se virmos o que aconteceu a 11 de setembro (de 2001) nos Estados Unidos, como é que se pode meter passageiros que foram identificados de forma caótica a entrar num voo internacional. Não é normal. O Governo deveria ter pedido desculpas às autoridades portuguesas, tentaria sentar-se à mesa e arranjar outra forma de controlo de maior segurança. Ao fim e ao cabo, quem está a ser penalizado é o povo da Guiné-Bissau. São os nossos emigrantes, que são obrigados a dar uma volta grande para chegar ao país com os seus parcos recursos.

- Quando vai regressar à Guiné-Bissau?

Está tudo dependente da vontade política do próprio Governo de transição e das garantias que as Nações Unidas têm de dar antes de regressar.

- Que tipo de garantias?

Não só de segurança ao cidadão Carlos Gomes Júnior mas também para os eleitores e cidadãos guineenses. Não quero uma segurança exclusiva para mim. O problema é que, num Estado de Direito, não se pode estar a governar um país desta forma. Se pensarmos que a comunidade internacional vai desembolsar 20 milhões de dólares para a realização de mais umas eleições, elas têm de ser credíveis. Não sendo credíveis, a comunidade internacional tem de rever como as eleições vão ser controladas. E as Nações Unidas têm de enviar uma força de interposição que controle as eleições e garanta a segurança da população, para que possa votar livremente. Se não votar livremente e em consciência, não vejo a necessidade de fazer uma eleição atabalhoada como estamos a fazer.

- E em relação ao incidente em Buba? Estava presente em Buba?

(Risos) Estava numa conferência internacional realizada em Vera Cruz, no México. Cheguei no sábado à noite (à Cidade da Praia). Não sei como posso estar no México, a 18 a 20 horas de voo, e estar, ao mesmo tempo, em Buba.Só se for um fantasma. São situações que levam a uma análise patética em pleno século XXI.

- Pode ser interpretado como um aviso dos militares, do género “estamos atentos”?

Eles conhecem bem o Carlos Gomes Júnior. Não respondo a subordinados. Sou o chefe, sou o primeiro-ministro legítimo da Guiné-Bissau. Não tenho medo de assumir as minhas responsabilidades. LUSA


ELEIÇÕES(?) 2014: PRS escolheu o empresário Abel Incada como seu candidato às eleições Presidenciais de 16 de Março. AAS


EXCELENTE NOTÍCIA: União Africana apoia Angola para lugar no Conselho de Segurança da ONU


O Conselho Executivo da União Africana (UA) adotou a candidatura de Angola a um dos lugares de membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. AAS

O Estado da droga
















ELEIÇÕES(?) 2014: União Africana atenta à Guiné-Bissau


RFI: O diplomata são-tomense Ovídeo Pequeno, representante da União Africana na Guiné-Bissau, presente em Addis Abeba nos trabalhos preparatórios da cimeira da organização continental, passou a pente fino os dossiers do momento entre os quais os problemas do processo de recenseamento e a preparação das eleições de 16 de Março. Mais AQUI

Faleceu no Brasil o estudante guineense Lester Raul Indeque, vitima de doença. Que a sua alma descanse em paz. AAS

CABO VERDE: Inauguração da Casa das Comunidades Africanas Imigradas


A Plataforma das Comunidades Africanas Imigradas Residentes em Cabo Verde e a Unidade de Coordenação da Imigração inaugura no próximo dia 2 de fevereiro na cidade da Praia, Cabo Verde, a Casa das Comunidades Africanas Imigradas com a honrada presença do Primeiro-Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves.

Tony Parker Danso,
Presidente




PLATAFORMA DAS COMUNIDADES AFRICANAS RESIDENTES EM CABO VERDE

O que é a PCA?

A Plataforma das Comunidades Africanas (PCA) é pessoa colectiva de direito privado, dotada de personalidade jurídica e de autonomia financeira e patrimonial.

É constituída nos termos da legislação vigente em Cabo Verde, e por tempo indeterminado, a Plataforma das comunidades Africanas Residentes em Cabo Verde, abreviadamente designado por PCA.
Qual é a sua missão?

