sexta-feira, 10 de junho de 2011

ULTIMA HORA/EXCLUSIVO: juiz da razao aos exportadores de castanha de caju

Um Juiz do Tribunal Regional de Bissau, deu hoje razao a providencia cautelar interposta pela associacao dos exportadores da castanha de caju sobre o pagamento de 50 fcfa/quilo, e solicitou ao Ministerio Publico que aplique os efeitos suspensivos a essa Lei. AAS

Entrevista ao coronel Joao Monteiro: 'Estou siderado'

"Caro Antonio Aly Silva,
Apenas para te dizer que estou absolutamente siderado com a tua entrevista ao coronel Joao Monteiro. Se nao fosse tudo tao grave, diria que e uma peca magnifica - mas e muito mais que isso...
Cumprimentos,
Joao P. C."

M/N: O guineense e que e invejoso. So isso. AAS

Bonito

- Governo pede a Uniao Europeia 11 milhoes de euros como compensacao para a pesca nas nossas aguas territoriais;

- Em 3 meses apenas, os exportadores de castanha de caju... Pagarao 16 milhoes de dolares (cerca de 130 toneladas) pelo caju exportado... Isto, ou e esperteza saloia ou prepotencia no seu mais alto grau, ou...deixem para la! AAS

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Iaia Dabó: «Samba Djaló e Zamora Induta mataram o meu irmão Baciro Dabó»

O irmão do falecido candidato presidencial, Baciro Dabó, assassinado no dia 5 de junho de 2009 na sua residência, veio hoje, em conferência de imprensa, perguntar por que razão o processo dos assassinatos foi arquivado, e acusou directamente Samba Djaló e Zamora Induta: «Zamora Induta e Samba Djaló assassinaram o meu irmão», seguido de um desabafo «falei muito com o Samba Djaló na cela»...

De acordo com Iaia Dabó o guarda de serviço na residência do seu malogrado irmão «deu cobertura ao assassinato», isto porque, «Seco Seidi, um militar, destacado no ministério do Interior, nessa noite de guarda na residência de Baciro Dabó, fingiu estar a orar». E questiona, inquietante, algo que 'fugiu' ao Ministério Público: «qual é o muçulmano que ora às 3 ou às 3.30 da manhã?».

E revela pormenores: «Estava tudo combinado. Assim que o Pansau 'Ntchama chegasse, o guarda, que presumivelmente estaria a orar, levantar-se-ia». Um sinal de que era ele, e que a porta estava à disposição» do 'grupo desconhecido'. Iaia Dabó desafiou o Ministério Público a «chamar nomes», coisa que ele fez: «O Salvador (da Segurança do Estado) foi um dos que estiveram lá, nessa madrugada. Prometeu ainda, para breve, uma manifestação pacífica, para exigir o direito à Justiça.

Iaia Dabó disparou ainda contra Zamora: «ele disse, e toda a gente ouviu: 'nós já fizemos a nossa parte, agora cabe ao Governo». Iaia Dabó aponta discrepâncias nos vários discuros: «o Conselho de Ministros disse que foi um golpe de Estado, o Ministério Público diz agora que não. Eles que arranjem outros argumentos», desafiou o irmão de Baciro Dabó. AAS

quarta-feira, 8 de junho de 2011

ULTIMA HORA: Assassinatos de Helder Proenca e Baciro Dabo

Depois de, no passado dia 31, o Ministerio Publico resolver 'arquivar parcialmente' o processo contra uma suposta tentativa de golpe de Estado, que culminou no assassinato do Deputado Helder Proenca e do candidato presidencial baciro Dabo, vem o mesmo MP dizer, hoje, que todo o material probatorio sera enviado para a Promotoria de Justica militar (Tribunal Militar Superior), a quem cabera dar seguimento - ou nao - ao processo, uma vez que os executores dos crimes sao militares. Djambadon, e o que e... AAS

terça-feira, 7 de junho de 2011

Os olhos tristes de Bissau*

"1. O estado de Bissau, dos prédios, das ruas, de quase tudo, é um espelho das impiedosas tragédias que se abateram sobre o país, umas a seguir às outras, desde 1998. A mais danosa, até pelos efeitos que acarretou para a cidade, em termos de destruição física, foi a guerra civil de 1998/99. Mas todas as outras deixaram sequelas a que não é estranha a desoladora aparência de Bissau.

É um exercício quase tão difícil como procurar uma agulha num palheiro encontrar no centro da cidade um edifício apresentável – como se deve chamar àqueles que se mantêm direitos, pintados e sem acrescentos de materiais desconformes com os originais, em geral para remediar emergências. Muitos, alguns de construção não muito longínqua, como o da Casa Escada, encontram-se em ruínas, a ameaçar ruína ou a caminhar para lá se nada for feito.

