terça-feira, 9 de abril de 2013
BUBO: Juíz decreta prisão imediata e marca primeira audiência para dia 15 do corrente
O Procurador dos EUA decretou a prisão com efeitos imediatos do narcotraficante José Américo Bubo Na Tchuto, ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau e outros seis dos seus cumplices por delitos de tráfico de droga. Quatro dos réus também são igualmente acusados de crimes de terrorismo em acusações autonomas. Preet Bharara, o Procurador dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, e Michele M. Leonhart, o administrador do Drug Enforcement Agency (DEA) anunciou que os cinco acusados (José Américo Bubo Na Tchuto, ex-chefe da marinha da Guiné-Bissau; Manuel Mamadi Mané (Juba); Saliu Sisse; Papis Djemé e Tchamy Yala) chegaram no Distrito Sul de Nova York a 4 de abril de 2013. Relacionada com a mesma ação, Rafael Antonio GARAVITO-GARCIA e Gustavo PEREZ-GARCIA, ambos de nacionalidade colombiana, foram presos hoje na Colômbia através do sistema de Aviso Vermelho da Interpol (Interpol Red).
JUBA, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA são acusados de conspirar para participação em acções de narcoterrorismo, conspiração para importação de narcóticos para os Estados Unidos, e de conspirar para fornecer ajuda militar e equipamentos de guerra às Forças Armadas Revolucionarias da Colombia (FARC), um grupo paramilitar sul-americano ha muito catalogado pelos Estados Unidos como sendo uma organização terrorista estrangeira ("FTO"), através de armazenamento de cocaína na África Ocidental cuja propriedade pertence às Farc. JUBA, Sisse, e GARAVITO-GARCIA também são acusados de conspirar para vender armas, incluindo mísseis terra-ar, para serem usados para proteger as operações de contrabando de cocaína das Farc na Colômbia contra as forças militares dos EUA.
Bubo Na Tchuto, P. DJEME, e YALA enfrentam acusações de conspirar para importar narcóticos para os Estados Unidos. Na Tchuto foi designado um traficante pelo Tesouro dos EUA. Os cinco réus foram apresentados em Nova York perante a Corte dos Magistrado dos EUA, hoje.
Em 4 de abril de 2013, a Drug Enforcement Administration (DEA) da Divisão de Operações Especiais (SOD), Unidade de Investigação Bilateral (BIU) e Narco-terrorismo Group (NTG), trabalharam em conjunto com o Escritório Nacional DEA de Lisboa e a Representação da DEA em Bogotá concluiram uma operação planeada e levada a cabo à longa data por agentes à paisana que operavam na Guiné-Bissau e em outros lugares. A operação consistiu em duas fases separadas e foram levadas a cabo através de investigações e acções altamente sigilosas. Durante a primeira parte da operação, Na Tchuto, DJEME, e Yala foram presos em 02 de abril nas águas internacionais pela Equipe de Suporte da DEA instaladas nos paises estrangeiros como Consultores (FAST) e a NTG da Costa da África Ocidental. Toda a operação era monitorado a bordo de um navio sob controle DEA, igualmente localizado nas aguas internacionais. Na segunda parte da operação, Juba e Sisse foram presos a 4 de abril, um em um país da Africa Ocidental e transferido depois para a custódia dos Estados Unidos. Na Tchuto, Djémé, YALA, Juba, e Sisse foram transportados para Nova York para efeitos de serem acusados dos crimes respectivos. GARAVITO-GARCIA PEREZ-GARCIA permanecem ainda na Colômbia com mandato de extradição pendente para os Estados Unidos.
O Procurador dos EUA Preet Bharara disse: "As acusações de alegadas conspiração de narcoterrorismo mostra o perigo que pode crescer sem controle em lugares distantes onde as circunstâncias de fragilidade e pobreza podem permitir aos narcotraficantes, apoiantes e simpatizantes do terrorismo de transacionar e conspirar de forma dissimulada com grandes riscos para os Estados Unidos e os seus interesses. A ligação entre narcotraficantes e terroristas, os seus financiadores e apoiadores, precisa ser desmantelado, onde quer que se encontrem. Mas graças aos esforços extraordinários dos nossos parceiros da DEA, que durante anos atacou a ameaça narco-terrorismo, essa conspiração foi frustrada e podemos afirmar que obtivemos mais uma vitória em nossa campanha implacável contra os que pretendem prejudicar os americanos e os interesses americanos no exterior ".
A administradora da DEA Michele Leonhart disse: "Estas detenções feitas pela DEA são vitórias importantes no combate contra o terrorismo e o tráfico internacional de drogas. Alegados narco-terroristas como estes, que traficam drogas na África Ocidental e em outros lugares, são alguns dos criminosos mais violentos e brutais do mundo. Eles não têm nenhum respeito pelas fronteiras, e não respeitam nem as regras nem as que violam resultado das suas acções criminosas. Estes casos ilustram ainda de forma mais assustadora as ligações entre o tráfico global de drogas e do financiamento de redes terroristas. Graças ao trabalho qualificado e bravura dos nossos agentes e parceiros policiais, esses criminosos terão de enfrentar a responsabilidade de um tribunal dos EUA pelos seus atos hediondos. "
De acordo com as acusações contra MANE, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA concluida hoje:
A partir do verão de 2012, os réus comunicaram com fontes confidenciais (o "CSS"-colaboradores da DEA) que trabalham com a DEA, que pretendiam ser representantes e/ou sócios das FARC. Os contactos ocorreram por telefone, por e-mail, e em uma série de reuniões gravadas em áudio e também filmadas durante vários meses na Guiné-Bissau.
Durante as reuniões que teve inicio na Guiné-Bissau em junho de 2012, e continuando até pelo menos meados de Novembro de 2012, Mané, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA concordaram em receber e armazenar várias toneladas de cocaína embarcadas e propriedade das FARC na Guiné-Bissau. Os réus concordaram em receber a cocaína ao largo da costa da Guiné-Bissau, armazena-los em seus armazéns aguardando lá, até à sua eventual transferência para os Estados Unidos, onde seriam vendidos para o benefício financeiro das FARC. Os réus ainda acordaram que uma parte da cocaína seria usado para o pagamento dos funcionários do governo da Guiné-Bissau para garantirem uma passagem segura para a cocaína através da Guiné-Bissau.
