terça-feira, 1 de outubro de 2013
"Os camaradas estão a perguntar se é assim que se toma a independência"
Senhor Benvindo,
Sr. Rui Barros: Demita-se e leve o seu 'governo' de marionetes junto. Saiam, desamparem a loja! Por uma vez façam uma coisa boa, um gesto nobre, um grande favor aos guineenses: entreguem o País ao António Indjai!!! Deixem-no governar! Já vi que tal como o desesperado CEMGFA, vocês também não pescam nada daquilo. GOVERNAR é para quem sabe, e tem regras. O povo é quem manda! São tão estúpidos que nem deram conta que todas essas greves são uma forma de PROTESTO contra o golpe de Estado de 12 de abril de 2012.
«Os camaradas estão a perguntar se é assim que se toma a independência.»
O País, a Guiné-Bissau independente há 40 anos, não é como a vossa casa, onde, em algumas - talvez não raras circunstâncias - comem com as mãos, dão um arroto sibilino. E até peidam. NÃO. Trata-se de um Estado.
Respondam aos camaradas!
Mas antes um conselho: saiam. Saia já daí. Saiam rápido. O António que forme um governo militar, que ande com os tanques na rua, que sobrevoe os céus 24 sobre 24 horas; O indjai que imponha uma ditadura do tipo Idi Amin no Uganda, que atire guineenses ao Pindjiguiti; que faça o diabo ao quatro, foda-se! Tenham vergonha e saiam, saiam já!. É o sol dele que está a arder - deixem-no aquecer. O Indjai, tal como eu e vocês, vamos passar mais tempo mortos, pá! Deixem-no divertir!
Este país, cuja terra e povo venero, dilacera-me o coração. Convém no entanto esclarecer que amo a Guiné-Bissau! E, talvez por isso, sinto-me repelido por ele. Odeio-o mas volto a amá-lo. Esta relação de amor ódio ainda hoje persegue-me. E levanta no meu cérebro suspeitas imemoriais, dúvidas estranguladoras, incertezas dolorosas...
Vivemos hoje, na Guiné-Bissau, o cúmulo da tirania: o individualismo dos mais fortes sobre os mais fracos - dura há anos e permanece. Ainda assim o Povo da Guiné-Bissau continua com medo. Terá a sua razão, mas cabe ao Povo a vontade e a acção da mudança. Há, porém, três coisas que não se podem esconder: o amor, o fumo e um homem montado num porco. Para bom entendedor...
Um atoleiro este, onde nos vimos enfiados. Que não nos falte nada já que a nós nos calhou tudo! Boa semana a todos. AAS
PUTA QUE PARIU!(*): "Senhor primeiro-ministro, tem que tomar decisões. Se não puder, avise-nos." - António Indjai
RAMOS HORA, engula isto. Se conseguir, claro...
António Indjai classificou o executivo como "um Governo de engolidores: cada um engole [o dinheiro público] e não quer saber do povo". O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, acusou o Governo de transição de corrupção e pediu verbas para as forças de segurança e militares, sob pena de haver instabilidade. O general que liderou os militares no golpe de Estado de abril de 2012 falava na segunda-feira durante um encontro dedicado aos serviços de segurança guineenses, no Clube Militar de Bissau, e cujo discurso foi divulgado pela Radiodifusão Nacional. "Fizemos este golpe para mudar e melhorar a situação do país, mas na realidade está pior", referiu, deixando um aviso: "se estão a brincar com este país, fiquem a saber que nós, os militares, não estamos na brincadeira e apenas vos chamámos para governar".
Salários em atraso, militares sem farda e falta de outros meios para operações, foram algumas das queixas apontadas pelo general para criticar a falta de investimento do Estado guineense em segurança. "Se não fosse por estarmos cansados de problemas, há muito que já tinha havido um levantamento militar, porque estão a dar cabo de nós", acrescentou Indjai, num discurso em crioulo e na presença do primeiro-ministro de transição, Rui de Barros. Ao líder do executivo, o general perguntou: "o que andam a fazer nas reuniões do conselho de ministros? Aquilo é só para discutir como fazer para ter uma quinta, para arranjar um carro, para mandar o filho estudar fora do país, é só isso". António Indjai classificou o executivo como "um Governo de engolidores: cada um engole [o dinheiro público] e não quer saber do povo".
O líder dos militares admitiu, por exemplo, negociar diretamente com barcos estrangeiros as licenças de pesca nas águas da Guiné-Bissau para assim obter financiamento, acusando o Governo de não saber rentabilizar os recursos naturais. "Senhor primeiro-ministro, tem que tomar decisões. Se não puder, avise-nos. Sei que a comunidade internacional vai dizer que somos nós que estamos a mandar neste país, mas temos uma palavra a dizer na governação", destacou. O líder das Forças Armadas lamentou que tenha sido negada uma proposta dos militares para integrarem os atuais órgãos de gestão da tesouraria pública.
