quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Nova Iorque, meu amor


Era óbvio para todos - idiotas à parte, claro - que a 'transição' imposta à maioria esmagadora dos guineenses, pela força das armas, e dos homens, seria uma questão de tempo - esse grande amigo da verdade e, neste caso, dos verdadeiros democratas. Agora, tudo (ou o melhor) acontece em Nova Iorque. O secretário-executivo da CPLP avisou já: "Não há credencial para os representantes do governo de transição. Quem representará a Guiné-Bissau na 67ª Assembleia-Geral da ONU são as autoridades legítimas".

Posto isto - que ditadura do consenso anunciou hoje em primeira mão - é perfeitamente legal perguntar: e agora, Manuel? O que fazer, Faustino? Para já, há que tirar consequências do disparate diplomático que foi a ida a Nova Iorque. E o Russel rabinho-de-cavalo, da embaixada norte-americana em Dakar, o que lhe apraz dizer? E a Nigéria, o Senegal (que nos quer ver constantemente na merda), o Burkina e outros golpistas mais? Se desse ao menos para ganharem vergonha na cara...

Está claro como água que o pessoal da transição foi apaparicado para ir aos states... E, uma vez chegados à terra do Tio Sam... deu-se inicio ao tadja-panha. Instalaram-se (cerca de 27 pessoas) no hotel Millenium, a dois passos da sede da ONU, onde pagam um diária de 300 USD por cabeça... Há um ditado guineense que gosto particularmente e de que me lembrei agora, não disfarçando um sorriso maroto: "Si garandi tchoma mininu pa brinka i pabia i misti nam kontal bardadi".

Uma solução seria, na minha forma de ver, a maks viável: a de o PAIGC (partido que ganhou as eleições legislativas) ser chamado para formar um Governo - o seu, e preparar as eleições. Todo o cidadão guineense maior de idade deverá recensear-se, ninguém deverá ficar de fora. Depois, vamos às urnas! AAS

Cabo Verde: Dois cidadãos guineenses estão desaparecidos



- Dois cidadãos de nacionalidade guineenses estão dados como desaparecidos depois de terem sido arrastados por uma corrente na Boavista, em Cabo Verde, em virtude do mau tempo. O mau estado do mar tem dificultado as operações de busca e salvamento, que reiniciou às 14hrs (hora local). Um outro guineense conseguiu escapar e regressar a terra firme;

- Igualmente desparecida, desta feita em Luanda, Angola, está a jornalista Milocas Pereira, que também é docente numa universidade na capital angolana. Há mais de uma semana que não atende o telefone e nem é vista em público;

- A Guiné-Bissau não apresentou os números quanto à mortalidade materno-infantil, para que uma equipa da ONU, mandatada pelo Secretário-Geral Ban Ki-Moon. Mas, ainda assim, foi colocada na cauda da tabela, juntamente com Angola e Moçambique - os três únicos lusófonos abaixo da média. Números de 2010 situavam a mortalidade materna na Guiné-Bissau em 790 óbitos, enquanto que a infantil era de 150 mortes por mil nascimentos. Duas tragédias, portanto. AAS

EXCLUSIVO DC: Quem está na lista para discursar, amanhã, perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas é o Presidente da República interino, Raimundo Pereira. AAS

Cajú? Vai mal, obrigado...


No período compreendido entre 29 de maio a 15 de setembro, foram exportadas 90.002,757 toneladas de castanha de cajú. Na cabeça da lista estão as empresas COGEGUI (15.603,370 ton.), a CHETA-BISSAU (12.124,649 ton), a SOCOBIS com 11.636,803 toneladas, a GOMES&GOMES (6.770,950 ton.), o Grupo MALAIKA com 5.249,982 toneladas, a SK-BISSAU (3.942,123 ton), a Darame Trading com 2.864,509 toneladas. No total, trinta e sete empresas estão empenhadas na campanha, tendo feito entrar nas contas do FUNPI cerca de 5 mil milhões de Fcfa (cerca de 10 milhões de dólares norte-americanos).

Recorde-se que o 'governo de transição' pediu 'emprestado' à CCIAS cerca de 2.5 mil milhões de Fcfa, com a promessa de que será devolvido... A Guiné-Bissau exportou, no ano passado, 170 mil toneladas de castanha, um número que ficará longe de acontecer nesta campanha. AAS

Toranja di Bissau


"Caro Aly,

Penso que está na altura de um "basta" de fruta podre na Guiné-Bissau. É uma "ladroagem", aos olhos de todos nós, o serviço IRPO (internet de roubalheira para otários) que nós temos em Bissau...mas ninguém faz nada...muito menos os serviços competentes.