A PCA é uma ONG de carácter cívica e social, sem fins lucrativos, destinada a promover a solidariedade entre e/ou a favor dos imigrantes e cidadãos estrangeiros africanos residentes em Cabo Verde.
Qual é a sua estrutura?

São Órgãos da Plataforma:

Assembleia-geral: é o órgão máximo da Plataforma e é constituído por todos os membros em pleno gozo dos seus direitos associativos, devendo ser dirigido por uma mesa, por ela eleita e composta por um Presidente, um Vice-Presidente e um Secretário.
Comité Executivo: é o órgão que dirige, administra e executa o programa de actividade da Plataforma e é composto por um Presidente; um Vice-presidente, um Secretário; um Secretário assistente e um Tesoureiro.
Conselho Fiscal: é o órgão encarregado de fiscalizar a actividade da Plataforma e é composto por um presidente, um vice-presidente e um secretário, eleitos pela Assembleia-geral, de entre os sócios ordinários.

Qual é a sua sede?

A PCA tem a sua sede na cidade da Praia e exerce a sua acção em todo o território nacional podendo abrir delegações ou outras representações no referido espaço.

Qual é o seu objectivo?

A PCA tem por objectivo fundamental, zelar pela integração plena do imigrante e cidadão africano residente em Cabo verde, bem como pela dinamização e o fomento de actividades de natureza cívica, social e cultural.

Como adquirir a qualidade de membro?

Adquirem a qualidade de membro, todas as comunidades estrangeiras africanas em Cabo Verde, e nos termos dos presentes estatutos, que assumam os objectivos da Plataforma e cumpram as restantes disposições estatutárias e regulamentares.

Quais são as categorias dos membros? A PCA tem as seguintes categorias de membros:

Fundadores - são membros fundadores todas as associações ou outras formas de representações dos imigrantes ou comunidades africanas residentes, que tenham contribuído para a criação, instalação e desenvolvimento desta Plataforma, e que tenha participado no acto constitutivo.

Ordinários - são membros ordinários, alem dos fundadores, todas as associações ou outras formas de representações dos emigrantes ou comunidades estrangeiras africanas residentes que quiserem participar nas acções levadas a cabo pela Plataforma e forem admitidas nos termos estabelecidos pelo presente estatuto.

Honorários - são membros honorários associações ou instituições que tenham prestado relevantes serviços à Plataforma ou com ela cooperado no estudo e tratamento de questões compreendidas no seu objecto social.

Beneméritos - São membros beneméritos, indivíduos que tenham contribuído com um donativo que a Assembleia-geral considere relevante e digno de tal distinção.

Como se pode perder a qualidade de membro?

Perde a qualidade de membro:

A associação ou representação que deixar de preencher os requisitos de admissão referidos no estatuto.
A que pratique actos contrários aos princípios da Plataforma ou susceptíveis de afectar gravemente o seu prestígio e que por consequência hajam sido expulsos.
A que não tenha pago as quotas durante mais de três (3) meses seguidos e seis meses interpolados sem motivos justificados.
A que se autodemitir.
O membro excluído perde os seus direitos assim como ao reembolso do houver pago.
A readmissão importa a assunção plena dos direitos e deveres do membro.
Quotização e Receitas:
Compete à Assembleia-geral, sob proposta do Comité Executivo, determinar o valor das jóias e das quotas a pagar pelas organizações associadas.
OBS: Na prossecução dos seus objectivos a Plataforma regerá pelos estatutos e os respetivos regulamentos.

Para mais informações:
Plataforma das Comunidades Africanas
Residentes em Cabo Verde
Sede: Avenida Cidade de Lisboa 1º Andar, Junto Agro Centro, Praia
Email: pc.africa@hotmail.com
Contacto Telefónico: 9998005

PASSAPORTES-NEGÓCIO DA CHINA: Centenas de chineses obtêm residência de Macau através de países africanos


FONTE: JORNAL TRIBUNA DE MACAU
Por: RAQUEL CARVALHO*



São muitos os cidadãos chineses que sonham obter o bilhete de residente da RAEM. Em alguns casos, esse desejo está à distância de milhares de patacas e cerca de um ano de espera pela aprovação do pedido. Entre 2008 e a primeira metade de 2013, cerca de 600 cidadãos do Continente adquiriram residência em Macau na categoria de quadros dirigentes e técnicos qualificados ou através de investimento. Para isso, compraram títulos de residência em nações africanas, como a Gâmbia ou a Guiné-Bissau, sem nunca lá terem ido. O negócio prolifera em Macau e além-fronteiras.