António Indjai deixou mais uma nota no discurso: "nas próximas eleições, se não me matarem, vou-me candidatar para mostrar às pessoas como é que se governa um país. Mas mesmo que venha a ganhar, vou por outra pessoa como Presidente". Rui de Barros, primeiro-ministro de transição, respondeu a Indjai, dizendo que as falhas "dizem respeito a problemas antigos", cuja resolução "não é fácil". O governante queixou-se de não existir "uma lei orgânica do serviço de Segurança", referindo que "sem isso, é difícil funcionar".
"Alguém pode nomear ou dar ordens a quem bem entender no âmbito da Segurança de Estado porque não existe uma lei orgânica. Isso demonstra a nossa desestruturação. É por aí que devemos começar", acrescentou. António Indjai foi acusado em abril pelo procurador de Manhattan, Estados Unidos, de participação numa operação internacional de tráfico de droga e armas. A acusação surgiu poucas semanas depois de os Estados Unidos terem anunciado a prisão de Bubo Na Tchuto, antigo chefe da marinha da Guiné-Bissau, e de outros guineenses acusados de tráfico de droga. Lusa
(*) TINHA MESMO DE DIZER ISTO. SORRY...AAS
Orgulho na alma
"Meu caro,
Li parte da tua entrevista ao jornal angolano 'O País', que me deixou orgulhoso de ti, és decididamente um dos poucos guineenses que diz o que lhe vai na alma.
Abraço
A."
Aly Silva, em entrevista exclusiva ao jornal angolano 'O País' (última parte)
Heróis mortos um por um
Porquê? Ter-se-á tratado de uma encenação?
Foi tudo por ordem do Malam Bacai Sanhá, o presidente que morreu. Aliás, a ordem que ele deu foi para matar o Carlos Gomes Júnior. E quando ele telefona para o Estado-maior a informar-se sobre o Cadogo diz-lhe o Indjai “ele está aqui ao meu lado”, e então dá ordens para o deixarem ir embora. Há por aí, a circular, muitas versões, e todas mal contadas, de como se passaram as coisas. Com o Zamora Induta, que foi meu colega de tropa, foi o que aconteceu. Fomos incorporados juntos em 1986, e ao contrário do que fazem hoje, indo à Tabanka escolher os futuros militares, foram buscar-nos aos liceus, numa tentativa de introduzir sangue novo e gente com potencialidades de formação nas Forças Armadas. Éramos jovens com o 11º e o 12º anos de escolaridade.
Então, já houve tentativas sérias de reformar as Forças Armadas Guineenses…
Sim. Houve essa tentativa, mas o Nino Vieira foi travado. Mas é preciso entender uma coisa: isso acontece porque os militares que hoje se armam em donos do país são gente que nem fez a guerra de libertação. O António Indjai tem 50 e poucos anos e não pode ter participado. O Daba na Walna, que é o disparatento-mor do Estado-Maior, tem quarenta e tal anos e também não pode ter feito a luta de libertação. Por isso pergunto, então, como é que pode ser general? Como é que essa gente pode ter a pretensão de querer falar em nome dos combatentes da luta de libertação e reclamar para si privilégios que resultam dessa condição, se nunca, como militares, fizeram nada pelo país?
Então, o mito dos grandes guerrilheiros que habitualmente se associa às Forças Armadas guineenses não passa, hoje em dia, de uma mistificação?
Os grandes guerrilheiros guineenses acabaram por ser todos mortos nesta última década e meia. Estou a falar do Ansumane Mané, do Tagma na Wai, do Tchambú Mané, do próprio Nino Vieira e de vários outros. Uns morreram na guerra civil que se seguiu ao golpe de Estado de 1998, outros acabaram por ser eliminados nas sucessivas inventonas que ocorreram depois. Foram sendo mortos um por um, e estes que lá estão agora não passam de impostores.
Quer dizer que a actual instituição militar guineense não pode ser considerada herdeira do que durante muito tempo foi designada como “as gloriosas FARP” (Forças Armadas Revolucionárias do Povo), do tempo de Amílcar Cabral e dos primeiros anos da independência?
Não. Os que pertenceram às “gloriosas FARP” estão todos sete palmos debaixo do chão. A actual hierarquia militar é formada por impostores, que chegaram ao poder porque pegaram em armas e derrubaram os antigos. Tomaram de assalto a instituição militar, e estão a estragar o nome da tropa guineense.
MISSANG era acto de gratidão
Esta entrevista, sendo uma conversa de evocações que envolve necessariamente sentimentos e emoções, não pode seguir um rumo linear, e somos obrigados a voltar atrás quando necessário. É o caso agora, porque lhe vou pedir que retomemos a questão da MISSANG. Na sua opinião, o que é que correu mal?