Também durante essas reuniões, Juba, Sisse, e GARAVITO-Garcia concordaram em providenciar a compra de armas para as FARC, incluindo mísseis terra-ar, importando-os dessimuladamente para Guiné-Bissau como se fossem para o uso nominal dos militares Guiné-Bissau.
Por exemplo, em 30 de junho de 2012, durante uma reunião gravada na Guiné-Bissau com o CSS, Mané, Sisse, e GARAVITO-GARCIA concordaram em ajudar na distribuição de cocaína das Farc, facilitando o envio de cocaína para a Guiné-Bissau dentro de cargas e de uniformes militar, e pelo estabelecimento de uma empresa de fachada na Guiné-Bissau para exportar a cocaína da Guiné-Bissau para os Estados Unidos. Além disso, MANE concordou em ajudar na obtenção de armas para as FARC. Também, a 03 de julho de 2012, durante outra reunião igualmente gravada na Guiné-Bissau, Mané, Sisse, e GARAVITO-GARCIA reuniram com as fontes confidenciais e um representante militar da Guiné Bissau militar tendo discutido sobre os benefícios de usar a Guiné-Bissau como um ponto de transbordo para a cocaína obtida na América do Sul e destinada para os Estados Unidos, o processo de descarregar a cocaína uma vez chegado à Guiné-Bissau, bem como a natureza das armas a serem fornecidos às Farc para combater as forças americanas na Colômbia, incluindo mísseis terra-ar, fusisde assalto AK-47 com lança-granadas.
A 31 de agosto de 2012, durante uma reunião gravada em Bogotá, Colômbia, GARAVITO-GARCIA e PEREZ-GARCIA concordaram em facilitar o recebimento de cerca de 4.000 quilos de cocaína das Farc na Guiné-Bissau, cerca de 500 quilos de que viria a ser enviada para clientes nos Estados Unidos e Canadá. Durante uma reunião gravada na Guiné-Bissau com Juba e Sisse que ocorreu a 13 de novembro de 2012, um oficial militar da Guiné-Bissau aconselhou um dos CSs que a transação de armas (os anti-mísseis de aviões para serem vendidos para as Farc que seriam usados contra os helicópteros dos Estados Unidos que operam na Colômbia contra as FARC) poderia ser executado, uma vez que as FARC trouxessem dinheiro para a Guiné-Bissau.
Segundo a acusação contra Bubo Na Tchuto, DJEME, e também YALA concluida hoje:
A partir do verão de 2012, os três réus estiveram envolvidos em uma série de reuniões gravadas na Guiné-Bissau com fontes confidenciais (o "CSS") que trabalha com a DEA, que pretendia ser representantes e/ou associados de traficantes sul-americanos ligados ao narcóticos .
Em uma das primeiras reuniões em que os réus discutiram o envio de toneladas de cocaína da América do Sul para a Guiné-Bissau por mar, Na Tchuto observou que o governo da Guiné-Bissau esta fragilizado, à luz do recente golpe de Estado e que, portanto, era um bom momento para a transação de cocaína proposta. Em outras reuniões, Na Tchuto, DJEME, e YALA concordaram em ajudar o CSS a receber uma carga de duas toneladas de cocaína que seriam transportadas para a Guiné-Bissau de barco e armazenados em um armazém para posterior distribuição para a Europa e os Estados Unidos. Por exemplo, em 17 de novembro de 2012, Na Tchuto, DJEME, e YALA reuniram-se com os dois CSS na Guiné-Bissau e discutiram importar 1,000 kg de cocaína para encaminhar para os Estados Unidos. Também durante a reunião, Na Tchuto ofereceu-se para utilizar uma sua empresa para facilitar o envio de cocaína para fora da Guiné-Bissau. Em uma reunião anterior, Na Tchuto afirmou que sua taxa seria de R $ 1.000.000 por 1.000 kg de cocaína recebida na Guiné-Bissau.
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JUBA, Sisse, GARAVITO-GARCIA, e PEREZ-GARCIA foram, cada um deles acusados de conspiração para participação em narco-terrorismo (Primeira acusação), uma acusação de conspiração para distribuir cinco quilos ou mais de cocaína, com conhecimento ou pretensão de que a cocaína poderia ser enviada para os Estados Unidos (Segunda acusação), e uma acusação de conspiração para fornecer apoio material e recursos a uma FTO (acusação três). JUBA, Sisse e GARAVITO-GARCIA também são acusados de uma acusação de conspiração para adquirir e transferir mísseis anti-aéreos (acusação Quatro). As acusações Um, Dois e Quatro cada uma por si esta sujeita a uma pena máxima prisão perpétua, e a acusação Três acarreta uma pena máxima de 15 anos de prisão. JUBA e Sisse estão programados para serem presentes ao Juiz dos EUA Jed Rakoff no prôximo dia 9 de abril de 2013 (hoje) às 11:30.
Na Tchuto, DJEME, e Yala foram, cada um encarregado de uma acusação de conspiração para distribuir cinco quilos ou mais de cocaína, com conhecimento ou pretensão de que a cocaína poderia ser enviada para os Estados Unidos. A acusação acarreta uma sentença máxima prisão perpétua. Na Tchuto, DJEME, e YALA tem a próxima agenda para recomparecer perante o Juiz Distrital dos EUA Richard Berman a 15 de abril de 2013 às 11:00
As prisões e as transferências dos réus foram o resultado de estreitos esforços e de cooperação aproximada do Gabinete do advogado dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, SOD DEA, o DEA Escritório Nacional de Lisboa, o DEA Escritório Nacional de Bogotá, o Departamento de Justiça dos EUA, o Escritório de Assuntos Internacionais do Departamento de Estado dos EUA.