Não está na lei, mas é um dos requisitos impostos pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento em Macau (IPIM). Os portadores de passaporte chinês, que queiram candidatar-se à residência em Macau na categoria de quadros dirigentes e técnicos qualificados ou através de investimento, têm de apresentar um atestado de residência num segundo país. A solução para muitos passa por comprar um título de residência normalmente de países africanos. Basta ir a uma agência de imigração em Macau ou no Continente e estar disposto a desembolsar mais de 20 mil patacas.

Nos últimos cinco anos, ou seja, entre 2008 e o primeiro semestre de 2013, o IPIM recebeu 467 pedidos de residência de cidadãos chineses na qualidade de quadros dirigentes e técnicos especializados, envolvendo 809 pessoas (o requerente e respectivo agregado familiar). Entre eles, 299 pedidos foram aprovados, o que significa que 529 cidadãos adquiriram o título de residente não permanente da RAEM.

Já no âmbito dos investimentos relevantes, durante o mesmo período de tempo, foram apresentados 176 pedidos, o que abrangeu 396 pessoas. De acordo com dados fornecidos pelo IPIM, 38 pedidos receberam luz verde, correspondendo a 78 pessoas. Os países apresentados como segunda residência “são principalmente a Guiné Bissau, a Gâmbia, o Nauru, a Uganda e a República do Níger”, descreve o IPIM. Duas cidadãs do Continente contaram ao JTM os caminhos burocráticos percorridos e o dinheiro gasto até terem nas mãos o bilhete de residente não permanente de Macau.

Ellen (nome fictício) está há cerca de cinco anos a trabalhar como funcionária pública no território. Segundo conta, exercer funções semelhantes no Continente não é uma ambição. Os planos de ficar no território obrigaram-na, por isso, a ponderar alternativas.



“Arranjei trabalho e comecei a pensar no que poderia fazer. Alguns amigos falaram-me que daria para concorrer à residência num segundo país”. Foi aí que ouviu falar de agências de imigração, especialmente concentradas na zona do NAPE, que vendem de um modo mais ou menos discreto títulos de residência, principalmente em países africanos.

A jurista de profissão entregaria ao IPIM o pedido de fixação de residência em Macau, como técnica especializada, em Outubro de 2009. O processo seria aprovado no ano seguinte. Mas antes disso, Ellen tornou-se residente da Guiné-Bissau. “Comprei a residência na Guiné-Bissau aqui em Macau. Não foi uma coisa demorada”, descreve.

Como se pode ler nos requisitos definidos pelo IPIM, o “atestado de residência de outros países” é um dos documentos exigidos aos portadores de passaporte da China que estejam interessados em concorrer à residência em Macau, seja através da categoria de quadros dirigentes e técnicos especializados ou por investimento.

Ellen explica que não teve opção quanto ao, agora, seu segundo país. “Quando procurei só me falaram na Guiné-Bissau”. Pagou 25 mil patacas pelo título de residente naquela nação africana. Segundo relata, o processo foi simples e sem exigências de maior. À agência de imigração foi apenas necessário “pagar, dar algumas fotografias, o passaporte e esperar cerca de duas semanas”. Já a análise do processo pelo IPIM demorou “mais ou menos um ano”.

Também Sophie (nome fictício) é hoje em dia residente de um país sobre o qual pouco sabe e nada viu. “Fui a várias agências para perguntar os preços, regateei um bocadinho e optei pela mais barata de todas. Não tive alternativa quanto ao país. Foi a única hipótese. Falaram-me apenas na Gâmbia”, recorda.
Obter a residência naquele país foi, ao contrário do que se poderia pensar, um processo pouco burocrático. “Se não estou em erro, tive que dar o meu passaporte e duas fotos… Foi muito simples, mas bastante caro. Paguei 30 mil dólares de Hong Kong”. O título de residente da Gâmbia chegaria em pouco tempo: cerca de dez dias úteis. “Fui lá buscá-lo e depois entreguei-o ao IPIM”.

