quarta-feira, 30 de março de 2005

Kumba promete «tomar poder pela força»

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O ex-chefe de Estado guineense Kumba Ialá afirmou hoje à Agencia Lusa que reassumirá o poder no país, caso os tribunais impeçam a sua candidatura às eleições presidenciais marcadas para 19 de Junho próximo. Sem especificar como, Kumba Ialá afirmou que está preparado para reassumir a presidência da República, logo que tenha indicações do Tribunal Regional de Bissau (TRB) que foi indeferido o seu pedido de impugnação do acto de renúncia ao poder, assinado no seguimento do golpe de Estado de 14 de Setembro de 2003."Se houver qualquer tentativa de impedimento da minha candidatura, a única decisão que eu vou tomar é assumir imediatamente a Presidência da República e revogar a carta da renúncia", disse Ialá.
Instado a ser mais preciso quanto à alegada intenção de reassumir a presidência da República, Kumba Ialá limitou-se a responder que estava a falar "muito a sério". Há cerca de três semanas, um colectivo de advogados, liderado pelo ex-Procurador-Geral da República (PGR) e também antigo primeiro-ministro Caetano Intchamá, depositou no TRB um processo impugnatório, pedindo a anulação da carta de renúncia assinada por Kumba Ialá. O colectivo justifica o pedido de impugnação pelo facto de Kumba Ialá ter sido "coagido" pelos militares a assinar a renúncia aquando do golpe de Estado.À luz da Constituição da Guiné-Bissau, o presidente que tenha renunciado ao poder não poderá concorrer durante os cinco anos seguintes a qualquer cargo elegível.
"Até ao momento, nunca me pronunciei sobre este assunto da renúncia. Mas, como o golpe ocorreu já lá vai um ano e alguns meses e não houve nenhuma explicação real sobre o que levou a que isso acontecesse, considero que foi um acto infeliz", frisou Kumba Ialá, escolhido no sábado passado como candidato às presidenciais do Partido da Renovação Social (PRS, principal força da oposição).Questionado sobre o repto que lhe foi lançado, na segunda-feira, por Malam Bacai Sanhá, candidato presidencial do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), para um debate público de esclarecimento sobre os projectos de cada um, Kumba Ialá manifestou-se disposto, mas aproveitou para lançar críticas ao seu adversário.
"Esse senhor do PAIGC não tem cultura académica para poder discutir a ciência política comigo e muito menos outras áreas de formação cultural. Desafio-o para um debate, não de 30 minutos, mas sim de cinco horas, onde vamos abordar todos os temas da vida politica, porque vamos dirigir homens com várias formações políticas e culturais de uma Nação", precisou.Kumba Ialá voltou a manifestar a convicção de que vencerá as próximas presidenciais, prometendo mesmo uma "maioria mais do que qualificada" caso o processo decorra com "transparência", a começar pelo recenseamento "real e efectivo" dos potenciais eleitores. O ex-chefe de Estado deu estas indicações à Lusa momentos após se ter recenseado numa das mesas no bairro de M’Pantcha, zona tida como bastião do PRS, partido fundado por Kumba Ialá em 1992.
Em relação ao antigo presidente guineense, João Bernardo "Nino" Vieira, exilado em Portugal desde 1999, Kumba Ialá afirmou que não coloca nenhuma "objecção" ao seu regresso ao país, mesmo que seja para concorrer às próximas presidenciais. "Porque não? É uma aspiração legítima de um cidadão da Guiné-Bissau. Está livre de o fazer se for essa a vontade dele. Mas, do meu ponto de vista, penso que ele é um homem já de idade (66 anos). Penso que não deve estar disposto a concorrer com os seus filhos e netos", sublinhou. Kumba Ialá considerou ainda que "Nino" Vieira tem o seu nome registado nas páginas da história recente da Guiné-Bissau, por ter proclamado a independência (1973) e vencido as primeiras eleições presidenciais multipartidárias no país, em 1994. Para Kumba, que considera quaisquer outros candidatos como "aprendizes de política", "Nino" Vieira é o único adversário no cenário guineense com argumentos suficientes para lhe fazer frente num embate eleitoral.
Lusa/MB/NV