"Boa noite, Aly
Sou uma leitora assidua do ditadura do consenso. Admiro a sua coragem, gosto da maneira como escreve: como um verdadeiro Jornalista, sem medos, sem ligacao ao Poder. Aborda os temas com toda a frontalidade. Que Deus o proteja sempre.
Sou caboverdeana, estive na Guine-Bissau varias vezes, quando ainda era tudo mais calmo, quando ainda nao pairava no ar a inseguranca. Tenho amigos guineenses que prezo muito, actualmente muitos deles estao fora da Guine-Bissau.
Trabalham para mim uma dezena de rapazes da Guine-Bissau; gente honesta, seria, que sonham em amealhar algum dinheiro e regressar a casa - mas para isso tem de haver mais estabilidade politica.
Passei o endereco do blog a alguns deles, e todos o leem com muita atencao, todos sonhando em voltar a terra. Deixaram tudo para tras, fugindo da inseguranca politica.
Tive o prazer de ir a um pic-nic em Kinhamel e fiquei fascinada pelo fenomeno do encontro das aguas na subida das mares. Vi fartura de mariscos.
Espero voltar a Guine-Bissau e ter o prazer de conhece-lo, entretanto se passar pela Cidade da Praia, o prazer de conhecer o homem sem medo e grande!
Caboverdeanamente,
Maria Lima/Zinha Lima: www.hotellimera.com
M/R: E sempre um prazer receber cartas de Cabo Verde, que e, tambem, uma parte da nossa terra. Irei a Praia um dia, sim, e espero conhece-la. Muito obrigado e um grande abraco. AAS
segunda-feira, 13 de junho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
Iluminado
"Caro Aly,
Escrevo pela primeira vez no ditadura do consenso. Ao ler as noticias do blog, lembro que anda sou jovem, que tenho necessidades, e, melhor ainda, que vou a tempo de viver mais e melhor...
O blog permite, entre diversos assuntos importantes, transportar-me para um mimo de mundo, bem ao contrario deste que nos rodeia.
Sinto-me tao iluminado!
Chamo-me Albert J. (lisboeta), de 25 anos de idade, morador no bairro de Pluba e estudante na Universidade Lusofona. Um abraco,
Albert"
M/N: Outro abraco e obrigado. AAS
Escrevo pela primeira vez no ditadura do consenso. Ao ler as noticias do blog, lembro que anda sou jovem, que tenho necessidades, e, melhor ainda, que vou a tempo de viver mais e melhor...
O blog permite, entre diversos assuntos importantes, transportar-me para um mimo de mundo, bem ao contrario deste que nos rodeia.
Sinto-me tao iluminado!
Chamo-me Albert J. (lisboeta), de 25 anos de idade, morador no bairro de Pluba e estudante na Universidade Lusofona. Um abraco,
Albert"
M/N: Outro abraco e obrigado. AAS
Excitacoes
A entrevista ao coronel Joao Monteiro tem posto muita gente a ganir, e ainda bem. O problema e que ainda so leram 1/4...! Bo sinta bo sukuta... Sei que a reconciliacao doi, como qualquer metamorfose.
Chegam-me novas de opinioes - escritas num portugues do seculo XVII - sobre a pessoa do entrevistado. As pessoas que NAO sabem escrever o portugues deviam abster-se de o fazer...porem, insitem em cair no ridiculo: fica-lhes bem, ate.
Porra, como maltratam o portugues!!!
Bom, mas e ai que se ve a diferenca: ditadura do consenso tem, diariamente, cerca de 4.000 visitas. Esta a chegar ao seguidor numero 200. E porque? Porque escreve o que interessa, tem mais fontes, escreve melhor o portugues (agora, e porque uso um BlackBerry, nao tenho acentos e outros items. Mas voces entenderao).
N'na konta bos: Em fevereiro de 1992, este vosso escriba foi detido e espancado - com mais quatro pessoas - no Ministerio do Interior. Nao fui espancado por roubar (ami I ka ladron) nem por matar (ami I ka assassinu). Fui simplesmente espancado por fazer politica, legalmente, por um partido legalizado no Supremo Tribunal de Justica.
E nesse dia, no Ministerio do Interior, estava la o Joao Monteiro, que ainda falou connosco. A mim, como conhecia o meu progenitor, dirigiu-se-me nestes modos: "O teu pai e boa pessoa, trabalha connosco no Ministerio da Defesa, e tu andas na politica a acusar o Governo do Presidente ('Nino' Vieira)". Foi a unica coisa que me disse. E eu nao responi.
Depois, fui brutalmente espancado por seis homens, protegidos com viseiras, escudos, e armados de bastoes made in Checoslovaquia (hoje Republica Checa). O Joao Monteiro assistiu ao nosso espancamento.
