quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Afinal, os guineenses gostam da CPLP


A sondagem do DC sobre se "A CPLP devia expulsar a Guiné-Bissau da organização", foi ganha pelo NÃO, ainda que por pouca margem:

SIM > 906 (47%)
 
NÃO > 953 (49%)
 
NÃO SEI / NÃO RESPONDO > 67 (3%)

Obama vence: "O melhor ainda está para vir"


Barack Obama vai ficar na Casa Branca. O presidente norte-americano conseguiu vencer as eleições nos EUA, no culminar de uma campanha muito renhida, em que Mitt Romney e Obama lutaram pela vitória até ao último dia. "O melhor ainda está para vir", garantiu Obama no discurso. Perante a explosão de alegria dos seus apoiantes, Obama subiu ao palco, num centro de convenções em Chicago, acompanhado pela sua mulher, Michelle Obama, e pelas suas filhas, Sasha e Malia.

No discurso de vitória, Obama começou por garantir que para os EUA, "o melhor ainda está para vir" e que o caminho de "aperfeiçoamento da União" americana vai continuar. O democrata deixou também palavras de congratulação ao seu adversário e à sua famíla, garantindo que no telefonema que fez a Romney conversou com ele sobre formas de colaborarem no futuro. Barack Obama agradeceu aos seus apoiantes e voluntários de campanha, que apelidou como sendo "os melhores da história dos EUA". "Vou regressar à Casa Branca mais determinado e mais inspirado do que nunca", garantiu. "Vou trabalhar com os dois partidos para enfrentar os desafios que temos pela frente. Temos muito trabalho para fazer", continuou.

"Apesar de todas as dificuldades porque passamos, nunca estive tão esperaçado pelo futuro", disse Obama. "Eu acredito que podemos agarrar o futuro. Não estamos tão divididos como os nossos políticos sugerem e somos maiores do que a soma das nossas ambições", terminou o presidente norte-americano, num discurso inflamado que levou ao delírio os milhares de apoiantes que o foram ouvir a Chicago. Numa primeira reação, através do Twitter, Obama já tinha agradecido aos seus apoiantes: "Isto aconteceu graças a vocês. Obrigado."

Romney apela à união

Depois de alguns momentos de expectativa, em que o lado republicano hesitava sobre o melhor momento para admitir a derrota, Romney acabou aparecer em público para afirmar que já tinha telefonado a Obama para o congratular. Foram para o democrata as primeiras palavras do discurso de derrota que Romney proferiu em Boston, o centro da sua campanha. O candidato derrotado congratulou a família Obama e desejou-lhe sorte. "A nação escolheu outro líder, e por isso eu e a Anna vamos juntar-nos a vocês e rezar por ele e por este grande país", afirmou.mNuma declaração curta, Romney acrescentou ainda que se candidatou porque "está preocupado com a América", mas que acredita que Obama "será bem sucedido a guiar o país nestes tempos difíceis". "É preciso que os políticos ponham as pessoas antes da política", apelou o republicano.

Vitória clara de Obama

Apesar dos resultados eleitorais ainda não serem definitivos, o número de votos do colégio eleitoral que Obama deu como garantidos, 303, foi suficiente para a vitória sobre o candidato republicano. A dupla Barack Obama e Joe Biden, o seu candidato à vice-presidência, repete, assim, a conquista eleitoral que os colocou na Casa Branca em 2008.

Obama ultrapassou por isso o mínimo de 270 votos do colégio eleitoral que um candidato à Casa Branca necessita para vencer as eleições. O presidente dos EUA resistiu a uma campanha muito dura, em que foi gasto pelos dois candidatos um número recorde de dinheiro, muito perto do milhar de milhão de euros. O combate eleitoral, especialmente na última fase, foi considerado pelos analistas como tendo sido muito agressivo, azedo e demasiado sustentado em mensagens negativas sobre o adversário.

No caminho para a vitória, Obama conseguiu manter do lado democrata os estados que normalmente votam no seu partido, mas também foi capaz de vencer a maioria dos embates previsivelmente mais difíceis, como nos estados do Iowa, Pensilvânia, Michigan, Minnesota e Wisconsin. Estes estados, considerados fundamentais nas eleições presidenciais nos EUA, são chamados os "swing states", cujos resultados são normalmente imprevisíveis e que têm um número relevante de votos no colégio eleitoral.