A guerra, entendida como acção em que se cruzam fogo e ferro, não é propriamente a causa do estado deplorável de Bissau. O palácio que foi dos governadores coloniais e depois passou a ser dos presidentes da nova nação, é praticamente o único que a metralha atingiu em cheio. Ficou sem uma parte do telhado. Assim permanece, esventrado, exposto a inclemências do tempo que devem cumprido a sua danosa sina.

São os chineses que o vão recuperar, provavelmente despojando-o da traça e do toque que lhe serviram de identidade, erigido ali, ao cimo da antiga Praça do Império. Os portugueses, vergados a complexos e sentimentos de culpa de que não se conseguem libertar, parece que não se mostraram interessados em prestar uma ajuda capaz de restituir ao palácio a sua altivez perdida.

Os escombros a que ficou reduzida uma ala do antigo Quartel General (QG) também representam outro “espólio de guerra”. A potente bomba que ali explodiu com o fito de matar o antigo CEMG, General Tagme Na Wae, foi a causa dos danos que o edifício ainda exibe. Ao assassinato de Tagme Na Wae seguiu-se, questão de horas, o do antigo presidente Nino Veira. A casa onde foi morto está direita, mas com vestígios de disparos de armas ligeiras evocativos das tribulações que a Guiné-Bissau tem vivido.

Depois há as ruas da cidade. E os passeios. O seu estado é igualmente tortuoso. Os carros, que os há desde carcaças milagrosamente andantes até imponentes “Hummer”, estes e outros de igual “estadão” instuitivamente associados ao rendoso negócio da droga, deixam à sua passagem nuvens de poeira. Quando a chuva começar a cair será lama. Os pavimentos das ruas e dos passeios estão esventrados ou simplesmente desapareceram.

Os ministérios, os serviços públicos, as escolas e os liceus, os quartéis seja de que forças for, tudo tem um ar decrépito onde parece que o tempo parou para se cumprir um castigo qualquer. Só no caso dos ministério parece que o panorama pode mudar. Na via rápida que liga a cidade ao aeroporto, há um edifício que chama a atenção pelo seu porte. Foi construído pelos chineses para albergar os ministérios. Já lá funciona o gabinete do PM.

2. Comparada com a cidade de há 30 anos, que o repórter conheceu, onde viveu e pela qual ganhou afecto, falta a esta a doçura e a relativa ordem da outra. De bom sobrou a paisagem humana. As pessoas continuam simples e de bom trato. E deve ser por isso que a cidade, hoje nitidamente mais populosa, c 300.000 habitantes, permanece tranquila. Nos noticiários não abundam crimes e excessos costumeiros nas relações humanas.

Os “velhos”, como aqui carinhosamente são chamados as pessoas entradas na idade – é de fazer figas para que nunca faça carreira o politicamente correcto de lhes chamar “seniores” – dizem que o pior mal da Guiné, uma espécie de saga, foi o consulado de Kumba Yalá, o excêntrico presidente, que por actos e palavras mereceu um lugar de honra no anedotário nacional.

Quando deixou a presidência, em consequência de um golpe palaciano ocorrido em circunstância provavelmente singulares em todo o mundo, Kumba deixou atrás de si um rasto de miséria. De origem étnica balanta, chefe de um partido de matriz igualmente balanta, Kumba balantanizou o Estado e, em especial, as Forças Armadas – constituídas por mais de 90% de balantas.

A balantanização trouxe na sua peugada tensões sociais e políticas novas, para as quais é preciso remeter parte considerável das causas das convulsões que vêm sacudindo o país – as últimas sob a forma de assassinatos e de um motim militar breve – apesar de tudo o bastante para afastar e prender o então CEMG, Almirante Zamora Induta, substituído pelo seu vice, General António Indjai.

Em Bissau diz-se que os CEMG se sentam “no lugar do morto”. O Almirante Zamora teve a “sorte” de não ter tido como destino a morte. Mas os seus antecessores não escaparam. Ansumane Mané, Veríssimo Seabra e Tagma Na Waie. Este foi o primeiro balanta a ocupar o cargo e com ele se iniciou o predomínio balanta nas fileiras.

Os balantas, mais numerosa tribo da Guiné-Bissau, consideram-se a si próprios como tendo tido um papel determinante na luta de libertação. Mas também consideram que depois da independência foram negativamente estigmatizados (o chamado golpe de Paulo Correia), em razão do que começaram a ser política e socialmente preteridos. Foi Kumba Yalá, também ele balanta, que começou a reabilitá-los.

Hoje em dia não só controlam as FA, como predominam no aparelho de justiça. Pouco na economia. O poder fáctico que o controlo das FA representa é um foco de tensões múltiplas. Muitas das tensões e disputas que atravessam a sociedade e o regime, têm imbricação, a montante ou a jusantes, com a originalidade que é o controlo das FA por uma tribo.

3. Quase nas traseiras do mastodôntico edifício construído pelos chineses para albergar os ministérios está um prédio que até há pouco tempo foi o Hotel Palace. A fachada chama a atenção por ostentar uma placa com o símbolo das FA angolanas. Em harmonia plena com a placa, num dos dois mastros colocados na frontaria flutua a bandeira de Angola e são de soldados angolanos as figuras que montam guarda ao edifício.