Queres internet? Faz um contrato de um ano...paga a mensalidade adiantada...e depois fica à espera que os bites, os bytes, os megas, os gigas e a PKP te visitem em tua casa ou no teu escritório...mas pega na cama, na almofada, num copo de água e de preferência numa gaja boa que te consiga manter os serviços sexuais durante 30 dias seguidos...

Com um pouco de sorte, vais poder tirar durante esses 30 dias, a primeira página do livro do Kama Sutra...

O serviço de internet da empresa laranja de Bissau é uma vergonha, um abuso e um roubo descarado para qualquer cidadão deste país.

Contactamos os serviços técnicos e dizem:

- aqui do nosso lado não detectamos nada caro cliente.
- deve de ser do seu computador (do meu, dos outros 99,9% dos clientes e da PKP).
- a culpa é do Manel que estava a cavar batatas e cortou a fibra óptica.
- sim sim caro cliente, de facto não temos o serviço a funcionar há 30 dias, mas tem de pagar a factura.
- caro cliente também não exagere! em 24 horas teve 2 minutos de serviço.
- a culpa é do Senegal de Conakry, do Mali...enfim do mundo inteiro menos da laranja de Bissau.

Há anos que têm uma desculpa para tudo, mas, o mais engraçado é que os deixam continuar a fazer o que querem e lhes apetece.

Agradeço, em meu nome e em nome de 99,9% dos clientes do serviço IRPO da laranja de Bissau, que a quem de direito neste país ponha termo a este abuso.

PRECISAMOS DE TECNOLOGIA QUE FUNCIONE E NÃO DE SERVIÇOS QUE NOS LEVEM O NOSSO DINHEIRO, claro que a vantagem é de comer a gaja boa durante os 30 dias... ao final de um ano já destes 365 cacetadas, a gaja já nem pode sentir o teu cheiro....e com um bocado de sorte já conseguis-te sacar 12 páginas do Kama Sutra, ou seja ficas-te pelo índice e pelos primeiros dois preliminares!

Junto envio o que penso que deveria de ser o novo logo dessa nossa lanranjinha podre de Bissau, que nos dá tantos momentos de alegria e prazer.

P.S.

Não tenho net...mas tenho a gaja à espera...e já agora este email foi enviado através da amarelinha que apesar de lenta e bastante dispendiosa, NUNCA FALHA!

Boa noite,
S.F.
"

Kampu na firbi na NY



Delegacao do Governo de "Transição" sem acesso às Nações Unidad e muito menos ao salão dos trabalhos - "no badges were issued" - a nenhum dos elementos da delegação. Os representantes do Governo legítimo "deposto" tiveram uma agenda bem cheia ontem, que incluiu um encontro com a "Boss" da União Africana a Sra. Zuma.

O Hotel Millennium, a dois passos do edíficio das Nações Unidas, aloja as 20 e tal pessoas do 'Governo de Transicao' por perto de USD 300/noite. Espera-se que agradeçam os "tax payers" da Guine-Bissau, pela amabilidade em pagar-lhes umas férias de passeio em Nova Iorque. AAS

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PAIGC: Braima Camará destaca-se como candidato à liderança do partido


A eventual candidatura de Braima Camará, “Bá Kekuto”, à presidência do PAIGC, no congresso de Janeiro de 2013, é nitidamente a que mais apoios desperta entre os militantes do partido e base de apoio eleitoral. Os apoios a Braima Camará são em larga escala determinados pela sua notoriedade social e estatuto de empresário bem sucedido, mas também pelas suas ideias políticas.

Em privado admite, de facto, vir a candidatar-se mas assegura que não o fará se Carlos Gomes Jr se apresentar ao congresso, também como candidato. No passado apontado como rival interno de Carlos Gomes Jr, Braima Camará aliou-se posteriormente ao mesmo, tendo sido um dos principais apoiantes da sua recente candidatura presidencial. Justifica a atitude de não se candidatar caso Carlos Gomes se apresente no congresso, invocando razões de lealdade pessoal e política. Carlos Gomes Jr já anunciou formalmente a sua candidatura à presidência do partido, mas há dúvidas de que estejam garantidas suficientes condições de segurança para viajar para Bissau; a sua ausência física anularia a candidatura. AM

Atitude “voraz” das autoridades em realizar fundos


1 . As advertências públicas das novas autoridades guineenses de que estariam a encarar a eventualidade de renegociar/rever o contrato com a Bauxite Angola, foram interpretadas como expediente de pressão destinado a levar a empresa e/ou o Governo angolano a “meter dinheiro”, sob forma de adiantamentos ou compensações.