Em 2008, Obama foi eleito com 365 votos do colégio eleitoral, contra os 173 obtidos pelo então candidato pelo partido republicano, John McCain. Romney conseguiu vencer na Carolina do Norte e no Indiana, dois estados que McCain tinha perdido em 2008, e também assegurou vantagem nos estados tradicionalmente republicanos. Mas o republicano não conseguiu vencer noutros "swing states", atirando a vantagem para Obama.

Senado e Congresso também foram eleitos

Os norte-americanos votaram também para eleger um terço dos lugares do Senado e todos os candidatos ao Congresso. As projeções avançam que os republicanos vão manter a maioria no Congresso, sinal de muitas dores de cabeça para Barack Obama, e que os democratas deverão conseguir manter a maioria no Senado.

Noutras iniciativas legislativas que também foram a votos, ontem, as mais marcantes foram a aprovação do casamento homossexual nos estados do Maine e Maryland, e a legalização do consumo de cannabis para fins recreativos no estado do Colorado. Outro dado a destacar é a eleição da democrata Tammy Baldwin, no estado do Wisconsin, que se torna na primeira senadora homossexual da história dos Estados Unidos. Vários dirigentes mundiais já felicitaram Barack Obama pela reeleição como presidente dos Estados Unidos. Como é o caso do "amigo" britânico David Cameron ou da chanceler alemã Angela Merkel. UE, NATO e Nações Unidas contam com Obama para "manter laços de paz e segurança".

Guiné-Bissau: Hong Kong suspende isenção de vistos



Hong Kong suspendeu a isenção de visto para cidadãos da Guiné-Bissau. A partir de agora, quem queira entrar em Macau precisa de dois vistos. O cônsul honorário da Guiné-Bissau em Macau admite que a decisão da RAEHK pode estar relacionada com o uso ilícito de passaportes daquele país por cidadãos. Desde dia 1 deste mês que os cidadãos com passaporte da Guiné-Bissau passam a precisar de visto de entrada em Hong Kong – incluindo aqueles que estão apenas a fazer escala no território. Anteriormente, os guineenses podiam entrar e permanecer na antiga colónia britânica até 14 dias sem necessidade de visto.

A notícia foi anunciada pelos Serviços de Imigração de Hong Kong e deverá ter impacto em Macau, já que a maioria dos visitantes chega através do território vizinho. Por cá, as regras não foram alteradas, mantendo-se a obrigatoriedade de visto, que pode ser tirado na fronteira. Tanto a Polícia de Segurança Pública como o cônsul honorário da Guiné-Bissau em Macau confirmam que as novas regras de Hong Kong implicam que a maioria dos guineenses passe a precisar de dois vistos. “Agora são precisos dois vistos, um para Hong Kong e outro para Macau, ou para o Continente”, afirma o cônsul honorário John Lo.

Para António Barros, presidente Associação dos Guineenses, Naturais e Amigos da Guiné-Bissau em Macau, esta “é uma forma de dificultar a livre circulação, numa altura em que todos os países estão a fazer acordos para a facilitar, por causa da globalização”. “Para os portadores de passaporte guineense vai ser mais difícil. Gostaria de saber o porquê destas alterações”, questiona. John Lo afirma que o Governo de Hong Kong não apresentou motivos para esta mudança, mas arrisca uma primeira explicação: “Macau é um lugar importante nas relações entre a China e os países de língua portuguesa. Mas não há voos directos da Europa ou de África, por isso muitos [visitantes] passam por Hong Kong. Talvez Hong Kong sinta que precisa de controlar melhor o que se está a passar”.

Passaportes falsos

O número de guineenses a entrar em Hong Kong subiu exponencialmente nos últimos cinco anos. Dados dos Serviços Imigração de Hong Kong revelam que, em Dezembro de 2007, o território contabilizou 42 cidadãos da Guiné-Bissau. Em Fevereiro deste ano, esse número subiu para 2057.

Em Agosto, Fernando Vaz, porta-voz do 'Governo de transição' da Guiné-Bissau, levantou dúvidas quanto à validade dos passaportes apresentados. “Sabemos que existem muitos chineses com passaportes da Guiné-Bissau. Isso é público, são conhecidas várias denuncias públicas, inclusive que em Macau se vendia um passaporte da Guiné-Bissau por 50 mil dólares”, disse o responsável à Agência Lusa. John Lo admite que esta possa ser a principal motivação do Governo de Hong Kong para suspender a isenção de visto. “Há chineses com passaportes da Guiné-Bissau, sei disso. Já contratámos um advogado para tratar deste problema. Estamos a tentar resolvê-lo. Já temos uma reunião marcada com o Governo de Hong Kong”, conta o diplomata.