O antigo Palace, que Angola comprou ao seu proprietário libanês e este de bom grado aceitou vender, alberga hoje uma missão militar angolana, Missang, que tem por finalidade pôr em marcha e garantir a execução de um processo de reforma do sector de defesa e segurança, preparado pela União Europeia. No fundo, trata-se substituir as actuais FA, com todas as distorções que apresentam, em especial a sua matriz étnica, por um novo corpo militar, criado com base em critérios de aceitação universal.

Não é uma tarefa fácil. E há sinais disso. Em várias partes do país têm-se registado conflitos por posse ou usufruto de terras entre balantas e outras etnias – papeis, nalus, etc. As mais abalizadas interpretações acerca das ocorrências indicam que são sinal de agitação entre balantas, por pressentimento de que se aproxima um momento, o da reforma faz FA, em que perderão um instrumento de poder e influência.

Está generalizada a ideia de que a Guiné-Bissau tomará o rumo da estabilidade quando a reforma das FA for levada a cabo; ou, pelo menos, quando houver garantias sólidas de que o processo chegará a bom termo. Em lugar de umas FA representativas de uma tribo, com todas as perversões que isso arrasta para um país ainda de escassa coesão nacional, espera-se que surjam outras, diferentes.

4. A Guiné-Bissau tem potencialidades económicas suficientes para lhe garantir futuro se forem convenientemente aproveitadas. Grandes aptidões agrícolas para culturas como arroz, amendoim e caju. Cobiçados recursos pesqueiros (é nos Bijagós que desovam muitas espécies daqueles mares), cada vez mais expostos à pesca furtiva ou clandestina. Condições ideais para o turismo, com a vantagem de não estar muito distante de um grande mercado gerador, a Europa.

Regularmente a imprensa local anuncia a visita de empresários e missões empresariais estrangeiras. A última provinha dos países do Golfo. Mas também por lá têm peregrinado espanhóis, alemães, canadianos e portugueses. Regra geral vislumbram oportunidades de investimento. Mas, entre dentes, vão dizendo que preferem esperar por tempos mais promissores no plano da estabilidade política.

Deve haver uma coisa que os desaponta e recomenda cautela: é o estado desmazelado da cidade capital e, por extensão, de outras cidades, como a histórica e graciosa Bolama, quase transformada num montão de ruínas. No fundo, o que se vê não só é uma marca indelével das conturbações por que o país tem passado, como, por continuar assim, não inspira confiança que chegue em termos de futuro.

Quando a cara da cidade for outra, para melhor, então toda a gente há-de ler isso como sinal de “águas passadas”. A reconstrução do velho mercado central, arruinado há muito por um incêndio, mas que assim continua, terá significado equivalente ao da transformação das espúrias instituições do presente (e sua razão de ser) noutras mais conforme com o que o país precisa. Vitalmente.


*Por Xavier de Figueiredo, jornalista, que recentemente visitou a Guiné-Bissau.

Entrevista ao Coronel João Monteiro: A verdade vos libertará!

Aly,
Não resta a menor dúvida de que você que tem sido o porta-estandarte da reconciliação dos Guineenses. Como disse o nosso saudoso Don Septimio Ferrazeta “A verdade vos libertará!” e o que tens estado a fazer é trazer à tona o que aconteceu, com informações reais e com fontes reais para cada pessoa tirar as ilações que o seu background permitir.

A Isso se chama contribuição no verdadeiro sentido da palavra para a familia Guineense. Por isso, e apesar de não termos a mesma visão dos factos, tenho o maior respeito e admiração pela sua pessoa. Continue a nos brindar com factos que é o único caminho para nos libertar da hipocrisia, da ignorância, da intolerância (mesmo das disfarçadas de intetectualoides), de ideias mesquinhas (mesmo daquelas recalcadas) e da força bruta (venha ela de que lado vier).

Aliás, uma verdade incontornável da história recente da Guiné-Bissau e dos acontecimentos de 1 e 2 de março de 2009 é a frase de Mário Soares (apesar de não ser fã do dito cujo), mas pela Justiça choram também as almas de Paulo Correia, Viriato Pã, Lai Seck, Nicandro e tantos outros Guineenses. Mesmo assim também a alma de 'Nino' Vieira chora por Justiça. Todos devem ser iguais perante a Justiça. Como se diz aqui nas terras do tio Sam: May God bless you, Aly.

Rogado
"

M/N: Muito obrigado, amigo. Tudo de bom. AAS

UNIOGBIS em versao quebra-mola

Talhada para a consolidacao da paz - que nunca mais chega - a missao da ONU decidiu enveredar para a sub-empreitada, na versao quebra-mola.