A MISSANG resultou de um acordo assinado entre os dois países, e o próprio António Indjai esteve envolvido no processo. Previa a reforma das Forças Armadas, na sequência do fracasso de um general espanhol que a União Europeia mandou à Guiné-Bissau com o mesmo objectivo. Os angolanos chegaram, fizeram um levantamento e começaram a deitar abaixo quase os quartéis para construírem, de raiz, novas e modernas instalações militares, onde não chovesse dentro das casernas, que tivessem água corrente e que oferecessem condições dignas para a tropa. Para se ter uma ideia da dimensão do projecto, basta dizer que a MISSANG gastava na Guiné-Bissau, só para o funcionamento da própria missão, entre 40 a 50 mil dólares por dia. Até alimentavam os militares guineenses, o que não estava no acordo. É claro que esse dinheiro não era nada para o Estado angolano, uma vez que só o orçamento anual do exército daquele país cobre três anos do Orçamento do Estado da Guiné-Bissau. Por isso, quando digo que não existe Estado na Guiné-Bissau, este dado confirma o que digo. Voltando ao assunto da MISSANG, demoliram-se o quartel da marinha e outras instalações militares, e até as instalações da Divisão de Trânsito foram deitadas abaixo para se construir uma nova infra-estrutura. E quando se viu que a reforma era mesmo para valer, os problemas começaram a aparecer e alguns militares, com medo de perder o seu protagonismo, ilegítimo porque conquistado à força, e movidos por interesses completamente diversos dos da Guiné-Bissau, começaram a acusar Angola. As imputações eram que Angola levou armas e outros equipamentos militares, mas tudo o que a MISSANG desembarcou na Guiné estava previsto no acordo, e tudo foi apresentado ao Estado-Maior. Mostraram as armas, os tanques e os meios aéreos e navais, e disseram aos guineenses que iam receber formação para operarem aqueles equipamentos que, posteriormente, reverteriam a favor do exército guineense. Havia inclusivamente helicópteros, e para a sua utilização foi dada formação a pilotos que já não voavam há anos. Do acordo constava igualmente o fornecimento de aviões caça MIG, completamente novos, que seriam entregues ao exército da Guiné-Bissau. Foi nessa altura que MISSANG teve conhecimento de que se estava a preparar um golpe de Estado, e o embaixador angolano confrontou com essa informação os que viriam a ser os autores do golpe. Estes negaram, naturalmente, mas pouco tempo depois aconteceu. Angola já tinha, inclusivamente, avisado o Carlos Gomes Júnior e o presidente Malam Bacai Sanhá, na convicção de que este último não sabia de nada, o que não correspondia à realidade, como se veio a provar. O Cadogo só não se dirigiu à embaixada de Angola para se proteger para não criar mais problemas. Ele permaneceu em casa, deu ordens ao seu corpo de guarda-costas para não reagir se viessem prendê-lo e, assim, evitarem ser mortos, e o golpe aconteceu com as incidências que todos conhecem.
E assim morreu a reforma das Forças Armadas guineenses e se abortou a MISSANG.
Foi o que aconteceu. E garanto-lhe que o que os militares iriam receber como pensão de reforma nem eles tinham ideia. Precipitaram-se e deram o golpe, colocando o país na situação caótica em que se encontra e ficando privados de uma reforma digna e uma aposentação tranquila. E quando o último homem da MISSANG deixa o Hotel Palace, comprado para alojar a missão, instalou-se aí a embaixada angolana e, nas antigas instalações desta última, a Bauxite Angola, a empresa que ia explorar as jazidas desse mineral em Farim e que já tinha construído uma cidade para os trabalhadores da futura exploração viverem. Tudo isso morreu, assim como o Porto de Buba, cuja concessão já estava feita e a desmatação da área concluída, e que já ia começar a ser construído. Neste processo, o que as pessoas não conseguiram ver é que, independentemente das posições que se pudesse ter em relação à MISSANG, o resto eram negócios, e que, se algum dia as parcerias acabassem, os angolanos não levariam o porto de volta para o seu país. Mas também, lá está: quando quem dirige as Forças Armadas são analfabetos, é o que acontece.
Guineenses passam fome
O que é que move o António Aly Silva a ter este discurso de amargura, tristeza e crítica contundente em relação ao que se passa na Guiné-Bissau?
