O presidente guineense recebeu oficialmente esta quarta-feira as chaves do novo edifício da Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento), construído de raiz pela cooperação chinesa em pleno centro da capital guineense, junto ao mercado do Bandim. Numa área de 13 mil metros quadrados, com um bloco central e dois pavilhões anexos, 84 gabinetes e um amplo salão de conferências com 209 lugares sentados, o novo edifício passará a ser de hoje em diante um "ex-libris" da capital guineense.
O imóvel, cuja construção começou em Dezembro de 2003 e orçou em cerca de seis milhões de dólares (4,61 milhões de euros), oferece ainda aos parlamentares guineenses apetrechos técnicos como um sistema de votação electrónica por cada mesa, microfone para cada deputado e câmaras de vigilância em todo o edifício. Denominado "Palácio Colinas de Boé", em homenagem à localidade onde foi proclamado a independência unilateral do país, a 24 de Setembro de 1973, o novo edifício conta ainda com serviços de cozinha e um grupo de geradores próprio.
A cooperação chinesa entregou o imóvel ao Estado guineense, que, por sua vez, vai remetê-lo ao Parlamento, que deverá começar a utilizar em pleno as novas instalações na próxima sessão legislativa, ainda sem data marcada. Durante um ano, o edifício será gerido e mantido limpo pelos técnicos da empresa chinesa executora da obra, a "Jangsu", garantiu o ministro das Obras Públicas guineense. Segundo Domingos Simões Pereira, a empresa "Jangsu" cumpriu com todos os requisitos acordados entre os governos chinês e guineense aquando da adjudicação do contrato para a construção do novo edifício.
Por essa razão, Domingos Simões Pereira pediu que fosse dedicada uma "saudação especial" ao engenheiro-chefe da obra, Cha Bao Ling, que, presente no acto, não escondia a sua satisfação pelo gesto. Por seu turno, o embaixador chinês em Bissau, Tian Guang Feng, destacou que o seu governo apreciou a posição das autoridades guineenses de terem mantido a decisão de considerar a China "uma nação única", aludindo às ambiguidades que rodearam as relações entre Bissau e Taiwan durante a década de 90.
O diplomata chinês frisou que o seu país continuará a apoiar a Guiné-Bissau, anunciando outros projectos em forja, nomeadamente a construção de residências para os oficiais do exército, a recuperação de todos os aquartelamentos do país, a construção do Palácio do Governo e a reabilitação do Hospital Regional de Canchungo, 60 quilómetros a norte de Bissau.
Usando da palavra momentos após ter recebido as chaves do imóvel das mãos do embaixador chinês, o presidente guineense afirmou que o acto de hoje fica registado "nos anais da história de amizade" entre a República Popular da China e a Guiné-Bissau.
Henrique Rosa, cujo nome está gravado numa lápide na entrada do edifício, lembrou que as relações entre a China e a Guiné-Bissau vieram do período da luta armada pela independência da antiga colónia portuguesa. Projectando o futuro e dirigindo-se aos deputados, Henrique Rosa manifestou-se convicto de que o novo edifício trará um "estímulo" à classe politica no Parlamento. "Esperamos que esta casa sirva de local privilegiado de diálogo entre os guineenses, de construção de consensos, símbolo da paz, da fraternidade, da tranquilidade e da sabedoria", pediu Henrique Rosa.
A cerimónia de entrega das chaves do novo edifício do Parlamento foi um acontecimento que juntou políticos de todos os quadrantes, elementos do governo, do poder judicial, corpo diplomático e centenas de populares. No meio da euforia que reinava no espaço, denotou-se alguma desorganização protocolar, pois, quando foi dado sinal para a entrada no imóvel, gerou-se grande "confusão" com empurrões entre deputados, ministros, embaixadores, jornalistas, corpo de segurança do presidente da República e curiosos.
A "confusão" por pouco não acabaria com estragos nos vidros das portas laterais que dão acesso ao edifício, tendo a situação sido saneada apenas com a intervenção dos elementos das Brigadas de Intervenção Rápida (BIR). Na actual legislatura, iniciada a 07 de Maio de 2004, o Parlamento guineense conta com 102 deputados, embora faltem eleger ainda dois - um pelo círculo "Resto de África" e outro pelo da "Europa".
Nas eleições legislativas de Março de 2004, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder) elegeu 45 deputados, seguido pelos partidos da Renovação Social (PRS), com 35, e Unido Social-Democrata (PUSD), com 17. Duas coligações elegeram os restantes três parlamentares - a União Eleitoral (UE) tem dois e a Aliança Popular Unida (APU) um.