terça-feira, 25 de setembro de 2012

SETEMBRO VITORIOSO (IV)


Manifesto ao Povo Guineense
Compatriotas! Cidadãos guineenses, amigos da Guiné-Bissau,
 
Neste dia 24 de Setembro do ano 2012 em que a Guiné-Bissau comemora 39 anos de independência, o momento é de mágoa, angústia e revolta.

Nós, cidadãos guineenses patriotas, não podemos deixar de dirigir estas compreensíveis palavras, partilhadas pela comunidade lusófona, ao povo guineense.

Perante os acontecimentos que provocaram mais uma perturbação político-militar promovida por falhados e ambiciosos políticos e militares, nunca se registou na nossa história recente e comum uma causa pública que tanto unisse os lusófonos na condenação do absurdo, ilegal e ilegítimo acto em curso na Guiné-Bissau.

Por estarmos convictos dos princípios que orientam a nossa atitude firme na defesa dos direitos e da liberdade e, também, por ser de interesse colectivo e ter carácter reivindicativo, tornamos público este manifesto de contestação, dirigido ao povo guineense.

Esta nossa iniciativa, da qual damos conhecimento à comunidade internacional, foi suscitada pelo desejo, não de defender partes implicadas, mas sim de defender os nossos direitos inalienáveis e de proteger a soberania nacional contra a ocupação feita por políticos oportunistas e falhados e por forças militares estrangeiras; erguemos a nossa voz, pelo direito do povo guineense de escolher seus governantes, de determinar o seu próprio destino e de viver em paz, estabilidade e harmonia - condição sine qua non para se atingir um desenvolvimento socioeconómico almejado.

Por estarmos inquietos sobre o nosso presente e futuro, perante a calamidade que recentemente se abateu sobre nós e que se agrava a cada dia que passa (com consequências graves a todos os níveis e ao qual nenhuma família, nenhuma comunidade, na diáspora ou em território nacional escapa), sentimos os sinos da mudança definitiva ecoar, anunciando o fim da política dos usurpadores do poder legitimamente conquistado nas urnas.

Compatriotas, cidadãos guineenses!,

Instamos a vossa atenção: dirigimos este manifesto não para louvar o glorioso povo guineense nem para enaltecer os sacrifícios ou infortúnio. Mas tão-somente para ajudar a entender a importância da resistência e da contestação.

Chega! Que esta exclamação seja ouvida lá nos confins dos incautos: chega!

Não pactuaremos mais com as crises recorrentes multidimensionais que prosseguem em adiar não só o nosso presente como o nosso futuro. Em que situação querem viver? Em paz e harmonia, ou em ditadura e repressão? Como era antes do golpe, ou como é hoje?
Apelamos à consciência política e social nacional para que esta ocorrência não se repita nunca mais na nossa terra.

Não vacilaremos na defesa dos nossos direitos democráticos, nem cederemos à usurpação do poder político. Esta deverá e será a última vez que assistimos à alteração violenta da ordem constitucional. Não toleraremos mais condutas impróprias, nem viver sob jugo autoritário e repressão militar estrangeira, com a benevolência de traidores da pátria.
Compatriotas, cidadãos guineenses!

O valente povo guineense, sempre soube reagir com dignidade e de forma racional, àqueles que procuram usurpar o poder legitimamente conquistado nas urnas.

O momento actual caracterizado pela ocupação militar estrangeira, intolerância, clima de medo, asfixia económica, censura e tensão, por insultos e difamação, pessimismo e desânimo popular, descontentamento e medo crescente, intrigas e vinganças, pelo deboche total, pela maldade e falta de escrúpulos, pela deturpação e desinformação, deve unir os verdadeiros patriotas para pôr fim a esta caótica, ilegal e intolerável situação.
Esta situação exige a exaltação do sentimento patriótico, contra esses oportunistas que, sem arrependimento nem vergonha, usurparam o poder, se prostituem e vendem a bandeira nacional, em troca de favores inconfessáveis.

Quem não se lembra das promessas de respeito pela Constituição da República e do poder popular? Quem não se lembra das garantias de respeito pela legislatura, legitimidade popular e soberania nacional? Declaram uma coisa e praticam outra.

Afinal, mentiram ao povo, mentiram à comunidade internacional e mentem hoje, quando afirmam estar a preparar as eleições; mentem quando dão garantias de justiça; mentem… mentem e mentem sem vergonha alguma.

Compatriotas, cidadãos guineenses!,

Durante mais quanto tempo vamos tolerar esta falta de respeito? Estes abusos? Este descaramento? Será que também ao povo guineense não resta dignidade? Amor-próprio, honra? Força de vontade para afirmar e defender o interesse colectivo e o bem comum guineense? Será que o povo guineense se acobardou e resignou? Desistiu para ser somente pisado por botas militares e humilhado por delinquentes pseudopolíticos?

Estas criaturas disfuncionais e distorcidas atestam, para além de qualquer sombra de dúvida racional, que somente triunfam e têm voz à sombra de golpes de estado, alteração violenta da ordem constitucional, do narcotráfico, do disfuncionamento institucional.
Coitados, não lhes resta uma centelha de humildade para admitirem que erraram, que estão errados e que estão a maltratar o povo.

Na rua, nas bancadas, no quintal, à mesa, nos transportes públicos, nas rádios, nos jornais, na internet, vamos fazer ecoar a nossa voz de contestação e indignação para que sejam ouvidas lá nos covis e nas pocilgas mais remotas!

Todos os prevaricadores, civis e militares envolvidos, directa e indirectamente, deverão ser julgados e punidos pela Justiça, de forma exemplar e definitiva, para que nunca mais alguém tenha a veleidade de se insurgir contra a ordem constitucional e a legitimidade popular.

Pode tardar mas esse dia chegará. E quando esse dia chegar não haverá buraco para se esconderem, nem redenção possível! E escusam de nos acusar de vingança porque não se tratará de vingança mas sim de punir exemplarmente os prevaricadores! Nenhum escapará! Desta vez libertaremos a nossa terra de ignóbeis criaturas que atormentam a nossa pacífica e harmoniosa existência.

Julgam-se geniais e iluminados, quando não passam de brutos e analfabetos, trogloditas primários que arrogantemente se pavoneiam como lobos esfaimados!

Estas criaturas, a quem, aliás, ninguém respeita mas todos desprezam, gozam com o povo de forma descarada e regozijam-se dos seus feitos! Fomentam ódios, tensões étnicas e religiosas e, ainda, se apresentam como vítimas, apontando o dedo aos outros. Mas o povo guineense já conhece estas manobras difamatórias e não se deixam enganar pelos fracassados impuros da praça de Bissau.

