sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Mandinti: tens furúnculo no cotovelo
«Caríssimo Aly,
Deixares os teus afazeres da tua luta quotidiana para dares atenção a um frustrado da vida que não suporta a tua mediatização e que morre de inveja e tem ódio ao teu sucesso é um desperdício que a sua pequenez de pessoa não merece. Continua o teu caminho e a tua luta que nós estamos juntos contigo. Ele se quiser vangloriar a Guiné-Bissau, no estado em que esta com o regime de assaltantes do poder, que o faça por suas expensas pois com eles se identifica e muito.
Entre vocês, é como o sol e a manteiga: quanto mais brilhas mais ele se derrete... de inveja e de ódio. O teu sol, esse continuará a brilhar, cada vez mais intenso, alimentando com o seu raiar de esperança e perseverança o sonho de todos os guineenses, que é de ver o fim do regime hediondo instalado em Bissau.
Nhu mandinti, nhu figa kanhota.
OP»
Mandinti: lava o cérebro
«Mais um disparate à... Dinguinho! Cabo-Verde, caso não saiba, é um país soberano, um Estado consolidado e democrático (e com liberdade de expressão/opinião)! Lá, rege-se pelo respeito ao direito à expressão e liberdade de pensamento das pessoas. Os órgãos de comunicação social funcionam de forma autônoma e sempre em obediência com aqueles princípios! Será que, é por não estarem habituados a tais liberdades é que vos leva a essa indignação toda? Ou, talvez, será pela pura ignorância?
Por acaso, o que se diz deste miserável pais chamado Guiné-Bissau, não corresponde a verdade? Valha-me Deus! Estou cada vez mais decepcionado com os Guineenses! Lixam tudo e enterram-se cada vez mais no charco por eles criado e, para o meu espanto, não admitem que se diga a verdade! Poxa...! Chato, hein?»
Ntory Palan
Mandinti: lava a boca
«Porra! Este Mandinti não gosta mesmo do Aly. É só ódio. Então o homem não é jornalista? Não é a primeira vez que dizes isto. Porquê? Tens inveja? Ele foi jornalista do Independente (da revista VISÃO e fundou um jornal em Lisboa - O Lusófono, que dirigiu durante 3 anos) e já vi, por causa das tuas dúvidas, a caderneta de jornalista dele, publicada muitas vezes. E olha, pá! Fizeste bem em ir ao baú dele. Afinal recordaste-me, que ele nunca bajulou o Cadogo, foi aliás um grande crítico dele. Como agora é destes assassinos! Porque não comentas os escritos dele, sim, do blogue dele, do tal que todos leem, do tal que todos escutam. Pois, a inveja é muita, sem dúvida. A ti, ninguém te pergunta nada (e porque haviam de perguntar, se tu nem sequer tens um blogue?) Deixa o Aly em paz. Deixa-o denunciar os atropelos que todos os dias se fazem na Guiné, deixa-o denunciar a prepotência das forças armadas, do barão da droga, a quem os americanos estão prestes a deitar a luva. Denuncia tu estes desmandos, os assassínios sem culpa formada, o medo, os assaltos, a tortura, os espancamentos. Ou julgas que anda toda a gente a dormir como tu?»
