terça-feira, 7 de junho de 2011

Feedback II

"Aly,
O segundo capitulo da (entrevista ao Coronel Joao Monteiro) esclarece ate duvidas existentes da guerra de 7 de junho de 1998, pequenas frases, que dizem muito a quem ler com atencao, e torna realidade muitos factos que se falaram em Bissau mas que jamais alguem ousou escrever.

Coisas simples mas de grande importancia, sobre a morte do ex-Presidente 'Nino' Vieira. Eu estava em Bissau aquando da ocorrencia e todos os dias havia 'informacoes novas'.

Esta entrevista vem esclarecer muitas duvidas que eu tinha e que em geral as pessoas podiam ter. Estou ansiosa que tudo saia, para poder compreender. Mais uma vez parabens, realmente ninguem ousa escrever a realidade com tu a escreves.
Beijos, G.S."

M/N: ... Nem como a descrevo. Kiss kiss, bang bang. AAS

Entrevista ao Coronel Joao Monteiro: feedback

- "Viva, Aly
A entrevista ao Coronel Joao Monteiro deixa para ja muitas interrogacoes. Ate me pergunto se nao andas a fazer horas extra para a Procuradoria Geral da Republica. Alias, se estes quisessem investigar mais a fundo, teriam no Ditadura do Consenso una boa fonte documental para comecar. Mas esse assunto parece que nao interessa muito...
Abraco,
Kankuran di Mansaba"

M/R: Mas tem de interessar! Ainda que nos matem um por um!!! Abraco, AAS

- "Ola Ay,
Somente para te dar os parabens. A primeira entrevista ao Coronel Joao Monteiro esta clara e objectiva. Continua o teu bom trabalho. G.S.

M/N: E a segunda?! Beijos e abracos a todos, AAS

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Entrevista a João Monteiro: um esclarecimento do Coronel Afonso Té

"Caro Aly. Tudo bem?

Se me permitires, gostaria de trazer alguns elementos relacionados com a entrevista do Coronel João Monteiro no Ditadura do Consenso.

Na noite em que o General Tagme foi assassinado, preocupado, entrei em contacto com Coronel João Monteiro e ele deu-me a sua coordenada: Estava na residência do General 'Nino' Vieira e fui ter com ele. Disse-me que aquele o tinha mandado buscar porque constou-lhe que o General Tagme teria sido assassinado. Muito preocupado e incrédulo, perguntou-me porque teriam feito isso? E depois disse-me: olha, isto vai dar bronca. É preciso que o Presidente saia da sua residência, mas ele insiste em ficar.

Ele, já não estava ligado à segurança do Presidente e eu já não estava nas Forças Armadas, pelo que, pese embora reconhecessemos que a situação de risco era por demais evidente, estávamos limitados. Ficamos juntos por um tempo e depois pediu-me para levar-lhe a casa para ele poder jantar e voltar. Assim fiz. Fui com ele, jantamos e saímos juntos.

No caminho, de regresso à casa do General Vieira, fomos informados de que um grupo de veículos dupla cabine, cheio de militares dirigia-se para a casa dele (do Presidente). Fomos directamente para lá.

Quando chegamos constatamos que tinha sido o Presidente quem convocou uma reunião de emergência com as Chefias Militares e que já estava no fim. Eu ainda vi o dispositivo de segurança montado. Havia duas cinturas no perímetro. Aparentemente estava tudo bem. O Coronel João Monteiro entrou e eu deixei-o tendo continuado a circular. Foi assim que comecei a coletar dados para poder melhor entender o que se passou no Estado Maior-General e tirar ilações.

Nisto, fui informado que havia movimento militar a nível de Safim e do Aeroporto. Chamei o Coronel João Monteiro a quem pus ao corrente prevenindo-o. E conforme a noite avançava as coisas se complicavam pois o movimento intensifica-se enquanto que na Presidência, sede do Batalhão do Palácio a calma se tornava cada vez mais suspeita. Pois era a Unidade que tinha por missão defender o Presidente da República.

Depois os tiros começaram a fazer-se sentir, chamei o Coronel João Monteiro que me disse que a residência do Presidente da República estava sob fogo intenso. Depois perdi o seu contato. Entretanto continuei a circular até que consegui o número do Presidente da República : +245 640 0000 (este foi um dos seus últimos números). Liguei para esse número a pessoa que tinha o telefone respondeu mas não dizia nada. eu disse aló várias vezes mas como ela não respondia fiquei à escuta. Foi assim que ouvi uma voz ao fundo perguntar:"para onde o levas, para onde o levas? Uma segunda voz responde: vou levá-lo Estado Maior". Continuei a escutar mas não havia mais nada de importante cortei a ligação.

Eram mais ou menos 5h da manhã. Fiquei ainda com uma certa esperança de que o Presidente ainda estivesse de vida. Tentei chamar o Coronel João Monteiro, mas continuava com o seu telemóvel fechado.

Às sete da manhã o Coronel João Monteiro chamou-me e quando respondi perguntou-me se ainda havia movimento nos arredores da casa do Presidente ao que respondi que sim. Pois, os militares que estavam envolvidos no assalto ainda estavam no local. Nessa altura ele não me disse que estava ferido e nem perguntei onde estava pois no telefone não devia fazé-lo. Em relação a ele eu pelo menos, fiquei a saber que ainda estava de vida. Também já sabia do assassinato do Presidente da República.

Desligou o telefone e só voltou a chamar-me às nove. Desta vez disse-me que tinha sido ferido e que sangrava. Eu pedi-lhe que ficasse onde estava, que eu ia fazer diligências para tirá-lo dali. Chamei o Coronel Cissé da CEDEAO mas o número que eu tinha não passava. Chamei o Coronel Sandji Fati, que me deu o número do Coronel Marino. Depois chamei o Dr. Aristides que de imediato chamou para a UNOGBIS - eu também chamei - tendo confirmado que já tinham sido chamados tanto pelo Aristides como pelo Dr DiCkson.

Depois destas diligências todas fiz o seguimento da operação de sua exfiltração pela UNOGBIS à distância. E só depois de tudo isto é que fui para a minha casa onde fiquei. Estive em Bissau até depois do enterro a que assisti. Saí de Bissau para Dakar no dia 12 de março de 2009 no voo normal da TACV. No dia 14 do mesmo mês segui para a Índia, que, de resto, era o meu destino e o motivo da minha saída do País.

De regresso a Dakar fui visitar o Coronel João Monteiro pela segunda vez, no Hospital militar Principal. Quando eu lhe disse que regressava a Bissau no dia 21 de Março, ele insistiu que eu não fosse. E tinha razão. Logo depois fui informado de que na Segurança do Estado circulava a informação em como eu estava a comandar uma força que tinha por missão invadir a Guiné-Bissau, a partir de Varela, enquanto que o Coronel João Monteiro comandaria outra, que devia desembarcar em São Domingos.

Mais tarde soube que os agentes da Segurança montavam guarda à minha residência.
Coitado do Coronel João Monteiro: enquanto a Segurança dizia que ele comandava uma força que devia desembarcar em São Domingos, ele estava deitado no Hospital com seis balas no corpo...

Esta foi a razão porque fiquei fiquei em Dakar. Só as especulações continuaram. E em Junho de 2009, soube pela comunicação social que o Helder Proença, o Baciro Dabó mais outras duas pessoas foram assassinadas e que o Dr Faustino Mbali foi detido por uma alegada tentativa de Golpe de Estado em que nós participaríamos. Assim tomei conhecimento da lista de nome de pessoas supostamente envolvidas na tentativa.

Nota: Depois de ler a entrevista, quis aportar as precisões acima.

Coronel António Afonso Té
"

NOTA: Muito obrigado pelo seu esclarecimento. Um abraço, Aly Silva

Coronel João Monteiro/Capítulo II - A guerra de 7 de junho: Carlos Gomes Jr., Zamora Induta, Luis Amado e Jaime Gama, José Eduardo dos Santos, os 'aguentas'

DITADURA DO CONSENSO: Coronel, fale-me da guerra de 7 de junho de 1998. Qual foi o seu papel?

João Monteiro: Na guerra de 7 de junho, eu tinha montado uma barricada no poilão de Brã e a Junta Militar estava do outro lado. Um dia, o Presidente ‘Nino’ chama-me e pede que abra uma frente na zona de Plack 2. Então, eu disse-lhe que se saísse do poilão perderíamos essa posição. Ele insistiu: ‘abre o Plack’. Assim fiz. Então, o actual CEMGFA, António Indjai, na altura na Junta Militar, estancou em Brá. Fui e abri essa zona juntamente com o Nunes Cá, o Indi, o já falecido Marcelino Ramos. Logo no primeiro dia, a Junta Militar sofreu uma pesada derrota.

Chegou a sentir, a dada altura, que podiam ganhar a guerra?

Cheguei a sentir que sim, que essa guerra que nos foi imposta, uma aventura irresponsável, podia ser ganha. Aliás, no dia 31 de janeiro estávamos já com poder suficiente e prontos para tomarmos Brá e a Base-Aérea, mas o Presidente ‘Nino’ disse que não, que o Jaime Gama estava para chegar. E eu disse-lhe ‘e quem é o Jaime Gama? Ainda que fosse o Mário Soares, isto é uma guerra!’ E disse aos senegaleses para dispararem mas o Kony disse que havia que respeitar a ordem. E como somos militares há que obedecer, pois o Presidente às tantas diz ‘isto é uma ordem’. E como acabou? Perdemos a guerra e agora havia que negociar. Eu sempre disse ao Presidente que para as negociações era perferível a CPLP - que estancaria a Junta em Mansoa para iniciarmos as negociações.

E aparece a CEDEAO como mediadora...