E acham que eu cheguei a falar com o coronel sobre essa noite? Nunca! Mesmo o facto doloroso de me terem deixado embarcar para Portugal... 6 meses depois do espancamento!? E nao guardo, nem ressentimentos nem rancor e muito menos odio ao coronel Joao Monteiro e nem as pessoas que me espancaram.
O proprio Joao Monteiro contou este episodio - disseram-me - a um grupo de pessoas, em Dakar. E ainda bem. A isso tambem se chama reconciliacao. Espantarmos os nossos medos. Faz parte.
Alias, em Dakar, quando sondei alguem para saber se seria possivel entrevista-lo, quando por fim nos encontramos, demos um grande abraco: a reconciliacao nao pode parar. Nem esperar.
Uma coisa garanto-vos: vao ler ainda muita coisa, revelacoes uteis, apenas e so com o fito de todos entendermos este pais: as aliancas (do tipo abraco da mafia) e as traicoes. As ambicoes e os desmandos de gentes com cargos importantes nesta capital poeirenta e desbotada. AAS
Chegam-me novas de opinioes - escritas num portugues do seculo XVII - sobre a pessoa do entrevistado. As pessoas que NAO sabem escrever o portugues deviam abster-se de o fazer...porem, insitem em cair no ridiculo: fica-lhes bem, ate.
Porra, como maltratam o portugues!!!
Bom, mas e ai que se ve a diferenca: ditadura do consenso tem, diariamente, cerca de 4.000 visitas. Esta a chegar ao seguidor numero 200. E porque? Porque escreve o que interessa, tem mais fontes, escreve melhor o portugues (agora, e porque uso um BlackBerry, nao tenho acentos e outros items. Mas voces entenderao).
N'na konta bos: Em fevereiro de 1992, este vosso escriba foi detido e espancado - com mais quatro pessoas - no Ministerio do Interior. Nao fui espancado por roubar (ami I ka ladron) nem por matar (ami I ka assassinu). Fui simplesmente espancado por fazer politica, legalmente, por um partido legalizado no Supremo Tribunal de Justica.
E nesse dia, no Ministerio do Interior, estava la o Joao Monteiro, que ainda falou connosco. A mim, como conhecia o meu progenitor, dirigiu-se-me nestes modos: "O teu pai e boa pessoa, trabalha connosco no Ministerio da Defesa, e tu andas na politica a acusar o Governo do Presidente ('Nino' Vieira)". Foi a unica coisa que me disse. E eu nao responi.
Depois, fui brutalmente espancado por seis homens, protegidos com viseiras, escudos, e armados de bastoes made in Checoslovaquia (hoje Republica Checa). O Joao Monteiro assistiu ao nosso espancamento.
E acham que eu cheguei a falar com o coronel sobre essa noite? Nunca! Mesmo o facto doloroso de me terem deixado embarcar para Portugal... 6 meses depois do espancamento!? E nao guardo, nem ressentimentos nem rancor e muito menos odio ao coronel Joao Monteiro e nem as pessoas que me espancaram.
O proprio Joao Monteiro contou este episodio - disseram-me - a um grupo de pessoas, em Dakar. E ainda bem. A isso tambem se chama reconciliacao. Espantarmos os nossos medos. Faz parte.
Alias, em Dakar, quando sondei alguem para saber se seria possivel entrevista-lo, quando por fim nos encontramos, demos um grande abraco: a reconciliacao nao pode parar. Nem esperar.
Uma coisa garanto-vos: vao ler ainda muita coisa, revelacoes uteis, apenas e so com o fito de todos entendermos este pais: as aliancas (do tipo abraco da mafia) e as traicoes. As ambicoes e os desmandos de gentes com cargos importantes nesta capital poeirenta e desbotada. AAS
sábado, 11 de junho de 2011
Incompetencia fez naufragar o IV Centenario
O naufragio do barco IV Centenario, ontem, por volta das 23 horas, deveu-se pura e simplesmente a incompetencia e irreponsabilidade.
Quando o barco procedia a manobras para sair do porto, houve um embate contra a rampa originando o rombo do casco. Uma equipa de solda procedeu aos arranjos no casco.
Ainda assim, o barco continuou a meter agua mas o comandante decidiu seguir viagem: estava com pressa... mas como era tanta a agua que entrava, felizmente, o barco simplesmente adornou de um lado ficando enterrado no lodo. Com cerca de 300 pessoas a bordo, o minimo que se exige a um comandante do que quer que seja e a seguranca das pessoas. Agora, serao necessarios outros milhoes para recuperar o barco e traze-lo a tona.