Politicamente, nada. Já tive intervenção política na Guiné-Bissau quando pertenci ao PRS. Nas eleições de 2009 eu era do partido, mas vi coisas de que não gostei e saí. Por exemplo, à saída da casa do Kumba Yalá para acções de campanha, em todos os carros havia kalashnikovs e isso chocou-me. Disse-lhes que no meu carro não entrava arma nenhuma porque eu não ia para uma guerra e, sim, para uma campanha política. Por isso, apresentei a minha demissão e saí. Politicamente, nada me move, não quero cargo nenhum na Guiné e nunca vou ser nada, em termos políticos, naquele país. Agora, ser cidadão e lutar por direitos, isso ninguém me tira. No dia em que me derem um tiro, morro e acabou. Mas enquanto for vivo vou reclamar em nome do povo, porque o que me interessa não é aquela meia dúzia de disparatentos que lá estão. As minhas verdadeiras motivações estão enraizadas no sofrimento do povo, que hoje em dia até passa fome, o que é inconcebível. Como é que se pode falar de fome num país como aquele? As nossas potencialidades marinhas são enormes, mas as nossas riquezas são roubadas todos os dias; temos muito mais terras cultiváveis, por exemplo, do que o Senegal; temos mais área de água do que de terra; temos uma centena de ilhas; temos 300 quilómetros de costa; e temos um arquipélago que foi declarado Reserva Mundial da Biosfera. A Guiné-Bissau apenas precisa da ajuda da Comunidade Internacional para se reerguer e afirmar-se, mas terá que ser uma ajuda efectiva, firme e consistente. Defendo uma força de estabilização com um mandato por tempo indeterminado mas com a duração necessária para o país arrefecer. Isto não pode ser feito em menos de 10 anos. Nesse período, seria possível colocar à frente dos destinos do país os que sabem, e dar instrução aos que não sabem para poderem contribuir de forma útil para o bem-estar comum. O que devíamos todos fazer era reconhecer, clara e humildemente, que falhámos, e aceitar a ajuda necessária para nos recompormos.
Qual é, neste momento, o estatuto legal de António Aly Silva?
Sou um guineense revoltado. Saí da Guiné um mês depois da minha prisão, com problemas de saúde, e fui para Portugal. Tive de fazer três cirurgias para debelar as sequelas dos maus bocados que passei aquando da minha prisão, altura em que fui espancado e levei coronhadas na cabeça. Depois de ter estado em Portugal regressei à Guiné, um mês depois.
E como é que foi acolhido?
Com respeito, porque não admito ser acolhido de outra forma no meu país. Ou me tratavam com respeito ou teriam de me prender e espancar novamente. Permaneci na Guiné-Bissau até Outubro, quando decidi fugir por causa de ameaças, nomeadamente de tiros de bazuca. Neste momento não sou exilado nem sou asilado, sou apenas um cidadão da Guiné-Bissau e da CPLP a tentar ver se retoma a sua vida. Se tivesse dinheiro ia para Angola, onde até tenho família.
O melhor estadista africano
Isso depende do quê? De uma proposta de trabalho?
Sim, e iria para lá de bom grado, até porque, como já disse, tenho lá família. Também fui casado durante 10 anos com uma angolana, do Lubango, de quem tenho um filho. Se surgisse essa tal proposta ia, sem pensar duas vezes. Vejo Angola com muita simpatia e digo-lhe porquê: porque é um país de futuro e porque, para mim, o presidente angolano é o melhor estadista africano. Chamem-lhe o que chamarem, é assim que o vejo. Tem defeitos? Tem, certamente, porque todos temos. Mas, para mim, o José Eduardo dos Santos tem-se revelado o maior estadista da actualidade, porque manteve o país a funcionar durante longos anos de uma guerra cruel e destrutiva, e conduziu Angola à fase actual, que é bastante auspiciosa. Ser estadista, na minha óptica, é fazer aquilo que o presidente angolano faz. Ele tem o pulso do país. E Angola revela ter uma capacidade de regeneração que nenhum outro país africano demonstrou. É um país fabuloso e tão grande que há sítios onde nem a guerra conseguiu chegar.
Para si, a paz em Angola é irreversível?
Completamente. É tão irreversível a ponto de o presidente angolano ter tido a iniciativa, que revela grande coragem e hombridade, de nomear um ex-general da UNITA como Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas. Isto também mostra que a inclusão, que nunca chegou a acontecer na Guiné-Bissau, é uma realidade em Angola. Há aqui uma lógica de inversão. Angola começou muito mal mas, hoje, está no bom caminho. No meu país, onde tudo começou bem e onde a guerra de libertação foi a mais bem-sucedida do mundo, deu tudo errado, e é uma tristeza reconhecer isso. Mas temos de o fazer e de dizer em voz alta que falhámos em toda a linha, para podermos depois começar do zero com alguma probabilidade de êxito.
Acredita que, nessas circunstâncias, a Comunidade Internacional não hesitaria em ajudar?
Falei recentemente com o Carlos Lopes, que é o guineense com maior projecção nas Nações Unidas, e ele disse-me que a Guiné-Bissau não estava na agenda. A Comunidade Internacional quer ajudar o país mas que não o faz porque, com o que se está sistematicamente a repetir, toda a ajuda resulta em insucesso…
Essa é a opinião de Carlos Lopes, que já foi Secretário-geral Adjunto da ONU…
Sim, e acredito que ele algum dia será Secretário-geral das Nações Unidas. Actualmente ele tem um handicap, que é o de ser cidadão de um país pequeno e insignificante onde, ainda por cima, acontecem reiteradamente estas situações. Isto é mais uma demonstração de como o país está a ser prejudicado pelos militares. Mas a Guiné-Bissau tem que ser ajudada como Timor-Leste foi. E espanta-me a atitude actual de Timor-Leste em relação à Guiné. Saiu completamente fora do rebanho da CPLP e pôs-se ao lado dos golpistas. Compra dívida soberana de Portugal, que não precisa tanto como nós, e dá à Guiné dois milhões de dólares. O Governo timorense está a gozar connosco, mas tem que dizer, no seio da CPLP, qual é o seu papel e a sua posição oficial em relação à Guiné-Bissau. A CPLP fala a uma só voz, exceptuando Timor-Leste que tem uma voz dúbia e uma atitude completamente desavergonhada.