Este processo está sendo tratado pelo Gabinete da Unidade de Narcóticos e Terrorismo Internacional. Os Advogados Assistentes dos Estados Unidos são Aimee Hector e Glen Kopp que Representam o Ministério Público.
As acusações contidas nas acusações são consideradas meramente acusações e os réus são por enquanto considerados presumidos inocentes, até que se prove a sua culpabilidade.
Estado da Guiné-Bissau corre risco de desaparecer, avisa Ramos-Horta
A Guiné-Bissau "enfrenta como Nação uma ameaça existencial, enquanto Estado" e as elites políticas e militares deviam aproveitar o aniversário de mais um golpe para fazerem um exame de consciência, defendeu hoje o representante da ONU. Num depoimento a propósito do primeiro aniversário sobre o golpe de Estado que a 12 de abril derrubou os governantes eleitos, o representante do secretário-geral da ONU em Bissau, Ramos-Horta, avisou também que a comunidade internacional está cansada e que há um "perigo real" de abandonar o país. Independentemente das razões que levaram ao golpe, disse o responsável, "a verdade é que se aprofunda a crise social e económica e o isolamento internacional da Guiné-Bissau".
"Por isso espero que, ao completar-se o primeiro aniversário do golpe e do regime de transição, as elites política e militar façam uma introspeção, um exame de consciência, e ganhem consciência de que a Guiné-Bissau realmente enfrenta como Nação uma ameaça existencial, enquanto Estado", alertou. É que, justificou José Ramos-Horta, sem um Estado forte, um Governo e instituições políticas sólidas e coesas, é "extremamente difícil a Guiné-Bissau sobreviver aos desafios regionais, às ameaças de crime organizado, nomeadamente dos cartéis de droga das mais variadas origens", e a ameaças de outro género como a extrema pobreza.
Outro aviso de Ramos-Horta é o de que a comunidade internacional, que sempre quis e quer ajudar a Guiné-Bissau, "já está também cansada e há um perigo real de a própria ONU, a União Europeia e outros amigos e parceiros tradicionais da Guiné-Bissau dizerem ´não mais´". Por isso, Ramos-Horta apelou aos políticos guineenses para que cheguem rapidamente a um acordo para um roteiro de transição que contemple o recenseamento eleitoral e o calendário para as eleições, que podem ser este ano "desde que as elites políticas se entendam".
"Dado os desafios que este país enfrenta, bem grandes, até digo existencialistas para este país enquanto Estado, que se entendam e que formem um Governo de grande inclusão o mais rapidamente possível", para haver eleições num clima pacífico e para que depois das eleições não hajam vencedores ou perdedores", disse. Após as eleições, acrescentou, o partido mais votado terá sentido de Estado e consciência da gravidade da situação que o país enfrenta, e terá consciência de que nenhum partido sozinho, nenhuma elite partidária sozinha, pode resolver os problemas do país. "Deem a mão" e formem um Governo de grande abrangência, pediu Ramos-Horta, acrescentado que só assim se pode passar a uma segunda fase, após as eleições, de reorganização do Estado, com o apoio da comunidade internacional.
Tal é possível porque a Guiné-Bissau é um país potencialmente rico e com um "povo fabuloso" e pessoas "altamente qualificadas, disse Ramos-Horta, acrescentando: "por isso, neste ano em que se completa um aniversário de mais um golpe, triste, espero que façam uma reflexão séria, deem a mão e salvem a vossa Nação".O representante da ONU reafirmou que há tempo para organizar eleições ainda este ano e que as Nações Unidas continuam disponíveis para, em parceria com a União Africana e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, e com o apoio financeiro da União Europeia, liderar o processo eleitoral.
DROGA: Serifo na área
O presidente interino da Guiné-Bissau pode ter cooperado com os planeadores de um esquema de contrabando de cocaína e armas para armar rebeldes colombianos das FARC, segundo documentos judiciais americanos na posse da agência Reuters. Os documentos lançam uma sombra sobre os esforços internacionais para restaurar a ordem no pequeno estado ocidental Africano, que sofreu uma série de golpes de Estado desde 1974, data da independência, e que desde então tem-se tornado num centro de transbordo de narcóticos com destino à Europa e aos EUA.
Promotores americanos apresentaram acusações contra o ex-chefe de estado maior da Marinha, Américo José Bubo Na Tchuto, e outros seis homens no final da semana passada, depois de os prender numa ousada operação sua costa atlântica. De acordo com as acusações, os homens planeavam levar 4.000 kg de cocaína colombiana para a Guiné-Bissau dentro de uma remessa de uniformes militares e contrabandear armas, incluindo mísseis, de volta para os rebeldes das FARC da Colômbia para o uso contra forças americanas anti-droga.
Um dos principais conspiradores no plano, descrito apenas como um "funcionário de alto nível da Guiné-Bissau", disse a agentes secretos. em julho de 2012, que iria discutir a trama com o presidente Manuel Serifo Nhamadjo. "Depois de amanhã, eu vou falar com o Presidente da República," ele é citado como tendo dito na acusação, aberta no tribunal de Nova York na sexta-feira passada. Dois outros suspeitos disseram aos agentes à paisana numa reunião em Bissau, em Setembro, que gostaria de falar com o "Presidente e o Primeiro-Ministro" sobre o negócio, de acordo com os documentos da DEA. REUTERS
segunda-feira, 8 de abril de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
12 de abril: Manifestação em Paris
Comunicado da imprensa do Colectivo em Paris: Manifestação no dia 12 abril 2013 frente da GARE DE L’EST – Paris 10, de 15 às 19 horas.
O “Collectif des Ressortissants, Sympathisants et Amis de la Guinée-Bissau” em França, informa toda a diaspora da sua manifestação-Sitting, prevista para o próximo dia 12 de Abril 2013, data do triste acontecimento do golpe de Estado político-militar que meteu fim às eleições presidenciais democráticas na Guiné-Bissau em abril do ano passado.
Objectivo: Protesto para a realização das eleições presidenciais e o regresso de todos os guineense exilados.
A vossa activa e massiva participação é indispensável para atingir os nossos objectivos.
