segunda-feira, 6 de junho de 2011
RanTanPlan
Desde ontem que a RDP Africa tem estado maluca. Ouvimos a emissao durante 5 minutinhos e depois fica sem pio durante 50 minutos. Hoje, e para o meu contentamento, estou a ouvir...o noticiario da RTP canal 1. Ouvi por exemplo perolas como esta: 'Um dia depois das eleicoes esta tudo calmo'. Esperava-se uma guerra civil, portanto... Mas sempre e melhor do que ouvir os repetitivos - e chatos - noticiarios do canal Africa da radio publica portuguesa. AAS
domingo, 5 de junho de 2011
Coronel Joao Monteiro/Capitulo I: os dias 1 e 2 de março de 2009
DITADURA DO CONSENSO (DC) – Coronel João Monteiro, falemos da noite de 1 e da madrugada de 2 de março de 2009. Vi-o junto ao Hummer, onde se refugiou e depois ficou sem balas. Vi também alguém subir para os seus ombros e levar uma rajada acabando por morrer aí mesmo. O que se passou nessa noite?
JOÃO MONTEIRO (JM) –Nesse final de dia, o Presidente mandou chamar-me para uma reunião das chefias militares, mas como tinha problemas com o pagamento da escola do meu filho Nino (NOTA: João Monteiro deu esse nome ao filho, em homenagem ao Presidente ‘Nino’ Vieira), acabei por chegar um bocado tarde para a reunião. Fui pagar a mensalidade à escola e de seguida fui para casa. Por volta das 20 horas, o Presidente telefona e pede-me que vá a casa dele. Fui, porque eu era funcionário do Estado-Maior General das Forças Armadas. É pena, na altura, eu não estar no corpo de segurança do Presidente. As coisas não se teriam passado dessa maneira.
Quando cheguei, o Lassana Mansandé disse-me então que a reunião tinha acabado e foi ele quem me deu a notícia de que o General Tagmé Na Waie havia sido morto à bomba no edifício do EMGFA. Quando entrei, vi o Presidente sentado no sofá e cumprimentei-o. Estava triste. E disse-me que se tivesse assistido à reunião ficaria a saber quem estava para ali a gesticular... Então, indaguei, porque razão não saiu de casa. Olhou-me nos olhos e disse-me «João, estou cansado de mentiras neste País. No dia 23 Novembro (NOTA: 1ª tentativa para assassinar ‘Nino’) tu é que os vieste tirar daqui. Depois as pessoas foram para as rádios dizer que o ‘Nino’ é que tinha engendrado esse ataque. Se eu sair daqui, hoje, dirão o ‘Nino’ mandou matar o Tagme, o mesmo homem que contribuiu para o meu regresso à Guiné-Bissau. Não saio de casa». Saí então e chamei o chefe da sua Segurança, o Duarte, e perguntei-lhe: ‘como é que é, está tudo controlado?’ Ele responde que sim, que está tudo bem montado. E eu insisto: ‘tens informações seguras?’ Volta a responder afirmativamente. Digo-lhe então: ‘porque não tiram o Presidente de casa?’ Retorquiu que não podiam dizer ao Presidente para sair de casa. E eu, já irritado, quase aos berros: ‘mas vocês é que são da Segurança, a ordem terá de partir de vocês!?’
DC - O que acontece depois?
JM - Passado pouco tempo, entra o mesmo Duarte, e diz ao Presidente que ia sair para ir ter com o ‘Zé’ António (da Segurança do Estado) para providenciarem uma grua para retirar os escombros por cima do cadáver do Tagme Na Waie. ‘Nino’ deu o seu aval. Pouco depois chega o Kalido e o seu Chefe de Estado Maior particular para dizer ao Presidente que fora ao edifício do EMGFA mas a tropa tinha-lhe proibido a entrada. O Presidente disse-lhe que não havia problemas, que esperassem até a manhã do dia seguinte (dia 2) e que ele mesmo iria até lá. O ‘Nino’ vira-se para mim e disse: ‘João, já não sais daqui’. E por lá fiquei. Chegam então os advogados Armindo (Cerqueira) e Osório. Estava em preparação um comunicado.
Para condenar o assassinato do Tagme, presumo.
Sim, para condenar o assassinato do General Tagme Na Waie. E foi aí que o Presidente me disse que mandara chamar o Carlos (Gomes Jr), mas este recusara, dizendo que não tinha segurança. E eu disse-lhe então: camarada Presidente, se não há segurança para o Primeiro-Ministro como pode haver para si? Vamos sair daqui. Voltou a responder calmamente: não saio daqui para lado nenhum. O que tiver que ser, será! Ou seja, ‘Nino’ estava decidido a ficar, custasse o que custasse. Era um militar, um chefe de guerra.
A mulher do Presidente estava em casa nessa altura?
Sim, estava.
Acha que ela aconselhara o Presidente para sair de casa?
Não acredito que o tenha feito. Pelo que notei, ela não tinha intenções de sair de casa. E o Presidente também não lhe disse para sair da residência, pelo menos na minha presença. Chegaram depois o Conduto de Pina e o Cipriano Cassamá (ambos Deputados do PAIGC) e foram sentar-se com a Isabel Vieira. Tive que lhes pedir que saíssem, pois estávamos a trabalhar. Nisto, liga-me o Jomav (José Mário Vaz, o Ministro das Finanças). Diz que me queria ver com urgência e eu digo-lhe que estou na casa do Presidente mas que me dissesse onde nos podíamos encontrar. Disse então que assim sendo, ver-nos-iamos amanhã (dia 2). O Presidente perguntou-me quem estava ao telefone e eu disse-lhe que era o Jomav e ele mesmo pegou no telefone e falaram os dois. Contudo, posso dizer-lhe que o Jomav nada nos adiantou, mas lá foi dizendo que queria era falar comigo. Não sei que informações tinha o Jomav, só ele saberá. A Isabel não o aconselhou a sair de casa. Quando o ‘Nino’ se despediu, dizendo que ia dormir, disse-lhe que dormisse na sala mas ele recusou... Teria morrido lá, naquela sala, em virtude do obus da RPG7, que atravessou o muro e explodiu na sala (NOTA: foi esse projéctil, o primeiro dessa noite, que feriu gravemente o Barnabé Gomes assessor de imprensa do Presidente da República). O Presidente foi então descansar para o quarto anexo à copa, deixando, no outro lado da casa, os advogados a trabalhar nesse comunicado. Ainda bem que assim foi, caso contrário teriam sido atingidos.
E depois disso?