Ha dias, estavam entretidos a encher uma faixa de cimento, na estrada (parece-se mais com um muro) - a estrada que liga aos seus escritorios. Porem, uma cidada zelosa - e bem relacionada - telefonou de imediato para um alguem, que prometeu saber se havia licenca para essa 'obrazeca'. Mas nao tinham licenca nenhuma... AAS

Entrevista ao Coronel Joao Monteiro: Estamos entendidos

"Meu caro,

Assim comeca a tao falada reconciliacao. E preciso que mais pessoas se abram contando aquilo que sabem. O teu jornalismo, principalmente esta extensa entrevista ao coronel Joao Monteiro, sao do melhor que poderiamos almejar. Entende-se tudo. E, sobretudo, compreende-se a historia do nosso gangrenado Pais.

Espero, ansioso, por mais capitulos desta novela que chama todos pelos seus nomes. O coronel Joao Monteiro, com quem cheguei a trabalhar em tempos, pode ter os seus defeitos mas mentiroso nunca foi. A Cesar o que e de Cesar. Assisti a discussoes acaloradas entre ele e o Presidente 'Nino' durante a guerra de 7 de junho de 1998. E assisti igualmente a muitos conselhos que dava ao nosso falecido Presidente.

Contudo, o Joao tem de abrir ainda mais o livro, e, sobretudo, nao tem que ter medo de falar: estamos na velocidade de cruzeiro para a verdadeira reconciliacao. Ele esta apenas a fazer a sua parte. E vivam as catarses!

Um forte abraco, P.G."

M/N: Eu sabia que se conehecem. Desconhecia porem o teu paradeiro. Obrigado por teres dado noticias. E eu...acho que tambem teras algo a acrescentar. Para ajudar na reconciliacao...apita. AAS

Vitoria das Mulheres

O parlamento guineense aprovou ontem a lei que proibe a pratica da excisao feminina. As penas de prisao para os infractores vao de 12 meses a 5 anos de prisao. AAS

7 de junho de 1998/7 de junho de 2011 : Perdemos tudo, mas nao aprendemos nada!

A guerra civil, que durou 11 meses e fez centenas e mortos, foi ha 13 anos. AAS

Feedback II

"Aly,
O segundo capitulo da (entrevista ao Coronel Joao Monteiro) esclarece ate duvidas existentes da guerra de 7 de junho de 1998, pequenas frases, que dizem muito a quem ler com atencao, e torna realidade muitos factos que se falaram em Bissau mas que jamais alguem ousou escrever.

Coisas simples mas de grande importancia, sobre a morte do ex-Presidente 'Nino' Vieira. Eu estava em Bissau aquando da ocorrencia e todos os dias havia 'informacoes novas'.

Esta entrevista vem esclarecer muitas duvidas que eu tinha e que em geral as pessoas podiam ter. Estou ansiosa que tudo saia, para poder compreender. Mais uma vez parabens, realmente ninguem ousa escrever a realidade com tu a escreves.
Beijos, G.S."

M/N: ... Nem como a descrevo. Kiss kiss, bang bang. AAS

Entrevista ao Coronel Joao Monteiro: feedback

- "Viva, Aly
A entrevista ao Coronel Joao Monteiro deixa para ja muitas interrogacoes. Ate me pergunto se nao andas a fazer horas extra para a Procuradoria Geral da Republica. Alias, se estes quisessem investigar mais a fundo, teriam no Ditadura do Consenso una boa fonte documental para comecar. Mas esse assunto parece que nao interessa muito...
Abraco,
Kankuran di Mansaba"

M/R: Mas tem de interessar! Ainda que nos matem um por um!!! Abraco, AAS

- "Ola Ay,
Somente para te dar os parabens. A primeira entrevista ao Coronel Joao Monteiro esta clara e objectiva. Continua o teu bom trabalho. G.S.

M/N: E a segunda?! Beijos e abracos a todos, AAS

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Entrevista a João Monteiro: um esclarecimento do Coronel Afonso Té

"Caro Aly. Tudo bem?

Se me permitires, gostaria de trazer alguns elementos relacionados com a entrevista do Coronel João Monteiro no Ditadura do Consenso.

Na noite em que o General Tagme foi assassinado, preocupado, entrei em contacto com Coronel João Monteiro e ele deu-me a sua coordenada: Estava na residência do General 'Nino' Vieira e fui ter com ele. Disse-me que aquele o tinha mandado buscar porque constou-lhe que o General Tagme teria sido assassinado. Muito preocupado e incrédulo, perguntou-me porque teriam feito isso? E depois disse-me: olha, isto vai dar bronca. É preciso que o Presidente saia da sua residência, mas ele insiste em ficar.

Ele, já não estava ligado à segurança do Presidente e eu já não estava nas Forças Armadas, pelo que, pese embora reconhecessemos que a situação de risco era por demais evidente, estávamos limitados. Ficamos juntos por um tempo e depois pediu-me para levar-lhe a casa para ele poder jantar e voltar. Assim fiz. Fui com ele, jantamos e saímos juntos.

No caminho, de regresso à casa do General Vieira, fomos informados de que um grupo de veículos dupla cabine, cheio de militares dirigia-se para a casa dele (do Presidente). Fomos directamente para lá.