Numa viagem à data efectuada a Bisssau, o PCA da Bauxite Angola, Bernardo de Campos, instruído para tal pelas autoridades angolanas, não só declinou os supostos intentos dos governantes guineenses em termos de “encaixe de tesouraria”, como não reconheceu as razões expostas por estas para renegociar o contrato.

A atitude das novas autoridades guineenses em relação à Bauxite Angola é vista no contexto de um “forcing” que vêm fazendo no sentido de tirar proveito de activos públicos com o fim de obter ganhos destinados a aliviar a aguda penúria financeira do Estado; há rumores de que também agem movidas por interesses particulares.

No seguimento da recusa da Bauxite Angola de atender às pretensões guineenses, apresentadas pelo ministro da Energia, Daniel Gomes, foram referenciadas iniciativas destinadas a suscitar o interesse de outros investidores estrangeiros no projecto do porto de Buba – em que se integra a exploração de bauxite e outros minérios.

O espírito de tais iniciativas (as conhecidas não foram atendidas), terá igualmente sido o de realizar fundos – imediatamente ou a curto prazo. Os planos das novas autoridades para alienar participações do Estado em empresas como a Guiné Telecom ou Petroguin, também obedecem ao intento de gerar receitas, sob pressão da actual situação de aperto.

2 . As autoridades guineenses invocaram o carácter “irrisório” da participação da Guiné-Bissau no capital da Bauxite Angola para justificar a renegociação do contrato que lhe conferiu direitos de exploração das reservas de bauxite do Boé (110 M t), assim como do futuro porto de Buba e respectivas vias de acesso – rodo e ferroviárias.

A maioria do capital da Bauxite Angola, 70%, pertence a uma entidade angolana indefinida, supostamente agrupando a Sonangol e o BAI; 20% a uma empresa apresentada como ligada a personalidades angolanas; 10% a investidores públicos e privados guineenses, não identificados.

As reservas de bauxite do Boé constituem um prolongamento de jazigos do mesmo minério localizados na vizinha Rep da Guiné, estes de grandeza bastante superior. De acordo com estimativas credíveis, o potencial das reservas de bauxite identificadas na região eleva-se a ¼ do total mundial.

O futuro porto de Buba apresenta condições naturais consideradas excepcionais para escoamento da produção de minérios da região – Mali e Burkina Faso incluídos – mas também para o tráfego de mercadorias gerais para um vasto hinterland. O investimento global previsto, incluindo acessos, é de USD 1 Bilião.

A Bauxite Angola tem entendimentos com interesses empresariais do Brasil e da China tendo em vista a participação dos mesmos nas componentes mineiras e portuária do projecto. A Chinalco está interessada em participar no projecto mineiro e a Odebrecht na construção do porto e vias de acesso.

3 . Ascende a USD 20 milhões o montante das contribuições mensais de países da CEDEAO destinadas a compensar a magreza das receitas gerais do Estado desde o golpe de 12.Abr. A Nigéria é o principal contribuinte (também o que mais influências políticas exerce).

A economia da Guiné-Bissau é descrita como “parada” num relatório sobre a crise no país. A exportação de cajú, principal fonte de receita, caíu em 2012 para ca de metade, em parte devido a razões decorrentes do golpe de Estado. Parte substancial da produção foi clandestinamente vendida pelos produtores no Senegal.

As ajudas externas que até ao golpe de Estado financiavam 80% do orçamento estão suspensas. As receitas fiscais e aduaneiras do Estado, escassas, são constantemente “desviadas” para fins como o de atender a necessidades internas das FA que os chefes militares consideram urgentes. A aparente flexibilidade que a CEDEAO ultimamente vem denotando tendo em vista uma partilha do controlo do processo de transição com outros agrupamentos e organizações, é reflexo da necessidade de minorar o seu esforço financeiro e afastar ameaças de convulsões sociais associadas ao estado do país. AM

GREVES: O sector da Justiça ainda nem acabou a greve e sindicato já fala na entrega de outro pré-aviso...o dinheiro do FUNPI acabou - e agora? O sector da Educação está parado por 2 meses. Os funcionários das Finanças (alfândegas, Contribuições e Impostos) também estão em greve. Uma coisa é certa: os três últimos meses de 2012 prometem... AAS