Compatriotas, cidadãos guineenses!,

Face ao crescente pessimismo nacional reiteramos que todos os verdadeiros patriotas e defensores da legalidade constitucional têm a responsabilidade e o dever patriótico de defender e de salvar a pátria, com audácia e perseverança.

Pela Guiné-Bissau, pelos sacrifícios das nossas mães e pais e filhos, não nos conformaremos e lutaremos de bandeira erguida pela afirmação dos nossos direitos na Guiné-Bissau!

Vamos resistir porque não há espaço para vacilar ou resignar. Não nos podemos resignar nem desistir. E o povo guineense não se resignou! Nós podemos contestar sem contestação violenta. E o povo guineense contesta, contesta porque não se resignou ao fatídico destino que nos querem impor. Contestaremos sempre qualquer forma de poder que não seja legitimado pelo povo!

Avisamos que estamos cansados e que por todos os meios necessários lutaremos pelos nossos direitos e liberdades e pela soberania nacional!
Compatriotas, cidadãos guineenses!

Não nos conformaremos com o rumo dos acontecimentos e não nos resignaremos! Não cederemos perante esta desastrosa situação de ditadura!

Há que denunciar esta ofensa ao povo guineense e não curvar perante a lentidão do processo de decisão da comunidade internacional em enviar uma força multinacional de interposição que proteja os civis e os políticos democraticamente eleitos pelo povo guineense.

Urge tomar posição firme! Sem cinismo nem hipocrisia!

Para esse efeito exigimos:

a. A presença incondicional da presença de uma força militar multinacional conforme a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas no território nacional;

b. A restauração da democracia que passará pela reposição da ordem constitucional;

c. A criação de uma comissão de verdade e reconciliação;

d. A restrição de liberdades cívicas de todos os civis e militares implicados directa e indirectamente no golpe de estado e posterior julgamento, a começar pelos cinco contestatários;

e. Priorizar o desarmamento dos militares, desmantelamento de quartéis nos centros urbanos e posterior desmobilização e reforma das forças armadas;

f. A retoma do processo eleitoral presidencial;

g. Proceder ao exame minucioso e escrupuloso de todos os partidos políticos, no sentido de se averiguar quais cumprem os preceitos da Lei-Quadro de partidos políticos;

Compatriotas! Cidadãos guineenses, amigos da Guiné-Bissau,

Não podemos e não vamos permanecer reféns da violência de militares golpistas. Não podemos nem devemos continuar prisoneiros da instabilidade e da imprevisibilidade, do medo da violência militar fomentada por políticos fracassados desprovidos de qualquer legitimidade popular e que apenas sobrevivem como parasitas no caos social. Pois cabe ao povo e somente ao povo escolher e decidir quem governa e quais os seus representantes, num sistema democrático onde todos, sem excepção, se submetem à Lei, à ordem constitucional e à justiça.

Quando assim não acontece é porque algo está errado. Por isso, contestamos porque o que se passa na Guiné-Bissau está errado. Urge denunciar e agir! Não queremos, não podemos e não vamos continuar a sofrer e a tolerar este comportamento insano!
Cidadãos patriotas! Indignados, contestem! Manifestem-se!

Pelo respeito da ordem constitucional contestem! Pelo respeito dos princípios de direito num estado democrático, contestem! Pela soberania nacional, contestem! Pela liberdade de expressão e de manifestação, contestem! Pelos direitos inalienáveis e segurança, contestem!

Muito obrigado

SETEMBRO VITORIOSO (III)


Carta aberta à Organização das Nações Unidas
 
Ao​​​​​​​​​
Excelentíssimo Senhor Ban Ki-Moon
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas
 
Senhor Secretário-Geral,

24 de Setembro de 2012

Apresentamos os nossos melhores cumprimentos ao Exmo. Senhor Secretário-Geral das Nações Unidas.

No seguimento da mais recente crise político-militar de 12 de Abril último que assolou uma mais vez a paz e estabilidade na Guiné-Bissau, recordamos que foi unânime a condenação do golpe militar por parte da comunidade internacional, incluindo a União Africano (UA), a Comunidade Económica dos Estados Oeste Africano (CEDEAO), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a União Europeia (UE) e da Comissão de Consolidação da Paz (CCP).

Senhor Secretário-Geral,

Recordamos ao Senhor Secretário-Geral que o Conselho de Segurança instou o Senhor Secretário-Geral, a envolver-se ativamente na coordenação dos esforços internacionais, para ajudar a restaurar a ordem constitucional e a harmonizar as respectivas posições de parceiros internacionais bilaterais e multilaterais, particularmente, da União Africana, da CEDEAO, da CPLP e da União Europeia, para garantir a máxima coordenação e complementaridade dos esforços internacionais, com vista a desenvolver uma estratégia global integrada com medidas concretas que apontassem para a implementação da reforma do sector de segurança, reformas políticas e económicas, o combate ao tráfico de drogas e combater a impunidade.

Recordamos ainda que se enfatizou a necessidade de todos os intervenientes nacionais e internacionais da Guiné-Bissau, parceiros bilaterais e multilaterais a permanecerem comprometidos com a restauração da ordem constitucional, incentivando a continuação dos esforços de mediação da Comunidade Económica dos Estados Oeste Africano (ECOWAS), em estreita coordenação com as Nações Unidas, a União Africana e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Recordamos igualmente que Conselho de Segurança incentivou a CEDEAO a prosseguir os seus esforços de mediação, visando a restauração da ordem constitucional, em estreita coordenação com as Nações Unidas, União Africana e CPLP.

Senhor Secretário-Geral,

Porém, para nossa surpresa, pois acreditamos nas Nações Unidas bem como no papel do Secretário-Geral, até à presente data não se transpôs de resoluções e recomendações!
Decorridos quatro messes, ainda aguardamos a intervenção das Nações Unidas para a restauração da ordem constitucional.

Mais, não nos sentimos defraudados e temos confiança que na próxima Assembleia Geral decidir-se-á pelo envio imperativo de uma força multinacional para a manutenção da paz na Guiné-Bissau.

Pois, ao decidir ignorar a Resolução 2048 do Conselho de Segurança, a CEDEAO, à mercê de interesses alheios ao bem comum guineense, conscientemente contribuiu para a subversão da ordem constitucional e da vontade popular soberana, para surpresa e indignação não só do povo guineense bem como da comunidade internacional.

De outras formas, desde então, a CEDEAO contribuiu para promover e fortalecer o recurso à alteração violenta da ordem constitucional, legitimação do golpe de estado contra o princípio de tolerância zero a golpes de estado e não implementou a resolução adoptada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Ao contrário das disposições da Carta da ONU e das resoluções do Conselho de Segurança, das resoluções da União Europeia, União Africana e a CPLP, a CEDEAO abençoou e “legitimou” um “presidente” e “governo” sem legitimidade e sem respeitar a legalidade internacional, violando, de forma drástica, os mais elementares princípios democráticos de um Estado de direito.

