segunda-feira, 28 de maio de 2012

O MEDO




Medo, esse sentimento que nos priva da liberdade, como todos sabemos.

É este sentimento que neste momento está a tolhir a liberdade aos guineenses, permitindo-se ser humilhado, amordaçado e impedido de gozar a plenitude dos seus direitos como um povo livre que deseja a democracia.

Medo, esse sentimento que não pode tornar-se num direito que convive diariamente com o povo guineense. Mas, sabemos que a intimidação e o abuso das forças das armas, estão a ser transformados em direitos adquiridos pelos militares guineenses e é esse abuso e a impunidade que importa hoje, todos os guineenses combaterem.

"As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo. Do medo da mudança." (Octávio Paz)

Sei que o meu povo, o povo guineense não tem e jamais terá medo da mudança! Acredito no povo no seio do qual nasci e cresci até os meus 18 anos. Também acredito na mudança, porque ao longo da minha curta vida empreendi várias mudanças que me permitiu ser o adulto livre que hoje sou. O povo guineense também só precisa vencer o medo das armas, irresponsavelmente autorizadas nas mãos dos criminosos e, empreender mudanças com vista a conquistar a plena liberdade na vida e na sociedade Bissau-guineense.

"No fundo, sabemos que o outro lado de todo o medo é a liberdade."
(Marilyn Ferguson)

A liberdade, o tão desejado direito e estado da alma dos cidadãos, de uma sociedade e de todo um povo. A liberdade de expressar as ideias, a liberdade de aglomerar e manifestar-se, sem que nenhuma agressão de loucos armados nos interrompa. A liberdade de andar nas ruas do próprio país, a qualquer hora do dia, sem que ninguém nos incomode, independentemente do Partido politico a que pertencemos, ou ideias que tivermos manifestarmos.

A liberdade, o tão ambicionado estado da alma, é irmã gêmea dos direitos. Direitos, esse irmão da liberdade, de tão difícil conquista da sua amizade, não anda sem a sua irmã liberdade. Mas, para encontrar esta, é necessário primeiro conquistar o seu irmão Direitos. Infelizmente, esses dois irmãos gêmeos abandonaram a Guiné-Bissau no dia 12 de Abril do corrente ano, mas não tenho dúvidas que é com bilhetes de regresso. Só não sabemos a data que eles vão regressar. Mas, temos consciência que pode demorar, porquanto o medo e a intimidação constituirem um direito e o povo guineense continuar a não querer conhecer o outro lado do medo, onde resplandece a liberdade… Mais difícil se torna o regresso dos “irmãos liberdade e direitos”, quando ainda existem conterrâneos que insistem em confundir os seus irmãos sobre o conceito da liberdade e direitos, usando ódios e quezilhas pessoais, para tentarem legitimar toda a acção armada que tolhe a população dos seus direitos, garantias e liberdades e dessa forma assassinar a democracia na Guiné-Bissau. Será que, para combater as supostas ilegalidades de um Primeiro-Ministro, vale tudo, inclusive oprimir o próprio povo?

Não gosto dos donos da verdade, quaisquer que sejam eles. Assustam-me e me entediam. Sou fanaticamente antifanático.

(Luís Buñuel).

Mas, a mediocridade tem dessas coisas! É pela mediocridade e não só, que os militares embarcaram na manipulação dos cinco candidatos derrotados na primeira volta das eleições presidenciais.

E é pela mediocridade que vimos partidos politicos sem representação parlamentar assaltarem a Assembleia Nacional Popular, local onde o povo nunca os permitiu sentarem para discutirem o destino do país…

Também, acredito sériamente que é pela mediocridade que alguns cidadãos hipotecam alguns valores morais e preferem defender uma ditadura declarada pelos militares, do que uma democracia deficitária com os lideres que o povo escolheu.

Como o guineense comum era feliz, se visse os governos a serem derrubados através de Moções de Censura e a serem criados Governos de Salvação Nacional, com base no diálogo dos partidos com representação parlamentar, em vez do Primeiro-Ministro e candidato a Presidência da República e ainda o Presidente da República interino serem subitamente levados através da força das AK-47 e tiros de bazuca! Se nos dessem a votar, garanto-vos que aceitavamos de muito bom grado, mandar o Paulo portas para a Guiné-Bissau e transferir o António Indjai para a Madeira e o povo guineense saíria a ganhar…

Termino apelando ao sofrido povo guineense, para lutarem de forma abnegada contra o medo e a mediocridade, permitindo dessa forma o rápido regresso à nossa pátria dos irmãos direitos e liberdade…

"Tenho mais medo da mediocridade que da morte." (Bob Fosse)