Depois, fui sentar-me na varanda, mais o Biagué. E de repente chega o Adolfo (Protocolo), a gritar para a Isabel Vieira «senhora, senhora, estão a disparar, o pessoal de Mansoa está a disparar contra a casa». Digo-lhe então: então tu passas por nós e vais avisar a senhora de que há gente a disparar? Mas o que se passa, afinal? Nisto, o Presidente sai do quarto e entrega-me uma kalashnikov – estava lá o Fernando ‘Paris’ - mas no estojo só estavam dois carregadores, em vez de três no estojo e um na arma (NOTA: o estojo tradicional da AK47 leva três carregadores de 30 tiros, mais 30 na arma o que perfaz um poder de fogo de 120 tiros). O Carlos Biagué pegou numa RPG7, um outro alguém também saiu de lá com uma basuca.
Já estava tudo aos tiros, depois do disparo de obus da RPG7
Sim, e digo então ao Carlos que me deixe sair primeiro, com rajada, e assim teria tempo para sair com a RPG7. lembro-me que tinham, cada um deles, seis obuses. É poder de fogo o suficiente para causar muito estrago e, talvez até, abortar o ataque. No primeiro recontro, recuaram, fugiram mesmo, posso dizê-lo. Contudo, uma luz da residência cansou-me. Não previ que esse foco de luz lhes permitisse vislumbrar a minha pessoa, o que acabou por acontecer. A pessoa que você diz que viu cair morto, foi o Lourenço. Caiu redondo, morreu logo ali. Quando apanhou, ainda gritou dizendo ‘João, acertaram-me’. Eu entretanto já tinha sido atingido mas não lhe tinha dito nada...
Coronel, a Segurança do Presidente falhou. Quando Tagme foi morto, o Presidente devia ter sido evacuado para um local seguro. Ou não é assim?
É assim mesmo que devia ser. Mas eu não tinha poder nenhum sobre a Segurança, e o Presidente não quis sair de casa. Aliás, eu dispunha de informação que dava conta de que Carlos Gomes Jr sabia mais qualquer coisa... aliás, a mulher de ‘Nino’ até comentou ‘João, ouviste, chamaram o Cadogo mas ele recusou vir!’. O Presidente gritou então com ela, dizendo-lhe que saisse da sala. Posso mesmo dizer que a Segurança do Estado não estava alheada de tudo. Pelo contrário, sabiam de tudo!
Tagme Na Waie foi assassinado às 19 horas do dia 1, e ‘Nino’ Vieira horas depois, na madrugada do dia 2. Você estava lá e quero perguntar-lhe isto: reconheceu alguém, do batalhão de Mansoa?
Não, ninguém. Aliás, quando saí para a rua, disparei ao acaso porque não vi ninguém.E fiquei junto ao Hummer (que é blindado), e só via as balas a baterem na chapa e no vidro do jeep. Se ficasse lá, ninguém teria entrado. Mas acabei por ficar sem balas (tinha apenas 60).
O Lourenço morre logo depois...
Sim, foi quando se apoiou nos meus ombros para saltar o muro e levou um tiro na cabeça, caindo morto. O Carlos Biagué, nunca mais o vi. Ligou-me depois, quando eu já estava nas Nações Unidas, a dizer que pensava que eu estava morto. Ele já se encontrava na embaixada da Líbia (NOTA: A embaixada da Líbia fica numa esquina do quarteirão onde ‘Nino’ residia), em segurança.
Chegou a ver o Tcham na Man na residência do Presidente nessa noite?
Não, já lhe disse que não reconheci ninguém a não ser vultos. Mas a mulher do Presidente disse-me, no hospital Principal, em Dakar, que viu o Tcham na Man. Disse-me assim: ‘João, posso não conhecer mais ninguém, mas reconheci o Tcham Na Man’. E começou a chorar. Aly, quando fui para as Nações Unidas, digo-te com franqueza, desconhecia se ‘Nino’ Vieira estava vivo ou morto. Pensei até ‘se o apanharem não o matarão’.
Como escapou até chegar às Nações Unidas?
Antes ainda, estive com o Adolfo e com a Palmira (irmã da mulher do Presidente) e com uma menina, dentro de casa. O Barnabé disse-me ‘João, vou morrer’. Aconselhei-os a saírem perto da bilha de gás, a protegerem-se. A Palmira agarrou-me e disse ‘João, vais morrer, foste atingido, estás cheio de sangue’. Os advogados, talvez com o pânico, ‘protegeram-se’ junto a umas caixas de cartão... meti-os num sítio seguro e subi então para o telhado, para junto do depósito de água da residência, sempre com a minha kalashnikov, a ver o tiroteio, mas sem poder disparar porque entretanto tinha ficado sem munições...foi angustiante. A bala que me atravesou as costas de uma ponta a outra, estava a deixar-me inconsciente. Perdi imenso sangue. Lá consegui meter-me num buraco.
E depois?
Depois liguei para o Afonso, que me disse que não vinha porque estava tudo cheio de militares. Pouco depois liga o Dickson (actual director do gabinete do Presidente da República). Diz que me tentou falar durante toda a noite. Digo-lhe que fui atingido. Então, ele disse que ia imediatamente para as Nações Unidas. E assim foi. Liga-me um primo, coordenamos e veio então um carro das NU, que foi recebendo uns sinais, e retiraram-me dali. Houve inclusivamente uma nigeriana, da ONU, que gritava dizendo «quem disparou na casa do Presidente não pode entrar cá!», mas foi logo demovida por um outro funcionário, um brasileiro, que lhe disse «este senhor é coronel e estava a defender o Presidente». Foi assim que lá fiquei, depois de levar seis tiros! Foram precisos quatro sacos de plasma, sangrei das 3 às 7 da manhã...
Constou-me que quando estava na ONU, alguém mandou buscá-lo. Quem foi que deu essa ordem, e porquê?
É a verdade. Pela calada da noite, chegaram militares da Marinha à sede das NU com ordens do Zamora Induta para eu ser levado para o hospital Simão Mendes por, segundo eles, lá ‘haver mais condições’. Dizem-lhes que eu não arredo pé da sede da ONU. Debandaram. No dia a seguir, o Raimundo Pereira (presidente da ANP) liga a dizer que eu devia ser avacuado ontem para Dakar mas que não houve lugar. Transmitiu-me a mensagem do Presidente do Senegal, Abdou Diouf, em como tudo ia ser feito para eu ficar em segurança. Agradeci. Pouco depois liga a Isabel a contar que querem sepultar o ‘Nino’ na Fortaleza da Amura. Disse-lhe que os deixassem fazer isso. Lá é que é o seu lugar. Ela diz então que acabara de cometer um erro... Recusara a opção Amura e estava já tudo pronto para o funeral se ralizar no cemitério municipal de Bissau.
Do que falou com o Presidente da República, Malam Bacai Sanha, em Dakar, sobre o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?