Senhor Secretário-Geral,

Aguardamos pávida e serenamente outro Kosovo … Sérvia … Burundi … Ruanda? Urge tomada de decisão preventiva, pois julga-se mais sensato prevenir do que remediar sob pena de a consciência da comunidade internacional vir a ser inundada com o sangue do povo guineense.

Senhor Secretário-Geral,

Para concluir, ainda estamos em crer que as Nações Unidas contribuirão efectivamente para a defesa do respeito da ordem constitucional e da democracia, materializada no envio de uma força multinacional, sob pena de a Organização das Nações Unidas contribuir para o fim da democracia, da paz, estabilidade na Guiné-Bissau.

Atenciosamente,

Cidadãos guineenses e lusófonos

SETEMBRO VITORIOSO (II)


Carta aberta à CPLP - Iniciativa 'Setembro Vitorioso'

Dirigimos esta carta à CPLP, certos de serem genuínos os laços que unem os povos desta nossa comunidade. Como se sabe – e pelas piores razões – a Guiné-Bissau está a atravessar um momento marcante e decisivo da sua história. O nosso país e o nosso povo continuam a ser vítimas de uma autêntica catástrofe: o completo desgoverno de um pseudo governo a mando de um punhado de militares que apenas querem o poder para garantir a continuação e impunidade dos seus negócios privados e ilícitos. Não será demais referir a delapidação da função pública, a repressão das liberdades, as perseguições e pressões políticas e a destruição da economia nacional que vinha de um assinalável período de crescimento, baseado no aumento da produção e das exportações.

Não cabem aqui as muitas páginas necessárias para descrever todos os males que já foram e continuam a ser provocados ao nosso povo, pois sabemos que os países da CPLP estão cientes da terrível situação em que nos encontramos. Sabemo-lo, pois tem sido inestimável o apoio incondicional e unânime manifestado pelos países da lusofonia, assim que foi perpetrado o golpe de estado, no dia 12 de Abril do corrente ano. Muito a propósito, aqui fica o profundo agradecimento dos cidadãos guineenses que acompanham, incrédulos, o desenrolar dos acontecimentos na sua terra natal.

Apesar de serem péssimos os motivos que colocaram a Guiné-Bissau na agenda internacional, este período não deixou de nos proporcionar algumas alegrias; nomeadamente, a de sentirmos o enorme apoio da comunidade lusófona – o apoio oficial, seguramente, mas também o apoio dos cidadãos de outras nacionalidades que se têm juntado a nós (inclusive, em encontros da diáspora guineense).

Uma comunidade como a nossa, a CPLP, tem uma dimensão emocional, associada a um sentimento de pertença comum que, havendo educação e respeito, encara as diferenças como riqueza cultural. É esse sentimento de pertença que tem mantido viva a nossa confiança em dias melhores. O difícil momento que atravessamos leva-nos a ver com especial nitidez que, talvez paradoxalmente, a CPLP poderá sair reforçada deste negro episódio na vida de um dos seus povos. Enche-nos de esperança a memória do que foi o empenho de todo o espaço lusófono pela independência e libertação de Timor. Na altura, a voz e a razão da nossa comunidade fizeram ouvir-se no mundo inteiro e os nossos protestos, apelos e influência não foram vãos.

Quando necessário, o espaço lusófono sempre esteve unido e é dessa união que vem a nossa força. Por isso, contamos com o incessante apoio de todos os países da CPLP para continuar esta luta até ao fim, sendo fundamental que se usem todos os meios que permitam o regresso do nosso Governo legítimo, para que seja reposta a ordem constitucional anterior ao absurdo golpe do dia 12.

O passado recente já demonstrou a força da nossa comunidade; mas, desta vez, temos um inimigo com características únicas: estamos a lidar com verdadeiros bárbaros que cuidam apenas dos seus interesses, independentemente daquilo que for preciso sacrificar – nem que seja o futuro da própria terra onde nasceram. Esta constatação é pertinente, não porque nos seja irresistível apontar-lhes os defeitos, mas sim porque estará aqui a razão do insucesso, até ao momento, de todas as iniciativas civilizadas para os demover do seu assalto ao poder. De facto, de nada valem resoluções (mesmo as da ONU…), cartas ou manifestos, se do outro lado apenas conta o poder das armas.

Gostaríamos que não fosse assim, mas não nos parece possível outra conclusão: perante a absoluta impossibilidade de qualquer diálogo verdadeiro e perante a evidência de que os autores do golpe são completamente insensíveis aos apelos do próprio povo guineense e ao toque da democracia, talvez seja necessário usar a força para lhes retirar o poder que nunca devia, sequer, ter sido deles.

Esgotadas as vias da decência, há que encarar o uso da força como mal necessário para repor a normalidade democrática na Guiné-Bissau - e julgamos estarem esgotadas essas vias. Por isso, estamos certos da necessidade de uma força de restabelecimento da ordem constitucional que permita o regresso do Governo legítimo e que assegure a paz e a segurança no país. Enquanto cidadãos, fizemos e faremos o que está ao nosso alcance para salvar a Guiné-Bissau. No entanto, o tempo passa e vemos o país afundar-se cada vez mais. É por isso que nos dirigimos aos países amigos da CPLP, pedindo que seja preparado o caminho para uma intervenção multilateral, devidamente avalizada internacionalmente, visando libertar a Guiné-Bissau. Tudo o resto demonstrou ser infrutífero.

Aproveitamos para dar nota de uma outra carta que dirigimos à CEDEAO, apelando para que esta regresse, na prática, à sua posição inicial de rejeição do golpe e do governo de transição nomeado pelos golpistas. Pedimos à CPLP que reforce a nossa posição, junto da CEDEAO, pois é certo que os países da África Ocidental, pela sua proximidade, poderão ainda provocar a necessária inversão no rumo dos acontecimentos. Já vai sendo tarde, mas merecerá a pena um último compasso de espera, para aguardar a resposta da CEDEAO.
Terminamos com um forte apelo aos países da CPLP para que haja a necessária mobilização, entendimento e coordenação, no sentido de se materializarem as condições necessárias para libertar o nosso país do jugo bandoleiro em que está.
 
Bem hajam.
 
 

SETEMBRO VITORIOSO (I):


Carta Aberta à CEDEAO, pelos cidadãos guineenses e lusófonos - “Iniciativa Setembro Vitorioso”
 
O movimento Setembro Vitorioso elaborou esta carta com o objetivo principal de apelar a uma rápida mudança de atitude (por parte da CEDEAO), no sentido de se repor a normalidade democrática e constitucional na Guiné-Bissau.