MANIFESTACAO DOS GUINEENSES, SIMPATISANTES ET AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU
SEXTA FEIRA 12 ABRIL 2013 ÀS 15H - FRENTE GARE DE L’EST- PARIS 10ÈME
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O diário de Ramos Horta em Bissau
Depois de 12 dias de uma verdadeira maratona de viagens e reuniões – Abuja (Nigéria), Yamoussukra (Costa do Marfim), Dakar (Senegal), Genebra e Mt Pellerin (Suíça), Bruxelas (Bélgica) e Lisboa (Portugal) – regressei a Bissau, no Sábado, dia 9 de Março. Ja estou de volta ha duas semanas, mergulhei logo de novo na realidade da minha missao. Fui escrevendo estas linhas, roubando tempo aqui e acola. E desta vez decidi escrever na lingua de Fernando Pessoa embora o poeta deve e estar a dar voltas no caixao ao saber que estou a invocar o seu nome.
E hoje, Domingo, decidi explorar a cidade de Bissau, sem dizer nada ao Hilário, um argentino muito simpático, um dos seguranças da ONU, que fala bem o crioulo. Ele vai ficar bravo quando souber que sai de casa esta manha, a pé, sem o ter alertado. Além disso eu tinha prometido telefonar caso decidisse sair. Eu nem alertei com tempo os quatro Timorenses que estão comigo pois nao queria que eles por sua vez alertassem o Hilário.
Alias, desde que os politicos-Cardeais la do Vaticano elegeram um Argentino para Papa, o Hilario ficou muito, muito mais babado. Deixou de ver o futebol para ver o Papa Argentino. Eu apostei e rezei por um Africano ou Asiatico.
Esta manha decidi caminhar, explorar o bairro perto de onde vivo sem incomodar o chauffeur da ONU que tem direito a um Domingo de repouso como Deus determinou – Trabalha-se seis dias e reserva-se o sétimo para descanso. Se Deus, o Todo Poderoso que criou o Mundo, ficou cansado ao sexto dia e decidiu tirar ferias o chauffeur da ONU, o Argentino, os Portugueses e Ganenses que velam pela minha segurança também tem direito a repouso.
Tinha eu 7 anos de idade, na Missao Católica de Soibada, quando a minha inocência e mente inquisidora me custaram uma bofetada do Pe. Januário. Perguntei ao bom padre açoriano para me explicar melhor como e que o Santo Deus Todo Poderoso nao criou o Mundo num so dia? E mais: mas Deus também se cansa como nos? Ainda por cima Ele so tinha trabalhado seis dias e meteu ferias! Nos, crianças tínhamos que trabalhar nove meses em Soibada, nao so estudando mas também limpando a horta de milho, cavar mandioca e apanhar lenha para a missão. E so meses depois tínhamos ferias! Deus so trabalhou seis dias e meteu ferias! Nao achei isso justo. O Pe. Januário, normalmente muito simpático, deu-me dois estalos e vi mesmo estrelas! E ameacou-me com o Inferno! E para me livrar do Inferno receitou-me logo um terco e tres atos de contrição. E para garantir mesmo minha segurança, dobrei a receita, como de resto eu fazia sempre antes de dormir; dobrava sempre as orações recomendadas pelo padre. Sentia-me mais seguro caso morresse essa noite! Nunca mais me atrevi a fazer perguntas mesmo quando a curiosidade, as perguntas e duvidas eram muitas.
Claro esta manha nao sai completamente sozinho. O Iso e o Cap. Francisco que estão na mesma vivenda que eu me acompanharam. Mas nenhum Timorense que me acompanha desde Timor-Leste esta armado. Eu dizia a eles que na GB quando ha probemas entram a funcionar bazukas e morteiros; as pistoletas da nossa gloriosa PNTL nao iriam meter medo aos homens do Gen. Indjai e aos alegados baroes da droga. Confio sempre mais no Anjo da Guarda destacado por Deus para olhar por mim.
O Florisberto, Isolino, Ismael Abo e Cap. Francisco sao otimos elementos, muito disciplinados, dedicados, ja conhecem o bairro e fizeram muitas amizades. A Dona Filomena tambem esta aqui comigo. Procurou emprego no MNEC em 2003 quando eu era Ministro. Ela vinha muito chorosa e ofereceu-se para fazer limpeza. Esta comigo desde essa data, muito trabalhadora, timida, educada.
A primeira paragem que fiz foi no Hospital Simao Mendes, a uns 10 minutos a pé da casa. Hesitei entrar porque pensei que algum chefe do hospital poderia ficar zangadíssimo com um estranho a passear pelos corredores do hospital sem ser convidado. Mas decidi arriscar e subi para o primeiro piso. Tinha visitado esse hospital em 2003 e lembro que na altura ja estava muito degradado e agora esta mais maltratado ainda.
Primeiro observei o edifício por fora que parece ter uma estrutura sólida, do antigamente, do tempo portugues. Naquela época parecia que havia melhores construtores e mais gente honesta…em Portugal e pelo mundo fora.
Um cheiro forte de “xixi” me acolheu mal chego ao primeiro piso. Vi o chão sujo, paredes amareladas, do tempo, humidade, chuva e poeira. Espreitei para dentro dos quartos. Neste domingo de manha o hospital parecia estar calmo. Nao vi gente de bata branca, médicos ou enfermeiros em lado nenhum. Claro que deviam estar em outros lugares do hospital a ver seus pacientes.
Medicos Cubanos e nacionais trabalham ali em condicoes extremamente precarias. Ha mais de 30 medicos Cubanos na GB comparados com os 200 que estao em TL. Mas aqui estes Medicos, autenticos missionarios, trabalham e vivem em condicoes extremamente precarias. Pergunto: se Medicins Sans Frontieres, UNICEF e Mother Teresa receberam o Premio Nobel de Paz porque e que a Brigada Medica Cubana nao deveria receber?? A Brigada existe ha mais de 40 anos e ja salvaram dezenas de milhares de vidas em mais de 100 paises!