A Gâmbia serve, ironicamente, como uma ponte para Macau. Mas este é um negócio, segundo acredita, sem contrapartidas. Sophie não é obrigada a ir uma única vez ao seu novo país de residência. “Na realidade, também não percebo. Tanto quanto eu sei [este título] não implica nada. Comprei e ponto final. Comprei a residência”.

Países recônditos a preços variados

Entra com dinheiro e sai com residência num país inesperado. Pode parecer exagerado, mas é mais ou menos assim que as agências de imigração funcionam. Uma das várias agências do género, localizadas na sua maioria no NAPE, anuncia em caracteres garrafais “Gâmbia”. Não, não é um ‘pack’ de viagens para uma estadia num país exótico. Ali vendem-se títulos de residência.



De acordo com a funcionária da agência, que pede para não ser identificada, o negócio concentra-se neste momento apenas naquele pequeno país da África Ocidental, entalado entre fronteiras com o Senegal.

Como é que tal contacto nasceu? A agente evoca “segredo do negócio” para se esquivar a uma resposta concreta, esclarecendo apenas que o vínculo com a Gâmbia existe desde 2002, embora a agência tenha sido criada em 1999.

Segundo relata, a maior parte dos clientes são “quadros qualificados que querem vir para Macau e Hong Kong”. Tudo porque “é mais fácil”, resume. “Por investimento é, hoje em dia, complicado. É necessário ter uma grande empresa e o Governo fiscaliza a situação, antes algumas entregavam impostos falsos e coisas assim”.

Além disso, o processo de aquisição de residência em Macau é muito demorado neste caso. “Depois de conseguirem abrir uma empresa com dimensão, ainda vão para a lista de espera de residentes não permanentes. Em Hong Kong, as dificuldades são ainda maiores. É preciso ter um grande montante de dinheiro”.

Quantas pessoas interessadas recebe por mês, recusa-se a revelar. “Não posso dizer números”. No entanto, antigamente, quando era possível fazer pedidos de fixação de residência por aquisição de bens imóveis, o negócio era mais proveitoso, realça. “Tínhamos contactos com algumas agências imobiliárias que sabem como isto funciona e que nos apresentavam clientes”.

Para obter a residência na Gâmbia, é apenas necessário apresentar o passaporte e fotografias tipo passe, confirma a agente. Os interessados têm de esperar apenas “cerca de 15 dias”, adiciona, justificando a facilidade com a “vontade do Governo da Gâmbia” de atribuir semelhante documento.

Já o preço é “variável”, responde a funcionária da agência, sem no entanto explicar os condicionantes nem os valores envolvidos. “O preço não é bem exacto. Pode ser um bocadinho mais ou um bocadinho menos. Posso dizer apenas que serão necessárias mais de 20 mil patacas”.

Mais à frente, também no NAPE, salta à vista o anúncio exterior e a dimensão da agência “Weng Li Immigration”. Há três balcões de atendimento. Quando explicamos o assunto, indicam-nos um deles. Na parede há molduras com cartas de intenções e acordos assinados com países praticamente desconhecidos, como a República do Kiritabi ou a República de Nauru.

A simpatia dos funcionários é rapidamente substituída por silêncio quando ouvem a palavra “jornalista”. Não confirmam nem desmentem que ali se vendem títulos de residência. Recusam-se a prestar quaisquer detalhes sobre o processo.

Tentámos, no entanto, dias mais tarde, falar por telefone com a mesma funcionária a quem fizemos a maior parte das perguntas pessoalmente. O discurso perante uma suposta pessoa interessada saiu fluente, ao contrário do que aconteceu quando a interpelámos enquanto repórteres.

Começou logo por explicar que uma pessoa que quer pedir a residência em Macau através da categoria de trabalhador qualificado, tem de ganhar pelo menos 35 mil patacas, tem de ter completado um curso no ensino superior e possuir um contrato de emprego de longo prazo. Além disso, deve trabalhar numa empresa local “há cinco ou seis anos”, mostrar a licença dessa empresa, o imposto profissional e uma carta de recomendação. Todos estes documentos devem ser apresentados ao IPIM.