Preocupa-nos o futuro do nosso povo e do nosso país, cujo progresso tem sido frequentemente impedido pela instabilidade política e por sucessivos golpes de estado, cada vez mais inadmissíveis.

Mas também nos preocupa o futuro conjunto dos países da região e da nossa comunidade: sem vontade para garantir a estabilidade, sem maturidade política e sem se perceber que só com essa estabilidade é que teremos condições para o desenvolvimento económico e social dos nossos países, dificilmente poderemos prosperar.

Porque nos parece que este pode ser um “momento de verdade”, não podemos esconder o nosso descontentamento (e desilusão!) para com o papel que a CEDEAO desempenhou até aqui, no que diz respeito à situação que se vive na Guiné-Bissau, na sequência do golpe de estado de 12 de Abril.

Estamos descontentes e desiludidos, pois é evidente a discrepância entre as palavras e os atos. Para atalhar, a CEDEAO tem-se manifestado contra o golpe de estado, mas – na prática – criou condições para que os golpistas continuem a (des)governar o país.
Preferíamos não ter que fazer esta crítica, mas a disparidade entre o que se diz e o que se pratica é incontornável. Porque queremos capitalizar a atual situação da Guiné-Bissau para criar um “momento de verdade” na região, assumimos esta crítica e esperamos que ela suscite adequada reflexão.

Conhecemos bem a realidade do nosso país e a encruzilhada de interesses particulares (tantas vezes ilegais) que o permeiam e rodeiam. Admitimos até que a própria CEDEAO seja, também, vítima desses interesses, aos quais basta a mera proclamação de frases politicamente corretas, desde que possam continuar a atuar impunemente no terreno. Por isso, temos consciência de que este nosso apelo não é de simples correspondência. Mas não podemos deixar de o fazer:

- porque esperamos, confiando, que a CEDEAO opte por um novo rumo para a região;

- porque acreditamos no valor dos povos africanos que merecem viver em democracias estáveis e libertas da corrupção;

- em suma, porque esperamos que impere o bom senso e a perceção de que está em causa o nosso futuro conjunto, o qual só poderá ser construído em paz, com estabilidade e em democracia;

Mais do que naquilo que é dito e defendido em posições oficiais, as verdadeiras escolhas da CEDEAO, quanto ao futuro da Guiné-Bissau, irão revelar-se nos atos. Para já, repetimos, os atos não conduziram à desejável normalização política do país. Esta situação é extremamente prejudicial para a Guiné-Bissau que, assim, se vê privada daquele que poderia ser o importante apoio da CEDEAO. Mas também é prejudicial para todos os países da comunidade, uma vez que é claro o sinal que está a ser dado “à navegação”: o de uma CEDEAO como mero palco de representação do “politicamente correto”, em cujos bastidores decorre a peça real, onde imperam interesses particulares, completamente alheios às aspirações de povos inteiros.
No entanto, amanhã é um novo dia.

Esperamos que esta carta suscite a urgente reflexão acerca do nosso futuro coletivo.
Queremos continuar a integrar a CEDEAO, mas gostaríamos de ver nesta – enquanto comunidade supranacional – uma organização capaz de ajudar os países que a constituem a resolver os seus problemas e não como mero prolongamento dos mesmos.
Para que amanhã seja um novo dia, hoje terá que ser um “dia de verdade”.

O “Governo de assalto” que tomou conta do poder na Guiné-Bissau está a delapidar a economia, o Estado e a coesão social – e logo quando o país, pela primeira vez, atingiu níveis significativos de crescimento económico. Por economia de espaço, não iremos aqui detalhar este capítulo sobre a destruição do país, até porque os fatos são sobejamente conhecidos - por muito que alguns os tentem esconder. Bastará referir que a situação é demasiado grave para que se faça dela um joguete, nas mãos de uma pequena minoria, cuja ganância demonstra não ter quaisquer limites.

Por tudo isto, eis o nosso apelo à mudança: a CEDEAO ainda pode ter um papel importante na solução do atual e muito grave problema que se vive na Guiné-Bissau. Ao faze-lo, estará não só a ajudar o nosso povo, mas também a instaurar uma nova forma de proceder que dará melhores frutos para toda a região. Será uma mudança difícil e exigirá coragem, mas esta é uma luta que vale a pena. Afinal, está em causa o futuro de todos nós! E que futuro queremos? O do progresso económico e social e da genuína colaboração entre os países desta comunidade, ou a manutenção da “lei do mais forte” que só tem salvaguardado interesses individuais, corporativos, mesquinhos e indiferentes ao destino dos nossos povos?

Amanhã é já amanhã!

Não esperemos mais pelas mudanças de que necessitamos! Elas não se farão sozinhas e muito dificilmente alguém as fará por nós. Recordamos as recomendações das Nações Unidas, para que se retome, de imediato, o processo eleitoral para escolha de um novo Presidente e para que a ordem constitucional anterior ao golpe seja reposta. A comunidade internacional rejeita o dito Governo de transição e aguarda por uma solução vinda de nós.

A CEDEAO está a tempo de corrigir este verdadeiro embaraço para a sua respeitabilidade internacional, mas é necessário intervir rapidamente e em sentido único: retirar o poder aos autores do golpe e devolve-lo ao Governo legítimo. Confiamos numa pronta resposta da CEDEAO e confiamos na adoção das medidas necessárias. Confiamos, sobretudo, que a CEDEAO, pelos seus atos, a todos possa dar um sinal claro e definitivo: o da completa recusa do uso de golpes de estado como ferramenta aceitável para a mera conquista do poder.
 
A terminar, o inevitável:

- relembrar os artigos 3º e 4º do Tratado Fundador revisto em Julho de 1993, da própria CEDEAO e o “Protocolo A/SP1/12/01”, da CEDEAO, sobre Democracia e Boa Governação que suplementa o “Mecanismo para a Prevenção de Conflitos, Gestão, Resolução, Manutenção da Paz e Segurança”, aprovado em 2001, em Dakar, onde se pode ler: «todo o acesso ao poder deve ser feito através de eleições livres, honestas e transparentes» e que «toda a mudança anticonstitucional fica interdita, bem como qualquer modo não democrático de tomada ou manutenção do poder»;

- e relembrar a posição inicial da CEDEAO de firme condenação ao golpe de estado do dia 12 de Abril: esta foi a posição assumida pela Conferência de Chefes de Estado e Governo da CEDEAO de 26 e 29 de Abril e pela sua Presidência em declarações de 13 e 19 de Março de 2012 que, na altura, anunciaram mesmo «não reconhecer quaisquer instituições arquitetadas pelos golpistas – militares e civis -, na Guiné-Bissau».