Foi o deputado do PAIGC, Francisco Conduto de Pina, quem deu o alerta por telefone ao director geral da Marinha Mercante, Mario Musante da Silva, e ao Ministro da Administracao Territorial, Oliveira Sanca. Conduto foi contactado por um passageiro. AAS
Quando o barco procedia a manobras para sair do porto, houve um embate contra a rampa originando o rombo do casco. Uma equipa de solda procedeu aos arranjos no casco.
Ainda assim, o barco continuou a meter agua mas o comandante decidiu seguir viagem: estava com pressa... mas como era tanta a agua que entrava, felizmente, o barco simplesmente adornou de um lado ficando enterrado no lodo. Com cerca de 300 pessoas a bordo, o minimo que se exige a um comandante do que quer que seja e a seguranca das pessoas. Agora, serao necessarios outros milhoes para recuperar o barco e traze-lo a tona.
Foi o deputado do PAIGC, Francisco Conduto de Pina, quem deu o alerta por telefone ao director geral da Marinha Mercante, Mario Musante da Silva, e ao Ministro da Administracao Territorial, Oliveira Sanca. Conduto foi contactado por um passageiro. AAS
Navio IV Centenario naufragou
O navio IV Centenario, inaugurado ha uns meses atras, naufragou ontem, por volta das 23 horas, na costa de Bolama. As causas do naufragio, segundo consta, foram atribuidas ao mau tempo, a que se soma um rombo no casco. Nao houve perda de vidas humanas. AAS
Porra, pa!
Governo volta a ajoelhar-nos...e, zumba! Gasolina aumenta para 790 Fcfa; o gasoleo, para 725 Fcfa. Bom fim-de-semana e, preparem-se para mais capitulos da entrevista ao coronel Joao Monteiro... AAS
sexta-feira, 10 de junho de 2011
ULTIMA HORA/EXCLUSIVO: juiz da razao aos exportadores de castanha de caju
Um Juiz do Tribunal Regional de Bissau, deu hoje razao a providencia cautelar interposta pela associacao dos exportadores da castanha de caju sobre o pagamento de 50 fcfa/quilo, e solicitou ao Ministerio Publico que aplique os efeitos suspensivos a essa Lei. AAS
Entrevista ao coronel Joao Monteiro: 'Estou siderado'
"Caro Antonio Aly Silva,
Apenas para te dizer que estou absolutamente siderado com a tua entrevista ao coronel Joao Monteiro. Se nao fosse tudo tao grave, diria que e uma peca magnifica - mas e muito mais que isso...
Cumprimentos,
Joao P. C."
M/N: O guineense e que e invejoso. So isso. AAS
Apenas para te dizer que estou absolutamente siderado com a tua entrevista ao coronel Joao Monteiro. Se nao fosse tudo tao grave, diria que e uma peca magnifica - mas e muito mais que isso...
Cumprimentos,
Joao P. C."
M/N: O guineense e que e invejoso. So isso. AAS
Bonito
- Governo pede a Uniao Europeia 11 milhoes de euros como compensacao para a pesca nas nossas aguas territoriais;
- Em 3 meses apenas, os exportadores de castanha de caju... Pagarao 16 milhoes de dolares (cerca de 130 toneladas) pelo caju exportado... Isto, ou e esperteza saloia ou prepotencia no seu mais alto grau, ou...deixem para la! AAS
- Em 3 meses apenas, os exportadores de castanha de caju... Pagarao 16 milhoes de dolares (cerca de 130 toneladas) pelo caju exportado... Isto, ou e esperteza saloia ou prepotencia no seu mais alto grau, ou...deixem para la! AAS
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Iaia Dabó: «Samba Djaló e Zamora Induta mataram o meu irmão Baciro Dabó»
O irmão do falecido candidato presidencial, Baciro Dabó, assassinado no dia 5 de junho de 2009 na sua residência, veio hoje, em conferência de imprensa, perguntar por que razão o processo dos assassinatos foi arquivado, e acusou directamente Samba Djaló e Zamora Induta: «Zamora Induta e Samba Djaló assassinaram o meu irmão», seguido de um desabafo «falei muito com o Samba Djaló na cela»...
De acordo com Iaia Dabó o guarda de serviço na residência do seu malogrado irmão «deu cobertura ao assassinato», isto porque, «Seco Seidi, um militar, destacado no ministério do Interior, nessa noite de guarda na residência de Baciro Dabó, fingiu estar a orar». E questiona, inquietante, algo que 'fugiu' ao Ministério Público: «qual é o muçulmano que ora às 3 ou às 3.30 da manhã?».