Joka, S. Paulo, Brasil
«Mandinti, deixa o Aly em paz, lava a boca antes de falar do trabalho que Aly tem prestado ao mundo e aos guineenses. Talvez seja Aly o mais digno filho deste país que nos últimos tempos fez-se conhecer pela sua versatilidade e capacidade profissional inquestionável. O homem pode lá ter os seus defeitos como ser humano que é mas nem de perto, nem de longe se compara contigo em fazer algo para Guiné-Bissau. Ele foi quem realmente teve tomates para enfrentar a realidade e a brutalidade que se viveu no nosso país sem deixar perder a dignidade e a sua forma realista de ver as coisas, assumindo ser controverso em alguns momentos, amado e odiado por muitos, mas mostrou que o que importa mesmo é assumir se livre de expressar e exprimir ideias sem entrar na paranoia de subjectividade. Este é o Aly, ao contrário do Mandinti, que nunca escondeu ser demagogo, falso, invejoso, rancoroso, prepotente durante todos estes anos. Aly vem com o que interessa não importa que tu gostes ou não, ele não reclama reconhecimento ao seu trabalho, recusa homenagens, mas trabalha e as pessoas nele identificam qualidades, isso explica porque ele tem esmagado o site Mandinti.org e eliminou-lhe na órbita das visitas. Enquanto tu e o teu comparsa "bari dur di padja" e etnicista Cocó Djau continuam a morrer de inveja, para não falar do Analfabeto Segurança, o Aly continua a somar credibilidade e se transformando num grande herói e combatente de liberdade da pátria. Tenham vergonha na cara e deixar o homem trabalhar.»
Amadeu, Bissau
Fonte: MANDINTI.ORG
Mensagem de condolências
MEMBRO DE:
FIDH – Federação Internacional dos Direitos Humanos
UIDH – União Internacional dos Direitos Humanos
FODHC-PALOP – Fórum das ONGs dos Direitos Humanos e da Criança dos PALOP
Fundador do Movimento da Sociedade Civil
PLACON – Plataforma de Concertação das ONGs
MEMBRO OBSERVADOR JUNTO DE:
CADHP – Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Nota de Condolência
Foi com profunda mágoa que a Liga Guineense dos Direitos Humanos recebeu a triste notícia da morte súbita do Jornalista Amarante Sampa, igualmente Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS).
Ao longo da sua vida profissional o malogrado foi um grande simpatizante da LGDH e defensor das suas causas e principios.
Para a Liga, o seu desaparecimento físico constitui um rude golpe para a liberdade de imprensa e pluralismo de ideais na Guiné-Bissau enquanto ideais que ele sempre defendeu e para os quais dedicou toda a sua carreira.
Neste momento de dôr e de consternação, a Liga Guineense dos Direitos Humanos manifesta o seu profundo pesar à família enlutada, à ANG e ao SINJOTECS, rogando a Deus que a sua alma descance em Paz.
Feito em Bissau, aos 18 dias do mês de Outubro 2013
A Direcção Nacional
______________________
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
A educação que se não tem
NOTÍCIA 1
Hoje por volta de 11h15 minutos a esposa do Ministro da Educação cortou trânsito no hospital Nacional Simão Mendes durante alguns minutos, tudo isso veio na sequência de:
A estrada que liga antiga maternidade ao bloco operatório havia um mercedez que estacionava a direita, como a prioridade era da viatura que virá noutra direcção, a esposa do ministro da Educação colocou o carro e recusa de voltar a atrás, logo o homem que tem prioridade ficou todo o tempo a espera de "marcharé" e ela recusou, só quando o motorrista do mercedez dirigiu-se para a viatura dela e disse: "volta para trás porque não tem prioridade" a partir daí voltou i disse em língua crioula " sika bó ba nona mansi li na es kau" (se não fosse tu iamos dormir aqui). O número de matrícula do carro é: 5186 CD (carro de cor verde...
NOTÍCIA 2
O Ministro da Educação esqueceu de matricular os filhos que estudavam no Liceu João XXIII e só depois de lembrar foi matricular os filhos na Escola adventista Betel.
Será que um ministro que esqueceu de matricular os filhos vai lembrar de de abertura das portas dos alunos que estudam nas escolas públicas?