Está certa a CEDEAO nos seus textos constitutivos e esteve certa a CEDEAO no início deste processo; tão certa que não se entende o ‘porquê’ das posições tomadas posteriormente, de apoio a um ‘Presidente’ e a um ‘Governo’ de transição formado pelos golpistas e, consequentemente, ilegítimo. Seguramente, não se entende o ‘porquê’ de uma posição tão isolada, no contexto das organizações internacionais relevantes (ONU, UA, EU, CPLP e OIF, etc.), todas repudiando a demora na reposição da ordem constitucional anterior ao golpe.

Por fim, sublinhamos o seguinte: os povos são a fonte da autoridade – devem ser respeitados! O povo guineense saberá agradecer aos países vizinhos toda a ajuda que seja proporcionada, neste momento tão difícil.
 
Bem haja

Não há jantares de graça...


Kampu kinti na Nova Iorque... Afinal, os convites inicialmente formulados pelo Departamento de Estado da administração Obama, ao 'governo de transição', para um jantar de gala...foram ontem oficialmente cancelados... AAS

67ª Assembleia-Geral da ONU: Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr., será a quinta individualidade a discursar nas Nações Unidas. AAS

HOJE - RESTAURANTE PONTA DE PEDRA - HOTEL ANCAR - PRATO DO DIA > ARROZ DE POLVO

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

Conselheiro apanhado...na rede


Dois barcos de pesca sul-coreanos, foram apanhados ontem, dia 23, pela FISCAP, a pescar dentro das 12 milhas (mar territorial, reservado para a pesca artesanal, e onde nenhum navio de pesca industrial pode operar. Esta infracção é apelidada de 'pesca grave'). A FISCAP constatou que um navio tinha a licença em dia, mas o outro não.

O problema, agora, é outro. É que, o representante do armador sul-coreano na Guiné-Bissau é Malam Mané (Djúdjú), conselheiro para os assuntos económicos do 'primeiro-minsitro' de transição, Rui Barros. Agora, soube o ditadura do consenso junto de fonte segura, existe uma enorme pressão para que a FISCAP deixe zarpar os navios. As multas para este tipo de infracção podem chegar aos 150 mil dólares por navio. AAS

Assembleia Geral da ONU já mexe...


- Carlos Gomes Jr., Primeiro-ministro da República da Guiné-Bissau, por ocasião de uma reunião internacional de solidariedade com Cuba e a convite deste Estado, discursou ontem na Sede da União Africana perante inúmeros Chefes de Estado e de Governo, e segue ainda esta noite para os E.U.A. onde tomará parte da Assembleia Geral das Nações Unidas como legítimo representante do Estado da Guiné-Bissau;

- Hoje, 23 de Setembro, o Presidente da República interino, Raimundo Pereira, partiu para Nova Iorque para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas, conjuntamente com o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior, acompanhado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mamadu Djaló Pires. AAS

Setembro Vitorioso - Guiné-Bissau: 39 anos de independência… Sem razões nem fundamentos para comemorações


Por ocasião da comemoração do 39º aniversário da independência da República da Guiné-Bissau, a Iniciativa Setembro Vitorioso vai organizar um evento no dia 24 de Setembro, 18h30, no Auditório do Centro Comercial Picoas Plaza.

A ocasião revestirá carácter de improviso de leituras de Manifestos ao povo guineense e de Cartas abertas às Nações Unidas, CEDEAO, CPLP e declamação de poemas sob sonoridade tradicional da Guiné-Bissau, com sonâncias de korá, balafon e djimbé.

Neste simbólico dia 24 de Setembro do ano 2012, em que a Guiné-Bissau comemora 39 anos de independência, deveria haver carácter festivo, mas o momento é de mágoa, angústia e revolta.

Perante os acontecimentos que provocaram mais uma perturbação político-militar na Guiné-Bissau, a Iniciativa foi originada pelo desejo, não de defender partes implicadas, mas sim de defender os direitos inalienáveis e de proteger a soberania nacional contra a usurpação ilegítima do poder por políticos oportunistas e por forças militares estrangeiras e de erguer a voz pelo direito do povo guineense de escolher seus governantes, de determinar o seu próprio destino e de viver em paz, estabilidade e harmonia.

O momento actual é caracterizado pela usurpação ilegal e ilegítima do poder político, ocupação militar estrangeira, intolerância, clima de medo, asfixia económica, censura e tensão, por insultos e difamação, pessimismo e desânimo popular, descontentamento e medo crescente, intrigas e vinganças, pela deturpação e desinformação gerando uma situação caótica e intolerável.

Apesar de serem péssimos os motivos que colocaram a Guiné-Bissau na agenda internacional, este período não deixou de nos proporcionar algumas alegrias; nomeadamente, a de sentirmos o enorme apoio da comunidade lusófona – o apoio oficial, seguramente, mas também o apoio dos cidadãos de outras nacionalidades que se têm juntado a nós (inclusive, em encontros da diáspora guineense).

Recordamos que foi unânime a condenação do golpe militar de 12 de abril, por parte da comunidade internacional, incluindo a União Africana (UA), a Comunidade Económica dos Estados Oeste Africano (CEDEAO), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e a União Europeia (UE).

Assim, aproveitamos para dar nota de uma carta dirigida à CEDEAO, apelando para que esta regresse, na prática, à sua posição inicial de rejeição do golpe e do governo de transição nomeado pelos golpistas. Estamos descontentes e desiludidos, pois é evidente a discrepância entre as palavras e os atos. Para atalhar, a CEDEAO tem-se manifestado contra o golpe de estado, mas – na prática – criou condições para que os golpistas continuem a (des)governar o país. Para já, repetimos, os atos da CEDEAO não conduziram à desejável normalização política do país. Esta situação é extremamente prejudicial para a Guiné-Bissau que, assim, se vê privada daquele que poderia ser o importante apoio da CEDEAO.

Ao decidir ignorar a Resolução 2048 do Conselho de Segurança, a CEDEAO, à mercê de interesses alheios ao bem comum guineense, conscientemente contribuiu para a subversão da ordem constitucional e da vontade popular soberana, para surpresa e indignação, não só do povo guineense, bem como da comunidade internacional.

Para concluir e face ao crescente pessimismo nacional e impasse internacional, reiteramos que todos os verdadeiros patriotas e defensores da legalidade constitucional têm a responsabilidade e o dever patriótico de defender e de salvar a pátria, com audácia e perseverança. Para esse efeito, exigimos a presença incondicional de uma força militar multinacional, conforme a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas no território nacional; a restauração da democracia que passará pela reposição da ordem constitucional; a criação de uma comissão de verdade e reconciliação; a restrição de liberdades cívicas de todos os civis e militares implicados directa e indirectamente no golpe de estado e posterior julgamento, a começar pelos cinco contestatários; priorizar o desarmamento dos militares, desmantelamento de quartéis nos centros urbanos e posterior desmobilização e reforma das forças armadas.