Quando chegamos constatamos que tinha sido o Presidente quem convocou uma reunião de emergência com as Chefias Militares e que já estava no fim. Eu ainda vi o dispositivo de segurança montado. Havia duas cinturas no perímetro. Aparentemente estava tudo bem. O Coronel João Monteiro entrou e eu deixei-o tendo continuado a circular. Foi assim que comecei a coletar dados para poder melhor entender o que se passou no Estado Maior-General e tirar ilações.

Nisto, fui informado que havia movimento militar a nível de Safim e do Aeroporto. Chamei o Coronel João Monteiro a quem pus ao corrente prevenindo-o. E conforme a noite avançava as coisas se complicavam pois o movimento intensifica-se enquanto que na Presidência, sede do Batalhão do Palácio a calma se tornava cada vez mais suspeita. Pois era a Unidade que tinha por missão defender o Presidente da República.

Depois os tiros começaram a fazer-se sentir, chamei o Coronel João Monteiro que me disse que a residência do Presidente da República estava sob fogo intenso. Depois perdi o seu contato. Entretanto continuei a circular até que consegui o número do Presidente da República : +245 640 0000 (este foi um dos seus últimos números). Liguei para esse número a pessoa que tinha o telefone respondeu mas não dizia nada. eu disse aló várias vezes mas como ela não respondia fiquei à escuta. Foi assim que ouvi uma voz ao fundo perguntar:"para onde o levas, para onde o levas? Uma segunda voz responde: vou levá-lo Estado Maior". Continuei a escutar mas não havia mais nada de importante cortei a ligação.

Eram mais ou menos 5h da manhã. Fiquei ainda com uma certa esperança de que o Presidente ainda estivesse de vida. Tentei chamar o Coronel João Monteiro, mas continuava com o seu telemóvel fechado.

Às sete da manhã o Coronel João Monteiro chamou-me e quando respondi perguntou-me se ainda havia movimento nos arredores da casa do Presidente ao que respondi que sim. Pois, os militares que estavam envolvidos no assalto ainda estavam no local. Nessa altura ele não me disse que estava ferido e nem perguntei onde estava pois no telefone não devia fazé-lo. Em relação a ele eu pelo menos, fiquei a saber que ainda estava de vida. Também já sabia do assassinato do Presidente da República.

Desligou o telefone e só voltou a chamar-me às nove. Desta vez disse-me que tinha sido ferido e que sangrava. Eu pedi-lhe que ficasse onde estava, que eu ia fazer diligências para tirá-lo dali. Chamei o Coronel Cissé da CEDEAO mas o número que eu tinha não passava. Chamei o Coronel Sandji Fati, que me deu o número do Coronel Marino. Depois chamei o Dr. Aristides que de imediato chamou para a UNOGBIS - eu também chamei - tendo confirmado que já tinham sido chamados tanto pelo Aristides como pelo Dr DiCkson.

Depois destas diligências todas fiz o seguimento da operação de sua exfiltração pela UNOGBIS à distância. E só depois de tudo isto é que fui para a minha casa onde fiquei. Estive em Bissau até depois do enterro a que assisti. Saí de Bissau para Dakar no dia 12 de março de 2009 no voo normal da TACV. No dia 14 do mesmo mês segui para a Índia, que, de resto, era o meu destino e o motivo da minha saída do País.

De regresso a Dakar fui visitar o Coronel João Monteiro pela segunda vez, no Hospital militar Principal. Quando eu lhe disse que regressava a Bissau no dia 21 de Março, ele insistiu que eu não fosse. E tinha razão. Logo depois fui informado de que na Segurança do Estado circulava a informação em como eu estava a comandar uma força que tinha por missão invadir a Guiné-Bissau, a partir de Varela, enquanto que o Coronel João Monteiro comandaria outra, que devia desembarcar em São Domingos.

Mais tarde soube que os agentes da Segurança montavam guarda à minha residência.
Coitado do Coronel João Monteiro: enquanto a Segurança dizia que ele comandava uma força que devia desembarcar em São Domingos, ele estava deitado no Hospital com seis balas no corpo...

Esta foi a razão porque fiquei fiquei em Dakar. Só as especulações continuaram. E em Junho de 2009, soube pela comunicação social que o Helder Proença, o Baciro Dabó mais outras duas pessoas foram assassinadas e que o Dr Faustino Mbali foi detido por uma alegada tentativa de Golpe de Estado em que nós participaríamos. Assim tomei conhecimento da lista de nome de pessoas supostamente envolvidas na tentativa.

Nota: Depois de ler a entrevista, quis aportar as precisões acima.

Coronel António Afonso Té
"

NOTA: Muito obrigado pelo seu esclarecimento. Um abraço, Aly Silva

Coronel João Monteiro/Capítulo II - A guerra de 7 de junho: Carlos Gomes Jr., Zamora Induta, Luis Amado e Jaime Gama, José Eduardo dos Santos, os 'aguentas'

DITADURA DO CONSENSO: Coronel, fale-me da guerra de 7 de junho de 1998. Qual foi o seu papel?