As incongruências de Timor, ONU e CEDEAO
Acha que as posições de Timor-Leste, que considera dúbias, têm reflexos negativos no trabalho que Ramos Horta está a fazer como Representante Especial do Secretário-geral das Nações Unidas na Guiné-Bissau?
Completamente! Ramos Horta anda “aos papéis” na Guiné. Chegou com muita prosápia mas a tropa acalmou-o e ele baixou a bola. Mas eu alertei-o, numa carta que lhe enderecei no meu blog, para o que ia encontrar na Guiné-Bissau. Eu não tenho mais de 47 anos mas percebo mais daquele país do que qualquer um deles. Porque foi lá que sempre vivi, exceptuando o período em que estive fora a estudar. Agora, é bom que a CPLP pergunte a Timor-Leste qual é o seu papel na Guiné-Bissau. Na última reunião da comunidade, Angola propôs a manutenção das sanções, e a proposta foi aprovada. As próprias Nações Unidas, que mantém sanções à Guiné, chamam agora o presidente golpista para discursar na Assembleia-Geral. Isto é completamente incongruente.
A própria CEDEAO também é vista como tendo, em certa medida, legitimado o golpe de Estado…
A CEDEAO, num primeiro momento, condenou o golpe, mas no dia seguinte mudou de discurso, por causa da Nigéria que tem aquele quid-pro-quo com Angola. Costuma-se dizer que dois galos não cantam na mesma capoeira, e é o que acontece entre a Nigéria e Angola. A Nigéria quer fazer valer um estatuto de potência em África que já não lhe pertence porque não conseguiu conservá-lo. Hoje em dia, Angola tem mais força e mais credibilidade que a Nigéria, que além da corrupção generalizada, enfrenta todo o tipo de problemas, como o fundamentalismo religioso, o crime organizado e os grupos armados que matam, aterrorizam e assaltam petrolíferas. Se os nigerianos não conseguem resolver esses problemas internos irão resolver os problemas da Guiné? Não vão! Quanto ao Senegal, tem os independentistas de Casamança que lutam num território que era guineense, e nunca, tampouco, conseguiu resolver o problema, porque o exército senegalês veste saias. Não entra no mato para ir procurar os rebeldes. Fica na estrada a chatear os guineenses que atravessam a fronteira, assaltando-os e roubando-os. Tudo isto prova que, com a CEDEAO, os interesses da Guiné-Bissau não estão em boas mãos, e que, em contrapartida, a ajuda de Angola era uma boa solução para o país.
Disse há bocado que se dissociou do PRS de Kumba Yalá e da política guineense porque não queria pegar em armas. Pode-se dizer que a sua arma é o seu blog “Ditadura de Consenso”?
Exactamente. O meu blog é a minha arma, e a arma do PRS é uma ala militar que controla o partido. Na rua do Kumba Yalá em Bissau, a partir das sete horas da tarde, ninguém entra e ninguém sai. Está tudo guardado por tropas armadas com bazucas e kalashnikovs. Ele tem um exército paralelo, como tem a RENAMO em Moçambique.
Vamos voltar a sangrar
E as diferenças étnicas? Como é que funcionam na Guiné-Bissau e em que medida contribuem para esta permanente instabilidade do país?
Eu não gosto muito de falar de diferenças étnicas porque entendo que o guineense não as valoriza muito.
Mudo então a expressão para especificidades étnicas.
Isso foi dito ao António Indjai na Costa do Marfim. Disseram-lhe isso mesmo: a tua etnia, que constitui 80 por cento do exército guineense, é que está a rebentar com as Forças Armadas.
Está a referir-se aos balantas, etnia a que também pertence o Kumba Yalá…
Sem dúvida. São os balantas, mas nem todos. Eles é que estão a dar cabo das forças armadas e da Guiné-Bissau. Existem os do norte e os do Sul, que se diferenciam no nome. Os do Norte, por exemplo, têm no patronímico a partícula “na”, como são os casos de Tagma na Wai e Daba na Walna, e os do sul não. Mas eles têm os seus pactos, e a canalha anda toda junta. Os bandidos estão activos e estão para durar. Se não for feito nada, teremos outro golpe não tarda. Eu sei isso, vamos sangrar novamente.