Sim. A CEDEAO adiantou-se e deu no que deu. Por exemplo, o presidente do Senegal, Abdou Diouf, dizia constantemente ao Presidente ‘Nino’ que ‘as tropas senegalesas não abandonariam o País enquanto ele não ganhasse efectivamente a guerra’. E disse mais ao Presidente ‘Nino’, aí, no aeroporto osvaldo Vieira, em Bissau, durante as despedidas: ‘se não tiver cuidado vai perder esta guerra! Com rebeldes não se brinca, nem se deve negociar!’.
Tínhamos 3 peças de canhão de 120mm, acabadas de chegar do Senegal. Foram montadas e disparamos apenas 3 obuses e o ‘Nino’ opôs-se logo ao seu uso, dizendo que ‘aquilo não era arma para ser usada numa guerra’. Respondi ao Presidente dizendo-lhe que estávamos a ser fustigados por mísseis BM-21 (Katiushka). Ele foi firme: ‘isto é uma guerra entre irmãos e essa arma é medonha? Desmontou-se tudo, reembarcou-se no navio, e assim voltaram aquelas três peças de canhão para o Senegal.


Coronel, conheceu o Zamora Induta?

Não o conhecia, para lhe dizer a verdade. E não sei que ódio moveu o Zamora contra o ‘Nino’ Vieira, contra a minha pessoa e contra a Guiné-Bissau. O Zamora, na guerra de 7 de junho, andou fugido com mais pessoas. Então eu chamei o Watna, que é piloto, e disse-lhe: ‘ouve, tu és militar e há uma guerra e tu estás aqui. O que se passa?’ Ele respondeu dizendo que nem sabia para que lado é que devia ir, que os colegas tinham ficado na Base. Retorqui que não, que os seus colegas tinham saído da base. Então disse que não iria à Base, pois corria o risco de ser abatido. Alegou que não sabia como estava o centro de Bissau. Levei-o comigo. O Zamora foi logo dizer que eu prendi-o e quis matá-lo. Que assim que caiu um obus ele conseguiu escapar...que bandido, este! Alguém que eu nem conhecia! O Watna foi testemunha disto. A partir daí o Zamora começou a olhar para mim como um inimigo.

E depois reaparece, mas na Junta Militar...

Sim. Assim que ouvi falar no nome dele, disse logo para mim que o Zamora tinha algo contra o ‘Nino’ Vieira. Aconteceu outra coisa estranha. Um dia, o Presidente ‘Nino’ ia para França, via Lisboa, e para seu espanto viu o Zamora sentado dentro do avião. E pergunta-lhe ‘o que fazes aqui?’ – Zamora estava com o Luis Amado (actual ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal) a conversar. Zamora responde, visivelmente embaraçado e desconfortável, dizendo que ‘ia a Bruxelas’. O ‘Nino’ voltou à carga: ‘e quem é que te deu licença para ir a Bruxelas? Conheces por acaso o Luis Amado, para estarem na conversa?’. Disse-o à frente do Luis Amado para este ouvir e ouviu muito bem... E ‘Nino’ disse-me depois que tinha quase a certeza de que Zamora Induta estava a esconder qualquer coisa...

Acha que Portugal teve uma ‘mãozinha’ na morte do 'Nino' Vieira?

Não posso dizer isso, mas as declarações do Presidente Mário Soares - ‘Nino era um homem violento e morreu com violência’, deixa entender que há mão oculta, portuguesa, na morte do Presidente da República João Bernardo ‘Nino’ Vieira. Ouvi igualmente o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que falava ao lado do seu homólogo Cavaco Silva, em Lisboa, dizer que a morte do Presidente ‘Nino’ ‘não ficaria em vão, que tinha que ser esclarecida’. Fiquei assim, se saber...

Tem esperança de que um dia o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira venha a ser cabalmente esclarecido?

Não posso dizer que tenho esperança, não vejo é quem vai resolver isso.... Fui ouvido em Dakar e garantiram-me que em Setembro haverá Justiça. Eu disse-lhes até que ‘mobilizando-me ou não, tinha de falar! Como vieram até cá vou dizer-vos a verdade’. Depois da morte do Presidente comecei a ouvir dizer na rádio que se tratava de um ajuste de contas, que foi um ‘grupo desconhecido’ e coisas assim. Mas que grupo desconhecido? Um grupo desconhecido não pode atacar a residência de um Presidente da República de maneira desenvolta como fizeram. Agora pergunto apenas isto: e eles, os que guardavam o Presidente em casa, como militares, onde é que estavam?

Por falar nisso, onde é que estava a quase centena de militares que guardava a residência do Presidente?

E é mesmo isso que se deve perguntar. Foram para onde? Olhe, o Manuel Sanca (NOTA: Manuel Sanca era segurança do Presidente ‘Nino’ Vieira. Hoje, faz parte da equipa que ‘guarda’ o Presidente da República, Malam Bacai Sanha) veio um dia a Dakar e visitou-me. Depois do almoço, portanto já relaxados, perguntei-lhe calmamente: ‘Manuel, vocês estavam no passeio, eu vi, estavam todos armados, em prontidão de combate. Para onde é que foram quando começaram os tiros?’. Sabes o que ele me respondeu, assim, friamente?: ‘fugimos’. Eu ripostei irritado - Manuel, tu disseste ao ‘Nino’ à minha frente «esta é a tua cova, esta será a minha». E agora a cova do ‘Nino’ chega e tu foges? Porquê? Isto significa que estavas a enganar o Presidente? Então, começou a chorar. Rematei dizendo que se eu estivesse lá, teria outros homens a guardar o Presidente, que não eles. O Presidente ouvia gente que o enganava... Disse-lhe várias vezes que a sua segurança era um caos, que estava completamente desorganizada, e que um dia haveria uma desgraça...

E houve também aquele problema com o Tagme Na Waie, aquando do desarmamento do pessoal da guarda do Presidente, os chamados ‘aguentas’, criados na guerra de 7 de junho.

A primeira vez que o Tagme mandou desarmá-los, eu disse: ‘camarada Presidente, deixe-se disso. Ele responde ‘tens razão’, mas eu continuei: ‘Eu sinto-me ofendido. Quando é que um militar, ainda que seja o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, pode mandar desarmar uma guarda presidencial da escolha de confiança do Presidente da República, que é também Comandante-em-Chefe das forças frmadas?’ Ele apenas disse, olhando para o lado, ‘deixa estar, deixa estar, não arranjes problemas’.

E você, o que fez?

Durante dois dias não meti os pés no Estado Maior. Até o Tagme mandar chamar-me para saber a razão da minha ausência no trabalho. Disse-lhe apenas que não estava a sentir-me bem. Então comunicou-me que ia ter lugar uma reunião das chefias militares. À frente de todos, nessa reunião, disse-lhe que não tinha ficado satisfeito com essa sua atitude de mandar desarmar a segurança do Presidente. Disse-me que não, que esses miudos tinham disparado contra ele (NOTA: Tagme referia-se aos incidentes na avenida da Presidência da República). Disse-lhe mais: que esses rapazes eram balantas, seus parentes, que disseram em inquérito que só passados 30 minutos é que você chegou lá. Que você quem comunicou à Base Aérea que tinham matado um elemento sa sua escolta. E desafiei o Tagme a dizer, no mei0 de toda aquela gente, que elemento da escolta é que tinha sido morto. Desculpou-se então com uma frase tão velha como o próprio mundo: ‘a informação que foi passada era falsa’... Disse-lhe então que tivesse cuidado com essas coisas.

Acha então que foi tudo bem preparado até se chegar ao assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?.

Claro que foi tudo bem cozinhado. Aliás, se eu não tivesse sido atingido, aposto que diriam logo ‘foi o João Monteiro que colocou a bomba que matou o Tagme'.

E foi você?!

Olhe, uma senhora, que tem acompanhado e assistido o Barnabé Gomes na sua recuperação (NOTA: Barnabé era assessor de imprensa do Presidente ‘Nino’, e foi ferido com gravidade no atentado do dia 2 de março de 2009, que custou a vida ao Presidente ‘Nino’ Vieira) disse-me um dia que nessa manhã de 2 de março o meu nome já circulava por meia Bissau - que eu é que tinha colocado a bomba que matou o general Tagme Na Waie... Contudo, assim que souberam que tinha sido atingido e estava na sede da ONU, o boato parou... sei bem o que é o trabalho de um sapador. As minhas mão tremem, portanto fica descartada essa hipótese patética.

Já agora, suspeita de alguém?

Um dia, de Bissau, telefona-me o Melcíades Fernandes (NOTA: General, Piloto-Aviador, Melcíades Gomes Fernandes foi um dos elementos da Junta Militar. Chegou a Chefe do Estado-Maior da Força Aére. Esteve preso mais de um ano, acusado de ter colocado a bomba que deflagrara no Estado-Maior, ceifando a vida do general e CEMGFA Tagme Na Waie, no dia 1 de março de 2009) e aproveitei para lhe dizer apenas isto: Olha, eu não sou um bandido. Sou um homem que vai morrer com uma só cara, que não vai mentir para morrer. Pus a verdade à minha esquerda, à minha direita; à minha frente e atrás. Diz-me só isto: por que razão aceitaste carregar esse peso nos teus ombros, o de teres sido tu a colocar a bomba? Manteve-se calado e eu desliguei o telefone. Não me chegou a dizer que tinha sido ele, nem que não.

Mas o que você acha?

Acho sinceramente que o Melcíades Fernandes mentiu. As informações que eu tenho – por exemplo de um patrício que veio de Cabo Verde, contou-me tudo. Se as provas existem, ou não existem isso eu não sei. Não me peçam é para mentir.

‘Nino’ Vieira chegou a sondar líderes da sub-região para ajudar José Eduardo dos Santos a chegar à presidência da União Africana? O que sabe sobre isso?

Assim foi. O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos é que pediu ajuda ao ‘Nino’ Vieira alegando que ele tinha influência na sua zona, mas que era com ‘Nino’ Vieira que contava na sub-região da África Ocidental. O Presidente ‘Nino’ até já tinha entrado em contacto com o presidente da Gâmbia e com presidentes de outros países vizinhos. Acho até que o Yaya Jahmeh levou esse assunto ao conhecimento do Khadaffi, que queria esse cargo mas acabou por perder na votação... não é que esteja a acusar o coronel Khadaffi, mas há muitas mãos ocultas por detrás desse assassinato. Por exemplo, tenho informação de que o Jaime Gama esteve na Gâmbia antes de chegar a Bissau. Para fazer o quê? E por que razão foi o Jaime Gama a Bissau se o Presidente ‘Nino’ não estava no País? Com quem falou? Do que falaram? Foi falar com o Cadogo...

