domingo, 5 de julho de 2009

Os poetas nunca morrem

Caro Aly,

Agradecia muito que fosse pubicado esta pequena homenagem ao nosso amigo, colega, irmão, filho e pai (Hélder Proença). Sendo o seu espaço - O seu blogue - o único que honra o seu nome e o seu povo. Que Deus te proteja e abençoe o teu corajoso trabalho que tens prestado ao nosso Povo.


"Olha para os meus inimigos, pois se vão multiplicando e me aborrecem com ódio cruel. Guarda a minha alma, e livra-me; não me deixes confundido, porquanto confio em ti. Guardem-me a sinceridade e a rectidão, porquanto espero em ti."

(Salmos 25:19-21)


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'Yu', nas vésperas dos 30 dias de separação

continuas como sempre no meu coração até nos encontrarmos



30 dias de balas cravadas no teu peito

30 dias de tristeza

30 dias de frio

30 dias de sofrimento e amargura definitiva

30 dias de recordação dolorosa "YU"

30 dias de coração apertado

30 dias de noite de insónias

30 dias que me recordo quando me dizes,

não tenho inimigo, mas sim adversário politico

30 dias de recordação da morgue do hospital S. Mendes

30 dias dos teus 16 anos de idade na Luta de Libertação

30 dias que a mamã não se levanta da cama

30 dias que não consigo explicar "Yu"


Caros amigos e colegas,

A fim de prestar mais uma vez homenagem ao meu querido irmão transmiti-vos um poema da sua autoria, que devia ser lido no dia da sua morte, mas que por razões alheias à nossa vontade, encontramos depois…



“Para ser lido no dia da minha Morte…”

Como perdura

Esta saudade perene

Do meu povo e da minha terra

Que a vida me ensinou a amar

(Palavras do autor)

ODE À MORTE

Em qualquer lugar

Onde me surpreenderes

Com o teu silêncio povoado de trevas e rigidez

Ali te responderei.

Com esta cicatriz profunda

Com esta saudade

Nem já sentida

Mas perene do meu povo.

Sem o cheiro do mercúrio das guerras

Sem o betume oleoso das lágrimas

Sem nenhuma dimensão das cores

Sem nenhum sentido dos ventos ou do pranto

Já com a paz e amor vencidos no limite da esperança.

Ali estarei:

Hirto como a dura pedra que te distingue da vida

Silencioso como o teu segredo que te separa do canto.

Sem nenhum tempo para emoldurar o aquático traço das lágrimas

Sem depressão do ódio e do sangue

Sem nenhum assombro pelo metal azedo de espingarda mercenária

Sem menor arrepio sob as grades sem flor

Ali te responderei

Com a terra e o verde afecto

Com que a poesia me cobrira!

Em qualquer posição solar

Onde me detiveres

Ali te responderei

Com a mesma intensidade das tuas luzes

Apagadas dentro de mim mesmo

Com o meu corpo entregue à posterioridade

Com o meu coração já sem pêndulo.



Hélder Proença

Poema inédito, nunca antes publicado

Eterno descanso meu Irmão querido que a sua Alma repouse em paz