Francamente o nosso hospital Nacional Guido Valaderes (HNGV), e muito mais moderno, funcional, limpo. Fui visitante muito frequente no HNGV por isso digo que o nosso esta muito, muito melhor, com uns 50 medicos, muito limpo, com bom equipamento e funcionamento. Nao quer dizer que HNGV funciona em perfeição, longe disso! Mas comparativamente com o Hospital Simao Mendes de GB, HNGV passa o teste!
Claro, pergunto sempre: mas porque ninguém, algum amigo, Brasil ou Portugal, ofereceu a reabilitação completa do hospital e equipa-lo? Ja la vão 40 anos desde a independência deste pais! Claro, nao se pode exigir tudo de Portugal que ja muito tem feito embora nem sempre sabe fazer bem. Os Portugueses sao gente muito generosa. Foram escorraçados das colónias em 1974-75 mas nao guardaram rancor e nao viraram as costas. Apesar de que Portugal nao e uma Alemanha rica, nunca regateou ajuda solidaria as suas ex-colónias. E os colonizados de seculos, raptados e acorrentados em navios-escravos rumo ao Brasil também nao guardam rancor dos seculos de colonização. O africano realmente tem um coração enorme.
Confesso, a minha visita nao programada ao hospital nao durou sequer 20′. Sai e continuamos o passeio. Pelo caminho alguns Bissau-Guineenses criaram-me a ilusão de que eu estava em Dili pois muita gente me me cumprimentava com aquele sorriso limpo do Bissau-Guineense, sincero, inocente.
Um pequeno ajuntamento se fez ali a uns metros do hospital quando alguém me saudou; parei e houve apertos de mão e mais gente se aproximou. Desejaram-me “boas vindas” a sua terra. So queriam que me sentisse “bem-vindo” na sua casa.
Continuei a caminhada, apreciando as casas da época colonial, a maioria delas degradadas, nao habitáveis, outras habitáveis. Fez-me pensar que se houvesse dinheiro para restaurar todas as casas da época colonial, Bissau poderia ser um bom destino turístico.
Chegamos perto do porto de Bissau. Ali apresentaram-se algumas vendedoras de camarão, peixe e ostras. Os camarões eram enormes, tentadores. Comprei também alguma banana e papaia mas o meu interesse estava no camarao! Comprei o suficiente para durar semanas, comer até enjoar! Nao sei quanto paguei. Mas mais barato que em Dili onde eu era sempre vitima dos vendedores pé descalço, pois por ser eu, “Presidente dos Pobres”, tinha sempre que pagar mais, muito mais.
Ah em Timor-Leste nao temos camarão assim. A nao ser numa lagoa em Natarbora. No nosso patriotismo provinciano o Timorense que vai para terra estrangeira diz sempre que o que temos e sempre melhor!
Lembrei-me de um Timorense, exilado em Moçambique nas decadas de 60-90, pelo seu envolvimento no motim anti-Portugal de 1959. Para la foi deportado pela PIDE e por la ficou. Creio que a PIDE se esqueceu dele mas o pobre irmão Timorense nao tinha meios para regressar a sua terra bendita no outro lado do Indico. O seu ganha-pão era um pequeno negocio de venda de carvão de cozinha. E declarava solenemente que o carvão de TL era muito melhor que o de Moçambique.
Segundo esse exilado que se fixou em Terras Mocambicanas tudo que era Timorense era sempre “mais” que o Moçambicano. Uma vez, alguém brincou com ele e disse: “Ah mas o Moçambicano e mais preguiçoso que o Timorense”. Fiel aos seus, respondeu muito orgulhosamente: “Nao! Os Timorenses sao mais preguiçosos!” Logo a seguir deu conta de que este “mais” nao abonava os Timorenses e esclareceu: “Ah nao nao nao. O Moçambicano e mais preguiçoso”.
Outro patriota que conheci foi o Presidente Fradique de Menezes, de Sao Tomé e Príncipe, pais-miniatura, de ilhas paradisíacas, segundo dizem os visitantes. Fradique era homem de negocios bem sucedido, poliglota, charmoso e com grande sentido de humor. Super-patriota, visitando TL quando eu era Ministro de Negócios Estrangeiros, dizia que as bananas, laranjas, cafe, peixe, de STP eram muito melhores e bem maiores que os de TL. Nao havia nada que STP nao tivesse que nao fosse maior e melhor! Sentados os dois num restaurante a beira mar em Dili, Fradique de Menezes dizia como o mar de STP era mais azul e a areia mais fina!
Feitas as compras O Cap. Francisco meteu-se num taxi e regressou a casa para refrigerar os camarões. Continuei o passeio com o Iso.
Ali perto do porto vi um senhor europeu, de porte pequeno, cabelos brancos, ar simples, que a certa distancia me observava, hesitando se devia ou nao abordar-me. Achei-o com ar simpatico e cumprimentei-o. Nascido na GB, considera-se Guineense e passa o ano entre Portugal e GB. Vem a GB quando em Portugal começa a arrefecer e aqui passa alguns meses do ano. Pedi seu contato e prometi convida-lo quando eu decido saborear os camarões. Entretanto, perdi o seu contato. Pena.
Retomei a caminhada pelas ruas esburacadas, de terra vermelha, com pouca limpeza, sempre com algum cheiro desagradável. Vi uma casa de cabeleireiro, tomei nota para daqui a um mês quando precisar.
Passamos em frente a uma discoteca e o Iso disse que ele e o Loro já vieram a esse local; disse ele, o lugar era muito simpático, tranquilo, sem desordem, como em Dili, disse ele onde havia sempre pancadaria. Nunca vou a discotecas, nem em TL. Nos anos 70 ou 80 eu cheguei de ir uma ou outra vez a algumas discotecas bem famosas da epoca como o Studio 54. Mas nos ultimos 10-20 anos raramente falto a uma opera em Sydney, Berlim ou Nova Iorque. Numa ida a Viena ha dois anos a Sandra Pires, cantora de opera e pop Timorense, que fez carreira na cidade de Strauss levou-me a uma opera. Mas o jet-leg venceu e tive que abandonar a Sandra Pires ao intervalo. Ela nao deve ter ficado muito impressionado.