Por falar em Cadogo, que apreciação faz da pessoa do actual Primeiro-Ministro durante essa crise?

O Cadogo (NOTA: Cadogo é o ‘nominho’ por que é conhecido Carlos Gomes Jr., Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau) esteve em Dakar várias vezes. E o embaixador Fali (NOTA: Fali Embaló é agora embaixador da Guiné-Bissau em Portugal) disse-lhe ‘o coronel João Monteiro está internado no hospital’. A Isabel Vieira disse-me uma vez que ouviu dizer que o Cadogo viria visitar-me e eu respondi ‘ele que venha. Eu estou aqui deitado e nem me posso levantar. Não posso fugir dele.’ Mas eu nunca cheguei a ver o Cadogo com os meus olhos... se tivesse vindo, as nossas palavras cruzar-se-iam. Se ele me dissesse dez eu dir-lhe-ia vinte... Peço a Deus que nem me venha visitar, porque dizia-lhe na cara aquilo que eu penso que ele fez...

Acha então que o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr foi responsável pelo assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?

É responsável, sim! Não sei se foi ele quem matou o ‘Nino’, mas, diga-me uma coisa, você é Primeiro-Ministro e o Presidente da República chama-o. O que você faz? Vai responder, claro. Da segunda vez que o Artur Silva veio à casa do Presidente (NOTA: Artur Silva era, na altura, Ministro da Defesa. Hoje, é titular da pasta da Educação) disse ‘Sr. Presidente, o Primeiro-Ministro diz que não vem porque não tem segurança’. O Lourenço, que morreu nessa noite, disse o mesmo. O Adolfo Martins, também. Então se o Cadogo sabia que alguma estava para acontecer, porque não contou isso ao Chefe de Estado? As suspeitas recaíram desde logo sobre o Cadogo e as suas manobras nessa noite... Deus me perdoe, mas não tiro as mãos do Cadogo nesse assassinato. Várias vezes fez comentários do tipo ‘não coabitarei com um bandido’ (NOTA: Cadogo disse isto em Cabo Verde). E isso quer dizer tudo. Não posso dizer que foi ele a 100 por cento, mas as suas palavras não deixam dúvidas de que tem quota parte da responsabilidade.

CONTINUA...

Taxista-violador

Um taxista, violou ontem uma menina de 13 anos, junto ao descampado em frente a sede da ONU, em Bissau. Um transeunte que passava ouviu gritos de aflicao e foi acudir. O taxista fugiu mas o bom homem apontou a matricula. Telefonou a mae da crianca e deu-lhe conta do sucedido. Depois, a menor foi levada ao hospital, onde se confirmou que houve penetracao.

No outro dia, pela manha, o 'nosso' homem mobilizou um amigo e ficaram a espera de apanhar o taxista. O que acabou por acontecer. O 'isco', a um sinal, para o taxi e pede que o leve a maternidade. Ali chegados, foi-lhe logo dado ordem de prisao.

Comecou por recusar, mas assim que trouxeram a menina na sua presenca, ela gritou 'Mae, foi este o homem que me fez mal'. Saltaram-lhe para a espinha e deram-lhe tantas, mas tantas que ate nao podiam mais. No meu entender, deviam te-lo capado...

Depois do 'tratamento', foi assistido ali mesmo, e, depois, conduzido aos calaboucos da Policia Judiciaria. AAS

PESCA: aprisionados 3 navios chineses

- Um navio, aprisionado em maio, mais dois no sabado passado, fazem dos chineses os reis no roubo do nosso peixe;

- secretarios gerais dos partidos que lideraram as lutas de libertacao nos paises africanos de lingua portuguesa estao reunidos em Bissau. AAS

RanTanPlan

Desde ontem que a RDP Africa tem estado maluca. Ouvimos a emissao durante 5 minutinhos e depois fica sem pio durante 50 minutos. Hoje, e para o meu contentamento, estou a ouvir...o noticiario da RTP canal 1. Ouvi por exemplo perolas como esta: 'Um dia depois das eleicoes esta tudo calmo'. Esperava-se uma guerra civil, portanto... Mas sempre e melhor do que ouvir os repetitivos - e chatos - noticiarios do canal Africa da radio publica portuguesa. AAS

domingo, 5 de junho de 2011

Coronel Joao Monteiro/Capitulo I: os dias 1 e 2 de março de 2009

DITADURA DO CONSENSO (DC) – Coronel João Monteiro, falemos da noite de 1 e da madrugada de 2 de março de 2009. Vi-o junto ao Hummer, onde se refugiou e depois ficou sem balas. Vi também alguém subir para os seus ombros e levar uma rajada acabando por morrer aí mesmo. O que se passou nessa noite?

JOÃO MONTEIRO (JM) –Nesse final de dia, o Presidente mandou chamar-me para uma reunião das chefias militares, mas como tinha problemas com o pagamento da escola do meu filho Nino (NOTA: João Monteiro deu esse nome ao filho, em homenagem ao Presidente ‘Nino’ Vieira), acabei por chegar um bocado tarde para a reunião. Fui pagar a mensalidade à escola e de seguida fui para casa. Por volta das 20 horas, o Presidente telefona e pede-me que vá a casa dele. Fui, porque eu era funcionário do Estado-Maior General das Forças Armadas. É pena, na altura, eu não estar no corpo de segurança do Presidente. As coisas não se teriam passado dessa maneira.
Quando cheguei, o Lassana Mansandé disse-me então que a reunião tinha acabado e foi ele quem me deu a notícia de que o General Tagmé Na Waie havia sido morto à bomba no edifício do EMGFA. Quando entrei, vi o Presidente sentado no sofá e cumprimentei-o. Estava triste. E disse-me que se tivesse assistido à reunião ficaria a saber quem estava para ali a gesticular... Então, indaguei, porque razão não saiu de casa. Olhou-me nos olhos e disse-me «João, estou cansado de mentiras neste País. No dia 23 Novembro (NOTA: 1ª tentativa para assassinar ‘Nino’) tu é que os vieste tirar daqui. Depois as pessoas foram para as rádios dizer que o ‘Nino’ é que tinha engendrado esse ataque. Se eu sair daqui, hoje, dirão o ‘Nino’ mandou matar o Tagme, o mesmo homem que contribuiu para o meu regresso à Guiné-Bissau. Não saio de casa». Saí então e chamei o chefe da sua Segurança, o Duarte, e perguntei-lhe: ‘como é que é, está tudo controlado?’ Ele responde que sim, que está tudo bem montado. E eu insisto: ‘tens informações seguras?’ Volta a responder afirmativamente. Digo-lhe então: ‘porque não tiram o Presidente de casa?’ Retorquiu que não podiam dizer ao Presidente para sair de casa. E eu, já irritado, quase aos berros: ‘mas vocês é que são da Segurança, a ordem terá de partir de vocês!?’


DC - O que acontece depois?

JM - Passado pouco tempo, entra o mesmo Duarte, e diz ao Presidente que ia sair para ir ter com o ‘Zé’ António (da Segurança do Estado) para providenciarem uma grua para retirar os escombros por cima do cadáver do Tagme Na Waie. ‘Nino’ deu o seu aval. Pouco depois chega o Kalido e o seu Chefe de Estado Maior particular para dizer ao Presidente que fora ao edifício do EMGFA mas a tropa tinha-lhe proibido a entrada. O Presidente disse-lhe que não havia problemas, que esperassem até a manhã do dia seguinte (dia 2) e que ele mesmo iria até lá. O ‘Nino’ vira-se para mim e disse: ‘João, já não sais daqui’. E por lá fiquei. Chegam então os advogados Armindo (Cerqueira) e Osório. Estava em preparação um comunicado.

Para condenar o assassinato do Tagme, presumo.

Sim, para condenar o assassinato do General Tagme Na Waie. E foi aí que o Presidente me disse que mandara chamar o Carlos (Gomes Jr), mas este recusara, dizendo que não tinha segurança. E eu disse-lhe então: camarada Presidente, se não há segurança para o Primeiro-Ministro como pode haver para si? Vamos sair daqui. Voltou a responder calmamente: não saio daqui para lado nenhum. O que tiver que ser, será! Ou seja, ‘Nino’ estava decidido a ficar, custasse o que custasse. Era um militar, um chefe de guerra.

A mulher do Presidente estava em casa nessa altura?

Sim, estava.

Acha que ela aconselhara o Presidente para sair de casa?

Não acredito que o tenha feito. Pelo que notei, ela não tinha intenções de sair de casa. E o Presidente também não lhe disse para sair da residência, pelo menos na minha presença. Chegaram depois o Conduto de Pina e o Cipriano Cassamá (ambos Deputados do PAIGC) e foram sentar-se com a Isabel Vieira. Tive que lhes pedir que saíssem, pois estávamos a trabalhar. Nisto, liga-me o Jomav (José Mário Vaz, o Ministro das Finanças). Diz que me queria ver com urgência e eu digo-lhe que estou na casa do Presidente mas que me dissesse onde nos podíamos encontrar. Disse então que assim sendo, ver-nos-iamos amanhã (dia 2). O Presidente perguntou-me quem estava ao telefone e eu disse-lhe que era o Jomav e ele mesmo pegou no telefone e falaram os dois. Contudo, posso dizer-lhe que o Jomav nada nos adiantou, mas lá foi dizendo que queria era falar comigo. Não sei que informações tinha o Jomav, só ele saberá. A Isabel não o aconselhou a sair de casa. Quando o ‘Nino’ se despediu, dizendo que ia dormir, disse-lhe que dormisse na sala mas ele recusou... Teria morrido lá, naquela sala, em virtude do obus da RPG7, que atravessou o muro e explodiu na sala (NOTA: foi esse projéctil, o primeiro dessa noite, que feriu gravemente o Barnabé Gomes assessor de imprensa do Presidente da República). O Presidente foi então descansar para o quarto anexo à copa, deixando, no outro lado da casa, os advogados a trabalhar nesse comunicado. Ainda bem que assim foi, caso contrário teriam sido atingidos.

E depois disso?