ÚLTIMA HORA: Era uma vez em Nova Iorque



O Presidente Interino da República da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, o Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Júnior e o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Djalo Pires já se encontram na Plenária da 67ª sessão Assembleia-Geral das Nações Unidas, a assistir às sessões de trabalho. Estão igualmente a ter lugar reuniões bilaterais e multilaterais de concertação... AAS

XI Sessão Extraordinária do Conselho de Ministros da CPLP



O Conselho de Ministros da CPLP reuniu na sua XI Sessão Extraordinária, na segunda-feira, 24 de Setembro, em Nova Iorque, EUA. No encontro, o Conselho de Ministros discutiu a situação política da Guiné-Bissau, após o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Presidente pro tempore do CM CPLP, ter feito o enquadramento, com vista a perspectivar formas de actuação futura que ajudem a encontrar soluções inclusivas e duradouras, que permitam ao país a estabilidade.

O Conselho de Ministros deliberou que o Secretário Executivo da CPLP deve encontrar-se, à margem da 67ª AGNU, com o Presidente da Comissão da CEDEAO, com vista a elencar os pontos de divergência entre as duas instituições, e como os ultrapassar ou aproximar.

Deverá seguir-se, depois, em data e local a combinar, uma reunião entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique e o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Costa do Marfim, para a concertação de um documento com recomendações para solucionar a crise na Guiné-Bissau, que será levado ao Conselho de Ministros quer da CPLP quer da CEDEAO para aprovação ao mais alto nível.

O Conselho de Ministros reafirmou que, para um diálogo proveitoso entre a CPLP e a CEDEAO, devem ser respeitados os princípios: (i) da legalidade internacional; (ii) do quadro constitucional legítimo; (iii) de um processo inclusivo que abranja todos os parceiros políticos como o PAIGC, garantindo-se o regresso, em segurança, à Guiné-Bissau dos cidadãos Carlos G. Júnior, candidato mais votado na 1ª volta das eleições, e do Presidente Interino à data do golpe, Raimundo Pereira. Também a credibilidade do processo negocial, que tem de ser consistente e marcada pela estabilidade. Os Ministros agradeceram as excelentes condições criadas pela Presidência pro tempore da CPLP para a realização desta Reunião.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Inner City Press


At UN, Split on Who Represents Post-Coup Guinea Bissau, Lusophone, ECOWAS & Host

By Matthew Russell Lee

UNITED NATIONS, September 20 -- While a new post-coup Ambassador of Guinea Bissau is already in New York, Portugal's Permanent Representative Cabral on Thursday told Inner City Press that 'the old guy' is still the country's diplomat at the UN, since Secretary General Ban Ki-moon has not accepted the credentials of any successor.

  At Thursday's noon briefing, Inner City Press asked Ban's spokesman Martin Nesirky if Ban would during the General Debate be meeting with post-coup "interim" president Manuel Serifo Nhanadjo, or accepting the credentials of his new ambassador.

  Nesirky said that is up to the UN's Credentials Committee, which as named this week by new President of the General Assembly Vuk Jeremic is composed of Angola (likely to support 'the old guy,' like fellow CPLP Lusophone member Portugal), China, Peru, Russia, Seychelles, Sweden, Thailand, Trinidad & Tobago and the United States.

  The US, several diplomats told Inner City Press, essentially joined the ECOWAS countries of West Africa in recognizing the coup by granting a G-1 visa to the new post-coup Ambassador. Inner City Press put the question to a US Mission spokesman on Thursday morning, and will publish the respond upon receipt.

  In the interim, so to speak, Inner City Press asked Nesirky if Ban's Department of Political Affairs might meet with post-coup officials of Guinea Bissau.

  Nesirky said generally that yes, the UN Secretariat meets with a range of people who are not necessarily elected. He said he would check into the specifics of Guinea Bissau, in the context of Ban's upcoming more than 100 bilateral meetings in the next week. We'll be covering some of those, for sure.

From the UN's September 20, 2012 transcript:

Inner City Press: Guinea-Bissau, early this year, had what was pretty much everyone says was a coup d'état, but there are some countries that now recognize the interim leaders as the de facto authorities and there are some, particularly in the CPLP, Brazil, Angola, Portugal, that are not recognizing the current Government. Is the Secretary-General going to meet with interim President Manuel Serifo Nhamadjo? I understand there is a new Perm[anent] Rep[resentative] representing them that is in the country, but has not yet presented his credentials; is the UN… do they recognize this Government and will they be meeting with them?