João Monteiro: Na guerra de 7 de junho, eu tinha montado uma barricada no poilão de Brã e a Junta Militar estava do outro lado. Um dia, o Presidente ‘Nino’ chama-me e pede que abra uma frente na zona de Plack 2. Então, eu disse-lhe que se saísse do poilão perderíamos essa posição. Ele insistiu: ‘abre o Plack’. Assim fiz. Então, o actual CEMGFA, António Indjai, na altura na Junta Militar, estancou em Brá. Fui e abri essa zona juntamente com o Nunes Cá, o Indi, o já falecido Marcelino Ramos. Logo no primeiro dia, a Junta Militar sofreu uma pesada derrota.

Chegou a sentir, a dada altura, que podiam ganhar a guerra?

Cheguei a sentir que sim, que essa guerra que nos foi imposta, uma aventura irresponsável, podia ser ganha. Aliás, no dia 31 de janeiro estávamos já com poder suficiente e prontos para tomarmos Brá e a Base-Aérea, mas o Presidente ‘Nino’ disse que não, que o Jaime Gama estava para chegar. E eu disse-lhe ‘e quem é o Jaime Gama? Ainda que fosse o Mário Soares, isto é uma guerra!’ E disse aos senegaleses para dispararem mas o Kony disse que havia que respeitar a ordem. E como somos militares há que obedecer, pois o Presidente às tantas diz ‘isto é uma ordem’. E como acabou? Perdemos a guerra e agora havia que negociar. Eu sempre disse ao Presidente que para as negociações era perferível a CPLP - que estancaria a Junta em Mansoa para iniciarmos as negociações.

E aparece a CEDEAO como mediadora...

Sim. A CEDEAO adiantou-se e deu no que deu. Por exemplo, o presidente do Senegal, Abdou Diouf, dizia constantemente ao Presidente ‘Nino’ que ‘as tropas senegalesas não abandonariam o País enquanto ele não ganhasse efectivamente a guerra’. E disse mais ao Presidente ‘Nino’, aí, no aeroporto osvaldo Vieira, em Bissau, durante as despedidas: ‘se não tiver cuidado vai perder esta guerra! Com rebeldes não se brinca, nem se deve negociar!’.
Tínhamos 3 peças de canhão de 120mm, acabadas de chegar do Senegal. Foram montadas e disparamos apenas 3 obuses e o ‘Nino’ opôs-se logo ao seu uso, dizendo que ‘aquilo não era arma para ser usada numa guerra’. Respondi ao Presidente dizendo-lhe que estávamos a ser fustigados por mísseis BM-21 (Katiushka). Ele foi firme: ‘isto é uma guerra entre irmãos e essa arma é medonha? Desmontou-se tudo, reembarcou-se no navio, e assim voltaram aquelas três peças de canhão para o Senegal.


Coronel, conheceu o Zamora Induta?

Não o conhecia, para lhe dizer a verdade. E não sei que ódio moveu o Zamora contra o ‘Nino’ Vieira, contra a minha pessoa e contra a Guiné-Bissau. O Zamora, na guerra de 7 de junho, andou fugido com mais pessoas. Então eu chamei o Watna, que é piloto, e disse-lhe: ‘ouve, tu és militar e há uma guerra e tu estás aqui. O que se passa?’ Ele respondeu dizendo que nem sabia para que lado é que devia ir, que os colegas tinham ficado na Base. Retorqui que não, que os seus colegas tinham saído da base. Então disse que não iria à Base, pois corria o risco de ser abatido. Alegou que não sabia como estava o centro de Bissau. Levei-o comigo. O Zamora foi logo dizer que eu prendi-o e quis matá-lo. Que assim que caiu um obus ele conseguiu escapar...que bandido, este! Alguém que eu nem conhecia! O Watna foi testemunha disto. A partir daí o Zamora começou a olhar para mim como um inimigo.

E depois reaparece, mas na Junta Militar...

Sim. Assim que ouvi falar no nome dele, disse logo para mim que o Zamora tinha algo contra o ‘Nino’ Vieira. Aconteceu outra coisa estranha. Um dia, o Presidente ‘Nino’ ia para França, via Lisboa, e para seu espanto viu o Zamora sentado dentro do avião. E pergunta-lhe ‘o que fazes aqui?’ – Zamora estava com o Luis Amado (actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal) a conversar. Zamora responde, visivelmente embaraçado e desconfortável, dizendo que ‘ia a Bruxelas’. O ‘Nino’ voltou à carga: ‘e quem é que te deu licença para ir a Bruxelas? Conheces por acaso o Luis Amado, para estarem na conversa?’. Disse-o à frente do Luis Amado para este ouvir e ouviu muito bem... E ‘Nino’ disse-me depois que tinha quase a certeza de que Zamora Induta estava a esconder qualquer coisa...

