quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
ULTIMA HORA: Jose Camnate, Bispo de Bissau, foi avisado ontem, por telefone, da vontade de Iaia Dabo em entregar-se as autoridades. Liga Direitos Humanos fala em "assassinato" e pede abertura de inquerito e expulsao de agentes que participaram na operacao frente ao ministerio do Interior. PGR diz que sera aberto um inquerito para se apurar sobre o levantamento militar do dia 26. AAS
Bom, estou 73.000 francos (pouco mais de 100 euros) mais, digamos que... pobre. Foi quanto gastei em combustivel para o carro, e em creditos para o telemovel nestas trepidantes 48 horas. Para alem da bomba de agua do carro, que ontem, de tanto acelerar atras da tropa, foi-se. Mas eu ca continuo. AAS
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Noite longa
Bissau e uma cidade com pouca iluminacao publica. Agora, imaginem como fica quando lhe e imposta a escuridao total. Nao se ve um palmo a frente! As trevas, as profundezas do abismo.
Mas ha boas novas. Nao se ouvem tiros. O ruido que mais se ouve, para quem esteja a caminhar, sao dos geradores. Ou, de alguns aparelhos de ar condicionado. Ha mais de 20 militares na parte da frente da residencia do primeiro-ministro, e, presumo, outros tantos nas traseiras.
Ha militares no cruzamento do clube do SB Benfica, assim como no da antiga Primatura. A residencia do Presidente da Republica, Malam Bacai Sanha, ausente do Pais por motivos de saude, continua entregue ao seu corpo de seguranca. Tambem nas traseiras do quartel da Marinha de Guerra (frente a sede da ONU), existem militares.
O ministerio do Interior, que tomou a lideranca dos acontecimentos logo a seguir, esta cercada pela Policia de Intervencao Rapida e por alguns elementos da seguranca do Estado. Alias, uns minutinhos antes da morte do Iaia Dabo, cumprimentei o seu director, Lino Lopes, que na altura falava ao telefone, nao no ministerio do Interior, mas no comissariado da Policia de Ordem Publica. Veio ate a janela do carro e cumprimentamo-nos, trocando palavras breves.
Hoje ja crepitam pequenos fogareiros. Junto a sede da Policia Judiciaria, prepara-se o warga (cha tradicional). Os guardas contam-se historias que nem supunham! La esta - o boato, o nosso pior pesadelo. Alguns falam como se tivessem assistido ao vivo...
O HN Simao Mendes esta tambem calmo. Nao ha novos 'fregueses'. So gostava que continuasse tudo assim, como esta agora, calmo, sereno, contudo escuro. O breu total. Bissau assusta nestas alturas. Fui visitar alguem. Conversamos durante umas duas horas. E concordamos com quase tudo. Abriu uma garrafa de champagne, e, deixando-me sem jeito e sem uma unica pinga de sangue, disse-me apenas 'bom trabalho. Tens uma grande capacidade'. Obrigado.
Ha viaturas a circular sem matricula: esta em marcha uma grande operacao para aniquilar algumas bolsas de resistencia. Pelo meno e o que alegam. Veremos. Uma coisa parece clara, e todos concordamos: ha que explicar, e bem, tudo o que estamos a assistir. Antonio Aly Silva
Mas ha boas novas. Nao se ouvem tiros. O ruido que mais se ouve, para quem esteja a caminhar, sao dos geradores. Ou, de alguns aparelhos de ar condicionado. Ha mais de 20 militares na parte da frente da residencia do primeiro-ministro, e, presumo, outros tantos nas traseiras.
Ha militares no cruzamento do clube do SB Benfica, assim como no da antiga Primatura. A residencia do Presidente da Republica, Malam Bacai Sanha, ausente do Pais por motivos de saude, continua entregue ao seu corpo de seguranca. Tambem nas traseiras do quartel da Marinha de Guerra (frente a sede da ONU), existem militares.
O ministerio do Interior, que tomou a lideranca dos acontecimentos logo a seguir, esta cercada pela Policia de Intervencao Rapida e por alguns elementos da seguranca do Estado. Alias, uns minutinhos antes da morte do Iaia Dabo, cumprimentei o seu director, Lino Lopes, que na altura falava ao telefone, nao no ministerio do Interior, mas no comissariado da Policia de Ordem Publica. Veio ate a janela do carro e cumprimentamo-nos, trocando palavras breves.