Ainda em Agosto, Fernando Vaz apontou o dedo à questão da produção dos passaportes guineenses. Em Setembro deste ano, os novos passaportes biométricos passaram a ser feitos na Guiné-Bissau, através da Imprensa Nacional. No entanto, anteriormente, eram feitos na China. “Os passaportes da Guiné-Bissau caíram em descrédito total. Uma vez que são feitos na China, não temos nenhum controlo sobre quem os faz, com quantos é que ficam, onde vão parar”, referiu na altura o porta-voz do Governo de transição guineense. John Lo salienta os esforços do corpo diplomático para amenizar o problema: “As novas regras não são propriamente boas para nós, mas não podemos fazer muito. Estamos a fazer os possíveis para resolver isto”.

Guineense vence recurso contra secretário para a Segurança

O Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão a um cidadão guineense, que contestou a proibição de entrar em Macau durante três anos, aplicada através de um despacho do secretário para a Segurança, Cheong Kuok Va.

A interdição surgiu após o requerente ser condenado a pena suspensa de dois anos e seis meses de prisão por “crime de detenção de arma proibida”, segundo o acórdão do TSI. O guineense argumentou que tal decisão teria um impacto familiar negativo, já que é casado com uma residente permanente de Macau, com quem tem um filho, nascido em 2011. Perante o recurso para suspender a eficácia do despacho do secretário, o Ministério Publicou (MP) alegou que o crime cometido “faz razoavelmente pensar e prever que o requerente não dispõe da idoneidade cívica e moral para exercer o poder paternal e educar o seu filho menor”. Argumentou ainda que o requerente está em processo de divórcio, o que prova uma “ruptura conjugal”.

O TSI, no entanto, não deu razão ao MP.

“Não podemos deixar de dar razão ao argumento de que, com a execução do acto (…) se quebra, com certeza, a estabilidade da família que se estabeleceu na RAEM, com a sua mulher e a criança recentemente nascida (…) Num momento crucial no desenvolvimento e crescimento do filho, e da sua personalidade, considera-se essencial que ambos os pais possam acompanhá-lo de perto, constantemente, alternando e partilhando os esforços e a experiência única e insubstituível de o educarem”, pode ler-se no acórdão. O documento afirma ainda que “o exercício do poder paternal é um poder e dever do requerente, poder e dever esses que não podem ser afastados pela simples condenação pela prática dos crimes”. Conclui-se que “a quebra do lar causará prejuízos tanto para o próprio requerente como para o menor, cujo interesse o requerente não pode deixar de defender”. Assim sendo, “dão-se por verificados totalmente os requisitos da suspensão de eficácia do acto administrativo em causa” – ou seja, do despacho de Cheong Kuok Va que proibiu o guineense de entrar em Macau durante três anos. Ponto Final

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O secretário de Estado das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, exortou ostensivamente o Conselho para a Paz e Segurança da União Africana, a "prestar ao problema da Guiné-Bissau atenção equivalente à do Mali". AM



A fractura


1 . A evolução mais recente da situação política tem vindo a impôr uma tendência no sentido da dissolução próxima da Assembleia Nacional Popular, seguida da criação de um Conselho Nacional de Transição (CNT), como instância suprema do poder (executivo e legislativo), com a missão de “dirigir” o país ao longo de 2 anos. A criação do CNT ficou praticamente decidida numa reunião convocada na semana passada pelo Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, para analisar a situação política. O único participante na reunião que contestou a intenção foi o represente do PAIGC, Oliveira Sanca. O Presidente deixou transparecer uma atitude dúbia.

Entre os participantes na reunião predominavam os chefes militares e representantes do PRS e de cada um dos 24 minúsculos partidos que nominalmente apoiam ou integram o Governo de transição. Os chefes militares têm-se apresentado ultimamente na extinta modalidade de Comando Militar, que inclui um porta-voz, Daba Na Walna. Kumba Yalá é apresentado como mentor e entusiasta da ideia da criação do CNT – solução a que são associados cálculos políticos de interesse próprio, entre os quais o seu eventual regresso ao poder e marginalização do PAIGC. K Yalá é descrito como “eminência parda” da situação criada pelo golpe de Estado de 12.Abr.