'Discurso' do António Indjai vs a integridade da merda: A merda é íntegra, tão íntegra, que graças a ela os guineenses têm a verdadeira noção do estado do seu país! Desamparem a loja e deixem a tropa mandar!!! Saiam, saiam já! AAS
Mas a verdade é só uma: Indjai está a queimar os últimos cartuchos...AAS
EXCLUSIVO: Assassinato em Mafanco fez duas mortes
Afinal, o cidadão chinês não foi a única vítima do assalto à serração de Mafanco. Ditadura do Consenso sabe que houve uma outra vítima - um cidadão nacional de nome Abduramane Baldé, de 35 anos, pai de uma menina de 4 anos, que trabalhava na serração. Abduramane foi espancado e acabou por falecer no hospital Regional de Bafatá.
Segundo consta, os assaltantes, após terem abatido o chinês voltaram-se para ele, espancando-o e exigindo que este revelasse o paradeiro da chave do cofre. Esta informação foi revelada por um familiar da vitima, que vive em Bafatá e pediu anonimato. AAS
Indjai ameaça com novo golpe de Estado
Numa reunião de segurança de estado que começou hoje em Bissau, António Indjai voltou a fazer - e a falar - das suas. Pela primeira vez, disse publicamente que o golpe de estado de 12 de Abril piorou a situação da Guiné-Bissau. Segundo ele, o levantamento militar que derrubou o poder civil destinava-se a ver a situação melhorada do país mas afinal estava enganado. Não deveriam remeter o poder aos civis, ou seja os militares deviam assumir o poder, e se calhar o povo estaria mais descansado, pela lei dura que instauravam...
O CEMGFA António Indjai acusou, num tom bem carregado, o Primeiro Ministro Rui Barros de estar a matar o país e reafirmou que os militares estão fartos e cansados de guerra se não já teriam saído de novo para as ruas para mais um golpe contra atual governo, porque estes não estão a fazer nada. "Fizemos este golpe para mudar e melhorar a situação do país, mas na realidade está pior", referiu, deixando um aviso: "Se estão a brincar com este país, fiquem a saber que nós, os militares, não estamos na brincadeira e apenas vos chamámos para governar". AAS
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Aly Silva, em entrevista exclusiva ao jornal angolano 'O País' (Parte I)
Jornal 'O País', edição de 27 de setembro de 2013
40 anos de independência da Guiné-Bissau: O triste olhar de António Aly Silva sobre o país de Amílcar Cabral, 40 anos depois
Entrevista de Orlando Rodrigues
Cidade da Praia, Cabo Verde
É jornalista, e é com a palavra que, todos os dias, nas páginas virtuais do blog “Ditadura do Consenso”, procura combater a situação real prevalecente na Guiné-Bissau, um país que, no momento em que completa 40 anos de independência, ainda passa a vida “na intriga e na matança”. Chama-se António Aly Silva, e é conhecido em todo o mundo como um dos principais opositores ao regime militar, vigente naquele país lusófono na sequência do Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012. Contundente na palavra e convicto dos próprios princípios e ideias, lança, nesta entrevista exclusiva a “O País”, um olhar de mágoa, tristeza e revolta, sobre a actualidade guineense, um país geograficamente distante mas muito próximo, em cultura, afectividade e afinidades históricas, do povo angolano. António Aly Silva, cujo blog conta já mais de 8 milhões de visitas, identifica, denuncia e acusa, sem papas na língua, os que considera serem os culpados pela situação do seu país que, avisa com tristeza, “vai voltar a sangrar”.
A Guiné-Bissau está a celebrar o 40º aniversário da sua independência nacional (proclamada a 24 de Setembro de 1973). Enquanto cidadão guineense, tem motivos para festejar?
Não! Não tenho. Não tenho e deixei isso claro hoje no meu blog, dizendo que não ia ser actualizado por protesto. Porque estar neste momento fora da Guiné-Bissau, e logo em Cabo Verde, um país que connosco fez a luta de libertação, e ver o desenvolvimento a que aqui se chegou mesmo com todas as dificuldades, o que só mostra que a estabilidade é essencial, deixa-me, por um lado, orgulhoso dos cabo-verdianos, e, por outro, extremamente triste por contraste com o que se passa no meu país. Porque vivemos permanentemente em instabilidade, criamos e fomentamos o ódio, passamos a vida na intriga e na matança, e o mais chocante é que não há responsáveis. E o descaramento total foi, agora, a tropa querer que um parlamento também ele ilegal, amnistiasse os crimes que ela própria cometeu. As pessoas que deram o golpe nunca foram à tropa e acabaram por ser incorporadas às pressas, para receberem a farda e o (António) Indjai poder manter a sua guarda pretoriana de analfabetos e assassinos.
A que pessoas se refere especificamente?