A Iniciativa Setembro Vitorioso despontou na sequência da última crise político-militar que assolou a Guiné-Bissau no mês de Abril do corrente e alterou de forma violenta a ordem constitucional vigente. É constituído por cidadãos guineense e lusófonos que primam pela legalidade, respeito pela soberania constitucional, democracia e pelo bem comum.

sábado, 22 de setembro de 2012

Incompreensões, diz Mutaboba


O representante do secretário-geral das Nações Unidas em Bissau, Joseph Mutaboba, garantiu hoje que entre as organizações regionais CEDEAO e CPLP existem apenas "incompreensões" sobre a Guiné-Bissau e que ambas estão disponíveis para dialogar. A CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) têm posições divergentes sobre a Guiné-Bissau na sequência do golpe de Estado de 12 de abril passado. A primeira apoia o governo de transição formado depois do golpe, enquanto a CPLP não reconhece o o referido governo.
A crise na Guiné-Bissau levou Joseph Mutaboba e Ovídio Pequeno, representante da União Africana (UA) em Bissau, a contactos em vários países de África e também em Lisboa.
Hoje, em conferência de imprensa em Bissau, Mutaboba sintetizou que "o que resulta claramente de todas estas consultas é que não existem grandes divergências entre a CEDEAO e a CPLP, mas acima de tudo incompreensões".

Nas consultas, se por um lado ambos "reiteraram as suas posições" eles "manifestaram sobretudo disponibilidade para o diálogo", declarou Joseph Mutaboba, acrescentando que a ONU e a UA vão prosseguir nos esforços de diálogo e que encontros entre parceiros importantes da Guiné-Bissau vão acontecer nos próximos dias. Um deles decorrerá à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, organizado pela ONU e pela UA e que junta CEDEAO, CPLP e União Europeia.

"Os resultados deste encontro servirão de base à reunião do grupo de contacto internacional sobre a Guiné-Bissau, previsto para Adis-Abeba", referiu Mutaboba.
Mas, acrescentou, mais do que diálogo entre parceiros da Guiné-Bissau é fundamental o diálogo entre os guineenses. Porque são eles os responsáveis por todas as crises históricas e são eles quem tem de determinar "se esta é a última".

"O diálogo é difícil, mas não impossível. Todos dizem que estão prontos a dialogar", esclareceu Joseph Mutaboba, considerando o momento atual uma ocasião única para os guineenses se olharem nos olhos, dizer a verdade, dizer que é preciso parar de uma vez por todas, mudar de página, reconciliar-se e construir uma base, para que depois a comunidade internacional os ajude "sobre uma base sólida e sincera".

Ovídio Pequeno manifestou a mesma opinião. E acrescentou que essa preocupação para com o diálogo interno vem do "reconhecimento de que de facto na Guiné-Bissau há muitos problemas internos, particularmente a nível dos partidos políticos". "Os partidos têm dialogado, é um início de um processo ainda frágil, mas que poderá dar frutos. Mas temos de ter paciência e reconhecer que há dificuldades, que os partidos têm problemas internos e que enquanto não os resolverem qualquer iniciativa de diálogo terá obstáculos", apontou Ovídio Pequeno.

O representante do presidente da Comissão da UA lembrou o problema da Assembleia Nacional, paralisada desde o golpe de Estado, uma questão "urgente" mas sobre a qual "o diálogo já foi iniciado". Mas há também a questão, lembrou, de haver um governo inclusivo, ou a harmonização de uma posição a nível internacional. "É preciso ir paulatinamente resolvendo os problemas, com visão e respeito pela Carta de Transição. Se as partes na altura concluírem que não pode ser feito isso já é outra etapa do percurso", disse, quando questionado sobre se as eleições poderão acontecer em abril de 2013, como previsto.
Joseph Mutaboba não falou das eleições. Mas explicou que quem representa a Guiné-Bissau na Assembleia Geral das Nações Unidas é "uma questão dos Estados membros".

Serifo Nhamadjo e o governo de transição estarão em Nova Iorque, como também estarão Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, o Presidente e o primeiro-ministro depostos.
Joseph Mutaboba explicou que quando há mudanças num país, como aconteceu na Guiné-Bissau, o "dossier" é enviado ao Comité de Protocolo e de Acreditação, composto por Estados membros eleitos anualmente, sendo esse comité que decide quem participa, razão pela qual não sabe quem ou se alguém discursará na assembleia.

Mas uma certeza deixou perante os jornalistas: "Gostávamos de afirmar aqui e agora que nem as Nações Unidas nem a União Africana deixaram ou deixarão de apoiar plenamente este país para que ele alcance a paz que o povo deseja", declarou. O mesmo já tinha sido expresso numa mensagem à Guiné-Bissau do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por ocasião do Dia Internacional da Paz, que hoje se celebra. "Reitero que as Nações Unidas vão prosseguir o seu apoio, mas quero antes de mais sublinhar que qualquer apoio recebido não dará os frutos necessários enquanto não houver a participação de todos os guineenses nos esforços pela paz", lê-se na mensagem.

Guiné-Bissau: Crise política revela interesse internacional


Deutsche Welle

Analistas dizem que divergência entre países da África Ocidental, favorável a governo de transição, e países lusófonos, contrários aos interinos, reflete interesse de países em controlar o poder em Bissau. Na passada segunda-feira (17.09), o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse estar "preocupado" com a estagnação da crise política na Guiné-Bissau, resultado do golpe militar de Estado de abril deste ano. O congelamento da situação de crise estaria, segundo Ban, sendo acirrado pelas divergências em relação ao governo saído do golpe. Mais especificamente, o impasse seria, entre outros, resultado das posições controversas da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), favorável ao governo de transição, e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que se recusa a trabalhar com os interinos.

Para o analista Paulo Gorjão, do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), as declarações de Ban Ki-moon "são um reconhecimento, pela ONU, da realidade no terreno. Há largos meses, desde o início do processo de transição, que se sabe que a CEDEAO e a CPLP se tinham de entender para colocar um ponto final na situação da Guiné-Bissau".

Disputas por influência

O investigador português Bernardo Pires de Lima, que trabalha para o IPRI (Instituto Português de Relações Internacionais) e também na universidade norte-americana Johns Hopkins, opinou em entrevista à DW África que a postura da CPLP de não colaborar com o governo de transição foi acertada. "A CPLP agiu da melhor maneira possível nesta situação de golpe de Estado – mais um na Guiné-Bissau", disse Pires de Lima, referindo-se à constante instabilidade política no país ocidental africano que também é conhecido como placa giratória do tráfico de drogas entre a América do Sul e a Europa.