Depois, fui sentar-me na varanda, mais o Biagué. E de repente chega o Adolfo (Protocolo), a gritar para a Isabel Vieira «senhora, senhora, estão a disparar, o pessoal de Mansoa está a disparar contra a casa». Digo-lhe então: então tu passas por nós e vais avisar a senhora de que há gente a disparar? Mas o que se passa, afinal? Nisto, o Presidente sai do quarto e entrega-me uma kalashnikov – estava lá o Fernando ‘Paris’ - mas no estojo só estavam dois carregadores, em vez de três no estojo e um na arma (NOTA: o estojo tradicional da AK47 leva três carregadores de 30 tiros, mais 30 na arma o que perfaz um poder de fogo de 120 tiros). O Carlos Biagué pegou numa RPG7, um outro alguém também saiu de lá com uma basuca.

Já estava tudo aos tiros, depois do disparo de obus da RPG7

Sim, e digo então ao Carlos que me deixe sair primeiro, com rajada, e assim teria tempo para sair com a RPG7. lembro-me que tinham, cada um deles, seis obuses. É poder de fogo o suficiente para causar muito estrago e, talvez até, abortar o ataque. No primeiro recontro, recuaram, fugiram mesmo, posso dizê-lo. Contudo, uma luz da residência cansou-me. Não previ que esse foco de luz lhes permitisse vislumbrar a minha pessoa, o que acabou por acontecer. A pessoa que você diz que viu cair morto, foi o Lourenço. Caiu redondo, morreu logo ali. Quando apanhou, ainda gritou dizendo ‘João, acertaram-me’. Eu entretanto já tinha sido atingido mas não lhe tinha dito nada...

Coronel, a Segurança do Presidente falhou. Quando Tagme foi morto, o Presidente devia ter sido evacuado para um local seguro. Ou não é assim?

É assim mesmo que devia ser. Mas eu não tinha poder nenhum sobre a Segurança, e o Presidente não quis sair de casa. Aliás, eu dispunha de informação que dava conta de que Carlos Gomes Jr sabia mais qualquer coisa... aliás, a mulher de ‘Nino’ até comentou ‘João, ouviste, chamaram o Cadogo mas ele recusou vir!’. O Presidente gritou então com ela, dizendo-lhe que saisse da sala. Posso mesmo dizer que a Segurança do Estado não estava alheada de tudo. Pelo contrário, sabiam de tudo!

Tagme Na Waie foi assassinado às 19 horas do dia 1, e ‘Nino’ Vieira horas depois, na madrugada do dia 2. Você estava lá e quero perguntar-lhe isto: reconheceu alguém, do batalhão de Mansoa?

Não, ninguém. Aliás, quando saí para a rua, disparei ao acaso porque não vi ninguém.E fiquei junto ao Hummer (que é blindado), e só via as balas a baterem na chapa e no vidro do jeep. Se ficasse lá, ninguém teria entrado. Mas acabei por ficar sem balas (tinha apenas 60).

O Lourenço morre logo depois...

Sim, foi quando se apoiou nos meus ombros para saltar o muro e levou um tiro na cabeça, caindo morto. O Carlos Biagué, nunca mais o vi. Ligou-me depois, quando eu já estava nas Nações Unidas, a dizer que pensava que eu estava morto. Ele já se encontrava na embaixada da Líbia (NOTA: A embaixada da Líbia fica numa esquina do quarteirão onde ‘Nino’ residia), em segurança.

Chegou a ver o Tcham na Man na residência do Presidente nessa noite?

Não, já lhe disse que não reconheci ninguém a não ser vultos. Mas a mulher do Presidente disse-me, no hospital Principal, em Dakar, que viu o Tcham na Man. Disse-me assim: ‘João, posso não conhecer mais ninguém, mas reconheci o Tcham Na Man’. E começou a chorar. Aly, quando fui para as Nações Unidas, digo-te com franqueza, desconhecia se ‘Nino’ Vieira estava vivo ou morto. Pensei até ‘se o apanharem não o matarão’.

Como escapou até chegar às Nações Unidas?

Antes ainda, estive com o Adolfo e com a Palmira (irmã da mulher do Presidente) e com uma menina, dentro de casa. O Barnabé disse-me ‘João, vou morrer’. Aconselhei-os a saírem perto da bilha de gás, a protegerem-se. A Palmira agarrou-me e disse ‘João, vais morrer, foste atingido, estás cheio de sangue’. Os advogados, talvez com o pânico, ‘protegeram-se’ junto a umas caixas de cartão... meti-os num sítio seguro e subi então para o telhado, para junto do depósito de água da residência, sempre com a minha kalashnikov, a ver o tiroteio, mas sem poder disparar porque entretanto tinha ficado sem munições...foi angustiante. A bala que me atravesou as costas de uma ponta a outra, estava a deixar-me inconsciente. Perdi imenso sangue. Lá consegui meter-me num buraco.

E depois?

Depois liguei para o Afonso, que me disse que não vinha porque estava tudo cheio de militares. Pouco depois liga o Dickson (actual director do gabinete do Presidente da República). Diz que me tentou falar durante toda a noite. Digo-lhe que fui atingido. Então, ele disse que ia imediatamente para as Nações Unidas. E assim foi. Liga-me um primo, coordenamos e veio então um carro das NU, que foi recebendo uns sinais, e retiraram-me dali. Houve inclusivamente uma nigeriana, da ONU, que gritava dizendo «quem disparou na casa do Presidente não pode entrar cá!», mas foi logo demovida por um outro funcionário, um brasileiro, que lhe disse «este senhor é coronel e estava a defender o Presidente». Foi assim que lá fiquei, depois de levar seis tiros! Foram precisos quatro sacos de plasma, sangrei das 3 às 7 da manhã...

Constou-me que quando estava na ONU, alguém mandou buscá-lo. Quem foi que deu essa ordem, e porquê?

É a verdade. Pela calada da noite, chegaram militares da Marinha à sede das NU com ordens do Zamora Induta para eu ser levado para o hospital Simão Mendes por, segundo eles, lá ‘haver mais condições’. Dizem-lhes que eu não arredo pé da sede da ONU. Debandaram. No dia a seguir, o Raimundo Pereira (presidente da ANP) liga a dizer que eu devia ser avacuado ontem para Dakar mas que não houve lugar. Transmitiu-me a mensagem do Presidente do Senegal, Abdou Diouf, em como tudo ia ser feito para eu ficar em segurança. Agradeci. Pouco depois liga a Isabel a contar que querem sepultar o ‘Nino’ na Fortaleza da Amura. Disse-lhe que os deixassem fazer isso. Lá é que é o seu lugar. Ela diz então que acabara de cometer um erro... Recusara a opção Amura e estava já tudo pronto para o funeral se ralizar no cemitério municipal de Bissau.

Do que falou com o Presidente da República, Malam Bacai Sanha, em Dakar, sobre o assassinato do Presidente ‘Nino’ Vieira?

O Dickson telefonou-me a dizer que Malam Bacai Sanha queria ver-me, e eu respondi que me deixassem em paz, que ainda estava magoado. Ele insistiu, e eu fui. Cheguei ao hotel, e o Presidente abraçou-me. E depois garantiu-me que ‘seria feita justiça à morte do ‘Nino’. Ainda que tenha de morrer, tem de ficar tudo claro’, afiançou Bacai Sanha. Eu respondi que seria óptimo. Quero saber quem matou o Presidente e porque o fizeram. Disse-lhe que aquilo foi um acto de covardia!

Voltemos a essa madrugada, na residência do Presidente. Quem fechou à chave a porta do quarto onde ‘Nino’ Vieira estava?

Alguém disse-me que foi o Fernando ‘Paris’, mas este diz que não foi ele. Certo é que estavam lá duas pessoas... A Isabel disse-me até que o Presidente tinha vestido um colete à prova de balas, que tinha o estojo de munições à cintura e a sua AK 47 na mão. Foi assim que chegaram, e, com um pé-de-cabra, começaram a forçar a porta do quarto. Disse então à Isabel ‘eles vão matar-me, vai para dentro’. Assim que entraram, o Presidente disse-lhes que a senhora (Isabel Vieira) apenas tinha vindo para casamento e que nada tinha a ver com política, que a deixassem em paz. Um militar disse qualquer coisa e o ‘Nino’ mandou-o calar. Disparam logo uma rajada, mas como ele não morreu, acertaram-lhe várias vezes com uma barra de ferro. Depois, esquartejaram-no. Estou a contar-lhe exactamente aquilo que a Isabel Vieira me contou, também em Dakar.

E a Isabel Vieira foi depois ‘vendida’ ao próprio irmão, por 50.000 fcfa (menos de 100 euros)...

Sim. Tiraram-na de dentro dizendo que iam levá-lo ao Estado Maior, mas ela recusou, dizendo que a matassem juntamente com o seu marido. Então, perguntaram-na: onde é a casa dos teus familiares? «Dê-nos 50.000 fcfa e deixámo-la ir, de qualquer maneira o pessoal está lá dentro a beber». E foi assim que bateram à porta do seu irmão, Isidoro Romano Vieira, no cimo da rua de Angola. Este, a princípio, tinha relutância em abrir a porta, acabando por fazê-lo, resgatando assim a sua irmã.

Já lhe extraíram todas as balas do corpo?

Todas. Tenho um estilhaço no corpo (NOTA: facto confirmado pelo editor do Ditadura do Consenso). Não regressei ainda porque não sei o que se passa no meu País. As pessoas dizem-me não venhas ainda por causa disto ou daquilo. Não quero rgressar para o confronto. As pessoas estão cansadas, a Guiné-Bissau está cansada
CONTINUA...

sábado, 4 de junho de 2011

Entrevista a Joao Monteiro: o que aconteceu nos dias 1 e 2 de marco de 2009

Agora sera de vez. Acabei, hoje, de desgravar a entrevista do Coronel Joao Monteiro. Foram varias horas colado ao monitor, noites fechado em casa. Mas valeu a pena. Contudo, ou nao estivessemos na Guine-Bissau, tinha que haver uma e outra manchas. Tentativas frustradas de aliciacao e de intimidacao que a mim nunca fizeram vacilar. Houve entrevista; ha que publica-la, penso assim.