20140129-1012c“O processo demora entre 15 dias a um mês”, explicitou a mesma funcionária. Tanto para a Gâmbia como para a Guiné-Bissau o preço é 70 mil patacas. No entanto, a agente aconselha a Gâmbia. “É melhor, porque a Guiné-Bissau só dá direito a 10 anos”. Descansando o potencial interessado do outro lado da linha telefónica, a agente assegura que “há muitos qualificados à procura”.

Numa outra agência, cuja funcionária aceita falar pessoalmente mas sob anonimato, o elo de ligação é também a Gâmbia. “Só temos a Gâmbia. Outras agências têm outros países”. Quando questionada sobre os detalhes do processo, a agente invoca “segredo comercial”.

Também ela confirma que o negócio perdeu fulgor depois de 2007, altura em que deixou de ser possível adquirir residência por compra de imóveis. Mas embora a procura tenha descido, “há quadros qualificados que querem emigrar para Macau e Hong Kong”. Quantas pessoas é que procuram a agência mensalmente também não revela.

As transacções com Macau e Hong Kong em vista também acontecem além-fronteiras. Uma funcionária da agência “Aoye Immigration”, de Cantão, explicou por telefone que neste momento só vende residências da Guiné-Bissau.

“Custa 68 mil renminbis por pessoa e demora duas semanas para ter a autorização de residência”, explicou a mulher de apelido Su, acrescentando que é apenas necessário apresentar “o passaporte, o bilhete de identidade chinês e seis fotos”.

Já o manager da agência “Kecheng Immigration” na mesma cidade esclarece que estão a receber apenas interessados em concorrer à residência de Macau através de investimento. “Agora só temos Gâmbia. Demora 15 dias e custa 40 mil renminbis”, descreve. “O volume de pessoas varia, há algumas famílias a pedirem, mas depende muito das alturas,” afirma o homem de apelido Liu.

Em Shenzhen, Alin Pen, funcionária da agência “Ek Immigration” diz que a Gâmbia é a única opção disponível. “É mais seguro, mais estável… é melhor do que, por exemplo, a Guiné Bissau”, argumenta. Segundo explica, o processo demora cerca de 15 dias até estar concluído, em troca o indivíduo interessado terá de pagar cerca de 100 mil renminbis. Se o pedido for feito em família, o negócio poderá ficar mais em conta. “Custa cerca de 120 mil,” aponta a funcionária.

Aqui mesmo ao lado, um agente em Zhuhai de apelido Liu, afirma que tem duas opções disponíveis. “Podemos fazer na Gâmbia e na Guiné-Bissau, mas os meus clientes praticamente só fazem na Gâmbia. É mais de confiança”. Em relação aos preços apresentados por agências de Cantão e de Shenzhen, o montante exigido é menor. “Custa 35 mil renminbis. O cliente paga primeiro 70 por cento do dinheiro e uma semana depois dá o resto”.

Quanto à afluência do negócio, o homem recusa traçar um quadro concreto. “Há alguns clientes. Posso dizer que me procuram mais pessoas interessadas em Macau do que em Hong Kong,” afirma.

Por linhas tortas

Hoje em dia, Ellen e Sophie já são residentes não permanentes do território, meio caminho andado para se candidatarem à residência permanente. Ambas olham para os trâmites pelos quais foram obrigadas a passar como incompreensíveis.

“Não sei exactamente qual foi a intenção do Governo ao escrever esta regra, como não sei, não sei se estou na posição de comentar… talvez queira controlar o fluxo de imigrantes do Continente para Macau, mas não sei se isso é uma medida eficiente, porque comprar – se formos bem a ver – não é muito impeditivo para a maioria das pessoas,” afirma Sophie.

Apesar de ter questionado a razão pela qual tinha de adquirir residência noutro país, nunca recebeu uma resposta concreta do IPIM. “Já questionei porque é que temos que passar por tudo isto…A única resposta que me deram foi: ‘a senhora quer ou não a residência? Se quer, quer… se não, então pode não fazer’”.