E revela pormenores: «Estava tudo combinado. Assim que o Pansau 'Ntchama chegasse, o guarda, que presumivelmente estaria a orar, levantar-se-ia». Um sinal de que era ele, e que a porta estava à disposição» do 'grupo desconhecido'. Iaia Dabó desafiou o Ministério Público a «chamar nomes», coisa que ele fez: «O Salvador (da Segurança do Estado) foi um dos que estiveram lá, nessa madrugada. Prometeu ainda, para breve, uma manifestação pacífica, para exigir o direito à Justiça.
Iaia Dabó disparou ainda contra Zamora: «ele disse, e toda a gente ouviu: 'nós já fizemos a nossa parte, agora cabe ao Governo». Iaia Dabó aponta discrepâncias nos vários discuros: «o Conselho de Ministros disse que foi um golpe de Estado, o Ministério Público diz agora que não. Eles que arranjem outros argumentos», desafiou o irmão de Baciro Dabó. AAS
De acordo com Iaia Dabó o guarda de serviço na residência do seu malogrado irmão «deu cobertura ao assassinato», isto porque, «Seco Seidi, um militar, destacado no ministério do Interior, nessa noite de guarda na residência de Baciro Dabó, fingiu estar a orar». E questiona, inquietante, algo que 'fugiu' ao Ministério Público: «qual é o muçulmano que ora às 3 ou às 3.30 da manhã?».
E revela pormenores: «Estava tudo combinado. Assim que o Pansau 'Ntchama chegasse, o guarda, que presumivelmente estaria a orar, levantar-se-ia». Um sinal de que era ele, e que a porta estava à disposição» do 'grupo desconhecido'. Iaia Dabó desafiou o Ministério Público a «chamar nomes», coisa que ele fez: «O Salvador (da Segurança do Estado) foi um dos que estiveram lá, nessa madrugada. Prometeu ainda, para breve, uma manifestação pacífica, para exigir o direito à Justiça.
Iaia Dabó disparou ainda contra Zamora: «ele disse, e toda a gente ouviu: 'nós já fizemos a nossa parte, agora cabe ao Governo». Iaia Dabó aponta discrepâncias nos vários discuros: «o Conselho de Ministros disse que foi um golpe de Estado, o Ministério Público diz agora que não. Eles que arranjem outros argumentos», desafiou o irmão de Baciro Dabó. AAS
quarta-feira, 8 de junho de 2011
ULTIMA HORA: Assassinatos de Helder Proenca e Baciro Dabo
Depois de, no passado dia 31, o Ministerio Publico resolver 'arquivar parcialmente' o processo contra uma suposta tentativa de golpe de Estado, que culminou no assassinato do Deputado Helder Proenca e do candidato presidencial baciro Dabo, vem o mesmo MP dizer, hoje, que todo o material probatorio sera enviado para a Promotoria de Justica militar (Tribunal Militar Superior), a quem cabera dar seguimento - ou nao - ao processo, uma vez que os executores dos crimes sao militares. Djambadon, e o que e... AAS
terça-feira, 7 de junho de 2011
Os olhos tristes de Bissau*
"1. O estado de Bissau, dos prédios, das ruas, de quase tudo, é um espelho das impiedosas tragédias que se abateram sobre o país, umas a seguir às outras, desde 1998. A mais danosa, até pelos efeitos que acarretou para a cidade, em termos de destruição física, foi a guerra civil de 1998/99. Mas todas as outras deixaram sequelas a que não é estranha a desoladora aparência de Bissau.
É um exercício quase tão difícil como procurar uma agulha num palheiro encontrar no centro da cidade um edifício apresentável – como se deve chamar àqueles que se mantêm direitos, pintados e sem acrescentos de materiais desconformes com os originais, em geral para remediar emergências. Muitos, alguns de construção não muito longínqua, como o da Casa Escada, encontram-se em ruínas, a ameaçar ruína ou a caminhar para lá se nada for feito.
A guerra, entendida como acção em que se cruzam fogo e ferro, não é propriamente a causa do estado deplorável de Bissau. O palácio que foi dos governadores coloniais e depois passou a ser dos presidentes da nova nação, é praticamente o único que a metralha atingiu em cheio. Ficou sem uma parte do telhado. Assim permanece, esventrado, exposto a inclemências do tempo que devem cumprido a sua danosa sina.
São os chineses que o vão recuperar, provavelmente despojando-o da traça e do toque que lhe serviram de identidade, erigido ali, ao cimo da antiga Praça do Império. Os portugueses, vergados a complexos e sentimentos de culpa de que não se conseguem libertar, parece que não se mostraram interessados em prestar uma ajuda capaz de restituir ao palácio a sua altivez perdida.