Hoje por volta de 11h15 minutos a esposa do Ministro da Educação cortou trânsito no hospital Nacional Simão Mendes durante alguns minutos, tudo isso veio na sequência de:
A estrada que liga antiga maternidade ao bloco operatório havia um mercedez que estacionava a direita, como a prioridade era da viatura que virá noutra direcção, a esposa do ministro da Educação colocou o carro e recusa de voltar a atrás, logo o homem que tem prioridade ficou todo o tempo a espera de "marcharé" e ela recusou, só quando o motorrista do mercedez dirigiu-se para a viatura dela e disse: "volta para trás porque não tem prioridade" a partir daí voltou i disse em língua crioula " sika bó ba nona mansi li na es kau" (se não fosse tu iamos dormir aqui). O número de matrícula do carro é: 5186 CD (carro de cor verde...
NOTÍCIA 2
O Ministro da Educação esqueceu de matricular os filhos que estudavam no Liceu João XXIII e só depois de lembrar foi matricular os filhos na Escola adventista Betel.
Será que um ministro que esqueceu de matricular os filhos vai lembrar de de abertura das portas dos alunos que estudam nas escolas públicas?
OPINIÃO: INPS nas mãos de abutres
"A situação no Instituto Nacional da Proteção Social guineense é simplesmente caótica. O mais grave é que tudo se passa a imagem do país, ou seja, os contribuintes não dizem nada, não fazem nada, mas vêm os seus direitos violados e seu dinheiro voar pela janela para satisfazer os interesses pessoais e partidários. A atual direção até decide financiar um peditório em mais de 30 milhões de FCFA de uma pseudo-ONG, denominada "ONG especial". E tudo se passa nas barbas do governo, do parlamento e da Presidência da República. Estes não dizem nada, não fazem nada, mas sabem de tudo, e não tomam medidas. Isto é uma autêntica vergonha nacional.
Os contribuintes (funcionários de ONGs, de agências e organismos internacionais de cooperação, de empresas publicas e privadas) que descontam mensalmente dos seus salários vêm o seu dinheiro voar para financiar interesses e ostentações pessoais, tudo isto num país, onde a impunidade é o apelido principal das pessoas, onde os que deveriam beneficiar dos seus descontos e contribuições feitos na base de muitos sacrifícios e durante décadas e décadas nem conseguem os míseros reembolsos para os medicamentos que regularmente compram. E ninguém diz nada, pois este é um país de "sacana di merdas"..são injustiças e abusos como estes que fazem o povo revoltar...
Tenho dito
A.F."
PAIGC/Congresso
Press Release
O Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, depois de ter tomado conhecimento do teor do panfleto (panfleto porque não está assinado) divulgado nos órgãos de comunicação social em nome da Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vem tornar público o seguinte:
Registamos com tristeza e desilusão a linguagem contida no comunicado subscrito pela Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vulgo Plataforma. Tristeza, porque para além de ofensiva e caluniosa, denota desconhecimento dos Estatutos e má-fé. Desilusão, porque contrasta com os elevados padrões ético-morais que normalmente associamos à pessoa do Camarada que encabeça o referido projecto para a liderança do PAIGC.
O Camarada António Oscar Barbosa, também conhecido por Cancan, embora seja Membro da Comissão Permanente e Porta-voz do PAIGC, quando fala em nome do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, não usa e dispensa esse estatuto, contrariamente ao que acontece com muitos respeitáveis Camaradas. Aliás, o esclarecimento público prestado pelo Camarada Cancan sobre o resultado das conferências sectoriais aos órgãos de comunicação social, foi feito na qualidade de responsável pelo Departamento de Comunicação e Marketing do Projecto e visava única e exclusivamente dissipar e esclarecer eventuais dúvidas que pudessem subsistir quanto à representatividade de cada uma das candidaturas junto às estruturas do Partido.
O Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva lamenta que continue a persistir a falta de transparência e a promiscuidade entre a Plataforma, a Direcção Superior do Partido e a Comissão Organizadora do Congresso, o que para além de por em causa a credibilidade do processo, constitui a causa próxima dos sucessivos e inadmissíveis adiamentos do Congresso.
Embora não seja parte interessada, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva não pode deixar de manifestar estranheza e preocupação ao ver a Plataforma, como se já não bastasse controlar a Comissão Organizadora do Congresso, arroga-se agora também, publicamente, a competência de dar orientações, instruções e ordens ao Conselho Nacional de Jurisdição do PAIGC.