Segundo o JTM teve conhecimento, para além de existirem casos no sector privado, são vários os funcionários públicos a serem recrutados através deste mecanismo. “Considero que é ridículo o facto de trabalhamos aqui em Macau, estarmos a prestar um serviço à RAEM, e não termos os mesmos direitos como os outros cidadãos de Macau têm. Para nós, é um bocadinho injusto,” afirma Sophie.

“Por um lado, o Governo de Macau diz sempre que Macau precisa de mão-de-obra qualificada, mas por outro coloca estes entraves à mão-de-obra qualificada que eles próprios importam,” acrescenta.

Ellen partilha da mesma opinião. “A origem da regra em Macau e em Hong Kong é controlar a entrada das pessoas, é muito óbvio. Mas acho que criar esta situação é injusta, porque as pessoas vêm de outros países não precisam de passar por isto e nós que somos da China, do mesmo país, com capacidade e desejo de residir aqui, temos que pedir isso…”.

Os argumentos – cada vez mais sonoros na RAEM – de que quem vem de fora rouba lugares aos cidadãos locais não têm fundamento, na opinião de Sophie. “A taxa de desemprego em Macau quase não existe. E não há concorrência em Macau. Quase toda a gente tem um tacho e aufere um salário digno… e muitos nem mostram uma vontade verdadeira de trabalhar”.

Ao mesmo tempo, acrescenta, “a importação de mão-de-obra qualificada ajuda a aumentar a concorrência aqui em Macau, que é imprescindível para o desenvolvimento a longo prazo da RAEM. Talvez a medida de exigir um documento especial de residência num outro país vise consolar um bocadinho a população, mas não sei se é convincente”.

De igual modo, Ellen, ela própria jurista de profissão, considera que a medida está longe de ser razoável, mas tem a certeza que os cidadãos do Continente não vão contestá-la. “Que eu saiba a lei não diz que é preciso seguir este esquema. Mas esta é uma questão que está longe do nosso alcance, por isso as pessoas acabam por deixar de procurar um meio mais razoável”.

O regulamento administrativo nº3/2005 que estipula o regime de fixação de residência temporária de investidores, quadros dirigentes e técnicos especializados confere ao Chefe do Executivo competências discricionárias, o que significa que na avaliação dos processos podem ser considerados critérios que não estão explicitados na lei.

Além disso, o mesmo regulamento refere que “o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau pode solicitar a qualquer requerente, independentemente dos fundamentos do pedido, a submissão de quaisquer outros documentos que se mostrem razoavelmente úteis à apreciação do mesmo”.

No âmbito do processo para quadros dirigentes e técnicos especializados, o IPIM pede, entre outros possíveis documentos, o passaporte ou bilhete de identidade de Hong Kong do requerente, o atestado de residência de outros países (apenas aos cidadãos de nacionalidade chinesa), o registo comercial da actual ou futura entidade empregadora, os comprovativos do vínculo contratual, o certificado de habilitações académicas e outros documentos sobre a qualificação ou formação profissional do candidato.

Já na esfera dos projectos de investimento, são exigidos à partida o passaporte ou bilhete de identidade de Hong Kong, assim como o atestado de residência de outros países e os documentos comprovativos de projectos de investimento/investimentos relevantes.

Em Hong Kong está também em vigor um mecanismo semelhante. Através do esquema de entrada por investimento, desde 2003 até ao final de Setembro do ano passado, ou seja, em cerca de 10 anos, adquiriram residência na RAEHK 19.527 pessoas, das quais 17.052 são cidadãos chineses com residência permanente no estrangeiro, nomeadamente na Gâmbia e na Guiné-Bissau.

Mais direitos

Ellen confessa que já pensou em conhecer a Guiné-Bissau, país que, no fundo, lhe permitiu adquirir outros direitos em Macau. “Ainda para mais agora até tenho amigos de lá”, afirma. Sophie também confessa que “gostava de saber um pouco mais” da Gâmbia, um país ao qual tem um vínculo que se resume a um papel.