Acha que Portugal teve uma ‘mãozinha’ na morte do 'Nino' Vieira?

Não posso dizer isso, mas as declarações do Presidente Mário Soares - ‘Nino era um homem violento e morreu com violência’, deixa entender que há mão oculta, portuguesa, na morte do Presidente da República João Bernardo ‘Nino’ Vieira. Ouvi igualmente o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que falava ao lado do seu homólogo Cavaco Silva, em Lisboa, dizer que a morte do Presidente ‘Nino’ ‘não ficaria em vão, que tinha que ser esclarecida’. Fiquei assim, se saber...

Tem esperança de que um dia o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira venha a ser cabalmente esclarecido?

Não posso dizer que tenho esperança, não vejo é quem vai resolver isso.... Fui ouvido em Dakar e garantiram-me que em Setembro haverá Justiça. Eu disse-lhes até que ‘mobilizando-me ou não, tinha de falar! Como vieram até cá vou dizer-vos a verdade’. Depois da morte do Presidente comecei a ouvir dizer na rádio que se tratava de um ajuste de contas, que foi um ‘grupo desconhecido’ e coisas assim. Mas que grupo desconhecido? Um grupo desconhecido não pode atacar a residência de um Presidente da República de maneira desenvolta como fizeram. Agora pergunto apenas isto: e eles, os que guardavam o Presidente em casa, como militares, onde é que estavam?

Por falar nisso, onde é que estava a quase centena de militares que guardava a residência do Presidente?

E é mesmo isso que se deve perguntar. Foram para onde? Olhe, o Manuel Sanca (NOTA: Manuel Sanca era segurança do Presidente ‘Nino’ Vieira. Hoje, faz parte da equipa que ‘guarda’ o Presidente da República, Malam Bacai Sanha) veio um dia a Dakar e visitou-me. Depois do almoço, portanto já relaxados, perguntei-lhe calmamente: ‘Manuel, vocês estavam no passeio, eu vi, estavam todos armados, em prontidão de combate. Para onde é que foram quando começaram os tiros?’. Sabes o que ele me respondeu, assim, friamente?: ‘fugimos’. Eu ripostei irritado - Manuel, tu disseste ao ‘Nino’ à minha frente «esta é a tua cova, esta será a minha». E agora a cova do ‘Nino’ chega e tu foges? Porquê? Isto significa que estavas a enganar o Presidente? Então, começou a chorar. Rematei dizendo que se eu estivesse lá, teria outros homens a guardar o Presidente, que não eles. O Presidente ouvia gente que o enganava... Disse-lhe várias vezes que a sua segurança era um caos, que estava completamente desorganizada, e que um dia haveria uma desgraça...

E houve também aquele problema com o Tagme Na Waie, aquando do desarmamento do pessoal da guarda do Presidente, os chamados ‘aguentas’, criados na guerra de 7 de junho.

A primeira vez que o Tagme mandou desarmá-los, eu disse: ‘camarada Presidente, deixe-se disso. Ele responde ‘tens razão’, mas eu continuei: ‘Eu sinto-me ofendido. Quando é que um militar, ainda que seja o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, pode mandar desarmar uma guarda presidencial da escolha de confiança do Presidente da República, que é também Comandante-em-Chefe das forças frmadas?’ Ele apenas disse, olhando para o lado, ‘deixa estar, deixa estar, não arranjes problemas’.

E você, o que fez?

Durante dois dias não meti os pés no Estado Maior. Até o Tagme mandar chamar-me para saber a razão da minha ausência no trabalho. Disse-lhe apenas que não estava a sentir-me bem. Então comunicou-me que ia ter lugar uma reunião das chefias militares. À frente de todos, nessa reunião, disse-lhe que não tinha ficado satisfeito com essa sua atitude de mandar desarmar a segurança do Presidente. Disse-me que não, que esses miudos tinham disparado contra ele (NOTA: Tagme referia-se aos incidentes na avenida da Presidência da República). Disse-lhe mais: que esses rapazes eram balantas, seus parentes, que disseram em inquérito que só passados 30 minutos é que você chegou lá. Que você quem comunicou à Base Aérea que tinham matado um elemento sa sua escolta. E desafiei o Tagme a dizer, no mei0 de toda aquela gente, que elemento da escolta é que tinha sido morto. Desculpou-se então com uma frase tão velha como o próprio mundo: ‘a informação que foi passada era falsa’... Disse-lhe então que tivesse cuidado com essas coisas.

Acha então que foi tudo bem preparado até se chegar ao assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?.

Claro que foi tudo bem cozinhado. Aliás, se eu não tivesse sido atingido, aposto que diriam logo ‘foi o João Monteiro que colocou a bomba que matou o Tagme'.

E foi você?!