Por fim, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva faz um veemente apelo ao Camarada 1º Vice-Presidente e Presidente em Exercício do PAIGC para que peça contenção aos Dirigentes do Partido no sentido de não voltarem a baixar o nível das intervenções públicas e solicita os bons ofícios da Plataforma junto da Comissão Organizadora para que o Congresso marcado para 7 e 10 de Novembro próximo não volte a ser adiado, como tudo parece indicar, o que poderia acarretar consequências imprevisíveis.
Bissau, 17 de Outubro de 2013
Pela Coordenação do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva
Marciano Silva Barbeiro
Coordenador
O Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, depois de ter tomado conhecimento do teor do panfleto (panfleto porque não está assinado) divulgado nos órgãos de comunicação social em nome da Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vem tornar público o seguinte:
Registamos com tristeza e desilusão a linguagem contida no comunicado subscrito pela Plataforma para a Unidade e Coesão Interna do PAIGC, vulgo Plataforma. Tristeza, porque para além de ofensiva e caluniosa, denota desconhecimento dos Estatutos e má-fé. Desilusão, porque contrasta com os elevados padrões ético-morais que normalmente associamos à pessoa do Camarada que encabeça o referido projecto para a liderança do PAIGC.
O Camarada António Oscar Barbosa, também conhecido por Cancan, embora seja Membro da Comissão Permanente e Porta-voz do PAIGC, quando fala em nome do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva, não usa e dispensa esse estatuto, contrariamente ao que acontece com muitos respeitáveis Camaradas. Aliás, o esclarecimento público prestado pelo Camarada Cancan sobre o resultado das conferências sectoriais aos órgãos de comunicação social, foi feito na qualidade de responsável pelo Departamento de Comunicação e Marketing do Projecto e visava única e exclusivamente dissipar e esclarecer eventuais dúvidas que pudessem subsistir quanto à representatividade de cada uma das candidaturas junto às estruturas do Partido.
O Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva lamenta que continue a persistir a falta de transparência e a promiscuidade entre a Plataforma, a Direcção Superior do Partido e a Comissão Organizadora do Congresso, o que para além de por em causa a credibilidade do processo, constitui a causa próxima dos sucessivos e inadmissíveis adiamentos do Congresso.
Embora não seja parte interessada, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva não pode deixar de manifestar estranheza e preocupação ao ver a Plataforma, como se já não bastasse controlar a Comissão Organizadora do Congresso, arroga-se agora também, publicamente, a competência de dar orientações, instruções e ordens ao Conselho Nacional de Jurisdição do PAIGC.
Por fim, o Projecto para uma Liderança Democrática Inclusiva faz um veemente apelo ao Camarada 1º Vice-Presidente e Presidente em Exercício do PAIGC para que peça contenção aos Dirigentes do Partido no sentido de não voltarem a baixar o nível das intervenções públicas e solicita os bons ofícios da Plataforma junto da Comissão Organizadora para que o Congresso marcado para 7 e 10 de Novembro próximo não volte a ser adiado, como tudo parece indicar, o que poderia acarretar consequências imprevisíveis.
Bissau, 17 de Outubro de 2013
Pela Coordenação do Projecto para uma Liderança Democrática e Inclusiva
Marciano Silva Barbeiro
Coordenador
Roubado em Bissau
José Luis Peixoto conta a 'aventura' em Bissau
Fonte: revista Visão
"História de uma viagem - José Luís Peixoto
Numa rua de terra, senti agarrarem-me na mão e levarem-me o telemóvel. Corri alguns passos atrás desse vulto, mas vieram mais por trás. Agarrei a carteira e puxaram-me de todos os lados. Um deles deu-me um murro no nariz e na boca para me fazer largá-la.