Porém, a comunidade lusófona não tem força suficiente para se projetar, nem para exercer muita influência no futuro político da Guiné-Bissau: "O facto de não ter havido uma restituição da normalidade constitucional na Guiné-Bissau depois do golpe de Estado [de 12.04] mostra que a CPLP não tem força para impor a sua resolução [de não colaborar com os interinos]", disse Pires de Lima. "Portanto, quando é reconhecido o presidente interino e o governo de transição – caminho proposto pela CEDEAO – é a CEDEAO que emerge na gestão da crise guineense, e não a CPLP", constatou o investigador. Bernardo Pires de Lima disse ainda que existe espaço para esse fortalecimento da CEDEAO "porque as organizações que deviam, no fundo, pôr em prática a antiga ordem constitucional – legitimada pelo voto democrático – não têm força nem músculos para impor uma resolução da ONU. A CPLP também não tem força porque não tem, por exemplo, uma presença no terreno de acordo com as resoluções que aprova. E é neste vazio que a CEDEAO age", afirmou.

Como exemplo, Bernardo Pires de Lima citou a viagem recente, em finais de julho e início de agosto, do Chefe do Estado General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, à Costa do Marfim e ao Mali. Indjai, que faz parte do atual governo bissau-guineense, "circula livremente no espaço da CEDEAO, à revelia da resolução da ONU [de não trabalhar com o governo de transição], e sem nenhum tipo de penalização", recordou o pesquisador.

Conflito de interesses?

Para Bernardo Pires de Lima, a Guiné-Bissau tem um interesse geoestratégico "brutal" para a região ocidental africana, "por ser um país voltado para o Atlântico, pelo tráfego marítimo, e por ter uma instabilidade que traz benefícios a outros Estados". O investigador afirmou ainda que, como o poder na Guiné-Bissau é frágil, o país acaba por ser moldado internamente pela força dos países vizinhos. Ao falar da situação que antecedeu o golpe de Estado militar, Pires de Lima opinou que, por causa dessa questão da influência na Guiné-Bissau, países como o Mali e a Costa do Marfim não tinham interesse na interlocução entre Bissau e Angola, cuja missão de cooperação militar se retirou da Guiné-Bissau depois do golpe. A presença de tropas angolanas na Guiné-Bissau foi considerada um dos catalisadores para a tomada de poder pelos militares.

"Enquanto não se resolverem os problemas de fundo da Guiné-Bissau, as organizações e os Estados com interesses no caos da Guiné-Bissau vão gerindo as divergências internas no país. Há Estados a quem interessa ter uma estabilidade interna, mas com um poder político na Guiné-Bissau que seja favorável aos seus interesses", avaliou Pires de Lima. Estas divergências internas "são sobretudo sobre a forma de monopolizar o poder através da neutralização de quem está no poder – ou, no caso das Forças Armadas, sobretudo, de quem controla as rotas do narcotráfico".

Forças Armadas

Internamente, também as Forças Armadas não tinham interesse na relação entre a Guiné-Bissau e Angola, disse Bernardo Pires de Lima. "E, portanto, quis-se fazer uma ruptura a partir daí, criticando e depondo o presidente da República, no fundo para tirar Angola do terreno e da ação política interna", disse. Para o estudioso português Paulo Gorjão, "António Indjai continua a ser o homem forte" da Guiné-Bissau e uma solução para o atual impasse no país não poderá ser atingida sem ajuda externa porque "os militares, que ainda estão com o poder nas mãos, imporão a solução que eles querem pela via das armas e da força, o que têm feito sucessivamente com golpes de Estado e ameaças de golpes de Estado".

Novas lideranças

Gorjão acredita, porém, que uma solução para a situação provisória de poder na Guiné-Bissau esteja sendo desenhada agora, com as recentes viagens do representante do secretário geral da ONU na Guiné-Bissau, Joseph Mutaboba, a vários países. Também para as divergências entre a CEDEAO e a CPLP, uma solução possível poderia ser um "novo governo interino possivelmente liderado pelo PAIGC [partido que estava no poder quando ocorreu o golpe de Estado]". Outra solução seria manter o governo interino atual, mesmo sem o apoio da CPLP, mas "começar a preparar o caminho para o processo de normalização democrática".

Na segunda-feira (17.09), o secretário executivo cessante da CPLP, Domingos Simões Pereira, admitiu candidatar-se à liderança do PAIGC, mas sem definir datas para a candidatura. "A ambição política de Domingos Simões Pereira era conhecida enquanto ele era secretário executivo da CPLP (entre 2008 e 2012). Julgo que ele já está com uma pequena equipe a preparar o seu regresso, a candidatura ao PAIGC e o regresso posterior à Guiné-Bissau", disse Paulo Gorjão. "Tenho quase certeza de que ele não teria dado este passo sem um entendimento mínimo com Carlos Gomes Júnior, o primeiro-ministro deposto e candidato presidencial [do PAIGC nas eleições de março]", acrescentou Gorjão, avaliando que os dois políticos poderiam apoiar-se mutuamente em futuros escrutínios. Para o analista, a candidatura de Domingos Simões Pereira também "seria bem vista pela CPLP" porque o órgão quer ter mais influência lusófona na Guiné-Bissau.

Autora: Renate Krieger - Edição: António Rocha

200 mil milhões de Fcfa 'lavados' no Senegal


Um relatorio do Departamento de Estado Norte-Americano estima em 200 Bilhões de Francos Cfa o montante de dinheiro branqueado no Senegal. Este relatorio revela que uma parte desses fundos branqueados são activos de traficantes internacionais. Porém, tal não impede que figuras, ditas publicas, ligados as esferas das autoridades oficiais, assim como directores de sociedades publicas sejam isentas de suspeições. A Direcção da Moeda e do Credito (DMC) levou a cabo conjuntamente com Banco Central dos Estados da Africa Ocidental (BCEAO), um inquérito sobre a reciclagem de cerca de 60 bilhões de Francos Cfa duvidosos no mercado negro. Esse dossier fora transmitido em tempos ao antigo Ministro de Estado, ministro das Finanças, Abdoulaye Diop do regime liberal.

Nesse seu relatorio, o Departamento de Estado à semelhança do GIABA igualmente interroga sobre a origem dos fundos investidos no ramo imobiliario, nomeadamente com o « boom » escandaloso das construções em Dakar.