O regresso ao poder de K Yalá, eventualmente com a função de Presidente de transição designado pelo CNT, constituiria, segundo manifestações do próprio, em privado, uma reparação da “ilegalidade” de que considera ter sidio vítima quando foi derrubado do poder, Set.2003, através de um golpe palaciano. A vigência de 2 anos a definir para o CNT corresponde ao tempo de exercício do cargo presidencial que faltava cumprir a K Yalá para cumprir integralmente o seu mandato. O seu ponto de vista é o de a haver uma reposição da normalidade política e constitucional no país, deveria começar por contemplá-lo a si próprio.

2 . O cenário da dissolução da Assembleia Nacional Popular, acompanhada da criação do CNT, é contrário a reiterados pronunciamentos da CEDEAO – na sua forma e espírito adversos à constituição, no pós-golpe de Estado, de orgãos de carácter não constitucional para conduzir o país até à sua normalização política.

As ideias e propostas com base nas quais vem sendo aventada a hipótese de definição de um novo e mais alargado processo de transição política, também são incompatíveis com o referido cenário. Prevêm a formação de um governo dito inclusivo (alargado ao PAIGC), com um mandato de 1 ano, destinado a preparar eleições. De acordo com conjecturas pertinentes a CEDEAO não é inteiramente estranha ao referido cenário – nova demonstração da sinuosidade das suas atitudes em relação à Guiné-Bissau, desde o golpe de Estado. As novas autoridades cuidam geralmente de pôr do seu lado a CEDEAO, para desencorajar/anular outras resistências internacionais.

Tendo em conta realidades do sistema internacional, o papel dos agrupamentos regionais, como a CEDEAO, passou a ter importância acrescida como factor que as organizações de escalão superior devem têm em conta na definição das suas acções. É cientes desta evidência que as autoridades se aplicam em cativar a CEDEAO. Há dúvidas, porém, acerca do que poderia vir a ser a posição da União Africana face a uma evolução da situação política na Guiné-Bissau como a que se desenha. Apesar do bloco interno, maioritário, contrário ao golpe de Estado e ao status quo pelo mesmo criado, ter estado ultimamente a passar por um relativo apagamento.

3 . A Assembleia Nacional Popular praticamente não se encontra em funcionamento devido a nunca resolvidas disputas de mandatos e competências. A sua existência é, porém, principal fonte da legitimidade e representatividade do PAIGC (partido maioritário), razão pela qual a sua dissolução representaria um abalo para o mesmo.

Na reunião promovida pelo Presidente de transição foi notória uma unanimidade de posições entre a esmagadora maioria dos particapantes no que toca à rejeição da ideia da formação de um governo inclusivo, alargado ao PAIGC, para o que são invocadas razões criminais, como, p ex, implicação na alegada tentativa de assalto de um quartel. O pendor anti-PAIGC que o golpe de Estado revela desde a primeira hora é considerado emanação de uma atitude de reserva há muito identificada em K Yalá. Encara o PAIGC como partido com um historial e implantação capazes de secundarizar o PRS, mas também como “refúgio” de dissidentes do mesmo PRS que desafiam a sua autoridade.

4 . K Yalá é um líder populista, cujo poder e prestígio radicam na sua condição de “chefe dos balantas” – uma das duas principais tribos da Guiné-Bissau (a outra é a dos fulas), de cuja mentalidade faz parte um forte espírito de grupo e de coesão. O PRS, que fundou, é um partido étnico-tribal de extracção balanta. Durante o seu consulado de 3 anos como Presidente, K Yalá aplicou-se em promover socialmente os balantas – que até então se consideravam política e economicamente marginalizados. Por vida disso e de outras afinidades conquistou o seu apoio, embora mais entre os originários do N, que favoreceu mais, em comparação com os do S.

O golpe de Estado de 12.Abr ocorreu no dia imediatamente anterior à 2ª volta das eleições presidenciais, que Carlos Gomes Jr, então PM, tinha condições para ganhar de forma humilhante para o seu opositor, que era K Yalá. É corrente a ideia de que o golpe também se destinou a poupar K Yalá de tal humilhação, capaz de o ofuscar. No desencadeamento do golpe de Estado, incluindo desenvolvimentos seguintes, assim como na situação por ele gerada, tem vindo a ser constantemente referenciado um papel activo de K Yalá. Em muitas particularidades e/ou subtilezas da acção política e do discurso das novas autoridades se notam influências multiformes de K Yalá.