Hoje ja crepitam pequenos fogareiros. Junto a sede da Policia Judiciaria, prepara-se o warga (cha tradicional). Os guardas contam-se historias que nem supunham! La esta - o boato, o nosso pior pesadelo. Alguns falam como se tivessem assistido ao vivo...
O HN Simao Mendes esta tambem calmo. Nao ha novos 'fregueses'. So gostava que continuasse tudo assim, como esta agora, calmo, sereno, contudo escuro. O breu total. Bissau assusta nestas alturas. Fui visitar alguem. Conversamos durante umas duas horas. E concordamos com quase tudo. Abriu uma garrafa de champagne, e, deixando-me sem jeito e sem uma unica pinga de sangue, disse-me apenas 'bom trabalho. Tens uma grande capacidade'. Obrigado.
Ha viaturas a circular sem matricula: esta em marcha uma grande operacao para aniquilar algumas bolsas de resistencia. Pelo meno e o que alegam. Veremos. Uma coisa parece clara, e todos concordamos: ha que explicar, e bem, tudo o que estamos a assistir. Antonio Aly Silva
Disseram-me ao telefone para 'nao ir dormir a minha casa' esta noite.. Amanha, espero que digam alguma coisa sobre esta morte... A cidade permanece calma. Uma coisa e certa: Eu (ou alguem por mim) visitaremos a morgue do HN Simao Mendes varias vezes esta noite, e durante toda a madrugada... Boa noite. AAS
EXCLUSIVO: Iaia Dabo foi morto a sangue frio, dentro do carro do Deputado Conduto de Pina. Soube que tinha sido localizado e queria entregar-se as autoridades. Presenciaram o acto o Pr da Liga Luis Manuel Cabral, e Filomeno Cabral. Djoi entregou-se ao fim da tarde. Desconhece-se o paradeiro de Roberto Cacheu. AAS
Bissau, madrugada de 27 de dezembro, terça-feira
Bissau adormece fatigada, menos fria (e falo do tempo). Estou a chegar a casa, depois de umas voltas, hoje muito limitadas pelos acontecimentos que se desenrolaram ontem. Até agora, está tudo calmo, parace até que toda a gente se mudou da capital para o interior. Mas há vultos na noite.
Há vultos como que amontoados, ha murmúrios nesta noite. Quase não circulam carros, e não há, ao contrário de outras noites, fogareiros a crepitar, nem gargalhadas cúmplices e menos ainda namoricos nas esquinas escuras. Mas há vultos nesta madrugada que ainda é uma criança.
Andei por ai, às voltas, e ninguém me importunou. Ninguém se importou sequer com a minha presença. Passei despercebido. Senti o silêncio da cidade, um silêncio que ensurdece. E eu ali às voltas. Devagar até para o meu gosto. Serei invisivel? Não. Apenas não me tomaram como uma ameaça.
Estou já em casa. Apetece-me chorar, gritar a plenos pulmões, gesticular e dizer: chega!, basta! Párem de sobressaltar este povo, esta gente humilde. Tenham vergonha deste povo e deste País que amanhã os vossos filhos e netos herdarão. Boa noite a todos. Antonio Aly Silva
Há vultos como que amontoados, ha murmúrios nesta noite. Quase não circulam carros, e não há, ao contrário de outras noites, fogareiros a crepitar, nem gargalhadas cúmplices e menos ainda namoricos nas esquinas escuras. Mas há vultos nesta madrugada que ainda é uma criança.
Andei por ai, às voltas, e ninguém me importunou. Ninguém se importou sequer com a minha presença. Passei despercebido. Senti o silêncio da cidade, um silêncio que ensurdece. E eu ali às voltas. Devagar até para o meu gosto. Serei invisivel? Não. Apenas não me tomaram como uma ameaça.
Estou já em casa. Apetece-me chorar, gritar a plenos pulmões, gesticular e dizer: chega!, basta! Párem de sobressaltar este povo, esta gente humilde. Tenham vergonha deste povo e deste País que amanhã os vossos filhos e netos herdarão. Boa noite a todos. Antonio Aly Silva
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Baba & Ranho
«Muito obrigado, Aly Silva, por nos ter informado um pouco de tudo o que se passou no nosso País. Que Deus te abençoe nos teus altos e dignos afazeres. Obrigado em nome dos que estão fora do País.