São muitas. Está lá a pessoa que me prendeu e cortou a orelha, no dia do golpe. Todos aqueles jovens que estão hoje em Cumeré para serem militares, nunca antes vestiram a farda. Um dos exemplos é um dos cabeças do tráfico de drogas e que é a mão direita e o pé esquerdo do Indjai e que conheço bem porque foi a pessoa que me prendeu no dia a seguir ao golpe e nem era militar na altura. Até tenho fotos dele em Cumeré, de boxer, corpo nu e kalashnikov na mão. Não consigo ver em que outro país se possa encontrar soldados assim.
O facto de estar em Cabo Verde acentua ainda mais, na sua percepção, os contrastes que há nos percursos dos dois países?
Os contrastes são gritantes. A Guiné-Bissau tem um Ministério da Indústria e não sei para quê. Cabo Verde, em contrapartida, fabrica e produz bens e serviços em quase todas as ilhas. Na ilha do Fogo até fabricam vinhos reconhecidos internacionalmente, e sei, por exemplo, que o vosso primeiro-ministro foi recentemente à Itália e levou 10 caixas, justamente para promover o que aqui se produz, e bem. Pelo que conheço dos dois países, posso afirmar que a Guiné-Bissau, mesmo com estabilidade, nem daqui a 20 anos chegará ao patamar de desenvolvimento que Cabo Verde já atingiu. Porque parece que, lá, ninguém deseja o desenvolvimento do país, que não se constrói com analfabetos no Parlamento, no Governo e nas Forças Armadas. E muito menos com bandidos no poder, pois bandido tem de estar é na cadeia. A diferença gritante é que, em Cabo Verde os traficantes são presos e, quando são condenados, todos os seus bens são confiscados a favor do Estado, enquanto, na Guiné, não se confisca um triciclo de um traficante. Quando muito, a tropa liga e diz: acabou a audiência. E o Ministério Público e os tribunais obedecem e soltam os bandidos. Isso não é país, nem Estado.
O que é que chamaria, então, à Guiné-Bissau?
Um Estado completamente anárquico, onde cada um faz o que quer. A EAGB (empresa de electricidade) chega e corta a luz, e quando dá as costas a pessoa coloca uma escada, liga de novo e as coisas continuam iguais. A pirâmide está invertida, os que sabem e os que são honestos estão a ser esmagados aqui em baixo, e todos estão reféns daquela gente. Estamos reféns da tropa que faz e desfaz, e não sei para que é que a Guiné pede dinheiro para eleições e a comunidade internacional dá.
Dá razão, então, ao antigo Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires, quando ele é citado pela imprensa a dizer que a instituição militar guineense caiu na delinquência e na tirania?
O comandante Pedro Pires tem autoridade moral para falar como falou. Ele foi combatente da liberdade pelos dois países, foi governante dos dois países logo após a independência e, posteriormente, primeiro-ministro de Cabo Verde, país de que veio a ser eleito, por duas vezes, Presidente da República. Neste momento, ele fala como um simples cidadão mas tem toda a legitimidade para criticar a situação actual e os seus protagonistas, acima de tudo porque ele gosta da Guiné-Bissau e nós também gostamos muito dele. Existe até, na Guiné, quem discuta sobre a tribo a que pertence: uns dizem que é manjaco, outros que é papel, e há ainda quem pense que ele é balanta. Isso ilustra bem a empatia que existe entre Pedro Pires e povo guineense, e demonstra o quanto ele é querido no meu país. Por isso, acho que o comandante não disse o que disse por mal, e de uma conversa que tive com ele depreendi que até que foi mal interpretado, intencionalmente ou não. Mas como tem autoridade moral para isso, aquilo bate e cai e tanto faz que ele tenha dito como não. Assim como o primeiro-ministro cabo-verdiano terá afirmado que, em Cabo Verde, não se brinca aos Estados, e está muito bem dito. Porque nós não temos um Estado. E só temos fronteiras porque existem.
Não se pode falar do percurso histórico da Guiné-Bissau dissociando-o do caminho feito por Cabo Verde. A Guiné-Bissau fez a luta de libertação de maior sucesso em África…
…do mundo. Tivemos a melhor guerrilha do mundo.
…seja, do mundo, e libertou pelas armas o seu próprio território, após o que proclamou unilateralmente a independência, imediatamente reconhecida por toda a comunidade internacional. Unido a Cabo Verde fez a primeira parte do percurso, e depois aconteceu a ruptura. A Guiné-Bissau desfez a unidade preconizada por Amílcar Cabral, e na última década e meia tem vivido em constante instabilidade. Qual foi, para si, o momento crítico que terá conduzido à actual situação?