Spokesperson Nesirky: Well, first of all, recognition is a matter for Member States; recognition or non-recognition is a matter for Member States. And credentials for Permanent Representatives would be a matter for the Credentials Committee, so I think we would need to see where that goes. I am not familiar right now with where things stand on that particular question of credentials, so I would need to check. But it would be a matter for them.

Inner City Press: I appreciate that, but the current sort of de facto Government, if they came to New York for the general debate, would their meeting with DPA [Department of Political Affairs], could that be possible without any ruling by the Credentials Committee?

Spokesperson Nesirky: Well, more broadly speaking, and I am not saying that it would apply specifically in this case, but more broadly speaking, the Secretary-General and other UN officials will meet with a wide range of individuals and representatives, and not necessarily from elected Governments, Heads of State, ministers, but other officials and individuals, too, depending on the subject matter. And I think you will be familiar with cases where that has happened in the past, for very good reasons, because these are topics and matters of international concern. But I am speaking broadly here, in general, and not on that specific case. I’d need to check, as I think you are aware; in any given general debate period, the Secretary-General will have dozens, in fact beyond one hundred and something bilateral meetings. I don’t have them all to hand or in my head, unfortunately. I wish I could do that.

A madrugada do meu descontentamento


Na madrugada do dia 24, lá estava eu, sereno, no meu habitual passeio pela cidade de Bissau. Sozinho, contemplava nada e tudo ao mesmo tempo. A realidade, dura como aço, quando é vista a olho nú, parece um murro no estômago. Afinal, e sem o saber, estava a ser seguido. Fui até ao aeroporto e no regresso, passei no X-Klub. Não cheguei sequer a entrar, pois vi um amigo no passeio e ficámos ali na conversa, animados.

Contudo, uns dez minutos depois, uma carrinha branca e de caixa aberta estaciona junto ao meu carro e no meio da estrada. De dentro, vejo sair três polícias do PIR e um guarda da Alfândega que se dirigiram ao meu encontro. Falou o da alfândega: 'Esse carro é seu?'. 'Sim, é' - respondi. - 'Mostre-me os documentos' (sff, nada). Abri o porta-luvas e tirei tudo que era papel e entreguei-o. Para facilitar as coisas, ainda usei a lanterna do meu telemóvel para que pudesse ler bem. A dada altura, quis pegar no telefone mas eu disse-lhe 'não, você lê e eu seguro no aparelho' - e assim foi.

Devolveu-me os documentos, dizendo 'estar tudo legal' e atirou: "Não viste o nosso sinal de luzes?". Disse que não, e chamei-lhe a atenção para este pormenor: "Ainda que ti esse visto, não parava". E justifiquei assim: "amigos, Bissau está cheia de bandidos e o vosso carro não trazia sirenes nem luzes que o identifica como sendo um carro da polícia". Mas afinal havia mais uma pergunta: 'Quanto custou o carro?' Resposta pronta, e firme: 'Isso não é da sua conta'. Depois, calmamente perguntei-lhe se tinham recebido ordens para me seguirem - pois disseram-me que passei por eles...no Bambu!!! - a cerca de cinco quilómetros...mas nada.

De facto, em conversa com amigos, já tinha ouvido qualquer coisa como "fulano e beltrano ameaçaram mandar prender o teu carro". Apenas porque essas pessoas estão a 'mandar', e porque são más. São guineenses, portanto. Com tanto carro ROUBADO nas mãos de gente 'importante' que circula na nossa praça, haviam de vir prender o meu...que está legal. Apenas porque circula com uma placa estrangeira (centenas de viaturas andam em Bissau com matrícula estrangeira mas ninguém os chateia, outras, nem matrícula possuem, outras ainda foram roubadas e os documentos falsificados). Mas tudo bem. Venham e levem o carro. Eu ainda não aprendi a comer aço mesmo... AAS

SETEMBRO VITORIOSO (IV)


Manifesto ao Povo Guineense
Compatriotas! Cidadãos guineenses, amigos da Guiné-Bissau,
 
Neste dia 24 de Setembro do ano 2012 em que a Guiné-Bissau comemora 39 anos de independência, o momento é de mágoa, angústia e revolta.

Nós, cidadãos guineenses patriotas, não podemos deixar de dirigir estas compreensíveis palavras, partilhadas pela comunidade lusófona, ao povo guineense.

Perante os acontecimentos que provocaram mais uma perturbação político-militar promovida por falhados e ambiciosos políticos e militares, nunca se registou na nossa história recente e comum uma causa pública que tanto unisse os lusófonos na condenação do absurdo, ilegal e ilegítimo acto em curso na Guiné-Bissau.