Antes de chegar ao mercado de Bandim, no centro de Bissau, já tinha reparado nas nuvens. Enormes, grossas, esculpidas em branco puro, a contrastarem com todas as cores do chão: a terra vermelha, rasgada por faixas de lama brilhante, e o lixo de cores desmaiadas, apodrecidas, castanhos tristes. Sobre isto passavam mulheres a levarem todo o tipo de volumes à cabeça: caixas, latas, baldes. As cores dos tecidos que usavam eram vivas como se ardessem, azul a arder, verde a arder, amarelo a arder. Às vezes, quando vistas de frente, essas mulheres tinham um par de pezinhos espetados sobre as ancas. Quando vistas por trás, lá estava o rosto da criança, de face espalmada sobre as costas da mãe, a escutar-lhe a respiração, com o corpo moldado pela faixa que as unia.
Bandim anoitecia e, talvez por isso, notava-se uma pressa, uma febre. Muitas mãos escolhiam de montes de sapatos usados, todos diferentes. Nesse mesmo passeio, os corpos caminhavam desencontrados, tentavam desviar-se uns dos outros à última hora e, com frequência, não conseguiam. Esbarravam com os cotovelos, com os ombros, com os joelhos. Seguíamos à distância de nos cheirarmos. Pelo meio, homens com carrinhos de mão cheios de qualquer peso. Às vezes, durante minutos contados, algum desses encostava-se e ficava a ver o movimento, orgulhoso do seu carrinho de mão. Na estrada, um pouco abaixo do passeio, pessoas em cadeiras de rodas passavam a pedalar com as mãos à frente do peito. Logo atrás, entre táxis amolgados a apitarem sem descanso, os toca-toca, pintados de amarelo e azul, paravam onde calhava. A porta de trás abria-se de repente, como se tivesse levado um pontapé desde o interior, talvez tivesse. Saía um e entravam meia dúzia ou todos os que quisessem, havia sempre lugar. Esses toca-toca iam para o Aeroporto, para São Paulo, para o Bairro Militar ou para o Enterramento.
E, de repente, a noite. Num canto, uma sombra zangada com o telemóvel, a gritar em crioulo. Noutro canto, outra sombra a gritar sem que se percebesse para quem, para ninguém quase de certeza. E os contornos da multidão desenhados pelos faróis dos carros. Gente a conversar comigo no meio, através de mim. Às vezes, eu a desviar-me de algum jato de cuspo que tivesse sido lançado para o lado, entre os dentes. A pouca luz era ainda suficiente para ver os pequenos montes de vegetais sobre tabuleiros de lata. Algumas vendas com os balcões cobertos por uma rede de ferro, iluminadas desde o interior por candeeiros a gás, a venderem latas pobres e caixas de fósforos, saquinhos de óleo de palma e de molho picante, com letreiros toscos a dizerem "há cana bordão", sumo de caju fermentado, alcoólico. E a pressa de toda a gente era cada vez maior. Alguém me despejou um alguidar de água negra sobre os pés. Saído do meio da multidão, um homem com uma perna encolhida e torta avançava com desenvoltura impressionante, apoiando-se num pau grosso, a remar no chão.
E foi como se o céu rebentasse. Os trovões pareciam chegar desde o fundo da terra.
A chuva caia como de fosse disparada, atirada com maldade, descarregada. As gotas davam chapadas onde batiam. Apagaram-se os fogareiros de assar espetadas de carne seca e maçarocas de milho. Encostei-me a uma parede, com as goteiras a escorrerem diante de mim e de outros que ainda tinham apanhado lugar, com camisolas de algodão grosso, atravessadas por suor e terra. Os carros apitavam desesperados. A chuva parecia querer lavar tudo, purificar tudo. Quando os relâmpagos riscavam o céu, era como se, por instantes, fosse dia pálido e cinzento. Nessa trégua, podia ver-se uma multidão de rostos abrigados nos destroços de Bandim.