Os chefes e grandes oficiais das FA, na sua esmagadora maioria de origem balanta, devem-lhe as carreiras e respectivas mordomias. Aceitam reverentemente a sua autoridade. Há entre os balantas das FA uma sensibilidade que dá nítida preferência a K Yalá, em detrimento de S Nhamadjo, como Presidente de transição. O handicap de K Yalá, é a sua baixa reputação externa – pessoal e política – formada ao longo dos seus 3 anos de exercício do cargo de Presidente. É geralmente considerado um excêntrico, desprovido de preparação e sentido de Estado; mas também perigoso, devido a sentimentos de egocentrismo e de ambição de poder. AM

União Europeia dará "resposta apropriada" a qualquer intrusão na sua delegação


A União Europeia advertiu formalmente as autoridades guineenses de que consideraria uma intrusão policial ou militar das suas instalações em Bissau como um “acto hostil”, a que daria resposta apropriada. A iniciativa ocorreu na esteira de ameaças de lançamento de uma acção destinada a proceder à retirada coerciva de cerca de 15 indivíduos refugiados nas referidas instalações, no Bairro da Penha.

Melcíades Gomes Fernandes, general da força aérea (Manuel 'Mina'), alegadamente implicado no atentado à bomba que em março de 2009 vitimou o ex-CEMGFA, General Tagme Na Waie, era um dos refugiados; outro, Tomás Barbosa, secretário de Estado das Pescas no governo deposto. No rescaldo do episódio foi estabelecido um compromisso nos termos do qual os refugiados abandonariam as instalações da União Europeia sob custódia da ECOMIB, que também se comprometia a garantir a sua protecção pessoal. Manuel 'Mina', piloto-aviador r oficial especializado em minas e explosivos, era alvo de especiais atenções das autoridades, em especial a dos militares, por suspeitas de estar envolvido em planos para atentar contra as suas vidas.

A advertência da União Europeia foi apresentada directamente ao MNE, Faustino Imbali, pelo seu representante em Bissau, Gonzalez-Ducay, instruído para tal por Catherine Ashton, alta representante para os Negócios Estrangeiros. Também por reflexo do desfecho do caso todos os dispositivos militares e policiais instalados junto às representações diplomáticas em Bissau foram levantados. Em todas se encontram refugiados indivíduos – em geral acolhidos por alegarem considerar a sua integridade física ou a sua vida em perigo, devido a ameaças e perseguições. AM

'Filho, serás um bajulador!'


Notadas nos meios diplomáticos de Bissau condutas de “bajulação” das autoridades guineenses em relação a Russel Hanks, um funcionário norte-americano baseado em Dacar, que amiúde se desloca ao país na qualidade de representante dos interesses dos EUA (adiados para 2014 planos de reabertura da embaixada). Na sua última, visita foi-lhe sugerida uma audiência oficial com o 'primeiro-ministro' Rui Barros, que depois o acompanhou à saída da Primatura e permaneceu ao seu lado enquanto prestava declarações à imprensa. Conduta atribuída ao propósito elementar de “cativar” simpatia e comprensão dos EUA. AM

ATENÇÃO: A arma que prefiro é a caneta. Contudo, convém ter a espada à mão não vá a caneta falhar... AAS

A rota do pó


Há pouco tempo, uns traficantes arrojados vindos da América do Sul fizeram uma aterragem desesperada, porém bem sucedida, com um Boeing carregado de cocaína em pleno deserto, no Mali. Depois de descarregarem a valiosa carga, incendiaram o aparelho numa ousadia nunca antes vista, considerada um “descaramento” palas autoridades. Na altura, o presidente maliano, Amadou Toumane Touré, abespinhou-se, e, mandando o protocolo às urtigas, proclamou aos quatro ventos: “Não quero que este país se transforme numa nova Guiné-Bissau. Isso era o que mais faltava”, afirmou o ex-chefe de Estado, que os malianos tratam carinhosamente por ATT.