O golpe de Estado de 1980. O dia 14 de Novembro de 1980 marca o fim do sonho que Amílcar Cabral idealizou. Eu não sou um saudosista que pensa que a unidade Guiné-Cabo Verde, concebida por Cabral, poderia ter-se concretizado. Não podia. Mas os dois países tinham tudo a ganhar com uma cooperação estreita e saudável. Temos, com Cabo Verde, mais afinidades que com qualquer outro país do mundo, mesmo com Portugal, que esteve presente na Guiné-Bissau durante 500 anos, e com os países com os quais temos fronteiras terrestres. O Senegal, por exemplo, é o nosso maior inimigo, e este golpe de 12 de Abril não foi para depor o Cadogo (Carlos Gomes Júnior, antigo primeiro-ministro). Foi por causa do trabalho que Angola vinha fazendo, por exemplo no Porto de Buba (a cerca de 200 km de Bissau), que seria certamente o maior da África Ocidental e viria naturalmente a eclipsar a importância do Porto de Dakar. É um projecto antigo que se ia concretizar com a cooperação Angolana, e os senegaleses, sempre que ouvem falar disso, começam a “dar ataques”. O Senegal nunca quis isso, e fez intrigas para provocar o golpe de Estado e, assim, comprometer os investimentos angolanos e promover a saída da MISSANG (Missão Militar Angolana na Guiné-Bissau) do país. Esses investimentos e a MISSANG eram uma forma de Angola demonstrar gratidão pelo que deve à Guiné-Bissau, algo de que muita gente não tem sequer noção. A Guiné foi um dos principais palcos logísticos da guerra em Angola, para onde enviou milhares de homens para combaterem os sul-africanos.
Honras de capa
Quer dizer que a MISSANG era uma forma de Angola demonstrar a sua gratidão para com a Guiné-Bissau…
Nem mais. E o Fidel Castro disse isso mesmo ao Carlos Gomes Júnior em Cuba. Derramou-se sangue guineense em Angola, assim como se derramou sangue cabo-verdiano na Guiné. A verdadeira vocação da MISSANG era a reforma das Forças Armadas guineenses, um problema que se arrasta desde a independência e nunca foi resolvido, e é por isso que o país vive a situação que todos conhecem, protagonizada pelos militares. Portanto, nós só teríamos a ganhar se puséssemos de lado esse orgulho de merda que nem sei onde fomos buscar e aceitássemos a ajuda que nos chegava de Angola. Os militares criaram um ódio visceral, não só em relação a Angola mas, até, com Cabo Verde, mas felizmente esse ódio não é retribuído. Existem mais de 9 mil guineenses a viver em Cabo Verde, 8 mil dos quais em situação perfeitamente legal…
E as autoridades cabo-verdianas têm promovido frequentemente campanhas de legalização de emigrantes guineenses indocumentados, o que ainda não aconteceu com qualquer outra comunidade presente no país. Isso, certamente, não pode ser visto com um sinónimo de ódio em relação aos guineenses…
Muito pelo contrário. Por isso, se os militares pensam que tudo o que têm feito e dito contra Cabo Verde e Angola pode pôr em causa as afinidades e a amizade entre os nossos povos, estão completamente enganados. Mas devo ser justo e dizer que não é toda a instituição militar que está envolvida nestes desmandos. Há oficiais sérios e honestos, que apenas compactuam porque têm medo. Existem outros, que acabaram por abandonar o país e não estão envolvidos nas intentonas nem no tráfico de drogas.
O Zamora Induta é um deles?
O Zamora Induta foi deposto, e o que se passou nesse dia foi um autêntico filme de comédia. (CONTINUA)
Não conseguem matar a honra
Quem me conhece bem sabe que não sou pessoa de desistir facilmente. Tenho, de resto, o empenho estampado no rosto. Gosto do meu País. Dez minutos depois de atravessar as suas fronteiras, começo a sentir arrepios. Bom, dez minutos talvez seja exagerado; Que sejam cinco. Mas de certeza que de trinta minutos não passa.
Pessoalmente, tenho dificuldade em orgulhar-me das coisas que me acontecem por casualidade, mas como escreveu o Fernando Pessoa «o lugar onde se nasce é o lugar onde mais por acaso se está». Outra frase com a sua piada...
Eu nasci na Aldeia Formosa (actual Quebo). Já fui ao Quebo umas vezes, passei outras tantas sem parar e confesso que nem de uma nem de outra vez senti grande coisa. Nem um arrepio na alma. Não me vieram - ao contrário dos piegas - lágrimas aos olhos, nem me deu vontade de escrever contos. Nem sequer um poema.
Pouco me importa que milhão e meio de guineenses desconheça onde fica a vila do Quebo, ou quantos habitantes terá ou teve em tempos. Ou sequer se tem tradições, e já agora quais serão. Trata-se de um sítio, e pronto. Um sítio de merda, como o são aqueles sítios onde por nada deste mundo assentamos arraiais, ainda que por breves momentos.
O facto de eu lá ter nascido - como de resto já adivinhava enquanto a minha querida Mãe andava comigo às voltas - não transformou Quebo num lugar especial - e é assim que está bem, acreditem. Um sítio banal, aquele onde eu nasci. Mas não o trocaria por nenhum outro. Por agora: vou-me embora. Vou para o outro Sul. E será sempre o eterno Sul cheio de estrelas e de noites intermináveis. ANTÓNIO ALY SILVA
Subscrever:
Mensagens (Atom)