P.C.»
«Senhor jornalista,
De Portugal, com respeito e admiração pelo trabalho feito, designadamente nesta crise político-militar. Os guineenses merecem um bom jornalista e um futuro sem estas palhaçadas.
Muito bem
Bom Ano.
S.G.»
«Boa tarde Aly,
Fico-te muito agradecido pelas informações ao minuto que nos tens dado durante o dia de hoje. Espero que tudo se acalme e que descanses tranquilamente até amanhã. Mas, contudo, e apesar de grandes esforços da tua parte, a verdade é que ainda não entendemos nada de nada, porque acho eu que os autores não querem se apresentar as suas intenções para dizer a verdade ao povo. Cumprimentos.
L.S.»
«Olá Aly,
O meu muito obrigado por nos ter mantido muito bem informado(minuto a minuto) sobre o que se está a passar neste dia em Bissau. Foi um trabalho brilhante, como sempre.
Obrigadíssimo
Abraços
K.A.J.»
«Sr Aly,
Venho por esta dizer-lhe que você é um grande jornalista e amigo da nossa Guiné-Bissau. Graças a ti e ao teu blog, temos estado a seguir passo a passo o que se està a desenrolar na nossa querida terra. Obrigado por isso e por tudo que tens feito. Vou continuando a abrir sempre o teu blog. Um abraço e força.
Uma guineense longe da Guiné-Bissau
A.L.A.»
P.C.»
«Senhor jornalista,
De Portugal, com respeito e admiração pelo trabalho feito, designadamente nesta crise político-militar. Os guineenses merecem um bom jornalista e um futuro sem estas palhaçadas.
Muito bem
Bom Ano.
S.G.»
«Boa tarde Aly,
Fico-te muito agradecido pelas informações ao minuto que nos tens dado durante o dia de hoje. Espero que tudo se acalme e que descanses tranquilamente até amanhã. Mas, contudo, e apesar de grandes esforços da tua parte, a verdade é que ainda não entendemos nada de nada, porque acho eu que os autores não querem se apresentar as suas intenções para dizer a verdade ao povo. Cumprimentos.
L.S.»
«Olá Aly,
O meu muito obrigado por nos ter mantido muito bem informado(minuto a minuto) sobre o que se está a passar neste dia em Bissau. Foi um trabalho brilhante, como sempre.
Obrigadíssimo
Abraços
K.A.J.»
«Sr Aly,
Venho por esta dizer-lhe que você é um grande jornalista e amigo da nossa Guiné-Bissau. Graças a ti e ao teu blog, temos estado a seguir passo a passo o que se està a desenrolar na nossa querida terra. Obrigado por isso e por tudo que tens feito. Vou continuando a abrir sempre o teu blog. Um abraço e força.
Uma guineense longe da Guiné-Bissau
A.L.A.»
domingo, 25 de dezembro de 2011
ANGOLA: Brutalidade policial mata cidadão guineense
"Caro Aly,
É duro ser-se Guineense, principalmente porque a nossa diplomacia há muito que vem se prostituindo. Pode-se deixar a nacionalidade Guineense de lado mais é impossível despir-se do sentimento de Guineense, principalmente se vivemos e crescemos no Pilum Colon. Quem cresceu e viveu neste meio tem apenas um sentimento - o de ser Guineense. Não foi e acredito ainda não é importante a cor de pele, a origem étnica, a profissão dos pais e a religião, sempre os mais velhos defenderam os mais novos, a mãe de um era a mãe de todos e quem vem de um bairro alheio tem que ter cuidado se não leva e das boas. Esta introdução é uma mistura de saudade, de tristeza, de raiva e de revolta ao mesmo tempo.
No dia 2 de Dezembro de 2011, um cidadão Guineense (mais um) de nome Môro Fati, nascido no dia 11 de Janeiro de 1990, na vila de Sedjo Mandinga, sector de Pirada, Região de Gabu, Guiné-Bissau, tinha acabado de chegar (o carimbo da entrada é de 9-9-2011) às terras angolanas, na vã tentativa de procurar honestamente trabalhar, sobreviver e ajudar os que não tiveram a sorte (se é que existe sorte nisso) de conseguir rumar além mar.