Nenhuma delas tenciona, no entanto, abandonar Macau nos anos mais próximos. Macau foi “uma daquelas surpresas da vida. É preciso planear, ter um objectivo… Mas, às vezes, a vida torna-se como que imprevisível”, afirma Ellen. Uma bolsa de estudo trouxe-a até ao Sul da China. Do território sabia pouco. Quase nada.

“Só me lembrava de ter ouvido falar de Macau em 1999, com a transição de soberania, sabia que esta região, esta cidade existia, mas não sabia mais que isso. Nunca tinha pensado vir cá… naquela altura pensava nos Estados Unidos, na Austrália”, recorda.

Pisaria o território, pela primeira vez, em 2006. As surpresas não tardaram. “Estava junto ao Kiang Wu e lembro-me de pedir informações a pessoas na rua. Algumas não percebiam o que eu dizia. Fiquei muito admirada. Na China há um sítio onde as pessoas não percebem mandarim?”, questionou. O cantonês começou a entrar no ouvido dois meses depois de ter chegado. A fluência na oralidade chegou mais tarde.

Já Sophie, embora tenha vindo de longe, sentiu-se rapidamente como peixe na água. “Estou a trabalhar naquilo que aprendi na universidade, o que nem todos os meus colegas estão a fazer… E depois – como toda a agente sabe – aqui em Macau, a vida é muito fácil. Portanto, acho que foi uma boa opção”.

Tentar a residência de Macau, ao invés de ter de carregar um “bluecard” durante anos consecutivos foi um passo que Sophie considerou natural. “Decidi tentar a residência, porque estou em Macau e, por exemplo, sempre que tinha que pedir visto para Hong Kong era uma complicação. Ao ter a residência em Macau não preciso de pedir visto, o que me facilita imenso a minha vida. Em segundo lugar, realmente para quem trabalhe aqui em Macau – e ainda por cima no Governo – não faz sentido que não tenha residência”, conclui.

*com Viviana Chan

NOTA: Ditadura do Consenso publicou (VER AQUI) várias denúncias, com provas. O secretário de Estado das Comunidades Idelfrides desmentiu sempre VER VÍDEO NO PARLAMENTO. Agora, a investigação foi feita em Macau. O que dirá o Didi desta vez? AAS

ÚLTIMA HORA: ELEIÇÕES(?) 2014: PRS está neste momento reunido para a escolha de um candidato para as presidenciais de 16 de Março. Concorrem às primárias Abel Encada, Jorge Malu, Sori Djalo e Baltazar Cardoso. AAS

ELEIÇÕES(?) 2014: Koumba Yala "garante" vitória de Nuno Nabiam na primeira volta


O ex-Presidente da República, Koumba Yala, fundador do Parido da Renovação Social (PRS) afirmou que o candidato presidencial que apoia, Nuno Gomes Nabiam, vai vencer logo na primeira volta as eleições previstas para 16 de Março. Dirigindo-se a um grupo do Círculo Eleitoral 29, no Bairro Militar, arredores de Bissau, Koumba Yala considerou que o seu candidato não tem nenhum adversário político que o possa impedir de vencer as eleições de 16 de Março logo na primeira volta.

«Nestas eleições vamos trabalhar para que não haja segunda volta, porque Nuno Nabian e eu não temos nenhum adversário neste arranque» referiu Koumba Yala perante centenas de apoiantes num dos bairros mais populosos da capital guineense. Num tom humorístico, o ex-líder do PRS garantiu que a sua campanha eleitoral com vista às Presidenciais já teve início, por isso advertiu os seus adversários políticos a fazerem o mesmo. Na ocasião, Yala apelou ao diálogo entre os guineenses na perspectiva de «ultrapassar as dificuldades que a Guiné-Bissau enfrenta».

«Devemos, através de diálogo, estudar soluções para conter certas dificuldades que o nosso país enfrenta, pois não existe nenhum país no mundo onde haja paraíso ou onde as coisas corram correctamente, quanto mais um país como nosso que não chegou ainda aos 100 anos de independência» referiu Koumba Yala, apoiando o candidato as Nuno Gomes Nabian. Na opinião de Koumba Yala «só com a paz e estabilidade é que os parceiros internacionais e países amigos podem ajudar a Guiné-Bissau a sair das dificuldades tremendas que enfrenta nos últimos tempos». PNN

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