Os escombros a que ficou reduzida uma ala do antigo Quartel General (QG) também representam outro “espólio de guerra”. A potente bomba que ali explodiu com o fito de matar o antigo CEMG, General Tagme Na Wae, foi a causa dos danos que o edifício ainda exibe. Ao assassinato de Tagme Na Wae seguiu-se, questão de horas, o do antigo presidente Nino Veira. A casa onde foi morto está direita, mas com vestígios de disparos de armas ligeiras evocativos das tribulações que a Guiné-Bissau tem vivido.
Depois há as ruas da cidade. E os passeios. O seu estado é igualmente tortuoso. Os carros, que os há desde carcaças milagrosamente andantes até imponentes “Hummer”, estes e outros de igual “estadão” instuitivamente associados ao rendoso negócio da droga, deixam à sua passagem nuvens de poeira. Quando a chuva começar a cair será lama. Os pavimentos das ruas e dos passeios estão esventrados ou simplesmente desapareceram.
Os ministérios, os serviços públicos, as escolas e os liceus, os quartéis seja de que forças for, tudo tem um ar decrépito onde parece que o tempo parou para se cumprir um castigo qualquer. Só no caso dos ministério parece que o panorama pode mudar. Na via rápida que liga a cidade ao aeroporto, há um edifício que chama a atenção pelo seu porte. Foi construído pelos chineses para albergar os ministérios. Já lá funciona o gabinete do PM.
2. Comparada com a cidade de há 30 anos, que o repórter conheceu, onde viveu e pela qual ganhou afecto, falta a esta a doçura e a relativa ordem da outra. De bom sobrou a paisagem humana. As pessoas continuam simples e de bom trato. E deve ser por isso que a cidade, hoje nitidamente mais populosa, c 300.000 habitantes, permanece tranquila. Nos noticiários não abundam crimes e excessos costumeiros nas relações humanas.
Os “velhos”, como aqui carinhosamente são chamados as pessoas entradas na idade – é de fazer figas para que nunca faça carreira o politicamente correcto de lhes chamar “seniores” – dizem que o pior mal da Guiné, uma espécie de saga, foi o consulado de Kumba Yalá, o excêntrico presidente, que por actos e palavras mereceu um lugar de honra no anedotário nacional.
Quando deixou a presidência, em consequência de um golpe palaciano ocorrido em circunstância provavelmente singulares em todo o mundo, Kumba deixou atrás de si um rasto de miséria. De origem étnica balanta, chefe de um partido de matriz igualmente balanta, Kumba balantanizou o Estado e, em especial, as Forças Armadas – constituídas por mais de 90% de balantas.
A balantanização trouxe na sua peugada tensões sociais e políticas novas, para as quais é preciso remeter parte considerável das causas das convulsões que vêm sacudindo o país – as últimas sob a forma de assassinatos e de um motim militar breve – apesar de tudo o bastante para afastar e prender o então CEMG, Almirante Zamora Induta, substituído pelo seu vice, General António Indjai.
Em Bissau diz-se que os CEMG se sentam “no lugar do morto”. O Almirante Zamora teve a “sorte” de não ter tido como destino a morte. Mas os seus antecessores não escaparam. Ansumane Mané, Veríssimo Seabra e Tagma Na Waie. Este foi o primeiro balanta a ocupar o cargo e com ele se iniciou o predomínio balanta nas fileiras.
Os balantas, mais numerosa tribo da Guiné-Bissau, consideram-se a si próprios como tendo tido um papel determinante na luta de libertação. Mas também consideram que depois da independência foram negativamente estigmatizados (o chamado golpe de Paulo Correia), em razão do que começaram a ser política e socialmente preteridos. Foi Kumba Yalá, também ele balanta, que começou a reabilitá-los.
Hoje em dia não só controlam as FA, como predominam no aparelho de justiça. Pouco na economia. O poder fáctico que o controlo das FA representa é um foco de tensões múltiplas. Muitas das tensões e disputas que atravessam a sociedade e o regime, têm imbricação, a montante ou a jusantes, com a originalidade que é o controlo das FA por uma tribo.
3. Quase nas traseiras do mastodôntico edifício construído pelos chineses para albergar os ministérios está um prédio que até há pouco tempo foi o Hotel Palace. A fachada chama a atenção por ostentar uma placa com o símbolo das FA angolanas. Em harmonia plena com a placa, num dos dois mastros colocados na frontaria flutua a bandeira de Angola e são de soldados angolanos as figuras que montam guarda ao edifício.
O antigo Palace, que Angola comprou ao seu proprietário libanês e este de bom grado aceitou vender, alberga hoje uma missão militar angolana, Missang, que tem por finalidade pôr em marcha e garantir a execução de um processo de reforma do sector de defesa e segurança, preparado pela União Europeia. No fundo, trata-se substituir as actuais FA, com todas as distorções que apresentam, em especial a sua matriz étnica, por um novo corpo militar, criado com base em critérios de aceitação universal.