Por estarmos convictos dos princípios que orientam a nossa atitude firme na defesa dos direitos e da liberdade e, também, por ser de interesse colectivo e ter carácter reivindicativo, tornamos público este manifesto de contestação, dirigido ao povo guineense.

Esta nossa iniciativa, da qual damos conhecimento à comunidade internacional, foi suscitada pelo desejo, não de defender partes implicadas, mas sim de defender os nossos direitos inalienáveis e de proteger a soberania nacional contra a ocupação feita por políticos oportunistas e falhados e por forças militares estrangeiras; erguemos a nossa voz, pelo direito do povo guineense de escolher seus governantes, de determinar o seu próprio destino e de viver em paz, estabilidade e harmonia - condição sine qua non para se atingir um desenvolvimento socioeconómico almejado.

Por estarmos inquietos sobre o nosso presente e futuro, perante a calamidade que recentemente se abateu sobre nós e que se agrava a cada dia que passa (com consequências graves a todos os níveis e ao qual nenhuma família, nenhuma comunidade, na diáspora ou em território nacional escapa), sentimos os sinos da mudança definitiva ecoar, anunciando o fim da política dos usurpadores do poder legitimamente conquistado nas urnas.

Compatriotas, cidadãos guineenses!,

Instamos a vossa atenção: dirigimos este manifesto não para louvar o glorioso povo guineense nem para enaltecer os sacrifícios ou infortúnio. Mas tão-somente para ajudar a entender a importância da resistência e da contestação.

Chega! Que esta exclamação seja ouvida lá nos confins dos incautos: chega!

Não pactuaremos mais com as crises recorrentes multidimensionais que prosseguem em adiar não só o nosso presente como o nosso futuro. Em que situação querem viver? Em paz e harmonia, ou em ditadura e repressão? Como era antes do golpe, ou como é hoje?
Apelamos à consciência política e social nacional para que esta ocorrência não se repita nunca mais na nossa terra.

Não vacilaremos na defesa dos nossos direitos democráticos, nem cederemos à usurpação do poder político. Esta deverá e será a última vez que assistimos à alteração violenta da ordem constitucional. Não toleraremos mais condutas impróprias, nem viver sob jugo autoritário e repressão militar estrangeira, com a benevolência de traidores da pátria.
Compatriotas, cidadãos guineenses!

O valente povo guineense, sempre soube reagir com dignidade e de forma racional, àqueles que procuram usurpar o poder legitimamente conquistado nas urnas.

O momento actual caracterizado pela ocupação militar estrangeira, intolerância, clima de medo, asfixia económica, censura e tensão, por insultos e difamação, pessimismo e desânimo popular, descontentamento e medo crescente, intrigas e vinganças, pelo deboche total, pela maldade e falta de escrúpulos, pela deturpação e desinformação, deve unir os verdadeiros patriotas para pôr fim a esta caótica, ilegal e intolerável situação.
Esta situação exige a exaltação do sentimento patriótico, contra esses oportunistas que, sem arrependimento nem vergonha, usurparam o poder, se prostituem e vendem a bandeira nacional, em troca de favores inconfessáveis.

Quem não se lembra das promessas de respeito pela Constituição da República e do poder popular? Quem não se lembra das garantias de respeito pela legislatura, legitimidade popular e soberania nacional? Declaram uma coisa e praticam outra.

Afinal, mentiram ao povo, mentiram à comunidade internacional e mentem hoje, quando afirmam estar a preparar as eleições; mentem quando dão garantias de justiça; mentem… mentem e mentem sem vergonha alguma.

Compatriotas, cidadãos guineenses!,

Durante mais quanto tempo vamos tolerar esta falta de respeito? Estes abusos? Este descaramento? Será que também ao povo guineense não resta dignidade? Amor-próprio, honra? Força de vontade para afirmar e defender o interesse colectivo e o bem comum guineense? Será que o povo guineense se acobardou e resignou? Desistiu para ser somente pisado por botas militares e humilhado por delinquentes pseudopolíticos?

Estas criaturas disfuncionais e distorcidas atestam, para além de qualquer sombra de dúvida racional, que somente triunfam e têm voz à sombra de golpes de estado, alteração violenta da ordem constitucional, do narcotráfico, do disfuncionamento institucional.
Coitados, não lhes resta uma centelha de humildade para admitirem que erraram, que estão errados e que estão a maltratar o povo.

Na rua, nas bancadas, no quintal, à mesa, nos transportes públicos, nas rádios, nos jornais, na internet, vamos fazer ecoar a nossa voz de contestação e indignação para que sejam ouvidas lá nos covis e nas pocilgas mais remotas!