Em Lisboa, a julgar pelo que ouvi em encontros que tive na semana passada, a situação de direitos humanos e “tenebrosa”, o medo se instalou, ha violações frequentes, sistemáticas, tortura. E este pais e o unico “Narco-Estado” do Mundo.
Mas a agencia onusina UNODC, sediada em Viena e com um pequeno escritório regional em Dakar, progenitora do termo “Narco-Estado” e da diabolizacao da Guine-Bissau, nao conseguiu convencer-me de que todos os agentes do Estado estão directamente implicados no narco-trafico.
O problema existe em muitos paises da África como em quase toda a Ásia, América latina, em maior ou menor dimensão. Nao existe um cartel originario deste prqueno pais e o consumo da droga aqui ainda e muito baixo. Quando falei com um diplomata ocidental baseado em Dakar e conhecedor de toda a região, ele nao validou as alegações de UNODC e disse que o consumo da droga na GB aumentou “dramaticamente” porque havia “cinco consumidores e agora aumentou para 10; isto representa 100% de aumento mas nao deixam de ser apenas 10 pessoas”.
A Guine-Bissau nao produz droga e o consumo e baixo. Ha sim grupos que funcionam como correio e pelo trabalho recebem umas migalhas e já ficam muito contentes. Individuos de outras nacionalidades – Colombianos, Bolivianos, Peruanos, Libaneses, Marroquinos e Nigerians – os profissionais do negocio. Face a eles, o Bissau-Guineense e um amador que se contenta com migalhas mas que fica com a fama!
O maior problema da GB e a pesca ilegal em que sobressaem os Europeus. A rapina das riquezas marinhas dos povos da costa ocidental africana faz-se com total impunidade mas os Europeus nao falam muito deste flagelo porque os salteadores sao grupos europeus.
Dentro de dias escreverei mais. Mas em Ingles. Qualquer dia ja escrevo em crioulo. Rezo por todos, pela vossa saude. Rezei muito pela Ligia, atacada pelo cancro em tantas frentes! Mas falei muito a serio com Deus e ela esta a recuperar bem! O Jose Alberto tambem foi atacado pelo cancro. Tambem rezei muito, falei a serio com Deus, e as ultimas noticias apontam para primeiros sinais de melhoria.
Jose Ramos-Horta
OBSERVAÇÃO: ARTIGO E FOTOS RETIRADOS DA PÁGINA DE DR. JOSÉ RAMOS-HORTA"
sábado, 6 de abril de 2013
EUA tem Papa Camará na mira: Depois de Bubo Na Tchuto ter caído no engodo norte-americano, seguir-se-á outro militar, indiciado ao mesmo tempo por Washington de estar ligado ao narcotráfico. Continua no poder, responde pelo nome Ibraima Papa Camará e é... chefe do Estado-Maior da Força Aérea da Guiné-Bissau. Talvez o apanhem...no ar! AAS
S.O.S.: ... Afinal, o 'governo' guineense (de acordo com as escutas telefónicas feitas pela DEA dos Estados Unidos da América) servia-se do dinheiro da cocaína para...pagar salários dos funcionários do Estado!? Quem acode a Guiné-Bissau? Sr. Ramos-Horta, leu bem? Ouviu melhor? Uma força de interposição, e já!, para salvar o Povo da Guiné-Bissau!!! AAS
A armadilha perfeita
Confirma-se, segundo Washington Post e difundido pela maioria dos meios de comunicação internacionais, Bubo Na Tchuto foi capturado pelas forças anti-trafico dos EUA (DEA) nas aguas territoriais internacionais. A captura foi consumada por agentes da DEA que se fizeram passar por proprietarios e intermediarios de dezenas de toneladas de droga que pretendiam stocar em Bissau para posterior encaminhamento para a Europa e os Estados Unidos.
Foi ja presente perante o Tribunal Federal com mais dois dos seus cumplices, nomeadamente Papis Djémé e Ntchama Yala (sobrinho de Kumba Yalá), braços direito do contra-almirante e igualmente indiciados pelo mesmo crime. Os outros dois estão sujeitos a acusasões de outra natureza e gravidade. Essa operação foi montada na maior discrição pelos agentes federais americanos que minotoravam as acões de BNT.
Concomitante a esta detenção duas outras pessoas foram detidas na Colômbia por um braço dessa organização anti-droga americana. Ambos são colombianos e ja estiveram em Bissau, morando em casa de um destacado membro do governo de transição e fervoroso defensor do regime. Também ligado a estas detenções dois notorios narcotraficantes foram detidos num pais da Africa Ocidental, cujo nome não indicaram. Fonte da DC indicou-lhe que se trata da Guiné-Conakry e que os detidos são igualmente militares que recentemente estiveram Dakar com um alto oficial da armada guineense para abertura de uma conta bancaria ligada a esta operação em que cairam na armadilha. Segundo essa fonte da DC, contavam receber na conta aberta mais de 5 milhões de dolares.
A acusasão contra BNT, inclui, trafico de droga internacional, homicidio qualificado contra um agente federal, trafico de armas (lança misseis e roquetes anti-carro) vendidos aos narcotraficantes colombianos e à AQMI e à Al Qaieida). As acusasões contra Papis Djémé e Ntchama Yala e um pouco diferente, pois não estão ligados ao homicidio do agente da DEA.
As autoridades americanas estão na posse de diversas provas, entre elas gravações audio e video gravados na Guiné-Bissau onde BNT e outros oficiais de alta patente (cujos nomes não divulgaram para não complicar as operações ainda em curso) falavam claramente em vendas de droga e de armas. Todos esses oficiais são do topo da hierarquia militar e estão no activo. BNT pedia 1 milhão de euros por cada 1.000 kg de droga descarregada em territorio Guineense. Esse oficial da Marinha Guineense, a serem provadas as acusasões contra ele, sera condenado a prisão perpétua.