Não é uma tarefa fácil. E há sinais disso. Em várias partes do país têm-se registado conflitos por posse ou usufruto de terras entre balantas e outras etnias – papeis, nalus, etc. As mais abalizadas interpretações acerca das ocorrências indicam que são sinal de agitação entre balantas, por pressentimento de que se aproxima um momento, o da reforma faz FA, em que perderão um instrumento de poder e influência.
Está generalizada a ideia de que a Guiné-Bissau tomará o rumo da estabilidade quando a reforma das FA for levada a cabo; ou, pelo menos, quando houver garantias sólidas de que o processo chegará a bom termo. Em lugar de umas FA representativas de uma tribo, com todas as perversões que isso arrasta para um país ainda de escassa coesão nacional, espera-se que surjam outras, diferentes.
4. A Guiné-Bissau tem potencialidades económicas suficientes para lhe garantir futuro se forem convenientemente aproveitadas. Grandes aptidões agrícolas para culturas como arroz, amendoim e caju. Cobiçados recursos pesqueiros (é nos Bijagós que desovam muitas espécies daqueles mares), cada vez mais expostos à pesca furtiva ou clandestina. Condições ideais para o turismo, com a vantagem de não estar muito distante de um grande mercado gerador, a Europa.
Regularmente a imprensa local anuncia a visita de empresários e missões empresariais estrangeiras. A última provinha dos países do Golfo. Mas também por lá têm peregrinado espanhóis, alemães, canadianos e portugueses. Regra geral vislumbram oportunidades de investimento. Mas, entre dentes, vão dizendo que preferem esperar por tempos mais promissores no plano da estabilidade política.
Deve haver uma coisa que os desaponta e recomenda cautela: é o estado desmazelado da cidade capital e, por extensão, de outras cidades, como a histórica e graciosa Bolama, quase transformada num montão de ruínas. No fundo, o que se vê não só é uma marca indelével das conturbações por que o país tem passado, como, por continuar assim, não inspira confiança que chegue em termos de futuro.
Quando a cara da cidade for outra, para melhor, então toda a gente há-de ler isso como sinal de “águas passadas”. A reconstrução do velho mercado central, arruinado há muito por um incêndio, mas que assim continua, terá significado equivalente ao da transformação das espúrias instituições do presente (e sua razão de ser) noutras mais conforme com o que o país precisa. Vitalmente.
*Por Xavier de Figueiredo, jornalista, que recentemente visitou a Guiné-Bissau.
É um exercício quase tão difícil como procurar uma agulha num palheiro encontrar no centro da cidade um edifício apresentável – como se deve chamar àqueles que se mantêm direitos, pintados e sem acrescentos de materiais desconformes com os originais, em geral para remediar emergências. Muitos, alguns de construção não muito longínqua, como o da Casa Escada, encontram-se em ruínas, a ameaçar ruína ou a caminhar para lá se nada for feito.
A guerra, entendida como acção em que se cruzam fogo e ferro, não é propriamente a causa do estado deplorável de Bissau. O palácio que foi dos governadores coloniais e depois passou a ser dos presidentes da nova nação, é praticamente o único que a metralha atingiu em cheio. Ficou sem uma parte do telhado. Assim permanece, esventrado, exposto a inclemências do tempo que devem cumprido a sua danosa sina.
São os chineses que o vão recuperar, provavelmente despojando-o da traça e do toque que lhe serviram de identidade, erigido ali, ao cimo da antiga Praça do Império. Os portugueses, vergados a complexos e sentimentos de culpa de que não se conseguem libertar, parece que não se mostraram interessados em prestar uma ajuda capaz de restituir ao palácio a sua altivez perdida.
Os escombros a que ficou reduzida uma ala do antigo Quartel General (QG) também representam outro “espólio de guerra”. A potente bomba que ali explodiu com o fito de matar o antigo CEMG, General Tagme Na Wae, foi a causa dos danos que o edifício ainda exibe. Ao assassinato de Tagme Na Wae seguiu-se, questão de horas, o do antigo presidente Nino Veira. A casa onde foi morto está direita, mas com vestígios de disparos de armas ligeiras evocativos das tribulações que a Guiné-Bissau tem vivido.
Depois há as ruas da cidade. E os passeios. O seu estado é igualmente tortuoso. Os carros, que os há desde carcaças milagrosamente andantes até imponentes “Hummer”, estes e outros de igual “estadão” instuitivamente associados ao rendoso negócio da droga, deixam à sua passagem nuvens de poeira. Quando a chuva começar a cair será lama. Os pavimentos das ruas e dos passeios estão esventrados ou simplesmente desapareceram.
