Caro Aly,
Agradecia muito que fosse pubicado esta pequena homenagem ao nosso amigo, colega, irmão, filho e pai (Hélder Proença). Sendo o seu espaço - O seu blogue - o único que honra o seu nome e o seu povo. Que Deus te proteja e abençoe o teu corajoso trabalho que tens prestado ao nosso Povo.
"Olha para os meus inimigos, pois se vão multiplicando e me aborrecem com ódio cruel. Guarda a minha alma, e livra-me; não me deixes confundido, porquanto confio em ti. Guardem-me a sinceridade e a rectidão, porquanto espero em ti."
(Salmos 25:19-21)
'Yu', nas vésperas dos 30 dias de separação
continuas como sempre no meu coração até nos encontrarmos
30 dias de balas cravadas no teu peito
30 dias de tristeza
30 dias de frio
30 dias de sofrimento e amargura definitiva
30 dias de recordação dolorosa "YU"
30 dias de coração apertado
30 dias de noite de insónias
30 dias que me recordo quando me dizes,
não tenho inimigo, mas sim adversário politico
30 dias de recordação da morgue do hospital S. Mendes
30 dias dos teus 16 anos de idade na Luta de Libertação
30 dias que a mamã não se levanta da cama
30 dias que não consigo explicar "Yu"
Caros amigos e colegas,
A fim de prestar mais uma vez homenagem ao meu querido irmão transmiti-vos um poema da sua autoria, que devia ser lido no dia da sua morte, mas que por razões alheias à nossa vontade, encontramos depois…
“Para ser lido no dia da minha Morte…”
Como perdura
Esta saudade perene
Do meu povo e da minha terra
Que a vida me ensinou a amar
(Palavras do autor)
ODE À MORTE
Em qualquer lugar
Onde me surpreenderes
Com o teu silêncio povoado de trevas e rigidez
Ali te responderei.
Com esta cicatriz profunda
Com esta saudade
Nem já sentida
Mas perene do meu povo.
Sem o cheiro do mercúrio das guerras
Sem o betume oleoso das lágrimas
Sem nenhuma dimensão das cores
Sem nenhum sentido dos ventos ou do pranto
Já com a paz e amor vencidos no limite da esperança.
Ali estarei:
Hirto como a dura pedra que te distingue da vida
Silencioso como o teu segredo que te separa do canto.
Sem nenhum tempo para emoldurar o aquático traço das lágrimas
Sem depressão do ódio e do sangue
Sem nenhum assombro pelo metal azedo de espingarda mercenária
Sem menor arrepio sob as grades sem flor
Ali te responderei
Com a terra e o verde afecto
Com que a poesia me cobrira!
Em qualquer posição solar
Onde me detiveres
Ali te responderei
Com a mesma intensidade das tuas luzes
Apagadas dentro de mim mesmo
Com o meu corpo entregue à posterioridade
Com o meu coração já sem pêndulo.
Hélder Proença
Poema inédito, nunca antes publicado
Eterno descanso meu Irmão querido que a sua Alma repouse em paz