Todos os prevaricadores, civis e militares envolvidos, directa e indirectamente, deverão ser julgados e punidos pela Justiça, de forma exemplar e definitiva, para que nunca mais alguém tenha a veleidade de se insurgir contra a ordem constitucional e a legitimidade popular.

Pode tardar mas esse dia chegará. E quando esse dia chegar não haverá buraco para se esconderem, nem redenção possível! E escusam de nos acusar de vingança porque não se tratará de vingança mas sim de punir exemplarmente os prevaricadores! Nenhum escapará! Desta vez libertaremos a nossa terra de ignóbeis criaturas que atormentam a nossa pacífica e harmoniosa existência.

Julgam-se geniais e iluminados, quando não passam de brutos e analfabetos, trogloditas primários que arrogantemente se pavoneiam como lobos esfaimados!

Estas criaturas, a quem, aliás, ninguém respeita mas todos desprezam, gozam com o povo de forma descarada e regozijam-se dos seus feitos! Fomentam ódios, tensões étnicas e religiosas e, ainda, se apresentam como vítimas, apontando o dedo aos outros. Mas o povo guineense já conhece estas manobras difamatórias e não se deixam enganar pelos fracassados impuros da praça de Bissau.

Compatriotas, cidadãos guineenses!,

Face ao crescente pessimismo nacional reiteramos que todos os verdadeiros patriotas e defensores da legalidade constitucional têm a responsabilidade e o dever patriótico de defender e de salvar a pátria, com audácia e perseverança.

Pela Guiné-Bissau, pelos sacrifícios das nossas mães e pais e filhos, não nos conformaremos e lutaremos de bandeira erguida pela afirmação dos nossos direitos na Guiné-Bissau!

Vamos resistir porque não há espaço para vacilar ou resignar. Não nos podemos resignar nem desistir. E o povo guineense não se resignou! Nós podemos contestar sem contestação violenta. E o povo guineense contesta, contesta porque não se resignou ao fatídico destino que nos querem impor. Contestaremos sempre qualquer forma de poder que não seja legitimado pelo povo!

Avisamos que estamos cansados e que por todos os meios necessários lutaremos pelos nossos direitos e liberdades e pela soberania nacional!
Compatriotas, cidadãos guineenses!

Não nos conformaremos com o rumo dos acontecimentos e não nos resignaremos! Não cederemos perante esta desastrosa situação de ditadura!

Há que denunciar esta ofensa ao povo guineense e não curvar perante a lentidão do processo de decisão da comunidade internacional em enviar uma força multinacional de interposição que proteja os civis e os políticos democraticamente eleitos pelo povo guineense.

Urge tomar posição firme! Sem cinismo nem hipocrisia!

Para esse efeito exigimos:

a. A presença incondicional da presença de uma força militar multinacional conforme a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas no território nacional;

b. A restauração da democracia que passará pela reposição da ordem constitucional;

c. A criação de uma comissão de verdade e reconciliação;

d. A restrição de liberdades cívicas de todos os civis e militares implicados directa e indirectamente no golpe de estado e posterior julgamento, a começar pelos cinco contestatários;

e. Priorizar o desarmamento dos militares, desmantelamento de quartéis nos centros urbanos e posterior desmobilização e reforma das forças armadas;

f. A retoma do processo eleitoral presidencial;

g. Proceder ao exame minucioso e escrupuloso de todos os partidos políticos, no sentido de se averiguar quais cumprem os preceitos da Lei-Quadro de partidos políticos;

Compatriotas! Cidadãos guineenses, amigos da Guiné-Bissau,

Não podemos e não vamos permanecer reféns da violência de militares golpistas. Não podemos nem devemos continuar prisoneiros da instabilidade e da imprevisibilidade, do medo da violência militar fomentada por políticos fracassados desprovidos de qualquer legitimidade popular e que apenas sobrevivem como parasitas no caos social. Pois cabe ao povo e somente ao povo escolher e decidir quem governa e quais os seus representantes, num sistema democrático onde todos, sem excepção, se submetem à Lei, à ordem constitucional e à justiça.

Quando assim não acontece é porque algo está errado. Por isso, contestamos porque o que se passa na Guiné-Bissau está errado. Urge denunciar e agir! Não queremos, não podemos e não vamos continuar a sofrer e a tolerar este comportamento insano!
Cidadãos patriotas! Indignados, contestem! Manifestem-se!