Os ministérios, os serviços públicos, as escolas e os liceus, os quartéis seja de que forças for, tudo tem um ar decrépito onde parece que o tempo parou para se cumprir um castigo qualquer. Só no caso dos ministério parece que o panorama pode mudar. Na via rápida que liga a cidade ao aeroporto, há um edifício que chama a atenção pelo seu porte. Foi construído pelos chineses para albergar os ministérios. Já lá funciona o gabinete do PM.
2. Comparada com a cidade de há 30 anos, que o repórter conheceu, onde viveu e pela qual ganhou afecto, falta a esta a doçura e a relativa ordem da outra. De bom sobrou a paisagem humana. As pessoas continuam simples e de bom trato. E deve ser por isso que a cidade, hoje nitidamente mais populosa, c 300.000 habitantes, permanece tranquila. Nos noticiários não abundam crimes e excessos costumeiros nas relações humanas.
Os “velhos”, como aqui carinhosamente são chamados as pessoas entradas na idade – é de fazer figas para que nunca faça carreira o politicamente correcto de lhes chamar “seniores” – dizem que o pior mal da Guiné, uma espécie de saga, foi o consulado de Kumba Yalá, o excêntrico presidente, que por actos e palavras mereceu um lugar de honra no anedotário nacional.
Quando deixou a presidência, em consequência de um golpe palaciano ocorrido em circunstância provavelmente singulares em todo o mundo, Kumba deixou atrás de si um rasto de miséria. De origem étnica balanta, chefe de um partido de matriz igualmente balanta, Kumba balantanizou o Estado e, em especial, as Forças Armadas – constituídas por mais de 90% de balantas.
A balantanização trouxe na sua peugada tensões sociais e políticas novas, para as quais é preciso remeter parte considerável das causas das convulsões que vêm sacudindo o país – as últimas sob a forma de assassinatos e de um motim militar breve – apesar de tudo o bastante para afastar e prender o então CEMG, Almirante Zamora Induta, substituído pelo seu vice, General António Indjai.
Em Bissau diz-se que os CEMG se sentam “no lugar do morto”. O Almirante Zamora teve a “sorte” de não ter tido como destino a morte. Mas os seus antecessores não escaparam. Ansumane Mané, Veríssimo Seabra e Tagma Na Waie. Este foi o primeiro balanta a ocupar o cargo e com ele se iniciou o predomínio balanta nas fileiras.
Os balantas, mais numerosa tribo da Guiné-Bissau, consideram-se a si próprios como tendo tido um papel determinante na luta de libertação. Mas também consideram que depois da independência foram negativamente estigmatizados (o chamado golpe de Paulo Correia), em razão do que começaram a ser política e socialmente preteridos. Foi Kumba Yalá, também ele balanta, que começou a reabilitá-los.
Hoje em dia não só controlam as FA, como predominam no aparelho de justiça. Pouco na economia. O poder fáctico que o controlo das FA representa é um foco de tensões múltiplas. Muitas das tensões e disputas que atravessam a sociedade e o regime, têm imbricação, a montante ou a jusantes, com a originalidade que é o controlo das FA por uma tribo.
3. Quase nas traseiras do mastodôntico edifício construído pelos chineses para albergar os ministérios está um prédio que até há pouco tempo foi o Hotel Palace. A fachada chama a atenção por ostentar uma placa com o símbolo das FA angolanas. Em harmonia plena com a placa, num dos dois mastros colocados na frontaria flutua a bandeira de Angola e são de soldados angolanos as figuras que montam guarda ao edifício.
O antigo Palace, que Angola comprou ao seu proprietário libanês e este de bom grado aceitou vender, alberga hoje uma missão militar angolana, Missang, que tem por finalidade pôr em marcha e garantir a execução de um processo de reforma do sector de defesa e segurança, preparado pela União Europeia. No fundo, trata-se substituir as actuais FA, com todas as distorções que apresentam, em especial a sua matriz étnica, por um novo corpo militar, criado com base em critérios de aceitação universal.
Não é uma tarefa fácil. E há sinais disso. Em várias partes do país têm-se registado conflitos por posse ou usufruto de terras entre balantas e outras etnias – papeis, nalus, etc. As mais abalizadas interpretações acerca das ocorrências indicam que são sinal de agitação entre balantas, por pressentimento de que se aproxima um momento, o da reforma faz FA, em que perderão um instrumento de poder e influência.
Está generalizada a ideia de que a Guiné-Bissau tomará o rumo da estabilidade quando a reforma das FA for levada a cabo; ou, pelo menos, quando houver garantias sólidas de que o processo chegará a bom termo. Em lugar de umas FA representativas de uma tribo, com todas as perversões que isso arrasta para um país ainda de escassa coesão nacional, espera-se que surjam outras, diferentes.