1 milhão de dólares por tonelada
Na Tchuto terá exigido um milhão de dólares por cada tonelada de cocaína recebida na Guiné-Bissau
Lusa
06 Abr, 2013, 11:40
O ex-chefe da Marinha da Guiné-Bissau José Américo Bubo Na Tchuto, acusado de conspirar para traficar droga, detido em Nova Iorque, cobraria um milhão de dólares norte-americanos por cada tonelada de cocaína da América do Sul recebida na Guiné-Bissau. De acordo com um comunicado, divulgado na noite de quinta-feira, pela agência de combate ao tráfico de droga dos EUA (DEA, na sigla em inglês), Bubo Na Tchuto "ofereceu-se para usar a empresa que detinha para facilitar o carregamento de cocaína para fora da Guiné-Bissau" e exigiu uma `taxa` de um milhão de dólares americanos por cada tonelada recebida.
A oferta e a exigência foram feitas, segundo a DEA, em encontros, gravados desde o verão passado, na Guiné-Bissau, entre Bubo Na Tchuto, Papis Djeme e Tchamy Yala - mais dois arguidos, cuja nacionalidade não foi divulgada - e agentes ao serviço da DEA que se fizeram passar por intermediários de traficantes de droga baseados na América do Sul. Numa discussão em que foi abordado o envio de toneladas de cocaína provenientes da América do Sul para a Guiné-Bissau por mar, "Na Tchuto observou que o governo da Guiné-Bissau estava debilitado devido ao recente golpe de Estado [de abril de 2012], pelo que era uma boa altura para a transação da cocaína proposta", refere o texto da DEA.
Em encontros posteriores com os supostos intermediários, Na Tchuto, Djeme e Yala alegadamente concordaram ajudá-los, recebendo um carregamento de duas toneladas de cocaína que seria escondida num armazém para ser distribuída na Europa e nos Estados Unidos. A 17 de novembro, lê-se no comunicado, os três arguidos estiveram com dois infiltrados ao serviço da agência e "discutiram a importação de 1.000 quilogramas de cocaína para os Estados Unidos". Na Tchuto, capturado na quinta-feira em águas internacionais perto de Cabo Verde, e Djeme e Yala vão voltar a ser presentes ao juiz Richard Berman no próximo dia 15.
O processo envolve um total de cinco arguidos incluindo, além de Na Tchuto, Djeme e Yala, Manuel Mamadi Mane e Saliu Sisse - cuja nacionalidade não é identificada -, a somar à detenção, na Colômbia, de Rafael Antonio Garavito-Garcia e Gustavo Perez-Garcia, ambos colombianos e alvos de `alertas vermelhos` emitidos pela Interpol. Segundo o mesmo documento, Mane e Sisse também mantiveram contactos pessoais, por telefone e por correio eletrónico, com elementos ao serviço da DEA, que se fizeram passar por representantes e/ou intermediários das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), gravados em áudio ou vídeo durante vários meses.
"Durante os encontros na Guiné-Bissau, encetados em junho de 2012 e que continuaram até novembro, Mane, Sisse, Garavito-Garcia e Perez-Garcia, concordaram receber e armazenar carregamentos de várias toneladas de cocaína recebida ao largo da costa da Guiné-Bissau", dependentes de um eventual envio para os Estados Unidos, onde seriam vendidos com as receitas a reverterem a favor das FARC, explica o comunicado sobre a operação. Mais tarde, os arguidos alegadamente acordaram que parte fosse utilizada para pagar a funcionários do Governo da Guiné-Bissau de forma a garantir uma passagem segura da droga através do país. "Também durante os encontros, Mane, Sisse e Garavito-Garcia aceitaram providenciar a compra de armas para as FARC, incluindo de mísseis terra-ar, importando-as para a Guiné-Bissau" como se fossem para uso nominal do exército do país africano.
Num outro encontro, também gravado, os três arguidos, agentes encobertos da DEA e um representante do exército da Guiné-Bissau reuniram-se para discutir os benefícios que a Guiné-Bissau obteria por servir de ponto de trânsito para a cocaína proveniente da América Latina com destino aos EUA, bem como a natureza das armas a facultar às FARC, refere o comunicado. Mane e Sisse vão ser presentes ao juiz Jed Rakoff na próxima terça-feira, dia 09. Garavito-Garcia e Perez-Garcia encontram-se atualmente sob custódia das autoridades judiciais daquele país sul-americano, aguardando pelo processo de extradição para os EUA.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Ramos-Horta alerta: prisão de Bubo serve de alerta
O representante da ONU na Guiné-Bissau disse hoje que a prisão do antigo chefe da Armada pode servir para que políticos e militares reflitam sobre como é que um veterano de guerra acaba numa cadeia nos Estados Unidos.
O antigo chefe da Armada da Guiné-Bissau Bubo Na Tchuto foi capturado na quinta-feira em águas internacionais perto de Cabo Verde por uma brigada de combate ao tráfico de droga norte-americana. Bubo Na Tchuto era procurado pelos Estados Unidos por alegado envolvimento no tráfico internacional de droga, sobretudo cocaína oriunda da América do Sul.
Bubo: assassinato de agente da DEA e tráfico de droga
Russel Hanks, o encarregado de negócios (obscuros) da embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Dakar, tem sido presença assídua na Guiné-Bissau nos últimos tempos. Essa presença, tornou-se particularmente mais visivel e intensa no periodo que antecedeu o golpe de estado de 12 de abril prolongando-se até a esta data. Russel esteve de novo em Bissau na semana passada.
O último episódio do forte envolvimento desse diplomata de causas pouco claras a favor do regime golpista de Bissau, foi o seu forte engajamento conjuntamente com senador Carson no lobby pro-regime para tentar fazer representar a Guiné-Bissau pelo actual presidente nomeado pela CEDEAO na última Assembleia Geral das Nações Unidas em detrimento das autoridades guineenses legitimamente eleitas e reconhecidas pela esmagadora maioria da comunidade internacional com destaque para a ONU, organização anfitriã do evento. O referido lobby contou até com a estranha e inusitada adesão do governo dos EUA ao lado das pretensões dos golpistas, mas deu em nada, pois foram humilhados, não chegando sequer a ter acesso às instalações da ONU.