Quando acalmou, a noite era opaca. Poucas luzes, excepto os relâmpagos, a afastarem-se, a desenharem altas copas de árvores de encontro ao horizonte. Tranquilo, talvez a sorrir, eu regressava cheio de imagens. Então, numa rua de terra, senti agarrarem-me na mão e levarem-me o telemóvel. Corri alguns passos atrás desse vulto, mas vieram mais por trás. Agarrei a carteira e puxaram-me de todos os lados. Um deles deu-me um murro no nariz e na boca para me fazer largá-la. Não conseguiu. Eram uns cinco ou seis e desapareceram na escuridão.
Quando cheguei à luz, tinha a camisola e as mãos cheias de sangue. A ferida no nariz não doía muito, estava meio dormente, só começou a doer mais tarde. Está a doer agora. Sei bem que os finais costumam encerrar uma conclusão mas, neste momento, não sei o que pensar. Só sei que foi assim que aconteceu."
É hoje, é hoje: Tudo ligado na RTC
HOJE, quinta-feira, a partir das 22h, na Televisão de Cabo Verde (RTC) debate-se 'As Migrações e a Nova Ordem Mundial' - centrado na problemática africana, com os seguintes convidados: O Sociólogo e Diplomata, Arnaldo Andrade, o Jornalista, António Aly Silva e o Investigador, Corsino Tolentino. A jornalista Margarida Fontes conduz o debate. A não perder.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
BOMBAS? - ases pelos ares
Centenas de bombas de 500 kg para aviões MIG de fabrico soviético, estão estocadas a menos de 200 metros das salas de embarque e das chegadas do aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau, na área militar. As bombas foram lá 'esquecidas' poucos anos depois da independência, revelou uma fonte militar guineense ao Ditadura do Consenso: "As bombas estão muito enferrujadas mas podem causar grande destruição", revela este oficial superior das forças armadas da Guiné-Bissau, que deixa uma pergunta pertinente: "Será que estamos interessados numa explosão como aquela que ocorreu num paiol militar em Moçambique?". AAS
António Aly Silva, em directo na Televisão de Cabo Verde
Amanhã, quinta-feira, a partir das 22h, na Televisão de Cabo Verde (RTC), debate-se 'As Migrações e a Nova Ordem Mundial' - centrado na problemática africana, com os seguintes convidados: O Sociólogo e Diplomata, Arnaldo Andrade, o Jornalista, António Aly Silva e o Investigador, Corsino Tolentino. A jornalista Margarida Fontes conduz o debate. A não perder.
CABO VERDE: A minha verdade - actualizado
Entre os Povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, não metas a colher. Para começar, em Cabo Verde existe Estado desde a abertura democrática. Mas já havia um Estado antes disso. Em Cabo Verde existe Estado, ponto. Um Estado soberano, crescido e, sobretudo, respeitado no mundo. Um Governo bem dirigido, aliás, um apanágio do País desde a sua independência. Nova geração de políticos, deputados e deputadas, muitos deles jovens, convivem aprendendo com os mais 'velhos'. Mas todos eles comungam um único objectivo: estão determinados em batalhar, muito, mas muito mesmo. As armas que usam? O diálogo, e o debate político - os únicos caminhos para desenvolverem o seu País. A democracia é aguerrida mas saudável; o Estado é reconhecido internacionalmente - e apoiado. E até copiado em certas coisas.
Até 2015, Cabo verde atingirá - nas palavras do seu próprio Primeiro-Ministro, José Maria Neves e ditas na passada 2ª feira - «TODOS OS OBJECTIVOS DO MILÉNIO.» Brilhante.
De facto, o crescimento que Cabo Verde alcançou desde a sua independência, há quase 40 anos e apesar de todas as dificuldades e problemas que este País insular com 10 ilhas enfrenta - é simplesmente notável. Os cabo-verdianos só podem sentir-se orgulhosos com este e com todos os seus ex-Presidentes e Governantes. Diz-se que Roma e Pavia não se fizeram num dia - eu não sei, não conheço Pavia mas já estive pelo menos 7 vezes em Roma...e aquilo é trabalho para 100 séculos, caramba!