4. A Guiné-Bissau tem potencialidades económicas suficientes para lhe garantir futuro se forem convenientemente aproveitadas. Grandes aptidões agrícolas para culturas como arroz, amendoim e caju. Cobiçados recursos pesqueiros (é nos Bijagós que desovam muitas espécies daqueles mares), cada vez mais expostos à pesca furtiva ou clandestina. Condições ideais para o turismo, com a vantagem de não estar muito distante de um grande mercado gerador, a Europa.
Regularmente a imprensa local anuncia a visita de empresários e missões empresariais estrangeiras. A última provinha dos países do Golfo. Mas também por lá têm peregrinado espanhóis, alemães, canadianos e portugueses. Regra geral vislumbram oportunidades de investimento. Mas, entre dentes, vão dizendo que preferem esperar por tempos mais promissores no plano da estabilidade política.
Deve haver uma coisa que os desaponta e recomenda cautela: é o estado desmazelado da cidade capital e, por extensão, de outras cidades, como a histórica e graciosa Bolama, quase transformada num montão de ruínas. No fundo, o que se vê não só é uma marca indelével das conturbações por que o país tem passado, como, por continuar assim, não inspira confiança que chegue em termos de futuro.
Quando a cara da cidade for outra, para melhor, então toda a gente há-de ler isso como sinal de “águas passadas”. A reconstrução do velho mercado central, arruinado há muito por um incêndio, mas que assim continua, terá significado equivalente ao da transformação das espúrias instituições do presente (e sua razão de ser) noutras mais conforme com o que o país precisa. Vitalmente.
*Por Xavier de Figueiredo, jornalista, que recentemente visitou a Guiné-Bissau.
Entrevista ao Coronel João Monteiro: A verdade vos libertará!
Aly,
Não resta a menor dúvida de que você que tem sido o porta-estandarte da reconciliação dos Guineenses. Como disse o nosso saudoso Don Septimio Ferrazeta “A verdade vos libertará!” e o que tens estado a fazer é trazer à tona o que aconteceu, com informações reais e com fontes reais para cada pessoa tirar as ilações que o seu background permitir.
A Isso se chama contribuição no verdadeiro sentido da palavra para a familia Guineense. Por isso, e apesar de não termos a mesma visão dos factos, tenho o maior respeito e admiração pela sua pessoa. Continue a nos brindar com factos que é o único caminho para nos libertar da hipocrisia, da ignorância, da intolerância (mesmo das disfarçadas de intetectualoides), de ideias mesquinhas (mesmo daquelas recalcadas) e da força bruta (venha ela de que lado vier).
Aliás, uma verdade incontornável da história recente da Guiné-Bissau e dos acontecimentos de 1 e 2 de março de 2009 é a frase de Mário Soares (apesar de não ser fã do dito cujo), mas pela Justiça choram também as almas de Paulo Correia, Viriato Pã, Lai Seck, Nicandro e tantos outros Guineenses. Mesmo assim também a alma de 'Nino' Vieira chora por Justiça. Todos devem ser iguais perante a Justiça. Como se diz aqui nas terras do tio Sam: May God bless you, Aly.
Rogado"
M/N: Muito obrigado, amigo. Tudo de bom. AAS
Não resta a menor dúvida de que você que tem sido o porta-estandarte da reconciliação dos Guineenses. Como disse o nosso saudoso Don Septimio Ferrazeta “A verdade vos libertará!” e o que tens estado a fazer é trazer à tona o que aconteceu, com informações reais e com fontes reais para cada pessoa tirar as ilações que o seu background permitir.
A Isso se chama contribuição no verdadeiro sentido da palavra para a familia Guineense. Por isso, e apesar de não termos a mesma visão dos factos, tenho o maior respeito e admiração pela sua pessoa. Continue a nos brindar com factos que é o único caminho para nos libertar da hipocrisia, da ignorância, da intolerância (mesmo das disfarçadas de intetectualoides), de ideias mesquinhas (mesmo daquelas recalcadas) e da força bruta (venha ela de que lado vier).
Aliás, uma verdade incontornável da história recente da Guiné-Bissau e dos acontecimentos de 1 e 2 de março de 2009 é a frase de Mário Soares (apesar de não ser fã do dito cujo), mas pela Justiça choram também as almas de Paulo Correia, Viriato Pã, Lai Seck, Nicandro e tantos outros Guineenses. Mesmo assim também a alma de 'Nino' Vieira chora por Justiça. Todos devem ser iguais perante a Justiça. Como se diz aqui nas terras do tio Sam: May God bless you, Aly.
Rogado"
M/N: Muito obrigado, amigo. Tudo de bom. AAS
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