Na verdade, existem efectivamente razões de interesse muito fortes nesse alinhamento de posições com o regime golpista de Bissau. Segundo fontes seguras e dignas de crédito, a razão de ser da presença dessa polémica figura da diplomacia americana ao lado dos militares golpistas da Guiné-Bissau, particularmente do general Antonio Injai, tem um alvo muito particular: o acossado Contra Almirante, José Américo Bubo Na Tchuto, ex-chefe do estado-maior da armada guineense.
De acordo com a mesma fonte, os EUA tem um particular interesse em ajustar contas com o José Américo Bubo Na Tchuto, pois além de ser reconhecido (e acusado) pelo governo dos Estados Unidos como um perigoso barão da droga da Costa Ocidental africana, os EUA acusam-no ainda de ter também ligações com algumas celulas da AQMI instaladas na Mauritânia, na Guiné-Conakry, no Mali e na Gâmbia, onde, recorde-se, Bubo se refugiou quase um ano para depois regressar clandestinamente e preparar o golpe, entretanto falhado, de 1 de abril.
Sobre este facto, convém lembrar o episódio dos três mauritanianos, entre eles Sidi Ould Sindya, perigosos terroristas islâmicos que assassinaram barbaramente um grupo de turistas franceses na Mauritânia. Depois de detidos pelas autoridades do seu pais, esses terroristas consiguiram evadir-se procurando o território guineense como refúgio, fiando-se na desestruturação, inoperância e estado de corrupção que mina toda a estrutura securitária desse pequeno mas instável país da África Ocidental. Porém, contrariamente ao que pensaram os fugitivos, eles foram identificados e detidos pelas autoridades guineenses, com a colaboração dos serviços secretos americanos, franceses, senegaleses e também guineenses, sendo entregues à custodia das autoridades nacionais de então.
Posteriormente esses três terroristas islâmicos sumiram misteriosamente das celas guineenses, sem que as autoridades de então pudessem dar uma resposta convincente sobre esse misterioso "desparecimento". Hoje, sabe-se que esses terroristas foram retirados das celas a mando e pelos homens de Bubo Na Tchuto de quem passaram a ter protecção e garantia de segurança. Essa operação valeu a Bubo Na Tchuto um ganho de quase 3 milhões de dolares, aos quais se juntariam mais 2 milhões caso os conseguisse tirar da Guiné-Bissau.
Contudo, o mais grave nessa história vem depois. O governo norte-americano, ciente da perigosidade desses elementos, envia um dos seus elementos mais válidos e cotados da sua estrutura da DEA em África para seguir de perto e investigar esse caso. Na sua acção de seguimento aproximado ao chefe do grupo, Sidi O. Sidinya, o agente da DEA foi surpreendido pelos homens de Américo Bubo Na Tchuto. Detido na própria casa do Contra Almirante, foi espancado tentando tirar-lhe informações sobre a razão da sua presença nessas paragens, mas não cedeu. Mais tarde, convencido da desatenção dos guardas, tenta a fuga, mas teve pouca sorte: foi recapturado e morto a catanada pelos homens de Na Tchuto.
Mas, em tudo isso, uma marca estranha nessa morte chama a atenção dos norte-americanos. O seu agente foi, provavelmente antes de sucumbir aos golpes de catana, degolado... um sinal de vingança arabo-islamico contra os infiéis... É a marca da AQMI, sinal de que Sidi Ould Seidyna estava com os homens do Almirante aquando da terrivel morte do seu agente (nota: depois de colocados em Uaque - a cerca de 40 km de Bissau e a menos de 20 de Mansoa - por Bubo Na Tchuto, eles foram recapturados com a ajuda dos seriços secretos norte-americanos e reenviados para a Mauritânia).
Perante estes factos, o governo norte-americano por um lado vê Bubo Na Tchuto como um reconhecido e temido barão da droga, e por outro como um perigoso colaborador da AQMI. Enfim, os EUA estão convencidos da participação de Bubo Na Tchuto, dos seus homens e de um dos terroristas da AQMI na morte de um dos seus melhores agentes na África Ocidental (omiti-se deliberadamente o nome do agente do DEA morto na Guiné-Bissau).
Em resumo, a conivência e empatia que alimenta a relação Russel/Antonio Injai, tem uma razão clara e perfeitamente perceptivel: conseguir, por conta e risco dos EUA, a detenção e entrega ao seu governo do Almirante Bubo Na Tchuto.
A apresentação dessa razão importará naturalmente uma outra questão quase por instinto: porque razão é que o governo dos EUA está a colaborar com o golpista António Injai, se publicamente já foi afirmado pelas próprias autoridades dos Estado Unidos de que Antonio Injai é, também hoje, um poderoso e influente barão da droga de toda a África Ocidental, isto, para além de estar intrinsicamente ligado ao assassinato do antigo Presidente João Bernardo Vieira (Nino) - segundo afirmações públicas recentes da própria Secretaria de Estado americana Hillary Clinton. Assim afirmou Hillary, dizendo que os EUA não poderiam aceitar nunca a nomeação de Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, uma pessoa que matou o Presidente do seu país. Essa declaração foi suficientemente difundida em toda a imprensa internacional.
A resposta é simples para o governo norte-americano: o Contra Almirante José Américo Bubo Na Tchuto, para além de ser um narcotraficante à escala mundial (a acusação é deles) e sob alçada das suas autoridades judiciárias, participou com os seus homens na morte de um dos seus agentes em missão do governo americano, e para eles, Antonio Injai, o senhor de Bissau, é a unica pessoa que poderá ajudar na captura de Bubo Na Tchuto e entregá-lo à justiça norte-americana para ser julgado pelos crimes de que é acusado.
E pergunta-se: será que Antonio Injai ficará por lá sem que nada lhe aconteça ?. Não. Pensam os americanos que Antonio Injai será levado pelos acontecimentos que criou e pelos que inevitavelmente se seguirão, ou que, em momento oportuno, ultrapassado a fase Bubo Na Tchuto, terão o tempo de lhe fazer a folha. António Aly Silva
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