Assim, a partir da noite de domingo, ira para o ar o primeiro de varios capitulos. Para ja: o que aconteceu na noite de 1 e na madrugada de 2 de marco de 2009? Um a parte: Joao Monteiro chegou a residencia do Presidente pouco antes das 20 horas e por la ficou, tendo levado 6 tiros. Uma conversa interessante, um documento importante.

Outro a parte: nao entrevistei Joao Monteiro para saber do seu percurso ou de coisa que o valha. Entrevistei-o porque interessava ouvir tudo aquilo que Joao Monteiro tinha vivido nessa noite. Queria factos, e tive factos. Ha ja muita gente excitada, sem dormir, mesmo antes de a entrevista ir para o ar. E devem ter motivos para isso... AAS

Helder Proença - 2 anos de saudade

VIAGEM DE SEPARAÇÃO

Estava uma manhã calma e sombria

Pela rádio ouviam-se músicas tristes

O tempo transmitia a dor

MEU IRMÃO, andei te procurando

Nessa manhã que nunca mais esquecerei

Tinha esperança de poder falar contigo mas,

A minha esperança,

Desfaleceu no hospital

Onde vi a multidão

Com rosto de tristeza, revolta e interrogação

Dizendo:

“Hélder Proença”

MEU IRMÃO, queria te poder abraçar

Mas não pude

Queria ficar ao pé de ti

Mas ali não era a tua casa

Onde chegava à qualquer hora

E entrava

Estavam pessoas fardadas a guardar-te

No lugar onde te encontravas

A dor, a dor é grande para cada um de nós

As balas cravadas no teu peito

Deixa uma ferida enorme em nossos corações

E grande sofrimento

“Yu” o que me dá forças

Quando vejo os teus filhos sós

E a tua mãe prostrada

Isso renova as minhas forças

Para lutar que esta família seja como sempre desejaste

“Yu” estamos com saudades

Saudades de tudo

Quero te dizer que o teu nome ficará gravado

Na História

E nunca serás esquecido

Nesta Pátria onde lutaste

Para que exista um Estado soberano

E de direito

Testemunhará um dia….

Descansa em paz meu IRMÃO

A Bíblia diz:

“Amanhã a justiça pertence ao Senhor nosso Deus”

“Guiné, mama Guiné, Guiné di nós

No panta, no na punta i ké

Kudinu

Bu sinanu Kuma

Bianda na kabas i ka só pa un alguin

Tudo kin ku tchiga na ki hora,

I pudi kumel

Kila i balur di ermondadi

Manga di kussas

Bu sinanu Guiné

Ma n’bes di iagu kurri

No na odja sangui na kurri na tchon malgós

Ka bu panha raiba

Ka bu viranu kosta

Bambunu ku kil bu bambaran pa nó pudi diskansa na paz”



“Em Homenagem ao nosso saudoso irmão HELDER PROENÇA”

“YU”

27 de Junho de 2009

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Director-Geral da televisao publica exonerado por desvios de fundos

Eusebio Nunes, director-geral da televisao da Guine-Bissau (TGB), foi exonerado do cargo por desvio de fundos doados pelo Reino do Japao para a compra de equipamentos: cerca de 60.000 euros.

Para o seu lugar vai Luis Domingos Barros (filho do coronel Domingos Barros, assassinado no mesmo dia que o general Verissimo Seabra), que ate aqui ocupava o cargo de director de gabinete da ministra da Presidencia e da Comunicacao Social, Adiato Nandigna.

O Conselho de Ministros diz que vai abrir um processo disciplinar contra o ex-director-geral.

Vergonha! A outra vergonha: durante todo o dia vemos a TPA e nao a TGB... AAS

terça-feira, 31 de maio de 2011

Chove e troveja em Bissau. AAS

Liberdades

O Ministerio Publico guineense nao encontrou "indicios suficientes para considerar as acusacoes de crimes contra a seguranca do Estado", e mandou arquivar o processo que pendia sobre varios oficiais das nossas forcas armadas e da seguranca assim como cidadaos comuns. Na alegada tentativa de golpe de Estado, recorde-se, foram assassinados Helder Proenca, Baciro Dabo e mais dois cidadaos anonimos.

Faustino Imbali, Verissimo Nancassa, Sandji Fati, Joao Monteiro, Daniel Gomes, Marciano Barbeiro, Conduto de Pina, Afonso Te, Roberto Cacheu haviam sido acossados pela famigerada Seguranca de Estado de tentativa de golpe de Estado. Hoje, muitos ainda estao longe da sua terra e dos seus familiares.

Entretanto, nao ha quem pague as quatro vidas que se perderam, nem a dor que os seus familiares sentem... E, ainda assim, passados quase dois anos nada de Justica. AAS

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cultura esta de luto: morreu 'Nene Tuty', um dos virtuosos da musica moderna guineense. Que descanse em paz. AAS

Agora estou confuso...

... Ate ja compreendo o Cadogo. E entendo o Bacai... (Bom, mas deve ser do 1 de junho). AAS

"Quem nao compreende um olhar, tao pouco compreendera uma longa explicacao". Mario Quintana

Duas (sobre avioes- seus marotos, estavam a pensar em que?!)

- Voo Lisboa/Bissau

Um cidadao guineense, que pagou bilhete na classe executiva da TAP no voo desta madrugada...foi simplesmente 'atirado' para as filas de tras da classe economica, porque "o sr. Primeiro-Ministro e comitiva" deviam estar na classe executiva.

A neocolonialista TAP la se envergonhou e...borrou ainda mais a pintura: tiraram o passageiro das filas de tras e puseram-no la a frente, ou seja...na primeira fila da classe economica. Vergonha. Havia de ser comigo...

- Voo Dakar/Bissau

Este cidadao guineense, eu mesmo, assistiu a esta cena no Boeing 757-200 no dia em que regressou de Dakar. O atraso, ainda que ligeiro, desse voo tinha o seu porque; o PR Malam Bacai Sanha regressava tambem a Bissau ainda que as nossas 'mistidas' estivessem nos antipodas. Um representava oficialmente o Estado, enquanto que o outro (eu), representava o Estado oficiosamente.

Passado um bocado, vislumbrei uma grande azafama vinda da zona onde se situa o salao VIP: Dezenas de pessoas, segurancas do Estado senegales, e, na frente, alto e de fato e gravata, Malam Bacai Sanha e esposa. O bonito vinha depois.

Ja dentro do aviao, a cantilena do costume: gestos quase automaticos indicam-nos por onde sair em caso de acidente, como vestir e activar o colete, donde cai a mascara de oxigenio. Futilidades no que a mim diz respeito: e que, detesto avioes.

Mas agora nao terei outro remedio senao passar a adorar avioes. Ama-los mesmo. O contrato que assinei em Dakar, 'obriga-me' a voar muito - quatro ou cinco paises por mes, todos os meses. Aviao, adoro-te! Mas nao me fo#*¥...

Bom, mas voltando a nosostros: todos sentados, o PR e esposa lado a lado na classe executiva. Eu, ze pobrinho como os demais, la atras. Lundju! Ainda assim, e gracas ao Consul da Guine-Bissau em Dakar pude cumprimentar o PR e esposa e trocar umas impressoes breves mas afaveis com o Chefe de Estado guineense.

E e entao que passa uma voluptuosa hospedeira dos TACV (confesso que desde que cruzamos o olhar nao mais parei de olhar para... ela). Estava a fazer a habitual revista do cinto e do encosto da cadeira.

Do lado oposto ao meu, a ajudante de campo da 1a Dama. So ela trazia tres malas ao colo. A hospedeira arregalou os olhos e disse "a sra nao pode levar essas malas todas na descolagem. E ainda traz uma no chao?." A sra decidiu responder - "sao da 1a Dama", disse.

Calmamente, a hospedeira tirou-lhe as malas todas, e deu-lhe o troco: "Primeiro, a seguranca; depois, a primeira-dama". E arrumou tudo num dos compartimentos. Nao foi um desrespeito para com a pessoa da primeira-dama, nao. Dura lex sed lex. AAS

sábado, 28 de maio de 2011

Voar baixinho

O guineense tem tudo para dar errado. Ponto. E, justiça lhe seja feita, as coisas ate que não lhe correm mal. Melhor, correm de feição. Hoje será história, mas passou-se mesmo. Ontem, no aeroporto Osvaldo Vieira.

Um alto oficial do Ministério do Interior de apelido Embaló, ocupou o seu lugar no voo da companhia de bandeira de Cabo Verde - a TACV, com destino a Dakar. Os procedimentos de segurança foram (são sempre) cumpridos com o avião já em movimento. O preguiçoso e trepidante pássaro lá se arrastou para sair da placa. Mas era agora que o espectáculo ia começar.

Sentado no seu lugar, o 'nosso' oficial permanecia oficial, mas, e não fosse ele um guineense pantomineiro, queria parecer ainda mais oficial que os demais passageiros. Impressionar no mau sentido. Criston matchu, son bagatela na terra di djinti!

E enquanto o aparelho abandonava a placa, o homem lembrou-se de... fazer um telefonema. E fê-lo. tic-tac-toc; e está em linha. Quando o viram ao telefone pediram que desligasse o aparelho imediatamente. Lá vai serpa... Blá blá blá... O senhor faça o favor de desligar o telefone porque esta a pôr em perigo a navegação. La vai Serpa, la vai Moura...

Incapazes de repôr a ordem no aparelho, o Comandante decide regressar ao ponto de partida. Autoridade chamada, o Embaló foi convidado a sair do avião. A policia e a tropa quiseram levá-lo, mas um sobrinho, que é funcionario no aeroporto e - olha que coincidência - também é sobrinho de um dos directores do aeroporto... convenceu-os a fazerem o contrário.

O Comandante do aparelho é que não foi de modas: neste voo o senhor não vai. Ou seja que os malcriados voam mas baixinho. E, com alguma sorte, e uma vez que a merece por inteiro... nunca mais voará na companhia TACV. Ter-se-á feito Justiça.