O Dickson telefonou-me a dizer que Malam Bacai Sanha queria ver-me, e eu respondi que me deixassem em paz, que ainda estava magoado. Ele insistiu, e eu fui. Cheguei ao hotel, e o Presidente abraçou-me. E depois garantiu-me que ‘seria feita justiça à morte do ‘Nino’. Ainda que tenha de morrer, tem de ficar tudo claro’, afiançou Bacai Sanha. Eu respondi que seria óptimo. Quero saber quem matou o Presidente e porque o fizeram. Disse-lhe que aquilo foi um acto de covardia!
Voltemos a essa madrugada, na residência do Presidente. Quem fechou à chave a porta do quarto onde ‘Nino’ Vieira estava?
Alguém disse-me que foi o Fernando ‘Paris’, mas este diz que não foi ele. Certo é que estavam lá duas pessoas... A Isabel disse-me até que o Presidente tinha vestido um colete à prova de balas, que tinha o estojo de munições à cintura e a sua AK 47 na mão. Foi assim que chegaram, e, com um pé-de-cabra, começaram a forçar a porta do quarto. Disse então à Isabel ‘eles vão matar-me, vai para dentro’. Assim que entraram, o Presidente disse-lhes que a senhora (Isabel Vieira) apenas tinha vindo para casamento e que nada tinha a ver com política, que a deixassem em paz. Um militar disse qualquer coisa e o ‘Nino’ mandou-o calar. Disparam logo uma rajada, mas como ele não morreu, acertaram-lhe várias vezes com uma barra de ferro. Depois, esquartejaram-no. Estou a contar-lhe exactamente aquilo que a Isabel Vieira me contou, também em Dakar.
E a Isabel Vieira foi depois ‘vendida’ ao próprio irmão, por 50.000 fcfa (menos de 100 euros)...
Sim. Tiraram-na de dentro dizendo que iam levá-lo ao Estado Maior, mas ela recusou, dizendo que a matassem juntamente com o seu marido. Então, perguntaram-na: onde é a casa dos teus familiares? «Dê-nos 50.000 fcfa e deixámo-la ir, de qualquer maneira o pessoal está lá dentro a beber». E foi assim que bateram à porta do seu irmão, Isidoro Romano Vieira, no cimo da rua de Angola. Este, a princípio, tinha relutância em abrir a porta, acabando por fazê-lo, resgatando assim a sua irmã.
Já lhe extraíram todas as balas do corpo?
Todas. Tenho um estilhaço no corpo (NOTA: facto confirmado pelo editor do Ditadura do Consenso). Não regressei ainda porque não sei o que se passa no meu País. As pessoas dizem-me não venhas ainda por causa disto ou daquilo. Não quero rgressar para o confronto. As pessoas estão cansadas, a Guiné-Bissau está cansada
CONTINUA...
JOÃO MONTEIRO (JM) –Nesse final de dia, o Presidente mandou chamar-me para uma reunião das chefias militares, mas como tinha problemas com o pagamento da escola do meu filho Nino (NOTA: João Monteiro deu esse nome ao filho, em homenagem ao Presidente ‘Nino’ Vieira), acabei por chegar um bocado tarde para a reunião. Fui pagar a mensalidade à escola e de seguida fui para casa. Por volta das 20 horas, o Presidente telefona e pede-me que vá a casa dele. Fui, porque eu era funcionário do Estado-Maior General das Forças Armadas. É pena, na altura, eu não estar no corpo de segurança do Presidente. As coisas não se teriam passado dessa maneira.
Quando cheguei, o Lassana Mansandé disse-me então que a reunião tinha acabado e foi ele quem me deu a notícia de que o General Tagmé Na Waie havia sido morto à bomba no edifício do EMGFA. Quando entrei, vi o Presidente sentado no sofá e cumprimentei-o. Estava triste. E disse-me que se tivesse assistido à reunião ficaria a saber quem estava para ali a gesticular... Então, indaguei, porque razão não saiu de casa. Olhou-me nos olhos e disse-me «João, estou cansado de mentiras neste País. No dia 23 Novembro (NOTA: 1ª tentativa para assassinar ‘Nino’) tu é que os vieste tirar daqui. Depois as pessoas foram para as rádios dizer que o ‘Nino’ é que tinha engendrado esse ataque. Se eu sair daqui, hoje, dirão o ‘Nino’ mandou matar o Tagme, o mesmo homem que contribuiu para o meu regresso à Guiné-Bissau. Não saio de casa». Saí então e chamei o chefe da sua Segurança, o Duarte, e perguntei-lhe: ‘como é que é, está tudo controlado?’ Ele responde que sim, que está tudo bem montado. E eu insisto: ‘tens informações seguras?’ Volta a responder afirmativamente. Digo-lhe então: ‘porque não tiram o Presidente de casa?’ Retorquiu que não podiam dizer ao Presidente para sair de casa. E eu, já irritado, quase aos berros: ‘mas vocês é que são da Segurança, a ordem terá de partir de vocês!?’
DC - O que acontece depois?
JM - Passado pouco tempo, entra o mesmo Duarte, e diz ao Presidente que ia sair para ir ter com o ‘Zé’ António (da Segurança do Estado) para providenciarem uma grua para retirar os escombros por cima do cadáver do Tagme Na Waie. ‘Nino’ deu o seu aval. Pouco depois chega o Kalido e o seu Chefe de Estado Maior particular para dizer ao Presidente que fora ao edifício do EMGFA mas a tropa tinha-lhe proibido a entrada. O Presidente disse-lhe que não havia problemas, que esperassem até a manhã do dia seguinte (dia 2) e que ele mesmo iria até lá. O ‘Nino’ vira-se para mim e disse: ‘João, já não sais daqui’. E por lá fiquei. Chegam então os advogados Armindo (Cerqueira) e Osório. Estava em preparação um comunicado.
Para condenar o assassinato do Tagme, presumo.
Sim, para condenar o assassinato do General Tagme Na Waie. E foi aí que o Presidente me disse que mandara chamar o Carlos (Gomes Jr), mas este recusara, dizendo que não tinha segurança. E eu disse-lhe então: camarada Presidente, se não há segurança para o Primeiro-Ministro como pode haver para si? Vamos sair daqui. Voltou a responder calmamente: não saio daqui para lado nenhum. O que tiver que ser, será! Ou seja, ‘Nino’ estava decidido a ficar, custasse o que custasse. Era um militar, um chefe de guerra.
A mulher do Presidente estava em casa nessa altura?
Sim, estava.
Acha que ela aconselhara o Presidente para sair de casa?
