Dão-se muito poucos murros na mesa na Guiné-Bissau. Boa educação, dirão os mais optimistas. É o que é, mas estão, provavelmente, muito próximos da razão os que nos acusam de sermos mas é uns cobardolas e uns mangas de alpaca.
Não damos (o Aly Silva à parte...) mais murros na mesa porque temos medo. E somos cobardes. Temos medo de que o sujeito que nos ouve na mesa ao lado se irrite, que o empregado da padaria Y venha a ser patarão, que o dono da Tasca Z assuma algum cargo nas alfândegas ou nas finanças e nos lixe a vida.
Caganitas à parte, a verdade é que faz muita falta que as pessoas sejam capazes de chamar os bois pelos nomes, e de gritar um sonoro basta quando basta mesmo. Mas nós não (aliás, vocês...). Preferimos tudo morno depois de grandes tragédias porque não queremos ‘sobressaltos’ – sobretudo quando há uma forte possobilidade de virmos a ter de pagar as consequências pelo que fazemos ou afirmamos.
Eu, estranhamente(?!), perdi-lhes o medo. Assim, no café da esquina, de volta da mesa de restaurante, não tenho nem dó nem piedade de ninguém, casco como posso e melhor sei nos nossos inimigos de estimação: os políticos com responsabilidades na condução dos destinos do País.
É que na política a história é a mesma. Só berram e gritam, denunciam e revelam deboches aqueles que estão na oposição. Simulam até uma pega de caras, pois a certeza de não lhes ser pedido nenhum seguimento para as suas palavras deixa-os perfeitamente livres para tudo.
A partir do momento em que tomam posse, quem assumiu um cargo executivo padece de uma doença chamada «comprometimento». Comprometidos, não com o povo, mas com os restantes membros do governo, que exigem que não destape buracos nem traga para uma praça pública (ainda que esburacada) problemas. Numa palavra: comprometido com as regras do regime.
Mas seria o bom e o bonito, agora um tipo vai recordar aos eleitores as dívidas que há por saldar (olá, Jomav), as estradas que não estão feitas (hello, Djossé), os impostos por cobrar (Jomav - again and forever) ou os hospitais sem camas mas com uma divisão bem armada de baratas (yello Camiló)?
Contudo, o que eles querem é fazer passar esta mensagem. Que o pior ainda está para vir, os prejuízos herdados e os acumulados são sempre tamanhos que não há dedicação e empenho que algum dia os possa saldar. Tretas, é o que é!
Sabiamente, eu continuo a preferir os murros na mesa. Sabem bem por estes lados. Confrontar tudo e todos. Enfrentar gabarosamente as câmaras e os microfones e dizer tudo! Investigar e mostrar quem mal faz a este povo. Dizer que no ministério A alguém anda a roubar, que na farmácia C se vende medicamentos fora de prazo e de proveniência duvidosa, que os professores, afinal, sabem menos que os alunos, que as profissões liberais fogem a pagar as contribuições. Num primeiro momento inebrio-me nas minhas próprias palavras, feliz pela provocação e respectiva contestação, convencido de que finalmente estou a «mexer no sistema».
Tem sido assim, meus caros. Mas também não acabam geralmente bem os ministros/secretários de Estado/chefes de gabinete/responsáveis de secção que abrem a boca, e muito menos os que, como eu, exercitam o punho contra o tampo da secretária... AAS