Foi uma referência clara – e triste – à fama que a Guiné-Bissau, um minúsculo país africano de expressão portuguesa, ganhou de há um tempo a esta parte – relacionado com o narcotráfico internacional em grande escala – e com estilo. Com efeito, mercê da fragilidade do Estado guineense e de uma cada vez maior influência dos militares, sobretudo dos oficiais-generais, a Guiné-Bissau foi posta de cócoras pelos narcotraficantes sul--americanos.

Num final de tarde igual a tantas outros, em Abril de 2007, a Polícia Judiciária guineense deu um duro golpe no tráfico de droga: apreendendo de uma só vez uns impressionantes 630 quilos de cocaína – nas contas da ONU fala-se friamente em 50 toneladas de cocaína a transitarem anualmente por alguns países da África ocidental, Guiné-Bissau incluída. Essa droga foi depois incinerada, numa cerimónia bastante mediatizada e filmada até ao fim, com a comunidade internacional em peso, embora incrédula, a assistir e a bater palmas pelo sucesso do governo no combate a este flagelo que movimenta milhares de milhões de dólares anualmente.

Apesar desta operação, que teve enorme sucesso, nunca, em momento algum, alguém chegou a ser preso ou sequer indiciado pela prática de crime de tráfico de droga. Numa atitude de desespero, Carmelita Pires, à altura ministra da Justiça, chegou a propor a Russell Benson, o responsável para a Europa e África da DEA (agência norte-americana de combate à droga), baseado em Dakar, no Senegal, o inverosímil: sugeriu que a comunidade internacional “comprasse as ilhas”, para, justificou, “melhor controlar o narcotráfico”, tendo apelidado os traficantes de droga de “oportunistas”. Os narcotraficantes “aproveitam-se da nossa fragilidade enquanto Estado, e da vulnerabilidade dos que estão no poder”, concluiu a ministra. Ninguém agiu depois destas acusações da ministra.
Pouco depois, o governo de Carlos Gomes Júnior foi exonerado pelo presidente da República. Remodelado o governo, chamado de iniciativa presidencial, Nino Vieira haveria de reconduzir Carmelita Pires. Contudo, o tráfico de droga continuou a não dar descanso à ministra – que todos os embaixadores ocidentais com residência em Bissau admiravam.

O AVIÃO DOS MEDICAMENTOS

Passou pouco mais de um ano. Em Julho de 2008, a turbulência voltou a atingir o país. Um avião a jacto desafiou tudo e todos fazendo-se à pista do aeroporto internacional Osvaldo Vieira em Bissalanca, a apenas 7,5 km da capital. Proveniente da Venezuela, veio a saber-se que esse voo não tinha sequer autorização para sobrevoar o espaço aéreo guineense e muito menos para aterrar. Toda a gente foi apanhada desprevenida – menos a classe castrense, sobretudo aquela que está na base aérea, contígua ao aeroporto civil. Sabiam de tudo, ainda que dissessem o contrário.

Assim que aterrou e se imobilizou na placa do aeroporto, os militares cercaram o aparelho, armados de AK-47, e proibiram a impotente polícia científica da Polícia Judiciária de se aproximar sequer do avião. O braço-de-ferro e as trocas de acusações entre a polícia, o governo e os militares duraram desesperantes duas semanas. Porém, com o cerco a apertar-se cada vez mais, quer pela imprensa quer pela opinião pública, além da comunidade internacional, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Papa Camara (que os EUA tinham acusado pouco tempo antes de envolvimento no tráfico de droga, juntamente com o chefe do Estado-Maior da Armada, Bubo Na Tchuto, hoje detido na prisão de Mansoa, acusado de estar por trás da sublevação do passado dia 26 de Dezembro) veio publicamente dizer que se tratava apenas de “medicamentos para as forças armadas”.

A Polícia Judiciária, através da sua directora-geral, Lucinda Barbosa Aukharie, veio logo a terreiro desmentir prontamente a tropa: “Desde o início que a PJ sabia que se tratava de droga.” E disse mais, disse algo que desarmaria a patética teoria dos militares: “As embalagens são iguais às encontradas na operação anterior.” Ainda assim, e mesmo debaixo dos olhares da impotente PJ, os militares, sempre de kalashnikov em riste, reforçaram a sua teoria e rebocaram o avião para dentro de um hangar desactivado, tendo descarregado todos os pacotes – um a um. Sem qualquer resistência. E esperaram que as coisas acalmassem. Porém, o barulho continuou, ganhando contornos cada vez mais obscuros. E mais decibéis. Assim, e perante uma cada vez mais forte pressão internacional, os militares acabaram por ceder.