Acho até que esse oficial terá pensado deliberadamente no seu acto. Pensava que a sua atitude 'impressionaria' os outros passageiros, e alguns destes (aposto que muitos mesmo) por sua vez pensarão tratar-se de alguém importante, com poder. Mas não. Resumindo e concluindo, tratou-se pura e simplesmente de um acto de ignorância, que bem podia ter custado muito caro... As pessoas não sabem mas estão onde não deviam estar... AAS

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quase

Anda tudo doido. Só pode. Desde que disse que tinha uma entrevista com o Coronel João Monteiro que não tenho parado de receber chamadas a perguntarem-me "então, quando sai?". Sairá - tem sido a resposta.

Muita gente deve estar a tremer por todos os lados. Também os entendo - só não os percebo. E a idea é mesmo essa: fazê-los tremer que nem varas verdes enquanto a 'bomba' não chega. Tremam! Ma abós I matchus, i ka sim?...

Mas eu entendo os dois lados... Só espero que me entendam também. Desgravar uma entrevista de - neste caso - quase duas horas tem o seu senão. A entrevista foi feita em crioulo e há que passá-la para o português. Mais. Ela obedece a datas. Como gravamos duas vezes, temas houve que voltaram a ser tratadas. Outras foram revistas.

Uma coisa é certa, o Coronel não fugiu a nenhuma questão. Senti verdade e sinceridade nas suas respostas. "Temos de pedir desculpas ao nosso País" - disse a dada altura, recordando um ancião guineense que falara para uma audiência de mais de cem pessoas na conferência de reconciliação que teve lugar em Dakar na semana que passou.

Continuarei a desgravar e a arrumar tudo cronologicamente. Leva o seu tempo mas - acreditem - valerá a pena. A reconciliação dos guineenses está, também, a passar por aqui. AAS

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Entrevista a João Monteiro: tópicos

Do que falaram José Mário Vaz, João Monteiro e 'Nino' Vieira no dia 2 de Março de 2009, ao telefone? N'na bim nam... AAS

Ah, palmeiras, palmeiras!...

... Ora, adivinhem lá: quem foi que caiu das escadas do avião no aeroporto de Dakar? N'na bin konta bôs dispus. Foto tem!... AAS

sábado, 21 de maio de 2011

Justiça e ausência

É de singular justiça referir que o PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, custeou as despesas de viagem e instalação dos delegados que vieram dos países africanos para assistir à conferência de Dakar. Aliás, tanto o PNUD como a UNIOGBIS enviaram representantes para a conferência. Os restantes 50% das despesas (sala para os 3 dias da conferência e coffee break) foram custeados pelo empresário guineense Verissimo Nancassa.

O que foi comentado - pela negativa - foi a ausência do Presidente da ANP, Raimundo Pereira, nos trabalhos de hoje, ainda que esteja em Dakar. O presidente da ANP, segundo uma fonte digna de crédito, ficará a descansar... deve ter mesmo muito trabalho, o homem... AAS

"Reconciliação pouco transparente"

Bom dia Aly,

Fiquei muito satisfeito por saber que está em Dakar para acompanhar a conferência mal intitulada "Conferencia para a Paz e Reconciliação" que exclui um país (Cabo Verde) com um numero significativo de emigrantes e bem organizados em todos os sentidos e muito atento ao que passa dia a dia no pais.

Sentimo-nos excluídos, ignorados e estamos muito indignados pela forma como a comissão organizadora conduziu o processo da selecção dos delegados à conferencia de forma pouco transparente dando entender que há gatos pretos no meio de tudo isso.

Lamentamos profundamente esta atitude que deixa muita dúvida sobre a seriedade desta reconciliação tão importante para o nosso país, pois se estamos a falar da reconciliação trabalhando desta forma, acreditem que estamos a desperdiçar o dinheiro do empresário Veríssimo Nancassa para regar conflitos e ódios condenando o futuro do pais ao abismo.

A nossa comunidade vai continuar a trabalhar para ajudar o país a sair da situação a que se encontra e vamos exigir como cidadãos que somos, a comissão organizadora uma explicação por este facto como forma de combater os maus hábitos que põem em causa os interesses da nação e procuraremos formas de apresentar as soluções que tínhamos apontados para a conferencia ao governo da Guiné-Bissau.

Desejamos que a conferencia tenha êxito e que sejam discutidos os problemas do fundo, cujos objectivos hoje não recai sobre os erros do passado, mas sim sobre as ideias e soluções que sustentem o futuro.

Agradecia muito se possível que esta mensagem seja apresentado aos delegados na sua intervenção, servindo como porta voz autorizado desta grande comunidade deixado ao esquecimento.

Muito obrigado e até próxima.

LIONEL LONA SAMBÉ
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS GUINEENSES RESIDENTES EM CABO VERDE

EXCLUSIVO: Coronel João Monteiro em discurso directo, depois de ter levado 6(!) tiros...

Na próxima semana, Ditadura do Consenso publicará uma entrevista exclusiva com o Coronel João Monteiro. O que aconteceu na noite de 2 de Março de 2009? Quem trancou à chave a porta do quarto onde 'Nino' estava? Quem João Monteiro viu nessa noite fatídica? O papel de Carlos Gomes Jr nessa noite? E da Sra. de 'Nino', Isabel Romano Vieira? Como João Monteiro e 'Nino' Vieira se conheceram? Como e o porquê da guerra de 7 de junho de 1998? A influência de Portugal nessa guerra? E Zamora Induta, que retrato se lhe faz?

Uma entrevista de 80 minutos, a não perder. AAS

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Reconciliaçon na sabi

Teve início hoje, em Dakar, dirigido à diáspora da sub-região, a Conferência Nacional para a Consolidação da Paz e Desenvolvimento. Numa coisa parece que estamos de acordo: os guineenses são muito, mas muito mais organizados fora de portas.

Presentes, o Presidente e o vice-Presidente da ANP, Raimundo Pereira e Serifo Nhamadjo respectivamente; várias representações diplomáticas com destaque para o reino de Marrocos, da Santa Sé (Vaticano). O Senegal fez-se representar pelo Sr. Dudu Wade, líder da bancada parlamentar do PDS senegalês - o 'tanque de guerra" de Abdoulaye Wade

Depois da abertura solene, da parte da manhã, toda a tarde foi preenchida por intervenções dos presentes, destacando-se a do Coronel Afonso Té: "Deixem de nos mentir e contem a verdade". A sala abanou-se. Afonso Té, visivelmente emocionado, disse o que lhe ia na alma. Contudo, espera-se, amanhã, pela intervenção de outro Coronel - João Monteiro: o homem está com ganas...vou ouvi-lo e gravar tudo... Eu mesmo conto intervir amanhã. É que também tenho umas verdades para contar!...

Nos agradecimentos, um nome saltou cá para fora: Verissimo Nancassa. Patrocinou quase tudo, ou mesmo tudo: a sala para a conferência, o coffe break, alojamentos para vários delegados à conferência. Foi bonito ouvir do próprio Presidente da ANP, os agradecimentos a este cidadão guineense que ajuda tudo e todos sem esperar nada em troca.

Gostei da música da Conferência, cuja letra foi escrita...por um oficial do exército guineense e cantada pelo Zé Manel Forbes. Amanhã, conto-vos mais. Agora...discoteca King's!... AAS

quinta-feira, 19 de maio de 2011

N'tchomau lundju

Gosto de Dakar. Ponto. Da cidade, do reboliço da cidade. Gosto sobretudo das suas mulheres - altas e esguias que nem palmeiras. Dakar encanta-me. Elas também. Espero passar bem. E que me partam os ossos todos se puderem. Aliás, gostava de aterrar em Bissau todo engessado. Tipo uma múmia envolto em ligaduras. E gosto - ui, se gosto - quando elas me lançam o olhar. Olham, comem-nos com os olhos e não afastam o olhar por nada deste mundo. E quando sorrio, desarmo-as. Sorriso pepsodent ou lo que sea... E meto conversa apenas por meter. Respondem educadamente. Sentimo-nos bem depois disso.

Cheguei a Dakar por volta das 13:30h, depois de uma aterragem de merda num avião a hélices (um ATR 72 - avion de transport régional). Foram buscar-me ao aeroporto e instalaram-me na residência Marrakech, uma vila no centro das Almadies, com tudo, mas tudo e... uma senhora piscina no 1º andar e coisa e tal. Luxos...

Agora, a senhora TACV. Então um gajo paga duzentas e tal mocas por 2 horas de viagem (Ida e volta)...e só nos dão um copo de sumo? Onde é que está o respeitinho, pá?! Vou regressar a Bissau certamente pela TACV, mas assegurar-me-ei de, no futuro, voar apenas com a Air Senegal (ouvi dizer que dão matabicho...)

Pois bem. Estou em Dakar a convite de uma empresa - que vai lançar uma revista temática - para dar formação aos seus futuros colaboradores. Com certeza que vou adorar. E darei o meu melhor - outra coisa não seria de esperar. A lição está bem estudada: n'ka ta foga na kambletch! O País não me dá o devido valor? O País vizinho encarrega-se disso... E eu aceito, e agradeço. E vou retribuir, com a minha capacidade e experiência de muitos anos de profissão, sendo que três foram passados como director de um jornal.

Amanhã, em Dakar, espreitarei o primeiro encontro com a diáspora guineense radicada nesta metrópole desorganizadamente organizada, sobre a reconciliação nacional (a nossa, claro!). Encontro esse que terá lugar no mesmo hotel onde se cozinhou aquilo...aquilo que fez com que o 1º Ministro apresentasse uma queixa contra 'n'dji propi'... Pena, pena é o Cadogo Jr não estar. I na panha bento na Timor ku kil ministru tataflu.

Almocei (às 16h) no J'Go e jantei mesmo ao lado - um hamburguer que sabia a quinino e que por isso mesmo ficou no prato. Agora, estou de volta à minha vila privada. Estou sentado na enorme sala, com a televisão plasma desligada (comme il faut). Faz falta um scotch e um charuto. Podia ser um Hemingwai Short Stories, fumado à beira da piscina, acompanhando com a vista o grosso rolo de fumo. Está tudo calmo. A noite está um bocado fria. E não há tiros... Kila ka tem pali! Djinti finu ka ta guerria...