Mas que sei aquela que diz que um Estado constrói-se todos os dias, ah, lá isso sei - e concordo.
Exemplos? Só na ilha de Santiago (a capital política e financeira do País) existe perto de 10 fábricas - todas funcionais -, grandes empresas, muitas delas multinacionais, centenas de quilómetros de estradas atravessando as suas altas e portentosas montanhas. No alcatrão, não há buracos não. O desenvolvimento de Cabo Verde está garantido: o Povo de Cabo Verde escolhe, os políticos agradecem e trabalham para o Povo. Cabo Verde, tal como Roma e Pavia, são para ir construindo. O Povo está lá para os ajudar e dar força.
Nas forças armadas de Cabo Verde não existe combatente da liberdade da Pátria no activo - foram todos para a reforma. E são gente com dignidade, respeitada no seu País. Gente que não pegou em armas para exigir 'reforma condigna'.
Cabo Verde tem pouca água doce. Então, dessaliniza quase toda a água que é consumida no país. Outra coisa notável. Nós, que temos mais água que terra...andamos aos papéis. Não me doeu nem um pouco ver o desenvolvimento espetacular conseguido por este País. Muito pelo contrário, sinto um orgulho desmedido, e - bem, devo confessar - alguma inveja, mas no bom sentido. Inveja por não termos, na Guiné-Bissau, essa visão de futuro. Inveja por não termos um só exemplo que nos empolgue. E raiva por nós, os guineenses, termos escolhido o caminho mais fácil - o das guerras intestinais, da calúnia, do ódio, da destruição, da matança gratuitas.
Para dar um exemplo, só na ilha de Santiago foram construídas 3 barragens, que, hoje mesmo, uma está a transbordar e as outras quase cheias - aliás, pode nem chover durante dois longos anos que haverá água doce para irrigar todos os campos e respectivas plantações!!! A isto chama-se trabalho. Arrisco mesmo dizer que as obras das barragens foram as mais importantes levadas a cabo no País desde a sua independência. Em quase todas as outras ilhas, rasgam-se montanhas para erguer mais barragens. O trabalho leva ao desenvolvimento. Até parece fácil. Os cabo-verdianos uniram-se, as suas forças armadas são republicanas, obedientes ao poder político, e não andam aos tiros, sobressaltando a população, para tirar este ou aquele Governo ou impor este ou aquele Presidente. Não, caramba! É o Povo de Cabo Verde que escolhe quem quer para governar e quem quer para Presidente. Ponto.
Cabo Verde tem problemas graves como os crimes transnacionais - oh, se tem! - mas tem-nos combatido, apesar das dificuldades. O tráfico de droga, apesar de alguma falta de meios, tem sido severamente combatido e foi por várias vezes duramente atingido - dezenas de edifícios foram confiscados pelos tribunais em julgamentos mediáticos e reverteram todos a favor do Estado. Residências e viaturas de luxo e outros bens, também. Aliás, o moderníssimo edifício onde funciona o Estado Maior General das Forças Armadas é disso exemplo.
Em Cabo Verde, trabalha-se. Apesar das dificuldades, existe um bom sistema de ensino e a taxa de analfabetismo está a ser combatida; a saúde funciona. Existe uma classe média esclarecida e exigente e um povo que sabe o que é Estado e respeita-o como tal. As mulheres ocupam cada vez mais altos cargos na vida do País - da Assembleia Nacional aos municípios, do ensino à saúde, das empresas às áreas técnico-profissionais. As mulheres são, orgulhosamente, uma força bastante considerável no desenvolvimento de Cabo Verde.
Na Guiné-Bissau, pura e simplesmente não existe Estado digno desse nome. Isto pode doer - e dói. A mim dói muito, imenso. Mas é a dura e triste realidade. AAS
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