Não acredito que o tenha feito. Pelo que notei, ela não tinha intenções de sair de casa. E o Presidente também não lhe disse para sair da residência, pelo menos na minha presença. Chegaram depois o Conduto de Pina e o Cipriano Cassamá (ambos Deputados do PAIGC) e foram sentar-se com a Isabel Vieira. Tive que lhes pedir que saíssem, pois estávamos a trabalhar. Nisto, liga-me o Jomav (José Mário Vaz, o Ministro das Finanças). Diz que me queria ver com urgência e eu digo-lhe que estou na casa do Presidente mas que me dissesse onde nos podíamos encontrar. Disse então que assim sendo, ver-nos-iamos amanhã (dia 2). O Presidente perguntou-me quem estava ao telefone e eu disse-lhe que era o Jomav e ele mesmo pegou no telefone e falaram os dois. Contudo, posso dizer-lhe que o Jomav nada nos adiantou, mas lá foi dizendo que queria era falar comigo. Não sei que informações tinha o Jomav, só ele saberá. A Isabel não o aconselhou a sair de casa. Quando o ‘Nino’ se despediu, dizendo que ia dormir, disse-lhe que dormisse na sala mas ele recusou... Teria morrido lá, naquela sala, em virtude do obus da RPG7, que atravessou o muro e explodiu na sala (NOTA: foi esse projéctil, o primeiro dessa noite, que feriu gravemente o Barnabé Gomes assessor de imprensa do Presidente da República). O Presidente foi então descansar para o quarto anexo à copa, deixando, no outro lado da casa, os advogados a trabalhar nesse comunicado. Ainda bem que assim foi, caso contrário teriam sido atingidos.
E depois disso?
Depois, fui sentar-me na varanda, mais o Biagué. E de repente chega o Adolfo (Protocolo), a gritar para a Isabel Vieira «senhora, senhora, estão a disparar, o pessoal de Mansoa está a disparar contra a casa». Digo-lhe então: então tu passas por nós e vais avisar a senhora de que há gente a disparar? Mas o que se passa, afinal? Nisto, o Presidente sai do quarto e entrega-me uma kalashnikov – estava lá o Fernando ‘Paris’ - mas no estojo só estavam dois carregadores, em vez de três no estojo e um na arma (NOTA: o estojo tradicional da AK47 leva três carregadores de 30 tiros, mais 30 na arma o que perfaz um poder de fogo de 120 tiros). O Carlos Biagué pegou numa RPG7, um outro alguém também saiu de lá com uma basuca.
Já estava tudo aos tiros, depois do disparo de obus da RPG7
Sim, e digo então ao Carlos que me deixe sair primeiro, com rajada, e assim teria tempo para sair com a RPG7. lembro-me que tinham, cada um deles, seis obuses. É poder de fogo o suficiente para causar muito estrago e, talvez até, abortar o ataque. No primeiro recontro, recuaram, fugiram mesmo, posso dizê-lo. Contudo, uma luz da residência cansou-me. Não previ que esse foco de luz lhes permitisse vislumbrar a minha pessoa, o que acabou por acontecer. A pessoa que você diz que viu cair morto, foi o Lourenço. Caiu redondo, morreu logo ali. Quando apanhou, ainda gritou dizendo ‘João, acertaram-me’. Eu entretanto já tinha sido atingido mas não lhe tinha dito nada...
Coronel, a Segurança do Presidente falhou. Quando Tagme foi morto, o Presidente devia ter sido evacuado para um local seguro. Ou não é assim?
É assim mesmo que devia ser. Mas eu não tinha poder nenhum sobre a Segurança, e o Presidente não quis sair de casa. Aliás, eu dispunha de informação que dava conta de que Carlos Gomes Jr sabia mais qualquer coisa... aliás, a mulher de ‘Nino’ até comentou ‘João, ouviste, chamaram o Cadogo mas ele recusou vir!’. O Presidente gritou então com ela, dizendo-lhe que saisse da sala. Posso mesmo dizer que a Segurança do Estado não estava alheada de tudo. Pelo contrário, sabiam de tudo!
Tagme Na Waie foi assassinado às 19 horas do dia 1, e ‘Nino’ Vieira horas depois, na madrugada do dia 2. Você estava lá e quero perguntar-lhe isto: reconheceu alguém, do batalhão de Mansoa?
Não, ninguém. Aliás, quando saí para a rua, disparei ao acaso porque não vi ninguém.E fiquei junto ao Hummer (que é blindado), e só via as balas a baterem na chapa e no vidro do jeep. Se ficasse lá, ninguém teria entrado. Mas acabei por ficar sem balas (tinha apenas 60).
O Lourenço morre logo depois...
Sim, foi quando se apoiou nos meus ombros para saltar o muro e levou um tiro na cabeça, caindo morto. O Carlos Biagué, nunca mais o vi. Ligou-me depois, quando eu já estava nas Nações Unidas, a dizer que pensava que eu estava morto. Ele já se encontrava na embaixada da Líbia (NOTA: A embaixada da Líbia fica numa esquina do quarteirão onde ‘Nino’ residia), em segurança.
Chegou a ver o Tcham na Man na residência do Presidente nessa noite?
Não, já lhe disse que não reconheci ninguém a não ser vultos. Mas a mulher do Presidente disse-me, no hospital Principal, em Dakar, que viu o Tcham na Man. Disse-me assim: ‘João, posso não conhecer mais ninguém, mas reconheci o Tcham Na Man’. E começou a chorar. Aly, quando fui para as Nações Unidas, digo-te com franqueza, desconhecia se ‘Nino’ Vieira estava vivo ou morto. Pensei até ‘se o apanharem não o matarão’.
Como escapou até chegar às Nações Unidas?
Antes ainda, estive com o Adolfo e com a Palmira (irmã da mulher do Presidente) e com uma menina, dentro de casa. O Barnabé disse-me ‘João, vou morrer’. Aconselhei-os a saírem perto da bilha de gás, a protegerem-se. A Palmira agarrou-me e disse ‘João, vais morrer, foste atingido, estás cheio de sangue’. Os advogados, talvez com o pânico, ‘protegeram-se’ junto a umas caixas de cartão... meti-os num sítio seguro e subi então para o telhado, para junto do depósito de água da residência, sempre com a minha kalashnikov, a ver o tiroteio, mas sem poder disparar porque entretanto tinha ficado sem munições...foi angustiante. A bala que me atravesou as costas de uma ponta a outra, estava a deixar-me inconsciente. Perdi imenso sangue. Lá consegui meter-me num buraco.
E depois?