Olhe, uma senhora, que tem acompanhado e assistido o Barnabé Gomes na sua recuperação (NOTA: Barnabé era assessor de imprensa do Presidente ‘Nino’, e foi ferido com gravidade no atentado do dia 2 de março de 2009, que custou a vida ao Presidente ‘Nino’ Vieira) disse-me um dia que nessa manhã de 2 de março o meu nome já circulava por meia Bissau - que eu é que tinha colocado a bomba que matou o general Tagme Na Waie... Contudo, assim que souberam que tinha sido atingido e estava na sede da ONU, o boato parou... sei bem o que é o trabalho de um sapador. As minhas mão tremem, portanto fica descartada essa hipótese patética.

Já agora, suspeita de alguém?

Um dia, de Bissau, telefona-me o Melcíades Fernandes (NOTA: General, Piloto-Aviador, Melcíades Gomes Fernandes foi um dos elementos da Junta Militar. Chegou a Chefe do Estado-Maior da Força Aére. Esteve preso mais de um ano, acusado de ter colocado a bomba que deflagrara no Estado-Maior, ceifando a vida do general e CEMGFA Tagme Na Waie, no dia 1 de março de 2009) e aproveitei para lhe dizer apenas isto: Olha, eu não sou um bandido. Sou um homem que vai morrer com uma só cara, que não vai mentir para morrer. Pus a verdade à minha esquerda, à minha direita; à minha frente e atrás. Diz-me só isto: por que razão aceitaste carregar esse peso nos teus ombros, o de teres sido tu a colocar a bomba? Manteve-se calado e eu desliguei o telefone. Não me chegou a dizer que tinha sido ele, nem que não.

Mas o que você acha?

Acho sinceramente que o Melcíades Fernandes mentiu. As informações que eu tenho – por exemplo de um patrício que veio de Cabo Verde, contou-me tudo. Se as provas existem, ou não existem isso eu não sei. Não me peçam é para mentir.

‘Nino’ Vieira chegou a sondar líderes da sub-região para ajudar José Eduardo dos Santos a chegar à presidência da União Africana? O que sabe sobre isso?

Assim foi. O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos é que pediu ajuda ao ‘Nino’ Vieira alegando que ele tinha influência na sua zona, mas que era com ‘Nino’ Vieira que contava na sub-região da África Ocidental. O Presidente ‘Nino’ até já tinha entrado em contacto com o presidente da Gâmbia e com presidentes de outros países vizinhos. Acho até que o Yaya Jahmeh levou esse assunto ao conhecimento do Khadaffi, que queria esse cargo mas acabou por perder na votação... não é que esteja a acusar o coronel Khadaffi, mas há muitas mãos ocultas por detrás desse assassinato. Por exemplo, tenho informação de que o Jaime Gama esteve na Gâmbia antes de chegar a Bissau. Para fazer o quê? E por que razão foi o Jaime Gama a Bissau se o Presidente ‘Nino’ não estava no País? Com quem falou? Do que falaram? Foi falar com o Cadogo...

Por falar em Cadogo, que apreciação faz da pessoa do actual Primeiro-Ministro durante essa crise?

O Cadogo (NOTA: Cadogo é o ‘nominho’ por que é conhecido Carlos Gomes Jr., Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau) esteve em Dakar várias vezes. E o embaixador Fali (NOTA: Fali Embaló é agora embaixador da Guiné-Bissau em Portugal) disse-lhe ‘o coronel João Monteiro está internado no hospital’. A Isabel Vieira disse-me uma vez que ouviu dizer que o Cadogo viria visitar-me e eu respondi ‘ele que venha. Eu estou aqui deitado e nem me posso levantar. Não posso fugir dele.’ Mas eu nunca cheguei a ver o Cadogo com os meus olhos... se tivesse vindo, as nossas palavras cruzar-se-iam. Se ele me dissesse dez eu dir-lhe-ia vinte... Peço a Deus que nem me venha visitar, porque dizia-lhe na cara aquilo que eu penso que ele fez...

Acha então que o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr foi responsável pelo assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?

É responsável, sim! Não sei se foi ele quem matou o ‘Nino’, mas, diga-me uma coisa, você é Primeiro-Ministro e o Presidente da República chama-o. O que você faz? Vai responder, claro. Da segunda vez que o Artur Silva veio à casa do Presidente (NOTA: Artur Silva era, na altura, Ministro da Defesa. Hoje, é titular da pasta da Educação) disse ‘Sr. Presidente, o Primeiro-Ministro diz que não vem porque não tem segurança’. O Lourenço, que morreu nessa noite, disse o mesmo. O Adolfo Martins, também. Então se o Cadogo sabia que alguma estava para acontecer, porque não contou isso ao Chefe de Estado? As suspeitas recaíram desde logo sobre o Cadogo e as suas manobras nessa noite... Deus me perdoe, mas não tiro as mãos do Cadogo nesse assassinato. Várias vezes fez comentários do tipo ‘não coabitarei com um bandido’ (NOTA: Cadogo disse isto em Cabo Verde). E isso quer dizer tudo. Não posso dizer que foi ele a 100 por cento, mas as suas palavras não deixam dúvidas de que tem quota parte da responsabilidade.

CONTINUA...