Pelo respeito da ordem constitucional contestem! Pelo respeito dos princípios de direito num estado democrático, contestem! Pela soberania nacional, contestem! Pela liberdade de expressão e de manifestação, contestem! Pelos direitos inalienáveis e segurança, contestem!

Muito obrigado

SETEMBRO VITORIOSO (III)


Carta aberta à Organização das Nações Unidas
 
Ao​​​​​​​​​
Excelentíssimo Senhor Ban Ki-Moon
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas
 
Senhor Secretário-Geral,

24 de Setembro de 2012

Apresentamos os nossos melhores cumprimentos ao Exmo. Senhor Secretário-Geral das Nações Unidas.

No seguimento da mais recente crise político-militar de 12 de Abril último que assolou uma mais vez a paz e estabilidade na Guiné-Bissau, recordamos que foi unânime a condenação do golpe militar por parte da comunidade internacional, incluindo a União Africano (UA), a Comunidade Económica dos Estados Oeste Africano (CEDEAO), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a União Europeia (UE) e da Comissão de Consolidação da Paz (CCP).

Senhor Secretário-Geral,

Recordamos ao Senhor Secretário-Geral que o Conselho de Segurança instou o Senhor Secretário-Geral, a envolver-se ativamente na coordenação dos esforços internacionais, para ajudar a restaurar a ordem constitucional e a harmonizar as respectivas posições de parceiros internacionais bilaterais e multilaterais, particularmente, da União Africana, da CEDEAO, da CPLP e da União Europeia, para garantir a máxima coordenação e complementaridade dos esforços internacionais, com vista a desenvolver uma estratégia global integrada com medidas concretas que apontassem para a implementação da reforma do sector de segurança, reformas políticas e económicas, o combate ao tráfico de drogas e combater a impunidade.

Recordamos ainda que se enfatizou a necessidade de todos os intervenientes nacionais e internacionais da Guiné-Bissau, parceiros bilaterais e multilaterais a permanecerem comprometidos com a restauração da ordem constitucional, incentivando a continuação dos esforços de mediação da Comunidade Económica dos Estados Oeste Africano (ECOWAS), em estreita coordenação com as Nações Unidas, a União Africana e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Recordamos igualmente que Conselho de Segurança incentivou a CEDEAO a prosseguir os seus esforços de mediação, visando a restauração da ordem constitucional, em estreita coordenação com as Nações Unidas, União Africana e CPLP.

Senhor Secretário-Geral,

Porém, para nossa surpresa, pois acreditamos nas Nações Unidas bem como no papel do Secretário-Geral, até à presente data não se transpôs de resoluções e recomendações!
Decorridos quatro messes, ainda aguardamos a intervenção das Nações Unidas para a restauração da ordem constitucional.

Mais, não nos sentimos defraudados e temos confiança que na próxima Assembleia Geral decidir-se-á pelo envio imperativo de uma força multinacional para a manutenção da paz na Guiné-Bissau.

Pois, ao decidir ignorar a Resolução 2048 do Conselho de Segurança, a CEDEAO, à mercê de interesses alheios ao bem comum guineense, conscientemente contribuiu para a subversão da ordem constitucional e da vontade popular soberana, para surpresa e indignação não só do povo guineense bem como da comunidade internacional.

De outras formas, desde então, a CEDEAO contribuiu para promover e fortalecer o recurso à alteração violenta da ordem constitucional, legitimação do golpe de estado contra o princípio de tolerância zero a golpes de estado e não implementou a resolução adoptada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Ao contrário das disposições da Carta da ONU e das resoluções do Conselho de Segurança, das resoluções da União Europeia, União Africana e a CPLP, a CEDEAO abençoou e “legitimou” um “presidente” e “governo” sem legitimidade e sem respeitar a legalidade internacional, violando, de forma drástica, os mais elementares princípios democráticos de um Estado de direito.

Senhor Secretário-Geral,

Aguardamos pávida e serenamente outro Kosovo … Sérvia … Burundi … Ruanda? Urge tomada de decisão preventiva, pois julga-se mais sensato prevenir do que remediar sob pena de a consciência da comunidade internacional vir a ser inundada com o sangue do povo guineense.

Senhor Secretário-Geral,

Para concluir, ainda estamos em crer que as Nações Unidas contribuirão efectivamente para a defesa do respeito da ordem constitucional e da democracia, materializada no envio de uma força multinacional, sob pena de a Organização das Nações Unidas contribuir para o fim da democracia, da paz, estabilidade na Guiné-Bissau.

Atenciosamente,

Cidadãos guineenses e lusófonos