O menos que se pode dizer, é que as autoridades judiciarias estão seguindo de perto esses assuntos. Um recente quadro apresentado pela Celula Nacional de Tratamento das Informações Financeiras (CENTIF) indica assim que os dossiers ora transmitidos ja resultaram à data de 30 junho 2012 em 85 processos judiciais desencadeados pelo Ministério Publico de Dakar. Novos dossiers foram instruidos pelo MP de Dakar, entre eles, um dossier de quase um bilhão de Francos Cfa, que põe em causa fundada um neto de uma grande figura religiosa do Senegal. Para além disso, muitos outros dossiers do CENTIF visam directamente antigos dignatarios do regime e homens de negocios reputados.

Pode-se citar a esse proposito o dossier que põe em causa um dos mais proximos colaboradores do antigo presidente da Republica do Senegal, Dr Abdoulaye Wade, facto que foi despoletado na sequência de um deposito supeito de 85 bilhões de Francos Cfa no Banco de Habitação do Senegal (BHS); ou o pressumivel desvio de 3 bilhões de Francos Cfa ocorrido no Ministério da Familia ; o caso da Direcção Geral das Eleições, etc.

Mas o mais grave é sem duvida as «aplicações imobiliarias» feitas em Paris e que recentemente motivaram uma nota de TRACFIN, a celula anti-branqueamento de Bercy, e esta no centro da queixa internacional que SHERPA-Int conta intentar a favor do Senegal.

Fonte: Libération (França)

Nota: Estas praticas, demostram que a Guiné-Bissau é um menino de coro nessas andanças comparado com o Senegal, nosso vizinho, Estado "modelo", considerado pela Comunidade Internacional, como sendo "impoluto", "anti-droga" e "anti-corrupção". Lembrando a etiqueta que subtil e maliciosamente conseguiram nos colar, catalogando-nos de Narco-Estado ou Plataforma de Trafico de Drogas (aproveitando-se do naifiismo e excesso de protagonismo do governo então emergente de Dafa Kabi)..., não deixo de sorrir para mim mesmo... e, imaginando um dialogo com os meus botões, não deixo de chegar a triste conclusão : a nossa famosa etiqueta de Narco-Estado serve sim a outros Estados. Ela serviu e serve de uma boa fachada e cobertura a verdadeiras lavandaria do rendimento proveniente do narcotrafico sub-regional, pratica que este nosso vizinho, àz da astucia e matreiro experimentado, é, useiro e vezeiro na sua pratica. Para nos fica a fama de roupas de marca do nosso famoso fukandjai do mercado de Bandim, enquanto... aqui na Terranga Senegalesa se veste do bom e do melhor, desde, Ted Lapidus, Uomo, D&G, Benneton e muitos mais, ... mas todos, de colarinho imaculadamente branco.

SPL

Carta-Manifesto


Sua Excelência Senhor Ban Ki-Moon
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas
Nova Iorque – Estados Unidos de América
 
No momento em que nunca se falava demasiado do regime democrático, como único meio reconhecido no concerto das nações, para a legitimação do poder político, no meu país, umas cumplicidades desconformes, com a brutalidade de um golpe militar, aos pormenores preparado e declarado com devida antecedência, decidiram adiar a todo um povo, uma esperançosa escolha em consciência, de um dos concorrentes, à mais alta função, na hierarquia do Estado.

Senhor Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, falo do povo guineense, ao qual pertenço; falo daquele mesmo povo, ao qual também pertence o eminente Amílcar Cabral, personalidade de referência mundial, que ainda nos princípios dos anos sessenta, muito antes de se considerar cidadão de um Estado, nos parâmetros do conceito, num discurso histórico, teve o particular mérito de se fazer entender, e bem, na nobre defesa dos fundamentos independentistas, perante a Comissão dos Direitos Humanos, parte da organização, que hoje a Sua Excelência dirige.

Se por um lado, esse facto contribuiu para uma maior credibilização e sucesso da nossa gloriosa luta de libertação nacional, por outro lado, esse autêntico triunfo de uma inteligente perseverança, contribuiu de igual forma, para uma progressiva afirmação e engrandecimento dessa organização global, que sempre se pretendeu cada vez mais universalizante.

Com quase quatro décadas de independência, o povo guineense continua a enfrentar vários problemas, e muitos deles, comuns às sociedades subdesenvolvidas, mais por culpa da nossa falta de sentido comunitário. O que importa reconhecer em cada momento nas nossas reflexões. Mas já foi segredo, de que a Guiné-Bissau, membro de plenos direitos das Nações Unidas, sendo um dos países mais debilitados, também encontra-se dominada pelos traficantes internacionais das drogas ilícitas e armas ligeiras, uma verdade que, consideráveis anos esta parte, tem sido o factor corrosivo a múltiplas tentativas, sejam elas de iniciativas nacionais, regionais, ou internacionais, para a resolução pacífica dos nossos naturais conflitos de interesses, uma vez que, nas inconstâncias das interacções, somos uma comunidade vital.

Meses depois do Conselho de Segurança, parte autorizada da organização, que hoje a sua Excelência dirige, ter aprovado no dia 18 de Maio de 2012, a resolução 2048, com claras indicações, para a reposição da legalidade democrática, e por serem atendidos, ainda continuam os reais interesses do povo guineense.

É urgente uma mudança profunda de estratégia, por parte da organização, que hoje a Sua Excelência dirige, para pelo menos, facilitar a neutralização, da forte influência que essas máfias internacionais vão conseguindo imprimir, em quase toda a extensão da nossa dinâmica governativa. Como ao longo de todo o território guineense, também essas máfias conseguem operar, com mais, ou menos conforto, em todos os outros territórios acessíveis, dependendo da capacidade governativa, do correspondente poder político institucionalizado.

É mais que urgente aplicar-se menos milhões em dinheiro, para uma melhor produção de resultados em eficácia, na procura de soluções pacificadoras, e sustentáveis, para o meu país. Mobilizando vontades, para um sério diagnóstico e combate das diferentes causas desestabilizadoras, a finalidade das missões, deve abandonar definitivamente a obsoleta pretensão de ajudar, na resolução dos ditos, problemas do povo guineense, e passar a assumi-los, como os demais problemas, dos povos de todo o Mundo, na realização dos sagrados desígnios da Organização das Nações Unidas.

Mais do que povo nenhum, o povo guineense merece, da parte dessa grandiosa organização, que hoje a Sua Excelência dirige, firmeza inequívoca, nas resoluções que visem a sua condição de gente livre, atitudes de respeito, nas arbitragens dos conflitos com os outros povos, e gestos de gratidão, pela maneira como, nas bases das geniais orientações de Amílcar Cabral, contribuiu com a sua exemplar luta de libertação, para o direito de todos os povos à autodeterminação. E com isso, também contribuir amplamente, para a pluralidade dos intervenientes, e respectivo enriquecimento, nas relações internacionais.
 
Atenciosamente,
 
Flaviano Mindela dos Santos