Tinha acabado de instalar-se, e com a ajuda de alguns familiares e amigos conseguiu emprego numa pequena cantina do fundo de quintal, propriedade de um senhor da Guiné-Conacry, o qual nesta altura não estava e o segundo empregado tinha-se ausentado por alguns minutos. Eram 15 horas da tarde. A polícia do bairro de Cassenda (arredores de Luanda) perseguia um gatuno angolano, que, vendo-se cercado pela polícia decide procurar refugio na cantina onde trabalhava o pobre de Môro.
A polícia entrou na cantina de uma forma selvática dando porrada ao bandido e a quem estava na mercearia, enquanto a proprietária do prédio (que alugou o espaço para o patrão de Moro) gritava que o Moro não era bandido, na vã tentativa de o salvar. Não sei se bateram no gatuno como fizeram com o trabalhador honesto. Percebendo-se que tinham acabado de destruir mais uma vida, os próprios polícias mandaram levar o Môro ao hospital (apenas para terem o cunho medico de um trabalho bem feito, é lógico) onde ele viria a ser pronunciado morto.
Os familiares deste malogrado (não sei se são familiares de verdade ou apenas conhecidos nesta odisseia que é a imigração) vivem nos bairros pobres de Luanda, e têm procurado evitar qualquer contacto, inclusive de angolanos, que querem apenas ajudar, com medo da represália polícial. Por esta razão e mais outras.
Esta história é para denunciarmos esta brutalidade para com um irmão, cujo único crime foi ter nascido num País chamado Guiné-Bissau e que por ser governado pelos políticos que tivemos até aqui só nos deu dissabores. É uma vergonha."
É duro ser-se Guineense, principalmente porque a nossa diplomacia há muito que vem se prostituindo. Pode-se deixar a nacionalidade Guineense de lado mais é impossível despir-se do sentimento de Guineense, principalmente se vivemos e crescemos no Pilum Colon. Quem cresceu e viveu neste meio tem apenas um sentimento - o de ser Guineense. Não foi e acredito ainda não é importante a cor de pele, a origem étnica, a profissão dos pais e a religião, sempre os mais velhos defenderam os mais novos, a mãe de um era a mãe de todos e quem vem de um bairro alheio tem que ter cuidado se não leva e das boas. Esta introdução é uma mistura de saudade, de tristeza, de raiva e de revolta ao mesmo tempo.
No dia 2 de Dezembro de 2011, um cidadão Guineense (mais um) de nome Môro Fati, nascido no dia 11 de Janeiro de 1990, na vila de Sedjo Mandinga, sector de Pirada, Região de Gabu, Guiné-Bissau, tinha acabado de chegar (o carimbo da entrada é de 9-9-2011) às terras angolanas, na vã tentativa de procurar honestamente trabalhar, sobreviver e ajudar os que não tiveram a sorte (se é que existe sorte nisso) de conseguir rumar além mar.
Tinha acabado de instalar-se, e com a ajuda de alguns familiares e amigos conseguiu emprego numa pequena cantina do fundo de quintal, propriedade de um senhor da Guiné-Conacry, o qual nesta altura não estava e o segundo empregado tinha-se ausentado por alguns minutos. Eram 15 horas da tarde. A polícia do bairro de Cassenda (arredores de Luanda) perseguia um gatuno angolano, que, vendo-se cercado pela polícia decide procurar refugio na cantina onde trabalhava o pobre de Môro.
A polícia entrou na cantina de uma forma selvática dando porrada ao bandido e a quem estava na mercearia, enquanto a proprietária do prédio (que alugou o espaço para o patrão de Moro) gritava que o Moro não era bandido, na vã tentativa de o salvar. Não sei se bateram no gatuno como fizeram com o trabalhador honesto. Percebendo-se que tinham acabado de destruir mais uma vida, os próprios polícias mandaram levar o Môro ao hospital (apenas para terem o cunho medico de um trabalho bem feito, é lógico) onde ele viria a ser pronunciado morto.
Os familiares deste malogrado (não sei se são familiares de verdade ou apenas conhecidos nesta odisseia que é a imigração) vivem nos bairros pobres de Luanda, e têm procurado evitar qualquer contacto, inclusive de angolanos, que querem apenas ajudar, com medo da represália polícial. Por esta razão e mais outras.
Esta história é para denunciarmos esta brutalidade para com um irmão, cujo único crime foi ter nascido num País chamado Guiné-Bissau e que por ser governado pelos políticos que tivemos até aqui só nos deu dissabores. É uma vergonha."
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