Dois agentes federais norte-americanos, entre eles Russell Benson, da DEA, e também alguns portugueses chegaram a Bissau para ajudar as autoridades guineenses nas investigações que se seguiriam. Não viram um grama de cocaína (desaparecera misteriosamente, até hoje), mas em contrapartida os norte-americanos fizeram revelações surpreendentes: os pilotos eram todos venezuelanos e um deles, a cereja no topo do bolo, dava pelo famoso nome de Carmelo Vázquez Guerra, um títere procurado pela Interpol, e meio mundo mais, por tráfico de droga e a quem os norte-americanos viriam a reconhecer a façanha de, num único carregamento, ter traficado cinco toneladas e meia de cocaína do México para os Estados Unidos da América – um feito que os yankees nunca esquecerão.

Carmelo Vázquez Guerra e os seus comparsas foram detidos numa cela da Polícia Judiciária, mas, curiosamente – ou não –, e perante a incredulidade de todos, comunidade internacional incluída, a justiça guineense viria autorizar a sua libertação. Tanto de Vázquez Guerra como do resto da tripulação, que passeavam por Bissau sem receio, como quem se sente bem protegido. Russell Benson, sem nada mais poder fazer, desabafou apenas, em surdina, que o que mais desejava “era ver o senhor Vázquez Guerra ser conduzido para o México, para ser julgado por tráfico de droga”. Ficou a intenção.

MUDANÇAS

Depois as coisas acalmaram um pouco. O tráfico passou a resumir-se a correios de droga desesperados, que, aliciados por tuta e meia, vinham do Brasil para Bissau, em trânsito para Lisboa, onde muitas vezes eram caçados à chegada, mercê da cooperação entre as duas polícias judiciárias, a da Guiné-Bissau e a de Portugal. No ano de 2009, em Bissau, um quilo de cocaína custava 13 mil euros no “mercado” – cinco anos antes custava 8 mil euros. Mesmo assim, ainda era dez vezes menos que na Europa. Hoje o seu custo andará pelos 30 mil euros. Na opinião de um conhecido passador contactado pelo i, “foram bons tempos, mas de repente tudo mudou, mesmo para os traficantes que cá vinham”.

Actualmente, passear num imponente Hummer ou noutro carro de alta cilindrada deixou de ser novidade. O encanto parece ter desaparecido. Aqueles que em tempos ganharam notoriedade pela façanha no narcotráfico, mudaram-se sorrateiramente para Conacri, a capital francófona de outro país famoso pelo narcotráfico, e igualmente controlado pelos militares de alta patente – a outra Guiné. Outros escolheram a Europa, outros ainda o Brasil.

A Guiné-Bissau, quer se queira quer não, não passa de uma ilusão como estado. O abastecimento de energia eléctrica é deficitário – o país precisa de 20 megawatts mas só dispõe de sete. E não havendo energia não há água potável. O Estado existe – e é quando existe – apenas na poeirenta capital, Bissau, onde o caos e a desorganização deixam qualquer um espantado. A corrupção atingiu limites fora do aceitável. No entender de um conhecido comentador radiofónico contactado pelo i, que preferiu manter o anonimato, “este Estado nunca foi tão roubado como nestes últimos cinco anos”. António Aly Silva

Só mesmo a CEDEAO...


A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental vai disponibilizar 63 milhões de dólares (cerca de 49 milhões de euros) à Guiné-Bissau para apoiar a reforma do sector da Defesa e Segurança. Esta é uma informação que acaba de ser divulgada, através de nota informativa, pelo 'governo de transição'. O acordo nesse sentido é assinado amanhã em Bissau pelo governo de transição e pelo presidente da comissão da CEDEAO, Kadré Désiré Ouedraogo.

Mas uma coisa são assinaturas de documentos (mais uma), outra, bem diferente, o dinheiro chegar! Tanto mais que se chegar, não será para reformar sector da Defesa e Segurança algum, mas para a construção das casas de luxo de alguns do senhores de armas (e não verdadeiros militares), especialmente do general quatro estrelas, António Indjai, como se tem visto. Mas haverá ainda parceiro algum que acredite numa reforma de um sector tão crucial para o nosso país, quando o panorama está á vista de todos? Só se for mesmo a CEDEAO… Pasmalu