Depois liguei para o Afonso, que me disse que não vinha porque estava tudo cheio de militares. Pouco depois liga o Dickson (actual director do gabinete do Presidente da República). Diz que me tentou falar durante toda a noite. Digo-lhe que fui atingido. Então, ele disse que ia imediatamente para as Nações Unidas. E assim foi. Liga-me um primo, coordenamos e veio então um carro das NU, que foi recebendo uns sinais, e retiraram-me dali. Houve inclusivamente uma nigeriana, da ONU, que gritava dizendo «quem disparou na casa do Presidente não pode entrar cá!», mas foi logo demovida por um outro funcionário, um brasileiro, que lhe disse «este senhor é coronel e estava a defender o Presidente». Foi assim que lá fiquei, depois de levar seis tiros! Foram precisos quatro sacos de plasma, sangrei das 3 às 7 da manhã...
Constou-me que quando estava na ONU, alguém mandou buscá-lo. Quem foi que deu essa ordem, e porquê?
É a verdade. Pela calada da noite, chegaram militares da Marinha à sede das NU com ordens do Zamora Induta para eu ser levado para o hospital Simão Mendes por, segundo eles, lá ‘haver mais condições’. Dizem-lhes que eu não arredo pé da sede da ONU. Debandaram. No dia a seguir, o Raimundo Pereira (presidente da ANP) liga a dizer que eu devia ser avacuado ontem para Dakar mas que não houve lugar. Transmitiu-me a mensagem do Presidente do Senegal, Abdou Diouf, em como tudo ia ser feito para eu ficar em segurança. Agradeci. Pouco depois liga a Isabel a contar que querem sepultar o ‘Nino’ na Fortaleza da Amura. Disse-lhe que os deixassem fazer isso. Lá é que é o seu lugar. Ela diz então que acabara de cometer um erro... Recusara a opção Amura e estava já tudo pronto para o funeral se ralizar no cemitério municipal de Bissau.
Do que falou com o Presidente da República, Malam Bacai Sanha, em Dakar, sobre o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?
O Dickson telefonou-me a dizer que Malam Bacai Sanha queria ver-me, e eu respondi que me deixassem em paz, que ainda estava magoado. Ele insistiu, e eu fui. Cheguei ao hotel, e o Presidente abraçou-me. E depois garantiu-me que ‘seria feita justiça à morte do ‘Nino’. Ainda que tenha de morrer, tem de ficar tudo claro’, afiançou Bacai Sanha. Eu respondi que seria óptimo. Quero saber quem matou o Presidente e porque o fizeram. Disse-lhe que aquilo foi um acto de covardia!
Voltemos a essa madrugada, na residência do Presidente. Quem fechou à chave a porta do quarto onde ‘Nino’ Vieira estava?
Alguém disse-me que foi o Fernando ‘Paris’, mas este diz que não foi ele. Certo é que estavam lá duas pessoas... A Isabel disse-me até que o Presidente tinha vestido um colete à prova de balas, que tinha o estojo de munições à cintura e a sua AK 47 na mão. Foi assim que chegaram, e, com um pé-de-cabra, começaram a forçar a porta do quarto. Disse então à Isabel ‘eles vão matar-me, vai para dentro’. Assim que entraram, o Presidente disse-lhes que a senhora (Isabel Vieira) apenas tinha vindo para casamento e que nada tinha a ver com política, que a deixassem em paz. Um militar disse qualquer coisa e o ‘Nino’ mandou-o calar. Disparam logo uma rajada, mas como ele não morreu, acertaram-lhe várias vezes com uma barra de ferro. Depois, esquartejaram-no. Estou a contar-lhe exactamente aquilo que a Isabel Vieira me contou, também em Dakar.
E a Isabel Vieira foi depois ‘vendida’ ao próprio irmão, por 50.000 fcfa (menos de 100 euros)...
Sim. Tiraram-na de dentro dizendo que iam levá-lo ao Estado Maior, mas ela recusou, dizendo que a matassem juntamente com o seu marido. Então, perguntaram-na: onde é a casa dos teus familiares? «Dê-nos 50.000 fcfa e deixámo-la ir, de qualquer maneira o pessoal está lá dentro a beber». E foi assim que bateram à porta do seu irmão, Isidoro Romano Vieira, no cimo da rua de Angola. Este, a princípio, tinha relutância em abrir a porta, acabando por fazê-lo, resgatando assim a sua irmã.
Já lhe extraíram todas as balas do corpo?
Todas. Tenho um estilhaço no corpo (NOTA: facto confirmado pelo editor do Ditadura do Consenso). Não regressei ainda porque não sei o que se passa no meu País. As pessoas dizem-me não venhas ainda por causa disto ou daquilo. Não quero rgressar para o confronto. As pessoas estão cansadas, a Guiné-Bissau está cansada
CONTINUA...
sábado, 4 de junho de 2011
Entrevista a Joao Monteiro: o que aconteceu nos dias 1 e 2 de marco de 2009
Agora sera de vez. Acabei, hoje, de desgravar a entrevista do Coronel Joao Monteiro. Foram varias horas colado ao monitor, noites fechado em casa. Mas valeu a pena. Contudo, ou nao estivessemos na Guine-Bissau, tinha que haver uma e outra manchas. Tentativas frustradas de aliciacao e de intimidacao que a mim nunca fizeram vacilar. Houve entrevista; ha que publica-la, penso assim.
Assim, a partir da noite de domingo, ira para o ar o primeiro de varios capitulos. Para ja: o que aconteceu na noite de 1 e na madrugada de 2 de marco de 2009? Um a parte: Joao Monteiro chegou a residencia do Presidente pouco antes das 20 horas e por la ficou, tendo levado 6 tiros. Uma conversa interessante, um documento importante.
Outro a parte: nao entrevistei Joao Monteiro para saber do seu percurso ou de coisa que o valha. Entrevistei-o porque interessava ouvir tudo aquilo que Joao Monteiro tinha vivido nessa noite. Queria factos, e tive factos. Ha ja muita gente excitada, sem dormir, mesmo antes de a entrevista ir para o ar. E devem ter motivos para isso... AAS
Assim, a partir da noite de domingo, ira para o ar o primeiro de varios capitulos. Para ja: o que aconteceu na noite de 1 e na madrugada de 2 de marco de 2009? Um a parte: Joao Monteiro chegou a residencia do Presidente pouco antes das 20 horas e por la ficou, tendo levado 6 tiros. Uma conversa interessante, um documento importante.
