secretário-executivo da CPLP esclareceu que, na atual crise política na Guiné-Bissau, sempre defendeu a busca da paz e a estabilidade das instituições necessárias à construção democrática em absoluto respeito da vontade expressa pelo povo guineense.
Numa nota de "esclarecimento", Murade Murargy reagiu implicitamente às críticas feitas pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, maioritário) que, sábado, acusou o secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de "desrespeitar" a Guiné-Bissau e de "contrariar" os valores democráticos e constitucionais.
Em causa está a entrevista dada sexta-feira à agência Lusa, em que Murargy afirmou que aceitaria um novo Governo sem o partido vencedor das legislativas (PAIGC) se tal permitir formar uma maioria estável e trazer paz e estabilidade, depois de o Presidente guineense ter demitido o Governo.
Quinta-feira, o Presidente guineense, José Mário Vaz, demitiu o Governo do PAIGC, de Carlos Correia, o que aconteceu pela segunda vez desde as eleições de 2014.
Ao comentar à Lusa a nova crise política guineense, Murargy admitiu que Bissau possa ter um novo executivo sem o PAIGC, se tal trouxer estabilidade, pois a CPLP e os parceiros internacionais não têm dinheiro para financiar novas eleições.
Em resposta, o PAIGC emitiu um comunicado na última noite em que acusa o secretário-executivo de "perder de vista a construção democrática", como "pressuposto fundamental para a paz e a estabilidade".
Hoje, Murargy esclareceu que, desde que assumiu o mandato na organização lusófona, em 2012, sempre defendeu os "mais elevados valores" assumidos na Declaração Constitutiva da organização e que esteve "sempre empenhado" na construção da paz e estabilidade na Guiné-Bissau.
"A CPLP rege-se por princípios democráticos, pelo que sempre respeitou e apoiou a vontade do povo guineense, e enquanto secretário-executivo desta organização sempre defendi e reiterei na entrevista concedida à agência de notícias Lusa, no passado 13 de maio, que a resolução da crise guineense é da responsabilidade exclusiva dos guineenses", escreveu Murargy na nota.
"Continuamente, apelei ao diálogo como a única forma de se chegar ao entendimento e consequentemente satisfazer os anseios do povo. Reitero que qualquer reflexão externada por mim contextualiza, somente, a busca da paz e da estabilidade das instituições necessárias para a construção democrática em absoluto respeito da vontade expressa pelo povo guineense", acrescentou.
Ao terminar o "esclarecimento", Murargy salienta que a organização lusófona "continua à disposição dos guineenses e de todos os povos de Língua Portuguesa em defesa dos ideais que os Estados membros definiram como base da CPLP".
Nas declarações de sexta-feira à Lusa, Murargy disse que, face à demissão do Governo de Carlos Correia - já tinha exonerado o anterior de Domingos Simões Pereira -, colocavam-se, "aparentemente", dois cenários, que, porém, excluem a realização de novas eleições - as últimas foram a 13 de abril de 2014 e deram a maioria absoluta ao PAIGC, liderado por Domingos Simões Pereira.
"Aparentemente, há duas saídas: ou convida o PAIGC a formar novo Governo, e aí terá dificuldades, ou então forma um Governo com uma nova maioria a constituir no Parlamento, com base nos 15 deputados (do PAIGC) que foram reintegrados (após terem sido expulsos do partido) e o PRS. Assim o Presidente teria base para formar novo Governo", disse. Lusa
Em reação, o PAIGC afirmou sábado que Murargy "ficou cansado dos muitos problemas que a Guiné lhe tem causado", ao ponto de "escolher o caminho mais curto e o que lhe parece mais barato".
"Diz simplesmente que a CPLP não tem dinheiro para o seu funcionamento, quanto mais para financiar uma eventual eleição antecipada", frisou o PAIGC, que disse esperar que a atual presidência de Timor-Leste da CPLP "corrija" a "deriva de princípios e valores" que só consegue atribuir "ao cansaço e à alguma desatenção e fadiga" de Murargy.