Ontem, fim de tarde. Café Império. Um Conselheiro do Presidente da República que acompanhou Malam Bacai Sanhá na Presidência Aberta no Sul do país, desabafava sobre a viagem que acabara de fazer. Cansativa - foi a primeira impressão que me veio à cabeça. Será de resto a melhor tirada que ouvi... antes do coronel Khadaffi deixar o poder.
Mas o Conselheiro quase já chorava no colo do companheiro de mesa. Sofrera na pele o desgaste que aquela estrada impõe - e submete - aos incautos e gentes de gabinete. Afinal, referia-se à penosa estrada de S. João (a que vai dar à esquecida e paupérrima cidade de Bolama, a primeira capital, e onde, por azar ou coisas dos deuses, nasce um fruto chamado... Miséria. Como é que pode!): O conselheiro, sobre o seu maior pesadelo: "Nessa estrada, mesmo a andar a pé dão-se acidentes!", disse por entre um salto. E repetiu duas vezes. Queria deixar claro que não mais voltaria a Bolama, passando por essa estrada de S. João. Pelo menos por terra. Ele próprio acabara de sentir um solavanco, ainda que sentado num café, na poeirenta e desolada cidade de Bissau.
Os que o ouviram, deram gargalhadas, e um Deputado sentado na mesa ao lado, riu-se a bandeiras despregadas. Os cinco funcionários da Embaixada da Líbia, sentados mesmo ao lado, pareciam estar numa convenção, e nem reagiram às gargalhadas. Falavam baixo, estavam pálidos, beberricavam chás e sorviam cafés. Estavam, numa palavra, desolados! Tinham cara de enterro - o exílio não é pátria que convém...
Foi sobretudo giro ouvir um conselheiro falar assim, tão descontraídamente, e ligeiramente descaído para trás na cadeira. Ele mesmo, depois de contar isso, assobiou baixinho e levou o indicador aos lábios, movendo-o enquanto assobiava.
Aquela actuação do conselheiro merece uma medalha de ouro! Mas agora só cá para nós: não terá sido obra da Arezki? Sr. PGR, um inquéritozinho se fizer o obséquio... AAS