Outro a parte: nao entrevistei Joao Monteiro para saber do seu percurso ou de coisa que o valha. Entrevistei-o porque interessava ouvir tudo aquilo que Joao Monteiro tinha vivido nessa noite. Queria factos, e tive factos. Ha ja muita gente excitada, sem dormir, mesmo antes de a entrevista ir para o ar. E devem ter motivos para isso... AAS
Helder Proença - 2 anos de saudade
VIAGEM DE SEPARAÇÃO
Estava uma manhã calma e sombria
Pela rádio ouviam-se músicas tristes
O tempo transmitia a dor
MEU IRMÃO, andei te procurando
Nessa manhã que nunca mais esquecerei
Tinha esperança de poder falar contigo mas,
A minha esperança,
Desfaleceu no hospital
Onde vi a multidão
Com rosto de tristeza, revolta e interrogação
Dizendo:
“Hélder Proença”
MEU IRMÃO, queria te poder abraçar
Mas não pude
Queria ficar ao pé de ti
Mas ali não era a tua casa
Onde chegava à qualquer hora
E entrava
Estavam pessoas fardadas a guardar-te
No lugar onde te encontravas
A dor, a dor é grande para cada um de nós
As balas cravadas no teu peito
Deixa uma ferida enorme em nossos corações
E grande sofrimento
“Yu” o que me dá forças
Quando vejo os teus filhos sós
E a tua mãe prostrada
Isso renova as minhas forças
Para lutar que esta família seja como sempre desejaste
“Yu” estamos com saudades
Saudades de tudo
Quero te dizer que o teu nome ficará gravado
Na História
E nunca serás esquecido
Nesta Pátria onde lutaste
Para que exista um Estado soberano
E de direito
Testemunhará um dia….
Descansa em paz meu IRMÃO
A Bíblia diz:
“Amanhã a justiça pertence ao Senhor nosso Deus”
“Guiné, mama Guiné, Guiné di nós
No panta, no na punta i ké
Kudinu
Bu sinanu Kuma
Bianda na kabas i ka só pa un alguin
Tudo kin ku tchiga na ki hora,
I pudi kumel
Kila i balur di ermondadi
Manga di kussas
Bu sinanu Guiné
Ma n’bes di iagu kurri
No na odja sangui na kurri na tchon malgós
Ka bu panha raiba
Ka bu viranu kosta
Bambunu ku kil bu bambaran pa nó pudi diskansa na paz”
“Em Homenagem ao nosso saudoso irmão HELDER PROENÇA”
“YU”
27 de Junho de 2009
Estava uma manhã calma e sombria
Pela rádio ouviam-se músicas tristes
O tempo transmitia a dor
MEU IRMÃO, andei te procurando
Nessa manhã que nunca mais esquecerei
Tinha esperança de poder falar contigo mas,
A minha esperança,
Desfaleceu no hospital
Onde vi a multidão
Com rosto de tristeza, revolta e interrogação
Dizendo:
“Hélder Proença”
MEU IRMÃO, queria te poder abraçar
Mas não pude
Queria ficar ao pé de ti
Mas ali não era a tua casa
Onde chegava à qualquer hora
E entrava
Estavam pessoas fardadas a guardar-te
No lugar onde te encontravas
A dor, a dor é grande para cada um de nós
As balas cravadas no teu peito
Deixa uma ferida enorme em nossos corações
E grande sofrimento
“Yu” o que me dá forças
Quando vejo os teus filhos sós
E a tua mãe prostrada
Isso renova as minhas forças
Para lutar que esta família seja como sempre desejaste
“Yu” estamos com saudades
Saudades de tudo
Quero te dizer que o teu nome ficará gravado
Na História
E nunca serás esquecido
Nesta Pátria onde lutaste
Para que exista um Estado soberano
E de direito
Testemunhará um dia….
Descansa em paz meu IRMÃO
A Bíblia diz:
“Amanhã a justiça pertence ao Senhor nosso Deus”
“Guiné, mama Guiné, Guiné di nós
No panta, no na punta i ké
Kudinu
Bu sinanu Kuma
Bianda na kabas i ka só pa un alguin
Tudo kin ku tchiga na ki hora,
I pudi kumel
Kila i balur di ermondadi
Manga di kussas
Bu sinanu Guiné
Ma n’bes di iagu kurri
No na odja sangui na kurri na tchon malgós
Ka bu panha raiba
Ka bu viranu kosta
Bambunu ku kil bu bambaran pa nó pudi diskansa na paz”
“Em Homenagem ao nosso saudoso irmão HELDER PROENÇA”
“YU”
27 de Junho de 2009
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Director-Geral da televisao publica exonerado por desvios de fundos
Eusebio Nunes, director-geral da televisao da Guine-Bissau (TGB), foi exonerado do cargo por desvio de fundos doados pelo Reino do Japao para a compra de equipamentos: cerca de 60.000 euros.
Para o seu lugar vai Luis Domingos Barros (filho do coronel Domingos Barros, assassinado no mesmo dia que o general Verissimo Seabra), que ate aqui ocupava o cargo de director de gabinete da ministra da Presidencia e da Comunicacao Social, Adiato Nandigna.
O Conselho de Ministros diz que vai abrir um processo disciplinar contra o ex-director-geral.
Vergonha! A outra vergonha: durante todo o dia vemos a TPA e nao a TGB... AAS
Para o seu lugar vai Luis Domingos Barros (filho do coronel Domingos Barros, assassinado no mesmo dia que o general Verissimo Seabra), que ate aqui ocupava o cargo de director de gabinete da ministra da Presidencia e da Comunicacao Social, Adiato Nandigna.
O Conselho de Ministros diz que vai abrir um processo disciplinar contra o ex-director-geral.
Vergonha! A outra vergonha: durante todo o dia vemos a TPA e nao a TGB... AAS
terça-feira, 31 de maio de 2011
Liberdades
O Ministerio Publico guineense nao encontrou "indicios suficientes para considerar as acusacoes de crimes contra a seguranca do Estado", e mandou arquivar o processo que pendia sobre varios oficiais das nossas forcas armadas e da seguranca assim como cidadaos comuns. Na alegada tentativa de golpe de Estado, recorde-se, foram assassinados Helder Proenca, Baciro Dabo e mais dois cidadaos anonimos.
Faustino Imbali, Verissimo Nancassa, Sandji Fati, Joao Monteiro, Daniel Gomes, Marciano Barbeiro, Conduto de Pina, Afonso Te, Roberto Cacheu haviam sido acossados pela famigerada Seguranca de Estado de tentativa de golpe de Estado. Hoje, muitos ainda estao longe da sua terra e dos seus familiares.
Entretanto, nao ha quem pague as quatro vidas que se perderam, nem a dor que os seus familiares sentem... E, ainda assim, passados quase dois anos nada de Justica. AAS
Faustino Imbali, Verissimo Nancassa, Sandji Fati, Joao Monteiro, Daniel Gomes, Marciano Barbeiro, Conduto de Pina, Afonso Te, Roberto Cacheu haviam sido acossados pela famigerada Seguranca de Estado de tentativa de golpe de Estado. Hoje, muitos ainda estao longe da sua terra e dos seus familiares.
Entretanto, nao ha quem pague as quatro vidas que se perderam, nem a dor que os seus familiares sentem... E, ainda assim, passados quase dois anos nada de Justica. AAS
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Agora estou confuso...