Agora, vou tomar um banho de água quente e enfiar-me na cama. Amanhã começa a formação. No que de mim depender, essa revista será um sucesso!
Quem sabe, sabe. E o Aly sabe-a toda... AAS

ÚLTIMA HORA: Processos dos assassinatos de Hélder Proença e Baciro Dabó estão concluidos. E vão para a gaveta... AAS

Dakar... AAS

terça-feira, 17 de maio de 2011

Nafisatu Dialo, a suposta vítima de abuso sexual, sabia que Strauss-Kahn era importante, diz o 'Le Figaro'

A empregada do hotel nova-iorquino que denunciou por tentativa de violação o director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, sabia que o economista e político francês era uma personalidade importante, segundo o jornal parisiense "Le Figaro", que destaca que a direcção do FMI havia colocado uma foto de Strauss-Kahn numa área de acesso restrito aos funcionários do hotel onde ele estava hospedado, para alertá-los de que se tratava de uma pessoa de renome.

O jornal cita declarações de uma empregada que diz não conhecer Strauss-Kahn nem sabia qual o seu cargo à frente do FMI, apenas que era um "VIP (sigla em inglês para pessoa muito importante)" de origem francesa. O "Le Figaro" indica também que a suposta vítima, uma imigrante africana de 32 anos, francófona, procedente da Guiné-Conacry, mãe solteira de uma adolescente e que vive no distrito do Bronx, era conhecida como Ofélia, mas seu verdadeiro nome é Nafisatu Dialo.

A mulher, de cerca de 1m80 de altura, segundo o jornal, mudou-se para Nova York no ano passado, e possui uma autorização permanente de residência nos Estados Unidos. A primeira pessoa para a qual ligou depois da suposta agressão, segundo a emissora "Europe 1", foi ao seu irmão, a quem aparentemente disse, sem parar de chorar, que havia acontecido "algo grave".

O homem, que desmente que Dialo soubesse que se tratava de Strauss-Kahn e que diz que "jamais a havia escutado" tão abalada emocionalmente, informou à rede de televisão que a sua irmã "é uma boa muçulmana", e que desde que o escândalo foi revelado, "está escondida" noutro local em Nova York. Strauss-Kahn, por sua vez, está em prisão preventiva no complexo penitenciário de Rikers Island, onde ficará pelo menos até sexta-feira, data da sua próxima audiência judicial.

Recorde-se que a juíza encarregada do caso, Melissa Jackson, negou na passada segunda-feira o pedido de fiança de 1 milhão de dólares solicitado pelos advogados do político e economista francês, por considerar que ele "poderia fugir do país". AAS

ÚLTIMA HORA: Mulher que alegadamente sofreu tentativa de violação por parte do director-geral do FMI, é da Guiné-Conacry, e vive no Bronx. AAS

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Desmontando Cadogo

O 1º Ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Jr., disse à RTP e à Agência LUSA que a Guiné-Bissau "não é um narco-Estado" - desmentindo assim o que foi dito na reunião do Grupo dos 8 + a Rússia: "A Guiné-Conacry, o Senegal, a Guiné-Bissau e Cabo Verde", são os principais narco-estados de África".

Pois bem. O Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau não disse a verdade. Melhor: mentiu. A Guiné-Bissau é um narco-Estado, sim! - e talvez mesmo jogue a ponta de lança nesse negócio da morte e auto-destruição. Fica mal a um PM sacudir a água do capote.

A cocaína existe em proporções bíblicas. O barco 'Lamu Star' - que o próprio PM mandou soltar é um exemplo vivo de que, para além de haver droga, lá no alto do Estado, alguém dá cobertura a poucas vergonhas desta natureza... AAS

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Makas na MISSANG ‘devolvem’ adjunto a Luanda

O comandante adjunto da Missão de Segurança das Forças Angolanas na Guiné-Bissau (MISSANG), brigadeiro Manuel Flora, terá sido recambiado para Angola na sequência de desacatos com um subordinado, coronel, na via pública daquele país africano, soube O PAÍS de uma fonte militar. O oficial general, segundo uma fonte de O PAÍS nas Forças Angolanas, teria vindo a Luanda, esta semana, pela mão do chefe do EstadoMaior General Adjunto, general Jorge Barros “Guto”. A altercação terá acontecido na via pública com um coronel da missão militar angolana na Guiné-Bissau.

Aquando da instalação formal desta missão das FAA na Guiné-Bissau, dois jornalistas, o autor destas linhas e o colega da Angop, tiveram uma conversa com dois sargentos da Polícia Militar angolana que reclamaram de um alegado mau tratamento que lhes estava a ser “brindado” pelos seus superiores hierárquicos, consubstanciado em ofensas morais, e, na altura, falou-se mais do comandante da missão.

Foi aventada, na altura, pelos militares, a possibilidade de alertar o general Cândido Pereira Van-Dúnem, mas a ocasião nterá favorecido uma abordagem ao ministro da Defesa. Segundo fontes deste jornal, haveria mesmo o desejo dos militares, sargentos e soldados, de procurarem manifestar o seu descontentamento por via dos órgãos de comunica ção social angolanos que lhes dêem abertura para tal. Entre as reclamações ouvidas na Guiné-Bissau constam ainda o facto de não ter sido comunicado aos militares o tempo a permanecer por lá, os salários e subsídios a que têm direito, o tempo de férias, bem como a falta de comunicação com as respectivas famílias.

“Sabemos que tudo está tratado, mas está a faltar comunicação” disse um dos militares. Segundo o relato do militar angolano, a maior parte dos efectivos da missão tinham formação em operações de manutenção de paz, tendo alguns sido escolhidos para participar em várias acções formativas no âmbito da SADC.
Segundo uma fonte na Polícia Militar, os crimes de ofensas morais e físicas são puníveis, nos termos do regulamento de disciplina militar em vigor nas Forças Armadas Angolanas, com penas de prisão.

O brigadeiro Manuel Flora é um militar que pertenceu aos quadros da Direcção Principal de Quadros do Ministério da Defesa ao tempo das extintas FAPLA, onde iniciou a carreira com a patente de aspirante. Por altura da constituição do exército nacional único chefiou a Direcção de Pessoal e Quadros do Exército do Estado-Maior General das FAA, mas , segundo as mesmas fontes, caiu nas malhas de um processo de corrupção na gestão do pessoal com ligação às finanças que o relegou para o esquecimento durante longos anos, tendo sido reabilitado com a sua nomeação para chefe adjunto da MISSANG.

Naquele então chefiava o Estado Maior do Exército, o general Mateus Miguel Ângelo “Vietname”, actual vice-ministro da Assistência e Reinserção Social. A fonte não pôde precisar qual o procedimento a ser seguido em relação ao oficial general.
A MISSANG é um destacamento militar angolano de pouco mais de 200 homens que tem a tarefa de ajudar o exército guineense a reformar as Forças Armadas da Guiné-Bissau, assim como as de segurança, que foi instalada formalmente em Abril último.
O País espera poder publicar uma reacção oficial, sobre este assunto, na próxima semana, a partir de Bissau.

Jornal «O País», Eugénio Mateus

Angolano da MISSANG queria um Renault, mas não queria pagar

MAIALA NELSON é um militar do contingente militar angolano, em Bissau, a MISSANG(as). O nosso camarada de armas, o Maiala, enamorou-se por um Renault Kangoo branco. Um carrito para as voltas em Bissau, talvez para levar a namorada ao Bandim, ou a Quinhamel para umas ostradas.

Do enamorar até convencer o proprietário do carrito, foi um papo rápido. É angolano, tem dinheiro, e, quiçá, um poço de petróleo no quintal da sua casa. Com sorte, até umas pedrinhas reluzentes...mas é só tanga, como mais adiante se verá.

O comerciante já esfregava as mãos de contente. Mais Cfa's para juntar na conta, pensou ele. Mas pensou mal. O prazo acordado para o pagamento da viatura chegou e nada. Uma desculpa esfarrapada amainou tudo. E o comerciante a desesperar. Novo prazo, nova mentirinha.

Até que o comerciante ganhou coragem e foi directamente ao Estado-Maior da MISSANG fazer uma participação. O Maiala foi encostado à parede (se da piscina ou do restaurante, isso já eu não sei) e foi-lhe dado um prazo para "pagar ou devolver" a viatura. Escolheu o mais fácil: depois de andar centeneas de quilómetros...entregou as chaves do carro ao legítimo dono. Assim, não! AAS

No Outono da minha pena

A vida é expressão. De uma ideia, de uma emoção, de um conhecimento. Quem quer que queira um lugar na sociedade, tem de aprender a dar forma ao que sente, ao que sabe e ao que quer. A imagem, neste aspecto, é omnipotente; Mas a escrita, essa, permanece insubstituível - evidentemente.

Por muitas e variadas razões, escolhi o caminho da escrita. Escrevo para me libertar. De tudo e de nada. Quando estou bloqueado, não há nada a fazer - o cigarro torna-se azedo, os cafés não sabem a nada. Por isso mesmo tenho gavetas cheias a transbordar de manuscritos inacabados, pois opto sempre por começar um novo texto – “este sim, o melhor!” - do que por acabar os já iniciados. Uma coisa é certa: não me faltam ideias para situações e personagens. E as gavetas a transbordarem...

Escrever não é um processo puramente racional, nem puramente intuitivo. Não basta alinhar palavras umas a seguir às outras, improvisar ou sequer ter boas intenções. Talvez por isso a escrita, para mim, é especial. É especial na medida em que cada um pode depois ler-me ao seu ritmo, pode voltar atrás, pode saltar passagens, até amaldiçoar-me se for o caso.

Os ingredientes para que o leitor se sinta ‘agarrado, são a intuição, o sentimento e doses industriais de imaginação. São estas as fontes de onde brota a escrita. Não se pode ensinar um alguém a ter ideias, apenas se podem oferecer sugestões sobre algo, o seu desenvolvimento, a formação e a realização de uma ideia original.

Ontem, queixava-me, amuado, a uma amiga: “estou bloqueado, não consigo escrever” - mas o que eu pensava realmente era que estava acabado. Quando me dá uma ‘branca’, entro em pânico - um pânico controlado e necessário. E normalmente telefono às pessoas minhas amigas.