... Ate ja compreendo o Cadogo. E entendo o Bacai... (Bom, mas deve ser do 1 de junho). AAS
Duas (sobre avioes- seus marotos, estavam a pensar em que?!)
- Voo Lisboa/Bissau
Um cidadao guineense, que pagou bilhete na classe executiva da TAP no voo desta madrugada...foi simplesmente 'atirado' para as filas de tras da classe economica, porque "o sr. Primeiro-Ministro e comitiva" deviam estar na classe executiva.
A neocolonialista TAP la se envergonhou e...borrou ainda mais a pintura: tiraram o passageiro das filas de tras e puseram-no la a frente, ou seja...na primeira fila da classe economica. Vergonha. Havia de ser comigo...
- Voo Dakar/Bissau
Este cidadao guineense, eu mesmo, assistiu a esta cena no Boeing 757-200 no dia em que regressou de Dakar. O atraso, ainda que ligeiro, desse voo tinha o seu porque; o PR Malam Bacai Sanha regressava tambem a Bissau ainda que as nossas 'mistidas' estivessem nos antipodas. Um representava oficialmente o Estado, enquanto que o outro (eu), representava o Estado oficiosamente.
Passado um bocado, vislumbrei uma grande azafama vinda da zona onde se situa o salao VIP: Dezenas de pessoas, segurancas do Estado senegales, e, na frente, alto e de fato e gravata, Malam Bacai Sanha e esposa. O bonito vinha depois.
Ja dentro do aviao, a cantilena do costume: gestos quase automaticos indicam-nos por onde sair em caso de acidente, como vestir e activar o colete, donde cai a mascara de oxigenio. Futilidades no que a mim diz respeito: e que, detesto avioes.
Mas agora nao terei outro remedio senao passar a adorar avioes. Ama-los mesmo. O contrato que assinei em Dakar, 'obriga-me' a voar muito - quatro ou cinco paises por mes, todos os meses. Aviao, adoro-te! Mas nao me fo#*¥...
Bom, mas voltando a nosostros: todos sentados, o PR e esposa lado a lado na classe executiva. Eu, ze pobrinho como os demais, la atras. Lundju! Ainda assim, e gracas ao Consul da Guine-Bissau em Dakar pude cumprimentar o PR e esposa e trocar umas impressoes breves mas afaveis com o Chefe de Estado guineense.
E e entao que passa uma voluptuosa hospedeira dos TACV (confesso que desde que cruzamos o olhar nao mais parei de olhar para... ela). Estava a fazer a habitual revista do cinto e do encosto da cadeira.
Do lado oposto ao meu, a ajudante de campo da 1a Dama. So ela trazia tres malas ao colo. A hospedeira arregalou os olhos e disse "a sra nao pode levar essas malas todas na descolagem. E ainda traz uma no chao?." A sra decidiu responder - "sao da 1a Dama", disse.
Calmamente, a hospedeira tirou-lhe as malas todas, e deu-lhe o troco: "Primeiro, a seguranca; depois, a primeira-dama". E arrumou tudo num dos compartimentos. Nao foi um desrespeito para com a pessoa da primeira-dama, nao. Dura lex sed lex. AAS
Um cidadao guineense, que pagou bilhete na classe executiva da TAP no voo desta madrugada...foi simplesmente 'atirado' para as filas de tras da classe economica, porque "o sr. Primeiro-Ministro e comitiva" deviam estar na classe executiva.
A neocolonialista TAP la se envergonhou e...borrou ainda mais a pintura: tiraram o passageiro das filas de tras e puseram-no la a frente, ou seja...na primeira fila da classe economica. Vergonha. Havia de ser comigo...
- Voo Dakar/Bissau
Este cidadao guineense, eu mesmo, assistiu a esta cena no Boeing 757-200 no dia em que regressou de Dakar. O atraso, ainda que ligeiro, desse voo tinha o seu porque; o PR Malam Bacai Sanha regressava tambem a Bissau ainda que as nossas 'mistidas' estivessem nos antipodas. Um representava oficialmente o Estado, enquanto que o outro (eu), representava o Estado oficiosamente.
Passado um bocado, vislumbrei uma grande azafama vinda da zona onde se situa o salao VIP: Dezenas de pessoas, segurancas do Estado senegales, e, na frente, alto e de fato e gravata, Malam Bacai Sanha e esposa. O bonito vinha depois.
Ja dentro do aviao, a cantilena do costume: gestos quase automaticos indicam-nos por onde sair em caso de acidente, como vestir e activar o colete, donde cai a mascara de oxigenio. Futilidades no que a mim diz respeito: e que, detesto avioes.
Mas agora nao terei outro remedio senao passar a adorar avioes. Ama-los mesmo. O contrato que assinei em Dakar, 'obriga-me' a voar muito - quatro ou cinco paises por mes, todos os meses. Aviao, adoro-te! Mas nao me fo#*¥...
Bom, mas voltando a nosostros: todos sentados, o PR e esposa lado a lado na classe executiva. Eu, ze pobrinho como os demais, la atras. Lundju! Ainda assim, e gracas ao Consul da Guine-Bissau em Dakar pude cumprimentar o PR e esposa e trocar umas impressoes breves mas afaveis com o Chefe de Estado guineense.
E e entao que passa uma voluptuosa hospedeira dos TACV (confesso que desde que cruzamos o olhar nao mais parei de olhar para... ela). Estava a fazer a habitual revista do cinto e do encosto da cadeira.
Do lado oposto ao meu, a ajudante de campo da 1a Dama. So ela trazia tres malas ao colo. A hospedeira arregalou os olhos e disse "a sra nao pode levar essas malas todas na descolagem. E ainda traz uma no chao?." A sra decidiu responder - "sao da 1a Dama", disse.
Calmamente, a hospedeira tirou-lhe as malas todas, e deu-lhe o troco: "Primeiro, a seguranca; depois, a primeira-dama". E arrumou tudo num dos compartimentos. Nao foi um desrespeito para com a pessoa da primeira-dama, nao. Dura lex sed lex. AAS
sábado, 28 de maio de 2011
Voar baixinho
O guineense tem tudo para dar errado. Ponto. E, justiça lhe seja feita, as coisas ate que não lhe correm mal. Melhor, correm de feição. Hoje será história, mas passou-se mesmo. Ontem, no aeroporto Osvaldo Vieira.
Um alto oficial do Ministério do Interior de apelido Embaló, ocupou o seu lugar no voo da companhia de bandeira de Cabo Verde - a TACV, com destino a Dakar. Os procedimentos de segurança foram (são sempre) cumpridos com o avião já em movimento. O preguiçoso e trepidante pássaro lá se arrastou para sair da placa. Mas era agora que o espectáculo ia começar.