Chegado aqui, entra em campo a minha grande confiança: penso mesmo que este ser humano que vos escreve, com todos os seus defeitos e limitações, tem capacidades suficientes para se preservar e inteligência bastante para se melhorar.

Se eu não acreditasse nisso, não teria uma razão para escrever. Uma coisa é certa: quer o tempo que levo a pensar em escrever, quer o tempo realmente passado a escrever enchem-me as medidas todas. Penso primeiramente no meu leitor e facilito-lhe a leitura. Como não sou adepto de textos longos – pois corres o risco de ninguém te ler – tenho a vida facilitada. E os meus seguidores e leitores, também.

Ainda que não aplique sistematicamente esta técnica à letra, utilizo-a com a maior frequência possível, pois só assim multiplicarei as possibilidades de ser (cada vez mais) lido. Não é este, afinal de contas, o único objectivo que pretendo? É. Desenganem-se os que pensavam o contrário. AAS

terça-feira, 10 de maio de 2011

Gela & Mela

"Virtude: és bastante inteligente, seguro e meigo.
Defeitos: agressivo, 'turmentadu'. Resumindo, uma desgraçada tentação ambulante".

M/R: Quem fala assim não é gago... Agora, adivinhem quem é... AAS

segunda-feira, 9 de maio de 2011

... Alugo-me para sonhar (UNIOGBIS inc.) AAS

Assisti hoje, na zona de Háfia, à primeira chuva sobre Bissau. AAS

Djintis djunta sintidu...

Estranho. O 1º Ministro reúne-se com o 'Grupo do Não aos 50 Fcfa', no dia 31, e solicita uma espécie de proposta. Reúne o Conselho de Ministros no dia 2 e este vota a favor dos 50 Fcfa.

Curioso, foi o facto de o 1º Ministro ter ido a despacho com o o Presidente da República com a proposta do Governo debaixo do braço...e, sem passar por ninguém, entrega-o ao PR. No dia seguinte - dia 3, a lei vem publicada no Boletim Oficial, ou seja, foi promulgada por Malam Bacai Sanha!? Curioso. E estranho.

Ditadura do Consenso, no dia 2, perguntou a três pessoas com responsabilidades na Presidência, se essa proposta havia sido promulgada. A resposta variou, mas deu no mesmo: "Isso ainda não chegou cá"; "Não passou pelas minhas mãos". Mas devia ter passado. AAS

domingo, 8 de maio de 2011

Mão, procura-se. Em Djal...

Em Djal, as coisas complicam-se. Para já: 3 homens da etnia Balanta foram mortos, assim como um da etnia Papel. O CEMGFA, António Indjai, foi ao local garantir que o terreno em causa - usado para a plantação do caju - ficará para o Estado. O problema agora é encontrar uma mão, pertencente a um dos balantas. Bitchofla Na Fafé fez o pedido: "se entregaram o corpo, para quê esconder a mão?".

Entretanto, procura-se o terceiro cadáver, escondido pelos papéis - dizem os populares - "debaixo dos cajueiros"... AAS

Será?

... Será que o Governo anda a alcatroar projectos de estrada em Bissau...com os 50/50/50/50/50 'fran' que anda a colectar junto dos exportadores da castanha de caju?! Perguntar não ofende. E, claro, venha daí mais um processo... AAS

Morre-se em Djal

A localidade Djal, perto de Safim, viveu ontem momentos de terror. Do lado dos papéis, um morto; dos Balanta, duas mortes. Um balanço terrível, por causa da disputa de terrenos.

Houve mutilações. Neste momento, Bitchofle Na Fafé, tenta, no terreno mediar este conflito, com a ajuda dos deputados da zona, Cipriano Cassamá e 'Zé N'Pú'.

Dezenas de militares e polícias do Ministério do Interior, armados com metralhadoras AK-47, estão no terreno nesta localidade às portas da capital, Bissau.

Para já, conseguiu-se que um cadáver - da etnia Papel fosse devolvido. É por demais evidente que os guineenses andam com os nervos à flor da pele. E demonstram-no da pior maneira possível. AAS

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Hasta siempre!

Cooperação Guiné-Bissau/Cuba: saúde

88 médicos guineenses, formados em várias regiões da Guiné-Bissau, recebem em setembro os seus diplomas de curso. A cooperação com Cuba está a dar frutos - quer na saúde como na educação.

Cuba, como sempre, cumprirá com o que disse o insigne líder Amílcar Cabral - "Os combatentes cubanos estão dispostos a sacrificar as suas vidas pela libertação dos nossos países e, em troca dessa sua ajuda à nossa liberdade e ao progresso da nossa população, a única coisa que nos levarão são os combatentes que caíram na luta pela liberdade". Os tempos são outros, é claro, mas os objectivos são os mesmos. Muchas gracias compañeros. AAS

UE pelo Cano abaixo

No dia 14 de Abril, deu entrada uma queixa crime na delegação do Ministério Público junto à Vara Crime do Tribunal Regional de Bissau. ANA MARIA CANO SERRANO, attaché para os assuntos contratuais e financeiros nos escritórios da União Europeia, em Bissau, foi a protagonista do maior escândalo de que há memória nos vários balcões que o Banco da África Ocidentel – BAO, tem na cidade de Bissau.

Ditadura do Consenso teve acesso à documentação. Segue a história:

À Sra. Cano Serrano, foi permitido que abrisse uma conta no balcão-sede do BAO sem depositar qualquer quantia em espécie, não solicitando, na altura, nem o livro de cheques nem o cartão multibanco. Dias depois – a 13 de abril - a ‘cliente’ dá entrada no edíficio-sede do BAO, com o objectivo de ‘verificar’ a sua conta bancária.

Passam mais uns dias, e a senhora Cano Serrano regressa ao banco para utilizar o seu cartão de crédito. Como não sabia os preocedimentos, ficou na fila de espera para ser atendida. Devia ter-se dirigido directamente ao balcão de atendimento.

Contudo, nesse dia 13, uma funcionária do BAO - N.C.M, sub-gerente do balcão central, tendo-se apercebido de que a senhora Serrano não havia solicitado nem o cartão nem o livro de cheques, ofereceu-se para a ajudar, prestando toda a informação, incluindo o preenchimento dos formulários. E explicou à senhora Serrano que tudo estava a ser feito «em regime de excepção», pois não tinha a conta aprovisionada. Disse-lhe ainda que o cartão multibanco só daí a 3 semanas uma vez que são feitos no exterior.

É aqui que o caldo se entorna. A senhora Serrano desata aos berros, deixando os clientes e as testemunhas estupefactos. E, aos gritos, disse a quem a queria ouvir que «a conta dela passaria a ter muito dinheiro», acrescentando que se necessário fosse «pagaria os salários da sub-gerente e dos demais funcionários» do BAO. Ameaçou «encerrar a conta» - que não tinha dinheiro.

Mantendo a calma, a zelosa funcionária do BAO, consciente da sensibilidade do serviço de clientes, deixou passar. Levantou-se então na direcção da impressora, para ir buscar a informação acerca do SWIFT da conta da sra. Serrano.

Frustrada pela falta de respostas às suas atitudes de malcriada, a sra. Serrano resolveu agredir a sub-gerente, dando-lhe e de forma agressiva, uma violenta palmada no braço (a palmada foi dirigida à cara da sub-gerente, o que só não aconteceu porque ela se encontrava em movimento). Numa acção de auto-defesa, a sub-gerente segurou-a pelo braço e no pescoço para evitar mais ataques.

Várias pessoas (incluindo da UE), assistiram a esta atitude impensável e bárbara por parte de uma alta funcionária da União Europeia, que representa os interesses dos 27 Estados-membros, europeus, na Guiné-Bissau.

Ainda assim, a sub-gerente dirigiu-se à sra. Serrano, entregoando-lhe a cópia impressa do SWIFT da sua conta, a qual a sra. Serrano, de forma selvática... RASGOU à frente das pessoas que assistiam com perplexidade, gritando que «não precisava do banco para nada». AAS

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Maior Bem

Florbela Espanca (1894-1930), teve uma vida breve porém intensa. Dramas familiares e tragédias não faltaram. Este poema, publicado postumamente como apêndice, faz parte da 2ª edição de Charneca em Flor - considerada a sua obra-prima:

O Maior Bem

Este querer-te bem sem me quereres,
Este sofrer por ti constantemente,
Andar atrás de ti sem tu me veres
Faria piedade a toda a gente.

Mesmo a beijar-me, a tua boca mente...
Quantos sangrentos beijos de mulheres
Pousa na minha a tua boca ardente,
E quanto engano nos seus vãos dizeres!...

Mas que me importa a mim que me não queiras,
Se esta pena, esta dor, estas canseiras,
Este mísero pungar, árduo e profundo,

Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
É, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?

Florbela Espanca

ÚLTIMA HORA: Osama Bin Laden foi morto ontem, nos arredores de Islamabad, no Paquistão. Barack Obama disse que os EUA estão na posse do corpo. AAS

sexta-feira, 29 de abril de 2011

PJ deteve cidadã caboverdeana que transportava 3 kilos de cocaína

O director-geral adjunto da PJ, Edmundo Mendes, revelou hoje que a Polícia Judiciária deteve na passada 2ª feira, no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, uma cidadã caboverdeana que estava na posse de 3 kilos de cocaína.

A PJ não revelou o nome da cidadã em causa, que já foi entregue ao Ministério Público, aguardando nos calabouços a decisão. A droga saiu do Brasil. Edmundo Mendes mostrou-se preocupado com O tráfico de droga e apelou à população que ajude a polícia no combate a este flagelo. AAS

Reviravolta: Conselho de Ministros aprova pagamento de 50 fcfa por kilo da castanha de caju exportado. Obedece quem deve...

Alguns exportadores contactados hoje pelo Ditadura do Consenso dizem que vão cumprir a Lei, mas garantem por outro lado "passar a comprar a castanha por um preço muito mais baixo". AAS

Post 2000: Ditadura do Consenso, comprometido com a Guiné-Bissau. António Aly Silva