Sentado no seu lugar, o 'nosso' oficial permanecia oficial, mas, e não fosse ele um guineense pantomineiro, queria parecer ainda mais oficial que os demais passageiros. Impressionar no mau sentido. Criston matchu, son bagatela na terra di djinti!
E enquanto o aparelho abandonava a placa, o homem lembrou-se de... fazer um telefonema. E fê-lo. tic-tac-toc; e está em linha. Quando o viram ao telefone pediram que desligasse o aparelho imediatamente. Lá vai serpa... Blá blá blá... O senhor faça o favor de desligar o telefone porque esta a pôr em perigo a navegação. La vai Serpa, la vai Moura...
Incapazes de repôr a ordem no aparelho, o Comandante decide regressar ao ponto de partida. Autoridade chamada, o Embaló foi convidado a sair do avião. A policia e a tropa quiseram levá-lo, mas um sobrinho, que é funcionario no aeroporto e - olha que coincidência - também é sobrinho de um dos directores do aeroporto... convenceu-os a fazerem o contrário.
O Comandante do aparelho é que não foi de modas: neste voo o senhor não vai. Ou seja que os malcriados voam mas baixinho. E, com alguma sorte, e uma vez que a merece por inteiro... nunca mais voará na companhia TACV. Ter-se-á feito Justiça.
Acho até que esse oficial terá pensado deliberadamente no seu acto. Pensava que a sua atitude 'impressionaria' os outros passageiros, e alguns destes (aposto que muitos mesmo) por sua vez pensarão tratar-se de alguém importante, com poder. Mas não. Resumindo e concluindo, tratou-se pura e simplesmente de um acto de ignorância, que bem podia ter custado muito caro... As pessoas não sabem mas estão onde não deviam estar... AAS
Um alto oficial do Ministério do Interior de apelido Embaló, ocupou o seu lugar no voo da companhia de bandeira de Cabo Verde - a TACV, com destino a Dakar. Os procedimentos de segurança foram (são sempre) cumpridos com o avião já em movimento. O preguiçoso e trepidante pássaro lá se arrastou para sair da placa. Mas era agora que o espectáculo ia começar.
Sentado no seu lugar, o 'nosso' oficial permanecia oficial, mas, e não fosse ele um guineense pantomineiro, queria parecer ainda mais oficial que os demais passageiros. Impressionar no mau sentido. Criston matchu, son bagatela na terra di djinti!
E enquanto o aparelho abandonava a placa, o homem lembrou-se de... fazer um telefonema. E fê-lo. tic-tac-toc; e está em linha. Quando o viram ao telefone pediram que desligasse o aparelho imediatamente. Lá vai serpa... Blá blá blá... O senhor faça o favor de desligar o telefone porque esta a pôr em perigo a navegação. La vai Serpa, la vai Moura...
Incapazes de repôr a ordem no aparelho, o Comandante decide regressar ao ponto de partida. Autoridade chamada, o Embaló foi convidado a sair do avião. A policia e a tropa quiseram levá-lo, mas um sobrinho, que é funcionario no aeroporto e - olha que coincidência - também é sobrinho de um dos directores do aeroporto... convenceu-os a fazerem o contrário.
O Comandante do aparelho é que não foi de modas: neste voo o senhor não vai. Ou seja que os malcriados voam mas baixinho. E, com alguma sorte, e uma vez que a merece por inteiro... nunca mais voará na companhia TACV. Ter-se-á feito Justiça.
Acho até que esse oficial terá pensado deliberadamente no seu acto. Pensava que a sua atitude 'impressionaria' os outros passageiros, e alguns destes (aposto que muitos mesmo) por sua vez pensarão tratar-se de alguém importante, com poder. Mas não. Resumindo e concluindo, tratou-se pura e simplesmente de um acto de ignorância, que bem podia ter custado muito caro... As pessoas não sabem mas estão onde não deviam estar... AAS
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Quase
Anda tudo doido. Só pode. Desde que disse que tinha uma entrevista com o Coronel João Monteiro que não tenho parado de receber chamadas a perguntarem-me "então, quando sai?". Sairá - tem sido a resposta.
Muita gente deve estar a tremer por todos os lados. Também os entendo - só não os percebo. E a idea é mesmo essa: fazê-los tremer que nem varas verdes enquanto a 'bomba' não chega. Tremam! Ma abós I matchus, i ka sim?...
Mas eu entendo os dois lados... Só espero que me entendam também. Desgravar uma entrevista de - neste caso - quase duas horas tem o seu senão. A entrevista foi feita em crioulo e há que passá-la para o português. Mais. Ela obedece a datas. Como gravamos duas vezes, temas houve que voltaram a ser tratadas. Outras foram revistas.
Uma coisa é certa, o Coronel não fugiu a nenhuma questão. Senti verdade e sinceridade nas suas respostas. "Temos de pedir desculpas ao nosso País" - disse a dada altura, recordando um ancião guineense que falara para uma audiência de mais de cem pessoas na conferência de reconciliação que teve lugar em Dakar na semana que passou.
Continuarei a desgravar e a arrumar tudo cronologicamente. Leva o seu tempo mas - acreditem - valerá a pena. A reconciliação dos guineenses está, também, a passar por aqui. AAS
Muita gente deve estar a tremer por todos os lados. Também os entendo - só não os percebo. E a idea é mesmo essa: fazê-los tremer que nem varas verdes enquanto a 'bomba' não chega. Tremam! Ma abós I matchus, i ka sim?...
Mas eu entendo os dois lados... Só espero que me entendam também. Desgravar uma entrevista de - neste caso - quase duas horas tem o seu senão. A entrevista foi feita em crioulo e há que passá-la para o português. Mais. Ela obedece a datas. Como gravamos duas vezes, temas houve que voltaram a ser tratadas. Outras foram revistas.
Uma coisa é certa, o Coronel não fugiu a nenhuma questão. Senti verdade e sinceridade nas suas respostas. "Temos de pedir desculpas ao nosso País" - disse a dada altura, recordando um ancião guineense que falara para uma audiência de mais de cem pessoas na conferência de reconciliação que teve lugar em Dakar na semana que passou.
Continuarei a desgravar e a arrumar tudo cronologicamente. Leva o seu tempo mas - acreditem - valerá a pena. A reconciliação dos guineenses está, também, a passar por aqui. AAS
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Entrevista a João Monteiro: tópicos
Do que falaram José Mário Vaz, João Monteiro e 'Nino' Vieira no dia 2 de Março de 2009, ao telefone? N'na bim nam... AAS
Ah, palmeiras, palmeiras!...
... Ora, adivinhem lá: quem foi que caiu das escadas do avião no aeroporto de Dakar? N'na bin konta bôs dispus. Foto tem!... AAS
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